quarta-feira, 12 de abril de 2017

A Lavandaria do Papa Francisco

De acordo com informação veiculada pela Rádio Vaticano, começou a funcionar, no passado dia 10 de abril, a “Lavandaria do Papa Francisco”: um serviço oferecido gratuitamente às pessoas pobres, especialmente a moradores de rua, para que possam lavar, enxugar e passar as suas roupas e lençóis.
A iniciativa surgiu do convite do Papa para concretizar a experiência de graça do Ano Jubilar da Misericórdia. Com efeito, o n.º 16 da Carta Apostólica “Misericordia et Misera” ensina: Querer estar perto de Cristo exige fazer-se próximo dos irmãos, porque nada é mais agradável ao Pai do que um sinal concreto de misericórdia. Por sua própria natureza, a misericórdia torna-se visível e palpável numa ação concreta e dinâmica”. Pelo que o n.º 18 do mesmo documento lança o desafio: “É hora de dar espaço à imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas, fruto da graça”. 
A Lavandaria é, pois, em resposta da Esmolaria Apostólica ao convite do Papa, “uma forma concreta de caridade”, um modo de “restituir dignidade a estes nossos irmãos e irmãs”.
A estrutura, situada na sede do “Centro Gentes de Paz”, da Comunidade de Santo Egídio, é administrada por estes voluntários e possui 6 máquinas de lavar e de secar, com 6 ferros de última geração – uma doação da multinacional Whirlpool. Porém, o “Centro Gentes de Paz” já oferece, há mais de 10 anos, acolhimento e assistência aos pobres e terá ainda duches, barbeiro, armários, ambulatório médico e distribuição de bens de primeira necessidade.
O fornecimento completo e gratuito de sabão para as máquinas de lavar é fornecido por outra multinacional, a Procter & Gamble, que faz a coordenação do projeto e que, há tempos, doa lâminas de barbear e espuma de barba à ‘barbearia dos pobres’ nas Colunatas de São Pedro. 
Obviamente que não foi o Papa Francisco quem instituiu no Vaticano o serviço aos pobres. No entanto, é sabido que lhe deu um enorme impulso, colocando na mó de cima os sem-abrigo, para os quais mandou instalar serviço de duche e barbearia nas colunatas de São Pedro, aos quais tem mandado distribuir cobertores e toalhas e a quem tem incumbido algumas tarefas que lhes dão alguma visibilidade e os tornam úteis, como a distribuição de livros, pagelas, etc. pela multidão reunida na Praça de São Pedro. E lembro que mandou celebrar funeral condigno de um sem-abrigo que faleceu sozinho.
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Os serviços aos pobres na Santa Sé são coordenados pela Esmolaria Apostólica (ou Esmolaria Pontifícia), situada na Cidade do Vaticano e que “é o Departamento da Santa Sé que tem a função de exercer a caridade para com os pobres em nome do Sumo Pontífice”.
Este serviço remonta aos primeiros séculos da Igreja e era da competência dos diáconos. Depois, este encargo passou a ser exercido por um ou mais familiares dos Pontífices sem uma especial dignidade hierárquica ou prelatícia, que lhe foi conferida mais tarde. Já se fala do Esmoler como cargo existente numa Bula de Inocêncio III (1198-1216). Porém, o primeiro Papa a organizar a Esmolaria Apostólica foi o Bem-aventurado Gregório X (1271-1276), que definiu as atribuições do Esmoler (ou Esmoleiro). E Alexandre V, por Bula de 1409, regulamentou as formalidades e normas da Esmolaria, que sempre desempenhou a própria atividade graças aos contínuos desvelos dos Romanos Pontífices nos diversos tempos, através do Esmoler de Sua Santidade, que tem a dignidade Arquiepiscopal, faz parte da Família Pontifícia e, como tal, participa nas celebrações litúrgicas e nas audiências oficiais do Santo Padre. O Papa Leão XIII, com o objetivo de favorecer a coleta de fundos para as obras de caridade confiadas à Esmolaria, delegou no Esmoler a faculdade de conceder a Bênção Apostólica por meio de diplomas em papel pergaminho, os quais, para serem autênticos, devem ter aposta a assinatura do mesmo Esmoler e o carimbo a seco do seu Departamento.
Não obstante, a concessão da Bênção Papal é completamente gratuita e os custos referem-se unicamente ao pergaminho e aos gastos para a sua preparação e expedição, bem como a um contributo para o exercício da caridade Papal.
Todas as entradas que chegam à Esmolaria Apostólica como contribuição para a emissão de diplomas de Bênçãos são inteiramente destinadas à caridade que este Departamento exerce para com os desvalidos que todos os dias, nas suas necessidades, estendem as mãos a pedir auxílio ao Sucessor de Pedro.
(cf http://www.vatican.va/roman_curia/institutions_connected/elem_apost/documents/rc_elemosineria_pro_20121106_profile_po.html)
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Também a Rádio Vaticano divulgou a notícia de que as primeiras famílias sírias acolhidas no Vaticano deixaram as dependências dos 3 apartamentos em que viviam, por terem encontrado meios para viverem de forma independente. Assim, os apartamentos passaram a ser ocupados por outros 3 núcleos familiares: 2 famílias cristãs e uma muçulmana, num total de 13 pessoas.
Segundo a Esmolaria Pontifícia, 2 das novas famílias acolhidas, que tinham sido sequestradas e sofreram discriminações por serem cristãs, chegaram à Itália no mês de março deste ano.
Uma das famílias é formada pela mãe, 2 filhos adolescentes, uma avó, uma tia e outra senhora síria que vive com eles. A outra é formada por um jovem casal, que teve sua primeira filha – Stella – há 2 semanas, no apartamento onde moram. A jovem havia sido sequestrada pelo Isis e agora, na Itália, pode reencontrar a serenidade. Por fim, o terceiro núcleo familiar foi um dos primeiros a chegar à Itália, em fevereiro de 2016. É formado pelos pais com os seus dois filhos. A primeira filha, doente, iniciou agora um percurso de integração. As crianças frequentam a escola elementar, a mãe está inscrita na Faculdade no Curso para  Mediadores Interculturais e, há poucos dias, começou a fazer um estágio com vista à inserção no mercado de trabalho.
São três os apartamentos de propriedade do Vaticano que há mais de um ano acolhem núcleos familiares de refugiados sírios,  chegados à Itália graças aos diversos corredores humanitários promovidos pela Comunidade de Santo Egídio, pela Federação das Igrejas Evangélicas na Itália e pela Távola Valdense. Por meio dos corredores humanitários, foram acolhidos até agora em Roma 70 núcleos familiares, num total de 145 pessoas.
O gesto é uma resposta concreta ao apelo dirigido pelo Papa, no final da oração do Angelus de 6 de setembro de 2015, para o acolhimento de uma família em cada paróquia, comunidade religiosa, mosteiro e santuário. Além de assegurar adequado acolhimento nas paróquias, comunidade e associações, os voluntários acompanham as famílias sírias na sua plena integração, a começar pela aprendizagem da língua italiana.
Além destas, a Santa Sé apoia economicamente as 21 pessoas vindas de Lesbos com Francisco, acolhidas em casas particulares e de religiosos.
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Mas há mais.
Dão-se alguns dados a título de exemplo:
- Em setembro de 2015, um moderno ambulatório móvel, doado há alguns anos ao Papa e até então reservado para os eventos por ele presididos, foi posto à disposição algumas vezes durante a semana para assistir os refugiados nos centros de acolhimento, também não regulares, situados na periferia de Roma. Assim informou a Esmolaria Pontifícia, especificando que “os voluntários – médicos, enfermeiros e guardas suíços – são funcionários do Vaticano, da Universidade de  Roma “Tor Vergata” e membros da ONG do Instituto de Medicina solidária.
Já em 2014, foram postos à disposição do Centro Astalli de Refugiados em Roma, administrado pelos jesuítas, cerca de 50 mil euros para auxiliar no pagamento das taxas para a concessão do 1.º Visto de Permanência para os refugiados, à semelhança do que há muitos anos os Papas vêm fazendo, “neste contexto de caridade cristã pelas pessoas que fogem da guerra e da fome”.
- Em outubro de 2015, começou a funcionar o dormitório para moradores de rua na região do Vaticano. O abrigo, desejado pelo Santo Padre, foi realizado pela Esmolaria Apostólica com fundos destinados à caridade do Papa e é administrado pelo Esmoleiro Apostólico, Dom Konrad Krajewski. O local, denominado “Dom de Misericórdia”, pode acolher durante a noite até 34 homens, que são recebidos pelas irmãs de Madre Teresa de Calcutá. Dentro do Vaticano já funcionava o dormitório “Dom de Maria”, com capacidade para abrigar até 50 mulheres.
A Esmolaria apostólica promovera, nos meses passados, uma série de iniciativas em favor dos pobres, desde refeições até serviço de barbearia e higiene.
- Em janeiro de 2016, a Esmolaria Pontifícia promoveu, em conjunto com o Circo Rony Roller, uma tarde de diversão e confraternização, tendo sido oferecido um espetáculo circense gratuito a pessoas sem casa, a refugiadas, a um grupo de encarcerados e carentes, com seus assistentes voluntários (ao todo 2000 pessoas). Além disso – segundo o que informa um comunicado – médicos e enfermeiros dos Serviços Médicos do Vaticano, equipados com um trailer móvel e ambulâncias do Vaticano, ofereceram consultas e assistência gratuita aos mais desfavorecidos. E, no final do espetáculo, houve um lanche para todos. 
- Na Sexta-feira Santa de 2016, o Esmoleiro pontifício, Dom Konrad Krajewski, junto com alguns colaboradores e sem-teto, hóspedes do dormitório ‘Dom da Misericórdia’, foram pelas ruas de Roma distribuir sacos de dormir e fazer uma carícia, da parte do Papa, aos sem-teto que encontravam. Foi uma Via-Sacra na Cidade Eterna de cerca de cem estações, que terminou depois da meia-noite, realizada em união espiritual com a Via-Sacra presidida pelo Papa Francisco, no Coliseu de Roma.
- Em 8 de janeiro de 2017, o Esmoleiro Pontifício informou que os dormitórios permaneceriam abertos 24 horas e a qualquer pessoa que batesse à porta seria oferecido um lugar aquecido e alimento, mesmo que todas as camas estivessem ocupadas. E àqueles que resistem em ir a um dos dormitórios colocados à disposição, a Esmolaria estava a distribuir sacos de dormir térmicos – com capacidade para resistir a temperaturas de até 20°C – assim como automóveis da instituição. Embora os carros não pudessem ficar ligados durante toda a noite, porque é perigoso, como abrigo já eram alguma coisa.
Aos sem-teto “são levadas também sopas quentes, sanduíches e chocolate quente para fornecer calorias”, explicou o Esmoleiro, cuja obra – em concordância com o Pontífice – é totalmente financiada com os recursos provenientes dos pergaminhos papais das “Bênçãos Apostólicas”.
Também os militares do Exército colaboram com a Esmolaria, assim como uma equipa da Guarda Suíça que auxilia Dom Krajewski nos giros noturnos que faz pela cidade de Roma em busca de pessoas necessitadas.
- Em 23 de fevereiro de 2017, por indicação do Papa Francisco, a Esmolaria Apostólica esteve nas zonas atingidas pelos terramotos que abalaram o centro da Itália para adquirir de pequenos revendedores produtos alimentares típicos das áreas atingidas. A queda no comércio após os abalos sísmicos levou os revendedores a um período de grandes dificuldades.
Foi feito um levantamento identificando grupos de camponeses, agricultores e produtores cujas empresas correm o risco de fechar por causa dos danos provocados pelo terramoto.
A Esmolaria Apostólica comprou uma grande quantidade de produtos desses grupos com a intenção expressa pelo Santo Padre de os ajudar no prosseguimento das suas atividades. É um gesto em linha com o magistério do Papa Francisco que reiteradas vezes, nos seus encontros, recordou que “quando não se ganha o pão, se perde a dignidade”. Todos os produtos adquiridos foram imediatamente distribuídos a vários refeitórios caritativos da cidade de Roma para a preparação de refeições diariamente doadas às pessoas necessitadas e sem morada fixa.
Já há alguns meses no supermercado situado na Cidade do Vaticano reservado aos funcionários vaticanos, é possível adquirir alguns produtos típicos das áreas atingidas pelos terramotos, contribuindo assim para reaquecer a economia daquela parte da Itália ainda em dificuldades.
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É assim o Papa Francisco. Se é verdade que não deve saber a mão esquerda o que faz a direita (cf Mt 6,3), também é importante que, vendo as boas obras os discípulos, os homens glorifiquem o Pai que está nos Céus (cf Mt 5,16). E o Papa, sem ter inventado o serviço dos pobres, reforça-o, amplia-o, multiplica-o e dá visibilidade aos pobres e ao serviço que lhes é prestado.
E não se contenta com o serviço seu aos pobres. Tenta implicar na obra de misericórdia os outros que se sintam próximos dos que não têm. Tal como o bom samaritano do Evangelho não se limitou a curar o ferido “avaletado”, a colocá-lo na sua montada até à próxima estalagem, mas entregou-o ao estalajadeiro e mandou que dele cuidasse porque depois pagaria tudo (cf Lc 10,29-37) – também Francisco manda que os outros façam a sua parte. A obra de misericórdia, como obra de Deus cujo nome é misericórdia, não é monopólio de ninguém; tem de ser obra solidária de todos.

2017.04.12 – Louro de Carvalho

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