quinta-feira, 13 de abril de 2017

Celebrar a Páscoa em tempo de sobressalto

Segundo a Reuters, as Igrejas na cidade de Minya, no sul do Egito, não festejarão a Páscoa no próximo domingo, em luto pelos 46 cristãos coptas mortos nas explosões em duas igrejas nas cidades de Tanta e Alexandria, nas cerimónias do Domingo de Ramos. Em especial, a Diocese Copta Ortodoxa de Minya explicou que as celebrações se aterão às orações litúrgicas, sem outras quaisquer manifestações festivas. De facto, a Província de Minya tem a maior população cristã copta do país. E os coptas realizam as celebrações e orações da Páscoa na noite de sábado, dedicando o Domingo da Ressurreição à vida em família e refeição com amigos e visitantes.
Por seu turno, o Parlamento egípcio aprovou, no dia 11, a decisão do Presidente Abdel Fattah al-Sissi de decretar o Estado de Emergência de 3 meses após os ataques de domingo, decisão que entrou em vigor às 13 horas do dia 10. E aprovou preliminarmente, na segunda-feira, emendas a um conjunto de leis destinadas a acelerar os julgamentos dos acusados em casos de terrorismo. E al-Sissi criou o Conselho Supremo de Combate ao Terrorismo e ao Fanatismo.
Os ataques, reivindicados pelo Estado Islâmico, são mais uma etapa do cumprimento das ameaças divulgada por vídeo em que os radicais islâmicos prometiam atacar a minoria cristã no Egito. Centenas de famílias haviam sido obrigadas a abandonar o Sinai do Norte após assassinatos em série de cristãos coptas. O grupo reivindicara também a autoria do ataque perpetrado em dezembro passado no Cairo contra uma igreja adjacente à Catedral de São Marcos, que matou 30 fiéis e deixou uma dezena de feridos.
Estamos perante um caso nítido de perseguição de cristãos bem similar das dos primeiros tempos do cristianismo, tanto na Palestina como depois em Roma.
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Está a Rússia ainda a viver o pesadelo dos recentes ataques no Metropolitano de São Petersburgo, com a morte de 11 pessoas e ferimento de mais 30. E “a Igreja Ortodoxa Russa condena com veemência a ação agressiva contra os civis e convida a sociedade a opor-se a toda a manifestação de violência” – é o que afirma o Patriarca de Moscou Kirill (para quem “não há nenhuma justificação para este crime”), na mensagem enviada ao Governador de São Petersburgo, Georgy Poltavchenko, e ao Metropolita Varsonofio.
A Suécia reforçou os controlos nas fronteiras após o atentado com um camião que provocou quatro mortos no centro de Estocolmo, pois enveredou por uma das ruas comerciais mais movimentadas do centro da cidade, a Drottninggatan, abalroando várias pessoas pelo caminho antes de embater na montra dum grande armazém, Åhléns Citya.
Segundo a agência de notícias sueca TT News, a empresa dona do camião usado no ataque, a fabricante de cerveja sueca Spendrups, adiantou que o camião foi roubado na manhã do dia 7 durante uma entrega a um restaurante. “Alguém entrou no camião e o levou enquanto o motorista fazia a descarga”, disse o diretor de comunicações Mårten Lyth.
Está viva na memória das pessoas o atentado em Londres junto da ponte de Westminster perto do Parlamento britânico e o alarme público que a tragédia causou.
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Falámos de terrorismo, mas poderíamos falar de guerra, morte, destruição massiva e fome. Sim, a onda de migrantes que passam por corredores humanitários, os refugiados que embatem contra os muros de todas as ordens recentemente erguidos ou os que se perdem nos mares da exploração e do naufrágio são testemunho de quê? E, por exemplo, os países em que a propalada primavera árabe venceu não estão melhor que antes. E a guerra na Síria mostra o espetáculo da destruição.
Mui recentemente um ataque com armas químicas matou 72 pessoas em Idlib, na Síria. A embaixadora de Trump na ONU ameaçou ação unilateral e Guterres falou em crime de guerra. E a Rússia fica isolada na defesa de Assad.
O incidente vem motivando uma forte reação internacional e os EUA, ameaçaram reagir unilateralmente se a ONU nada fizer sobre a Síria. Yusif é uma das 25 vítimas que estão a ser tratadas no Reyhanli Hospital, no Sul da Turquia.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres, falou em 52 adultos e 20 crianças mortas no dito ataque. O regime de Bashar al-Assad tem sido alvo de todas as acusações, ao mesmo tempo que dão a volta ao mundo imagens de crianças e adultos, estendidos no chão, paralisados, mortos ou a sufocar. Segundo várias organizações, esses são sintomas de um ataque com gás sarin. E O diretor do programa de emergências da OMS, Peter Salama, lembrou que “o uso destas armas é proibido”. E os Médicos Sem Fronteiras trataram oito pacientes com sintomas de exposição a agentes nervosos.
Na condenação a Assad, a exceção foi a Rússia, que numa reunião do Conselho de Segurança da ONU disse ser inaceitável o projeto de resolução dos EUA, França e Reino Unido. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a quem a Amnistia Internacional tenciona dirigir uma petição que pôs a circular na net pedindo justiça para as vítimas do ataque, classificou o sucedido como “crime de guerra”. Porém, segundo Igor Konashenkov, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, os gases letais procederam de “um armazém onde os terroristas [rebeldes] guardavam projéteis carregados com agentes tóxicos” que, por sua vez, foram alvo dos bombardeamentos lançados pelo regime sírio.
Não obstante, ouvido pela rádio BBC 4, o coronel Hamish de Bretton-Gordon, especialista em armas químicas, disse tratar-se de gás sarin e que a versão dos russos é insustentável. E explicou: “Inevitavelmente, se explodirem o sarin, vão destruí-lo”. Fonte da Casa Branca disse à Reuters a coberto do anonimato, que os americanos “não acreditam” na versão russa.
Com as fotos das crianças mortas, a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, interrogou:
“Quantas crianças têm de morrer para que a Rússia se importe? Quando a ONU falha frequentemente o seu dever de agir coletivamente, há alturas em que os Estados têm de agir sós.”.
À ameaça de ação unilateral, o presidente dos EUA, Donald Trump, juntou mais um aviso: “Quando se matam crianças inocentes, bebés, com gás químico letal, isso ultrapassa muitas linhas vermelhas”. Trump referia-se ao facto de Barack Obama ter dito que o uso de armas químicas era a linha vermelha para Assad. Ontem garantiu ainda: “As ações hediondas do regime de Assad não podem ser mais toleradas”. E desafiando tudo e todos lançou uma jogada perigosa ao mandar bombardear a Síria com 59 mísseis – o que pôs de sobreaviso a Rússia e a Coreia do Norte.
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Ademais, a comunicação social diariamente faz eco de fenómenos que trazem à tona a onda de criminalidade organizada e factos de crimes graves praticados de forma isolada. Assim, é de questionar que lugar fica para a festa da Páscoa neste ambiente de medo e de sobressalto.
Para glosar uma resposta à questão, é pertinente ver como foi o ambiente de celebração da Páscoa judaica. O povo israelita estava esmagado (trabalhos forçados e limitação coerciva da natalidade masculina) pelo regime faraónico. Havia que preparar a fuga de noite e sabendo que a perseguição dos carros e cavalos egípcios iria no seu encalço. Nem as 10 pragas lançadas por Moisés surtiam efeito. Mesmo a da morte dos primogénitos não criou uma convicção irreversível na mente de Faraó. E os israelitas tiveram de reunidos, pela calada da noite, cada um em sua família, comer o cordeiro pascal com pão ázimo e ervas amargas – de pé, rins cingidos e bordão na mão e com as portas aspergidas com o sangue do cordeiro. Era preciso partir. E, sob o comando de Moisés atravessaram a pé enxuto o Mar Vermelho, cujas águas se reajuntaram para submergir carros cavalos e cavaleiros egípcios que iam em perseguição dos israelitas. A partir daí, todos os anos, no deserto (40 anos) e, depois, na terra de Canaã, se celebrava do mesmo modo a festa da Páscoa, como a Passagem do Mar Vermelho ou a Libertação do poder opressivo do Egito.
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E as circunstâncias da celebração da Páscoa por Jesus não foram melhores. O ambiente era de divisão. Belém era uma cidade minúscula, Nazaré na Galileia tinha má fama, pasto dos vícios comerciais do cosmopolitismo. Samaritanos e judeus nem se falavam, separados até ela disputa do lugar de adoração. O crime, se não era organizado, era frequente e profissional. O poder romano era opressivo através dos impostos excessivos, com agravo mercê da ladroagem dos publicanos, e reprimia todas as sedições que eram recorrentes. É célebre o episódio de Pôncio Pilatos em que o Governador mandou matar um número significativo de galileus. Por outro lado, o serviço do Templo não era menos opressor quer na captação de esmolas, quer nas prescrições.
Jesus, que passou pelo mundo a fazer o bem e pregava o reino de Deus, muitos dos discípulos O abandonaram – e, no fim, todos menos um; e as multidões eram seduzidas por Ele e aclamaram-No como Rei de Israel, como Messias, mas acabaram por gritar a sua crucifixão e pedir a libertação de Barrabás.
Ora, Jesus não teve medo. Cumprindo as Escrituras, fez a vontade do Pai. Preparou a entrada triunfal em Jerusalém exigindo a cedência da jumenta e do jumentinho, que restituiu; deixou-se aclamar pela multidão; expulsou os vendilhões do Templo e aí ensinou; e lamentou a sorte de Jerusalém que matou os profetas não se arrependendo nem agora. Na altura própria, quis pela última vez celebrar a Páscoa com os discípulos e requisitou casa e sala. Não se desculpou com a hostilidade dos sacerdotes, o desprezo dos saduceus e a hipocrisia dos fariseus, nem com a timidez dos discípulos. Ali Se entregou como alimento – seu corpo e sangue – nas espécies de pão e vinho pela multidão dos seres humanos, antecipando o sacrifício da Cruz, e enunciou o mandamento novo do amor como sinal distintivo dos discípulos para que o mundo creia. E instituiu o sacerdócio ministerial como serviço à aliança nova e eterna firmada no seu sangue.
Deixou-Se trair por Judas, sabendo que este era o primeiro, mas que muitos mais Judas haviam de surgir ao longo da História; tolerou a negação de Pedro, sabendo que muitos haviam de O negar ao longo dos séculos; deixou-Se manietar pelos que O procuravam no Horto e conduzir ao tribunal do sinédrio e ao de Pilatos; e carregou a cruz para o Gólgota secundado pelo Cireneu. Finalmente, aceitou despojarem-No das vestes e crucificarem-No, na certeza de que o Pai perdoaria aos algozes porque não sabiam o que estavam a fazer. Mesmo ali teve a lucidez de confiar a Mãe ao discípulo amado (a nós todos) e vice-versa. E, depois de expirar, alguém reconheceu Nele o Filho de Deus; e do seu lado brotou sangue e água – símbolos do batismo no fogo e no Espírito e da Eucaristia, sacrifício e comunhão no seu corpo e sangue.   
Não hesitou em descer à mansão dos mortos e, sobretudo, venceu os prováveis comentários de “imposturice” e ressuscitou para dar as últimas instruções aos discípulos, fortalecendo-os com a força do Alto e confiando-lhes a missão de fazerem discípulos em todas as nações para que a todos fosse pregado o Reino de Deus e alcançassem o perdão dos pecados crendo no Messias.
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E a Páscoa da Igreja?
Os primeiros cristãos foram perseguidos pelos chefes do Templo, presos e açoitados, proibidos de falar. Estêvão foi apedrejado e deu testemunho de Cristo. Depois, a perseguição generalizou-se. E Paulo, o apóstolo que, dantes, fora feroz perseguidor dos cristãos, argumentou com o seu estatuto de cidadão romano e apelou para César, pelo que seguiu para Roma, caminho que Pedro acabou por seguir.
De nada a Igreja primeva teve medo. Era comunidade modelo e vivia a alegria da Ressurreição:
Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o Templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação (At 2,42-47).
No meio desta exemplar comunhão de todos, destacava-se o papel dos apóstolos e da Graça:
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum.  Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles (At 4,32-33).
Face a desordens e mal-entendidos, Paulo apelava à pureza da celebração pascal:
Purificai-vos do velho fermento, para serdes nova massa, já que sois pães ázimos. Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade (1Cor 5,7-8).
A celebração da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus é crucial para os crentes em Jesus Cristo. Sem essa doutrina, não há Cristianismo e nem a Páscoa cristã. No princípio, a Páscoa era celebrada semanalmente no primeiro dia da semana, o da Ressurreição de Jesus. Depois, além desta, passou-se também (Não esqueçamos aqui a palavra “também”!) à especial celebração anual
Policarpo representava (no século II) o costume da festa da Páscoa com vigília, a terminar com a Santa Ceia, na noite do 14.º dia do mês de nisã (mês do calendário judaico), como a Páscoa judaica, independentemente do dia da semana que fosse. E Aniceto representava o costume romano, também seguido por alguns no Oriente, da festa da Páscoa sempre no domingo.
No século III, para a Igreja, o grande evento do ano era a Páscoa. O período anterior era de jejum em memória dos sofrimentos de Cristo. Em Roma, era feito jejum e vigília de 40 horas em memória do seu descanso tumular. Com o Concílio de Niceia, que fixou a data da Páscoa nos termos atuais, esse período foi antecipado pela Quaresma (40 dias). O jejum terminava na alvorada de Páscoa, dando início então ao período Pentecostal de regozijo.
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Também hoje, apesar de tudo, temos o direito e a obrigação de celebrar a Páscoa, confiados em Jesus força e esperança da Igreja. Talvez seja oportuno fazer o jejum solidário pelo sofrimento dos que partem e pela dor dos que ficam. Mas não pode faltar o cântico de Aleluia e a memória celebrativa da Paixão e Ressurreição, porque Ele, Cristo, é a garantia da Ressurreição de todos.
Sem medo e crendo no futuro, Santa Páscoa para todos e todas!

2017.04.13 – Louro de Carvalho

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