A
todos os amigos amigas, a todas as pessoas por quem passei na vida e/ou que por
mim passaram, na tarde em que Jesus celebrou a Páscoa com os discípulos,
formulo os mais sinceros votos de Santa Páscoa, uma Páscoa segundo o coração de
Deus e os anseios do homem e do povo.
É
óbvio que não podemos ignorar o clima que o mundo vive de sobressalto pela
iminência do terrorismo sem rosto ou de rosto procrastinado e revestido de
novas modalidades como o homem-bomba ou o carro-bomba ou mesmo um simples
camião que, atropelando ou abalroando, fere, mata e semeia o pânico. Ainda hoje
os EUA lançaram a maior bomba não nuclear
da história no Afeganistão (a mãe de todas as bombas, segundo o Pentágono), num
complexo de grutas pertencente ao Estado Islâmico na província de Nangarhar,
local onde, na semana passada, um soldado norte-americano foi morto numa
operação contra os jihadistas.
E
não podemos passar em silêncio os efeitos das catástrofes naturais, a destruição
do Planeta pela mão do homem, a fome, as epidemias, os focos de guerra (a
tal III Guerra Mundial aos pedaços, não esquecendo que a II Guerra Mundial se
processou por fases, de 1931 a 1945 e seguintes: Vietname, Cambodja, Coreias…) – que geram larga e sucessivas ondas
de migrantes, refugiados, desalojados, explorados, náufragos e esbarrados
contra os muros adrede construídos.
Ninguém
ignora a criminalidade aguda e a criminalidade organizada, de sangue ou
económica, como ninguém passa ao lado da inversão ou da falta de valores e a
imposição de posturas, hábitos e estilos de vida.
Todos
sabemos da invasão do lodaçal de indiferença de que o mundo sofre, do descarte
de pessoas, da violência doméstica e paradoméstica, do tráfico de órgãos humanos
e de pessoas (sobretudo de mulheres e crianças), da falta de emprego e do
emprego precário, da sobrecarga no trabalho, do assédio sexual e laboral, do estrangulamento
da vida familiar, da arrogância, da má educação (sob a capa da
hiperatividade), da
mediocridade política, da primazia da ganância e do império da finança e da
economia que mata.
***
Porém,
com tudo isto, é possível, necessário e conveniente celebrar a Páscoa da Verdade
que liberta, da Alegria profunda e contagiante, da Transcendência que encarna
no mundo dos seres humanos – a genuína Páscoa de Cristo.
É
a Páscoa de Cristo, que liberta do pecado do homem e das estruturas de pecado
que o homem cria, sustenta e impõe. É a Páscoa do dom, da dádiva, da entrega de
Cristo e como Cristo. É a Páscoa de Cristo imolado pelos homens de braços
abertos na cruz redentora, do Deus que Se fez homem para, como protótipo humano
da misericórdia divina, oferecer o perdão a todos. É a Páscoa da Eucaristia em
que Jesus Cristo Se dá em seu corpo e sangue nas aparências nutrientes do pão e
das aparências vivificantes e inebriantes do vinho. É a Páscoa do amor ao próximo,
que tem de ser a todos os homens e ao homem todo, à ordem de Cristo e como
Cristo fez. É a Páscoa do ministério sacerdotal e diaconal simbolizado no lava-pés
da parte do Senhor aos discípulos, que de servos passaram a amigos. É a Páscoa
do Cristo Ressuscitado, que dá a paz, comunica o Espírito Santo, consolida na
fé, envia em missão a todo o mundo e dá o poder serviço de perdoar os pecados. É
a Páscoa dos inocentes ou dos arrependidos e apostados na conversão sincera ao
dinamismo do Reino de Deus.
Apesar
de todo o quadro acima evocado e em parte descrito, impõe-se a celebração pascal
no Templo, na família e na rua, para depois chegar à escola, à profissão, ao
clube, à empresa ou à associação. E os arautos da Páscoa não são poucos nem
estão sós. Por isso, os sinais dos tempos emergem: cresce o movimento bíblico;
apura-se a liturgia participativa; consolida-se a caminhada ecuménica, o
diálogo inter-religioso e a cooperação entre crentes e não crentes; ganha nova
face a atividade missionária; estuda-se com mais afinco a preservação do
Planeta; multiplicam-se as ONG; discute-se a paz, educa-se para a Paz; incrementa-se
a diaconia; pugna-se por uma educação integral e ao longo da vida; João XXIII
inaugurou o Concílio e falou aos homens de boa vontade; Paulo VI conduziu o
Concílio a seu termo, propôs o diálogo com o mundo e fez-se paladino da paz e
do desenvolvimento integral; João Paulo I esboçou um sorriso para o mundo e
levou à meditação da vertente materna de Deus; João Paulo II propôs uma Igreja
mais espiritual e dinâmica e salientou a sua dimensão materna e de perita em humanidade;
Bento XVI consolidou a doutrina e estabeleceu com solidez e pertinência o diálogo
entre a fé e a razão e entre a Igreja e os homens de boa vontade e enfrentou o
pecado de homens da igreja; e Francisco, como voz moralmente autorizada face ao
mundo, destacou a vertente da Igreja em saída, que não tem medo dos escolhos,
mas confia no Espírito Santo e caminha em sinodalidade.
Assim,
se palpa a possibilidade duma frutuosa celebração pascal confiando em Cristo,
nossa esperança, e no Espírito Santo, que, enquanto alma da Igreja, a guia,
leva à renovação da face da Terra e introduz os seres humanos na comunhão
intratrinitária.
É
nestes pressupostos que exprimo os meus votos de boas festas pascais e o meu
protesto de confiança em Deus e nos homens e mulheres de bem. Certamente que o mal
que parece campear no mundo não vencerá as forças do bem e do amor.
Uma
Santa Páscoa!
2017.04.13 – Louro de Carvalho
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