quinta-feira, 13 de abril de 2017

Santa Páscoa com tudo e apesar de tudo!

A todos os amigos amigas, a todas as pessoas por quem passei na vida e/ou que por mim passaram, na tarde em que Jesus celebrou a Páscoa com os discípulos, formulo os mais sinceros votos de Santa Páscoa, uma Páscoa segundo o coração de Deus e os anseios do homem e do povo.
É óbvio que não podemos ignorar o clima que o mundo vive de sobressalto pela iminência do terrorismo sem rosto ou de rosto procrastinado e revestido de novas modalidades como o homem-bomba ou o carro-bomba ou mesmo um simples camião que, atropelando ou abalroando, fere, mata e semeia o pânico. Ainda hoje os EUA lançaram a maior bomba não nuclear da história no Afeganistão (a mãe de todas as bombas, segundo o Pentágono), num complexo de grutas pertencente ao Estado Islâmico na província de Nangarhar, local onde, na semana passada, um soldado norte-americano foi morto numa operação contra os jihadistas.
E não podemos passar em silêncio os efeitos das catástrofes naturais, a destruição do Planeta pela mão do homem, a fome, as epidemias, os focos de guerra (a tal III Guerra Mundial aos pedaços, não esquecendo que a II Guerra Mundial se processou por fases, de 1931 a 1945 e seguintes: Vietname, Cambodja, Coreias…) – que geram larga e sucessivas ondas de migrantes, refugiados, desalojados, explorados, náufragos e esbarrados contra os muros adrede construídos.
Ninguém ignora a criminalidade aguda e a criminalidade organizada, de sangue ou económica, como ninguém passa ao lado da inversão ou da falta de valores e a imposição de posturas, hábitos e estilos de vida.
Todos sabemos da invasão do lodaçal de indiferença de que o mundo sofre, do descarte de pessoas, da violência doméstica e paradoméstica, do tráfico de órgãos humanos e de pessoas (sobretudo de mulheres e crianças), da falta de emprego e do emprego precário, da sobrecarga no trabalho, do assédio sexual e laboral, do estrangulamento da vida familiar, da arrogância, da má educação (sob a capa da hiperatividade), da mediocridade política, da primazia da ganância e do império da finança e da economia que mata.
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Porém, com tudo isto, é possível, necessário e conveniente celebrar a Páscoa da Verdade que liberta, da Alegria profunda e contagiante, da Transcendência que encarna no mundo dos seres humanos – a genuína Páscoa de Cristo.
É a Páscoa de Cristo, que liberta do pecado do homem e das estruturas de pecado que o homem cria, sustenta e impõe. É a Páscoa do dom, da dádiva, da entrega de Cristo e como Cristo. É a Páscoa de Cristo imolado pelos homens de braços abertos na cruz redentora, do Deus que Se fez homem para, como protótipo humano da misericórdia divina, oferecer o perdão a todos. É a Páscoa da Eucaristia em que Jesus Cristo Se dá em seu corpo e sangue nas aparências nutrientes do pão e das aparências vivificantes e inebriantes do vinho. É a Páscoa do amor ao próximo, que tem de ser a todos os homens e ao homem todo, à ordem de Cristo e como Cristo fez. É a Páscoa do ministério sacerdotal e diaconal simbolizado no lava-pés da parte do Senhor aos discípulos, que de servos passaram a amigos. É a Páscoa do Cristo Ressuscitado, que dá a paz, comunica o Espírito Santo, consolida na fé, envia em missão a todo o mundo e dá o poder serviço de perdoar os pecados. É a Páscoa dos inocentes ou dos arrependidos e apostados na conversão sincera ao dinamismo do Reino de Deus.
Apesar de todo o quadro acima evocado e em parte descrito, impõe-se a celebração pascal no Templo, na família e na rua, para depois chegar à escola, à profissão, ao clube, à empresa ou à associação. E os arautos da Páscoa não são poucos nem estão sós. Por isso, os sinais dos tempos emergem: cresce o movimento bíblico; apura-se a liturgia participativa; consolida-se a caminhada ecuménica, o diálogo inter-religioso e a cooperação entre crentes e não crentes; ganha nova face a atividade missionária; estuda-se com mais afinco a preservação do Planeta; multiplicam-se as ONG; discute-se a paz, educa-se para a Paz; incrementa-se a diaconia; pugna-se por uma educação integral e ao longo da vida; João XXIII inaugurou o Concílio e falou aos homens de boa vontade; Paulo VI conduziu o Concílio a seu termo, propôs o diálogo com o mundo e fez-se paladino da paz e do desenvolvimento integral; João Paulo I esboçou um sorriso para o mundo e levou à meditação da vertente materna de Deus; João Paulo II propôs uma Igreja mais espiritual e dinâmica e salientou a sua dimensão materna e de perita em humanidade; Bento XVI consolidou a doutrina e estabeleceu com solidez e pertinência o diálogo entre a fé e a razão e entre a Igreja e os homens de boa vontade e enfrentou o pecado de homens da igreja; e Francisco, como voz moralmente autorizada face ao mundo, destacou a vertente da Igreja em saída, que não tem medo dos escolhos, mas confia no Espírito Santo e caminha em sinodalidade.
Assim, se palpa a possibilidade duma frutuosa celebração pascal confiando em Cristo, nossa esperança, e no Espírito Santo, que, enquanto alma da Igreja, a guia, leva à renovação da face da Terra e introduz os seres humanos na comunhão intratrinitária.
É nestes pressupostos que exprimo os meus votos de boas festas pascais e o meu protesto de confiança em Deus e nos homens e mulheres de bem. Certamente que o mal que parece campear no mundo não vencerá as forças do bem e do amor.
Uma Santa Páscoa!  

2017.04.13 – Louro de Carvalho

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