Haja quem nos dê informação imparcial e objetiva dos
acontecimentos ocorridos em torno de cerca de um milhar de estudantes em hotel
numa estância balnear de Torremolinos, (Espanha),
pois as versões são contraditórias e de teor autodesculpabilizante e fortemente
heteroacusatório.
Antes de mais, a caraterização da população escolar em
veraneio pascal é problemática, para não dizer tóxica: alunos do ensino
secundário finalistas de idades entre os 14 e os 17 anos…
O aluno de 14 anos é finalista de quê? Se é finalista
do ensino básico de 9 anos, é um aluno-prodígio (iniciou a escolaridade aos 6 anos; e com mais 9 faz 15), mas não integra o ensino
secundário. E um aluno com 17 anos irá mesmo terminar, em junho próximo, o 12.º
ano? Quanto aos de idades intermédias, poderão ser do ensino secundário, mas
não finalistas.
Tratando-se de viagem de finalistas em tempo de pausa
da atividade letiva, não se imputa à escola qualquer tipo de responsabilidade
direta. Todavia, é de questionar que aprendizagem estruturante a escola vem
promovendo com os alunos. E os teóricos e os operadores do sistema educativo
devem interrogar-se sobre a estratégia educativa que montaram, sustentam e
impõem.
Com efeito, os comportamentos divulgados que põem em
causa a sanidade dos estudantes não são admissíveis. Tem lá algum jeito fazer
voar pelas janelas colchões, danificar as paredes arrancando azulejos, esvaziar
extintores de incêndio nos corredores, colocar um televisor na banheira? Nem
podem alegar que tenha sido divertimento, como alguém já fez crer. Isto é
vandalismo. E só decorre de distúrbio causado por excesso de álcool, tara ou
malvadez.
Alega-se que o serviço não correspondeu ao contratado.
A ser verdade, os representantes da agência de viagens deveriam entabular
conversações com os responsáveis da unidade hoteleira. E, se a comida era má,
repetitiva, insuficiente, havia que fazer-se a respetiva reclamação, não em
jeito de levantamento de rancho, mas através de renegociação. Mas foi mais
fácil ladear o problema recorrendo à comida de plástico do McDonald’s, menos
repetitiva (!).
E não me espanta, mas pasmo ao poder ler a douta
sentença de pedopsiquiatra a justificar estes comportamentos. De facto, a
pedopsiquiatra Ana Vasconcelos realça, no Diário
de Notícias, que se trata de menores e que
“Esta é a forma que encontram de
extravasar as tensões que têm ao longo de um ano que é muito importante, o 12.º
ano é um projeto de vida. Mas o que acaba por acontecer é que estas são viagens
de deboche, destinadas a deixá-los numa excitação permanente. A indústria do
turismo também é responsável”.
Devo dizer à senhora pedopsiquiatra que nada, mas
mesmo nada explica nem justifica tais comportamentos e gostava de saber se a
douta senhora não mudaria de sentença técnica se a sua habitação (provavelmente não a tem e viverá em
casa arrendada, sendo as obras atribuição do senhorio) fosse pasto de tais comportamentos
atrabiliários. Será caso de hiperatividade ou má educação?
É verdade que a responsabilidade direta do que
aconteceu é dos estudantes. Porém, como são menores, as consequências recaem
sobre outrem.
***
Não gostei de ouvir o senhor Secretário de Estado das
Comunidades, José Luís Carneiro, por quem tenho enorme consideração a
referir-se ao facto de a agência de viagens ter seguro para o evento, mas a
cobertura ser insuficiente. É óbvio que não conheço companhia seguradora que
aceite, a não ser por vias travessas, assumir a responsabilidade civil por
danos causados por vandalismo ou por terrorismo. Evidentemente que gostei do
acompanhamento que a Secretaria de Estado vem prestando à ocorrência e folgo em
saber que o governante tenha tranquilizado as famílias e a comunidade dizendo
que “os estudantes estão bem”.
É óbvio que a responsabilidade direta da ocorrência é,
in loco, da agência de viagens. Mas,
como se trata de menores, os verdadeiros responsáveis são os encarregados de
educação que assinaram os termos do contrato de viagem e deram a sua
autorização. E pergunto-me se os pais aceitam (pelo menos de ânimo leve) que os filhos menores entrem numa estância de
repouso ou de balneamento pascal em regime de bar aberto (permanentemente) e consumo de bebidas alcoólicas, se
se vergaram já aos caprichos dos filhos ou ainda se estão estupidamente
convictos de que “os seus filhos” não
se metem nisso (são só os
dos outros). Ai, a
história das más companhias!
A este respeito, a CONFAP vem alertar os pais para as
condições de viagem quando assinam o termo de responsabilidade, afirmando que
eles devem conhecer as condições contratuais das viagens dos filhos. Jorge
Ascensão, Presidente da CONFAP, é explícito quando diz à Lusa:
“As
famílias devem conhecer os contratos quando assinam um termo de
responsabilidade. Temos de saber o que estamos a assinar.”.
Por outro lado, alertou para os riscos de se fazer uma
generalização do comportamento dos cerca de mil estudantes portugueses que regressaram
a Portugal este fim de semana após os alegados desacatos num hotel em que se encontravam
em Espanha, pois, tanto quanto se sabe, terá
sido uma dezena de jovens a ter comportamentos reprováveis.
É óbvio que é sempre assim. Em milhares,
são de dezenas os ativistas de um comportamento desviante ante a surpresa, a
passividade ou a cumplicidade dos demais. Tal como na escola, uma turma é
estragada exatamente nas mesmas proporções (no futebol é a mesma coisa). Só não se
compreende a pretensa solidariedade entre e com os estudantes mal comportados
na fase de apuramento dos factos e das óbvias responsabilidades. E a CONFAP
sabe-o.
Porém, o Presidente da CONFAP acusa também o modelo de
educação, que está demasiado centrado “nas classificações e no acesso ao ensino
superior”, pelo que se impõe uma discussão sobre valores e limites que os
alunos devem ter quando não estão nas aulas.
Confrontado como um e-mail recebido pela Lusa da parte dum aluno que se identificou como um dos
participantes na viagem e que, entre outras queixas, referiu que foi assinado
um contrato que previa bar aberto e que este foi encerrado às 22 horas, Jorge
Ascensão alertou os pais para a necessidade de saberem em que condições
autorizam a viagem dos filhos. E sustentou:
“Acreditamos
que as famílias dão os melhores conselhos aos seus filhos, mas estamos a falar
de fenómenos de massas, as famílias são as primeiras responsáveis. Temos de
garantir a segurança deles.”.
E insistiu na reflexão sobre o ensino secundário, dizendo que
os problemas noticiados em quase todos os anos com viagens de finalistas são
“sinais de alerta” que devem levar a uma reflexão, nomeadamente se faz sentido
este tipo de organização no ensino secundário. E eu questiono-me mesmo se as
mortes que, em anos, lamentámos não terão origem em comportamento desviante.
***
O hotel onde estava alojado um grupo de 800 estudantes
portugueses alegadamente do ensino secundário confirmou ter expulsado os jovens
por danos e vandalismo e prometeu mais detalhes para uma conferência de
imprensa a ocorrer hoje, dia 10.
Fonte da Direção Nacional da PSP disse à Lusa, anteriormente, que cerca de mil estudantes portugueses foram
expulsos duma unidade hoteleira em Benalmádena, sul de Espanha, por desacatos e
mau comportamento. Por isso, a polícia portuguesa está a acompanhar o caso em
colaboração com as autoridades espanholas. E o Governo português também
acompanha a situação, como revelou à Lusa o Secretário de Estado das
Comunidades.
As autoridades de Torremolinos, por seu turno, dizem
que não há qualquer prazo para terminar as diligências sobre o caso de
estudantes portugueses, uma vez que não há detidos.
Na verdade, a polícia espanhola recebeu duas denúncias e iniciou a
investigação sobre os alegados danos que centenas de estudantes portugueses
causaram num hotel na costa sul de Espanha onde as autoridades tiveram de
intervir no final da semana passada. Uma fonte oficial do comando regional de
Málaga da Policía Nacional espanhola declarou à Lusa que tanto a administração do hotel como o operador que
organizou a viagem apresentaram denúncias sobre os acontecimentos, tendo sigo
iniciada uma investigação. Uma outra fonte da polícia espanhola disse, no dia
9, à agência Efe que um grupo de
cerca de 1200 estudantes portugueses entre 14 e 17 anos causou estragos na
ordem dos 50 mil euros nos quartos dum hotel de Torremolinos, o Hotel Pueblo
Camino Real, que já tinha confirmado à Lusa,
no dia 8, que uns grupos de mais de 800 estudantes portugueses do ensino
secundário tinham sido expulsos por danos e vandalismo.
Segundo o jornal espanhol El Pais,
os jovens foram expulsos pela direção da estância balnear depois de terem “destruído
azulejos, atirado colchões pelas janelas, esvaziado extintores nos corredores
do hotel e colocaram uma televisão na banheira”, entre outros danos.
No dia 8, o responsável de uma das agências que organiza as viagens dos
jovens portugueses ao sul de Espanha negou que tenha havido desacatos e
desmentiu a ordem de expulsão. Assim, Nuno Dias, da agência “Slide in Travel”,
disse à comunicação social portuguesa que “os finalistas saíram no dia em que
deviam ter saído, quando completaram as seis noites de hotel”.
Sendo assim, a “Slide in Travel” deveria mover um processo judicial à
administração do hotel por difamação e não deixar cativa a caução de 50 euros
da parte de cada estudante. Irá fazê-lo?
Depois, o facto de alegadamente saírem no dia em que terminava o tempo de
permanência não quer dizer que não tenha sido por expulsão.
***
Mas há versões contraditórias sobre o que se passou. A imprensa
portuguesa e a espanhola relatam desordens que levaram à expulsão de estudantes
portugueses, ao passo que a agência de viagens nega desacatos, dizendo que os
finalistas nem sequer vieram mais cedo e critica o hotel. E os estudantes
descrevem insultos e entradas de seguranças pelos quartos. A própria página do Facebook do hotel traz comentários de clientes e
estudantes, com fortes críticas ao serviço, quanto a alimentação, higiene e
limpeza e insultos feitos pelo pessoal do hotel:
“O serviço é péssimo, as empregadas
não substituíam os lençóis e toalhas, havendo em alguns quartos baratas e
formigas, os seguranças entravam nos quartos sem a nossa autorização e não nos
devolveram nem uma parte da caução, e ainda nos foi negado o livro de
reclamações”.
Estudantes
reiteraram ao serviço de informação do Sapo
o exagero das notícias, dizendo não terem visto colchões a voar pela janela, e
criticaram o diretor do hotel, o “monstro”, que recusou servir álcool, entregar
o livro de reclamações e tratou os estudantes como se fossem “animais”. E os
estudantes também chamaram a polícia para exercerem o direito de reclamação e
queixa.
Mas os
jornais de hoje não precisando da conferência de imprensa do hotel, já trazem
mais informação. E da Direção Nacional da PSP vem a informação:
“O
mau comportamento associado ao consumo de álcool e as incivilidades nas
unidades hoteleiras onde estavam alojados terão ultrapassado os limites”.
2017.04.10 – Louro de
Carvalho
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