sábado, 29 de abril de 2017

Não para a praga incendiária nem a onda terrorista e a guerra ameaça

Que mundo! Já não sei dizer se a situação que se vive no mundo é aguda a alastrar ou se é crónica com laivos de agudeza. Por isso, resta o estilo da prece, da educação e do diálogo.
A comunicação social, embora de forma tímida, acaba por assentar em que não há memória de tantos fogos ocorridos entre os meses de janeiro e de abril, fora da época de maior risco. E, segundo o JN, já a GNR deteve pelo crime de incêndio, nos primeiros quatro meses deste ano, 9 homens, com idades entre os 30 e os 65 anos – o que representa mais de um terço dos suspeitos presos em todo o ano de 2016. As chamas destruíram cerca de 11 mil hectares de espaços florestais e 2017 ficará na história pelos piores motivos: os incêndios florestais fora da época de risco. Se assim é fora de época, o prenúncio para dentro da época não pode ser otimista. E avizinha-se o espetáculo do ar pesado, do fumo e céu toldado e das labaredas. Esperamos que não haja óbitos, feridos graves, desalojados e evacuados. Mas a prevenção com base no ordenamento florestal tarda enquanto o país se prepara para arder; e a mobilização de meios sacrifica bombeiros, põe em acelerado rodopio a proteção civil e engorda as empresas de fornecimento, distribuição e manutenção de equipamentos. E, depois, vêm as notícias de que o espetáculo é semelhante em muitos recantos do planeta.
Não se faz política da terra queimada, mas parece que a política assiste impávida ou impotente ao espetáculo da queima da terra! Ou assobia para o lado e empurra a barriga para a frente…
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Também as notícias registam o facto de, segundo fontes policiais e hospitalares, quatro pessoas terem morrido e oito ficado feridas, no passado dia 27, num ataque com um carro-bomba a uma esquadra no centro de Bagdade.
Com efeito, Saad Mann, porta-voz do Ministério da Administração Interna e do Comando de Operações de Bagdade, disse que o ataque foi realizado por um bombista suicida, falando só em três mortos, que são policias. Todavia, as fontes da polícia e do hospital, que falaram à Associated Press sob anonimato, apontaram para quatro mortos.
Momentos depois do ataque, era visível a coluna de fumo negro vinda do carro a arder e a polícia dava alguns tiros para o ar para dispersar uma pequena multidão.
O ataque ocorreu quando as forças iraquianas lutavam para empurrar o grupo do Estado Islâmico para a cidade de Mossul, no nordeste do país, a última área urbana que o grupo domina no Iraque.
Este é notório ato de terrorismo em espaço de guerra. Mas há outros de que temos memória ainda fresca: Paris, Bruxelas, Berlim, Nice, Londres, São Petersburgo, Estocolmo, Egito…
Depois, os instrumentos de atos de terrorismo, além das armas convencionais, passam a ser também os intimidantes sacos, envelopes, carteiras, telefonemas, o perigoso e programado jogo online “baleia azul” – um dos “erros da Rússia” –, o avião-bomba, o homem-bomba, o carro-bomba ou o camião atropelante…
E atacam-se prédios, estações de metro, peões em ruas ou em espaços pedonais. Tudo vale, mesmo tirar olhos. Tempos de selvajaria civilizada ou encontro de desencontros!
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Numa guerra aos pedaços, que vem ameaçando o mundo, destrói-se um país, utilizam-se armas químicas (gás sarin), lançam-se numa noite 59 mísseis sobre uma zona concreta cirurgicamente definida, mobiliza-se uma gigantona arma não nuclear contra túneis em zona montanhosa do Afeganistão, alegadamente para abater elementos do autoproclamado Estado Islâmico ali acantonados. E, hipocritamente dão-se números aos pinguinhos sobre os mortos pela dita mãe de todas as bombas, a norte-americana bomba termobárica. E, quando os russos dizem possuir o pai de todas as bombas, a informação vem declarar, em tom de frustração, que, afinal os alvejados túneis não foram destruídos.
A Coreia do Norte, entretanto, persiste na produção de testes de mísseis (com ou sem falhanço) e ameaça destruir o porta-aviões norte-americano que foi deslocado para as proximidades. E Donald Trump, que pensava não ser tão difícil a presidência dos EUA, embora prefira a negociação diplomática, avisa que podemos ter um enorme conflito dom a Coreia do Norte.
É a guerra na sua face mais soft. Mata e diz que não mata; usa as armas e a sua utilização e minimiza os resultados. Mata civis ou usa-os como escudo humano. Impõe, ameaça, ataca cirurgicamente e, sobretudo, cria ambiente de medo e de terror. Demente, confirma e mente!
Razão tem o Papa Francisco quando intercede perante Deus e os decisores humanos (e estes é que são perigosos, inamovíveis, teimosos, egoístas…) pela paz na Síria, no Afeganistão ou no Médio Oriente. E deve ser escutado e acompanhado nas suas viagens a países problemáticos como a República Centro-Africana ou o Egito.
Razão tem o patriarca Kirril quando implora que “Deus liberte a Rússia e o mundo do terror” ou afirma que “devemos reconhecer a importância de manter uma vida pacífica”.

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Perante este mundo em situação pré-caótica, talvez brilhem pela oportunidade algumas das afirmações de Francisco proferidas no seu discurso no quadro da Conferência Internacional em prol da Paz idealizada e organizada pelo Grande Imã no Egito, por ocasião da visita papal.
O Papa elege “a busca do saber e o valor da instrução” como “opções fecundas de desenvolvimento empreendidas pelos antigos habitantes” do Egito, que se traduzem em “opções necessárias também para o futuro, opções de paz e em prol da paz, porque não haverá paz sem uma educação adequada das gerações jovens”. E esta educação será adequada para os jovens de hoje se corresponder “à natureza do homem, ser aberto e relacional”.
E Francisco assegura que a educação se torna “sabedoria de vida, quando é capaz de tirar do homem, em contacto com Aquele que o transcende e com aquilo que o rodeia, o melhor de si, formando identidades não fechadas em si mesmas”. Com efeito, “a sabedoria procura o outro, superando a tentação da rigidez e fechamento”; é “aberta e em movimento, humilde e ao mesmo tempo indagadora”; e, certamente, “sabe valorizar o passado e pô-lo em diálogo com o presente, sem renunciar a uma hermenêutica adequada”. Por outro lado, “prepara um futuro em que se visa fazer prevalecer, não a própria parte, mas o outro como parte integrante de si mesmo”; não se cansa de “individuar, no presente, ocasiões de encontro e partilha”, aprendendo, do passado, “que do mal brota unicamente mal, e da violência só violência, numa espiral que acaba por nos fazer prisioneiros”. Ademais, “rejeitando a avidez de prevaricação, coloca no centro a dignidade do homem” e uma ética “digna do homem, rejeitando o medo do outro e o temor de conhecer, mediante os meios de que o dotou o Criador”.
E, discorrendo sobre o diálogo, como caminho para a paz, o Pontífice aponta três diretrizes fundamentais: a identidade, a alteridade e a sinceridade. Pela identidade, entende-se não poder “construir diálogo sobre a ambiguidade nem sobre o sacrifício do bem para agradar ao outro”; pela alteridade, percebe-se que o ser cultural ou religiosamente diferente “não deve ser visto e tratado como um inimigo”, mas como companheiro de viagem, na convicção de que “o bem de cada um reside no bem de todos”; e pela sinceridade, pensa-se o diálogo “enquanto expressão autêntica do humano” e não como “estratégia para se conseguir segundos fins” – caminho de verdade a ser pacientemente empreendido para fazer, da competição, colaboração.
Assim, o Papa Francisco enuncia as verdadeiras marcas da educação para a paz no diálogo:
“Educar para a abertura respeitosa e o diálogo sincero com o outro, reconhecendo os seus direitos e liberdades fundamentais, especialmente a religiosa, constitui o melhor caminho para construir juntos o futuro, para ser construtores de civilização. Porque a única alternativa à civilização do encontro é a incivilidade do conflito; não há outra. E, para contrastar verdadeiramente a barbárie de quem sopra sobre o ódio e incita à violência, é preciso acompanhar e fazer amadurecer gerações que, à lógica incendiária do mal, respondam com o crescimento paciente do bem: jovens que, como árvores bem plantadas, estejam enraizadas no terreno da história e, crescendo para o Alto e junto dos outros, transformem dia a dia o ar poluído do ódio no oxigénio da fraternidade.”.
Desejando que “se levante o sol duma renovada fraternidade em nome de Deus e surja desta terra, beijada pelo sol, o alvorecer duma civilização da paz e do encontro”, implora a intercessão de São Francisco de Assis, que veio ao Egito e encontrou o Sultão Malik al Kamil.
E, verificando que, “no Egito, não surgiu apenas o sol da sabedoria”, mas também “a luz policromática das religiões”, sendo que as diferenças entre elas constituíram “uma forma de enriquecimento recíproco ao serviço da única comunidade nacional”, constata o encontro de crenças diferentes e a mistura de várias culturas, “sem se confundirem mas reconhecendo a importância de se aliarem para o bem comum” – alianças deste género mais urgentes hoje.
E a sua urgência justifica-se pelo “perdurar hodierno dum paradoxo perigoso”, que Francisco carateriza assim:
“Por um lado, tende-se a relegar a religião para a esfera privada, não a reconhecendo como dimensão constitutiva do ser humano e da sociedade e, por outro, confundem-se, não as distinguindo adequadamente, as esferas religiosa e política. A religião corre o risco de ser absorvida pela gestão de assuntos temporais e tentada pelas adulações de poderes mundanos que, na realidade, a instrumentalizam. Num mundo que globalizou muitos instrumentos técnicos úteis, mas ao mesmo tempo tanta indiferença e negligências, e que corre a uma velocidade frenética, dificilmente sustentável, sente-se a nostalgia das grandes questões de sentido que as religiões fazem aflorar e que suscitam a memória das próprias origens: a vocação do homem, que não foi feito para se exaurir na precariedade dos assuntos terrenos, mas para se encaminhar rumo ao Absoluto para o qual tende.”.
Por isso, entende que
“A religião, especialmente hoje, não constitui um problema, mas é parte da solução: contra a tentação de se contentar com uma vida superficial em que tudo começa e termina aqui, a religião lembra-nos que é necessário elevar o espírito para o Alto a fim de aprender a construir a cidade dos homens”.
E Francisco propõe-se, com o demais chefes religiosos, “desmascarar a violência” disfarçada de suposta sacralidade e apoiada na absolutização dos egoísmos, em vez da autêntica abertura ao Absoluto; “denunciar as violações contra a dignidade humana e contra os direitos humanos”; e trazer à luz do dia as tentativas de justificar toda a forma de ódio pela religião”, condenando-as como “falsificação idólatra de Deus”, cujo nome é Santo, sendo que “nenhuma violência pode ser perpetrada em nome de Deus”, que é a Paz. Assim, diz o Papa:
“Reiteramos um ‘não’ forte e claro a toda a forma de violência, vingança e ódio cometida em nome da religião ou em nome de Deus. Juntos, afirmamos a incompatibilidade entre violência e fé, entre crer e odiar. Juntos, declaramos a sacralidade de cada vida humana contra qualquer forma de violência física, social, educativa ou psicológica.”.
E, como a religião não é chamada só a desmascarar o mal, mas traz a vocação de promover a paz, a nossa tarefa é rezar uns pelos outros orando a Deus o dom da paz e do encontro concorde, havendo, simultaneamente, que remover as situações de pobreza e exploração, onde criam raízes os extremismos, e bloquear os fluxos de dinheiro e armas para quem fomenta a violência.

2017.04.29 – Louro de Carvalho

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