Uma jovem de 18 anos, residente em Albufeira,
automutilou-se e atirou-se de um viaduto junto a uma linha férrea. O episódio,
ocorrido na madrugada do dia 27, é atribuído ao perigoso jogo online conhecido como “Baleia Azul”
A predita jovem foi encontrada caída na linha férrea da estação de comboios
de Ferreiras, em Albufeira, pelas 2 horas da madrugada, e socorrida pelos
Bombeiros de Albufeira, tendo sido imediatamente transportada para o Hospital
de Faro.
Segundo o JN, trata-se duma portuguesa
filha de pais de nacionalidade ucraniana. Já esteve institucionalizada, mas não
há registo de tentativas de suicídio anteriores. Agora, tinha a palavra “sim” escrita na coxa direita com uma
faca e “F57” escrito na palma da mão
esquerda. E, de acordo com fonte hospitalar, tem uma fratura na perna e vários
ferimentos. Está internada no serviço de ortopedia e já recebeu a visita da
mãe.
Também um
adolescente, de 15 anos, de Sines foi transportado para o Hospital de Setúbal
por cortes no braço (e uma baleia “desenhada”), que fontes dos bombeiros e da GNR relacionam com o esquema do jogo “Baleia
Azul”, que estimula a automutilação e o suicídio.
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O jogo “Baleia Azul” terá surgido pela primeira vez na Rússia, país onde
130 jovens se suicidaram, pelos vistos, devido ao jogo que é disputado nas
redes sociais e em que os participantes, muito jovens, são desafiados por um
mentor a cumprir até 50 desafios violentos, culminando com a morte por
suicídio.
No Brasil, a polícia, que está a investigar a morte de dois jovens ocorrida
este mês, pensa que a origem destes dois episódios esteja neste mortífero jogo.
Também em Inglaterra, na Roménia e em França o fenómeno está a causar viva preocupação,
tendo sido acionadas campanhas de informação e prevenção sobretudo junto das
escolas.
Segundo Leonid Bershidsky, da Bloomberg, o surgimento do jogo “Baleia Azul” é explicado
pelo caos socioeconómico que grassa na Rússia. Para este colunista da Folha de São Paulo, trata-se duma
espécie de “jogo do suicídio” que, surgido na Rússia, está a espalhar-se entre
os adolescentes do planeta e provoca as mesmas questões urgentes em toda parte.
E as duas pertinentes questões levantadas são: Quem é responsável? E como impedir que ele avance?
Para já, as
redes sociais e o poder legislativo da Rússia pretendem eliminar estes “grupos
de morte”, mas podem, na verdade, estar a lutar contra uma lenda urbana de
difícil controlo. E a ameaça está bem estabelecida: os elevados índices de
suicídios encontrados em países que enfrentam problemas desde a queda da URSS
resultam de males sociais muito mais amplos.
O jogo, que traz
sérias preocupações a pais e autoridades, chama-se, em português, “Baleia Azul”
(tradução
direta do nome original russo, Siniy Kit) – designação que advém duma canção da banda de rock
russa Lumen. Os versos iniciais são:
“porque gritar / quando ninguém ouve / o
que estamos dizendo?”; e a letra diz: “uma
grande baleia azul” que “não consegue
romper a rede”.
O público
russo descobriu o jogo e suas diversas variantes em maio de 2016, quando Galina
Mursaliyeva, do “Novaya Gazeta”,
jornal conhecido pela sua oposição ao Kremlin, descreveu a cultura do que
descreveu como “grupos de morte” ao relatar a experiência de uma mãe cuja filha
de 12 anos se havia suicidado, após o que a mãe investigou as atividades online da filha, que desembocaram na
tragédia, e sentiu-se compelida a revelar o resultado da investigação a fim de
evitar novos casos. A história causou sensação, chegando a desencadear apelos à
restrição do acesso de adolescentes à Internet.
Ao postarem
mensagens com determinados hashtags
em redes sociais ou ao aderirem a certos grupos, os adolescentes (em geral, com
idades dos 10 aos 14 anos) são
selecionados por “curadores” que, averiguadas as informações do potencial
participante, estabelecem listas com até 50 tarefas diárias para cada um,
tarefas que vêm a culminar na missão mais importante do jogo: o suicídio.
As tarefas
envolvem a assunção de riscos, como, por exemplo, que o participante se corte.
Nos 10 dias finais do jogo, o participante precisa de acordar bem cedo pela
madrugada, ouvir música e pensar na morte. Os que se assustam e decidem tentar sair
do jogo recebem ameaças, em muitos casos, a de que os pais serão assassinados.
Muitos
adolescentes sabem praticamente tudo sobre o “Baleia Azul”, falando dele em tom
calmo e zombeteiro e mencionando casualmente que têm amigos que, embora não se
disponham a pular pela janela dum edifício alto, gostam de se cortar, porque
isso chama a atenção e faz com que se sintam especiais. Como o jogo se difundiu
largamente, há adolescentes russos que buscam os “curadores” e os zoam online.
O caso-tipo é:
Em diálogo hilariante, o curador pede a uma menina que “corte uma baleia”. Em
vez disso, ela corta um gato de papel duma história em quadrinhos no jornal (as palavras
russas para “gato” e “baleia” – “kot” e “kit” – são parecidas). Se perceber que a menina não leva a sério o jogo de
suicídio, o administrador, zangado, ameaça enviar-lhe agressores. Ela responde:
“Vou descer para esperar na rua – o elevador não está a funcionar e eles
podem não ter energia para me matar se tiverem que subir oito andares de escada”.
É claro que
não aparece nenhum agressor, mas a ameaça fica a marinar na mente da menina.
Em novembro,
Filipp Budeykin, um dos primeiros “curadores”, foi detido pelo crime de incitação
ao suicídio. Os apartamentos de outros administradores do jogo foram alvo de
revistas policiais. Budeykin, que alegadamente sofre de distúrbio bipolar e
teve uma infância infeliz, de sofrimento e abusos, aguarda julgamento.
Este ano, ressurgiu
a discussão sobre os “grupos de morte”. Há informações sobre a participação de adolescentes
na Estónia, no Cazaquistão, na Ucrânia e noutros países da era pós-soviética.
Irina
Yarovaya, vice-presidente da assembleia legislativa russa e uma das integrantes
da linha mais dura do Parlamento, disse em fevereiro que o número de suicídios
de adolescentes na Rússia havia subido de 461, em 2015, para 720, em 2016. E declarou
estar a ser travada uma guerra “contra as crianças”. Não referindo quem a
estava a travar, assegurou que “essa é uma verdadeira atividade criminosa,
organizada, propositada e com consequências”.
Para obviar
à situação, apresentou um projeto de lei que torna crime a administração de
“grupos de morte” e a participação em jogos como o “Baleia Azul”, com a moldura
penal de seis anos de prisão para os envolvidos – iniciativa legislativa que
mereceu a aprovação parlamentar.
Por sua vez,
o Vkontakte e o Instagram, dois dos serviços online mais visitados pelos adolescentes russos, também vêm
tentando combater a ameaça, por meio da remoção de posts que contenham hashtags
associados ao “Baleia Azul”. E o Instagram também envia mensagens aos
responsáveis pelos posts, sugerindo busca
de terapia e oferecendo ajuda. Mas o ponto fraco deste controlo é a
inexistência de provas. Adolescente que pense no suicídio buscará contacto com
pessoas que pensem como ele, e as redes sociais são o lugar mais fácil para tal
busca.
***
Possivelmente,
o jogo e os “grupos de morte” causaram elevação no número de suicídios. As
pessoas, sobretudo os adolescentes, tendem a matar-se em “aglomerados
espácio-temporais”, em termos do comportamento mimético. Mesmo assim, de acordo
com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o índice de suicídio entre os adolescentes da
Rússia é superior à média desta organização há muito tempo. Ele só fica atrás
dos números da Nova Zelândia, onde jovens das comunidades indígenas carentes
elevam o número de suicidas.
Embora nenhuma
organização internacional acompanhe especificamente os números do suicídio de
crianças de entre 10 e 15 anos – população-alvo do “”Baleia Azul” –, é seguramente
de presumir que a Rússia esteja entre os líderes mundiais, nesse cômputo.
Antes de se
falar neste fator de suicídio, os pesquisadores atribuíam a prevalência do
suicídio adolescente na Rússia à disfunção generalizada na vida familiar (a Rússia tem
um dos índices de divórcio mais elevados do planeta) e à disponibilidade fácil e aceitação social do uso
do álcool. E há pressões adicionais, como a de viver num sistema corrupto e
semicapitalista sem caminho seguro de sucesso para as crianças de famílias
falhas de conexões políticas e profissionais. É difícil vislumbrar se, de
futuro, um indivíduo crescerá em bloco de apartamentos populares encardido, na
periferia de cidade industrial, com pais bêbados, belicosos ou ausentes e uma
escola que não oferece qualquer alívio – dúvida que precede o suicídio dum
adolescente russo.
Há indicações
de que os jovens russos buscam ativamente maneiras de extravasar as suas frustrações.
Estudantes secundaristas e universitários são a principal força que esteve por
trás dos recentes protestos nacionais contra a corrupção. Mas nem todos se
interessam por atividades políticas e, na Rússia, elas podem terminar tão mal
como um jogo de suicídio.
O governo
russo vem adotando leis mais duras contra conteúdo de Internet relacionado com o
suicídio e chega a fechar sites pela simples
menção a suicídio. E a justiça será mais rigorosa quanto os “grupos de morte”
forem caraterizados como atividade criminosa. Contudo, não cairá o índice de suicídio
de adolescentes se não forem enfrentadas suas causas, além dos sintomas.
Apesar de
tudo, o índice de suicídios na Rússia é menor hoje do que nos anos 90, quando a
maioria da população do país sofria com os sérios problemas da economia. Porém,
é preciso reduzi-lo mais. Para tal é preciso criar incentivos para as famílias
não se dissolverem, combater o consumo descontrolado do álcool e das drogas e
apresentar aos jovens uma visão de futuro mais convincente. Porém, o governo de
Putin está mais preocupado na promoção da alta no índice de natalidade, algo
sobre o que o Presidente jamais perde o ensejo de se vangloriar.
Entretanto,
o “Baleia Azul”, com a sua exploração da autopiedade e do apego dos
adolescentes a fazer drama, continuará a avançar pelo planeta. O jogo não
precisa do feio cenário da Rússia para prosperar: a miséria adolescente não tem
fronteiras. Têm, pois, os governos que estar muito atentos, bem como os diversos
setores da sociedade civil.
***
O “Baleia
Azul” é, como se disse, um jogo composto por 50 desafios enviados a partir da
troca de mensagens entre adolescentes e organizadores, os “curadores”, que tem
preocupado os países nos últimos dias. Com tarefas específicas – desde a visualização
de filmes de terror até à automutilação – o jogo incita os participantes ao
suicídio. Evidentemente que o jogo em si é uma consequência de algo que já não
vai bem na vida do adolescente. Não surge de súbito. E, segundo Ana Suy
Sesarino Kuss, professora do curso de Psicologia no Centro Universitário Autónomo
do Brasil (Unibrasil), cabe aos pais provocar a conversa
diária com o adolescente, sem imposição alguma, falando sobre coisas simples
como um livro, a escola, um filme e até a vida dos vizinhos. Com efeito, há que
“perceber durante a fala se há sentido para ele em viver”, pois “ele não é um
objeto e está numa fase de construção de uma lógica própria”.
As mudanças
de comportamento caraterísticas desta idade devem ser acompanhadas de perto
pelos pais para entenderem como ter essa abertura para a conversa. É importante
ficar com atenção a alguns sinais; e, no momento, em que um jogo perigoso como
este tenha ganhado proporções policiais, é imprescindível o cuidar.
Eis alguns dos
sinais que podem auxiliar a perceber se o adolescente está envolvido no “Baleia
Azul”: automutilação (alguns
com desenhos de baleia);
mudança de comportamento; isolamento do convívio familiar (por exemplo, muito tempo trancado no
quarto); filmes de
terror como a opção mais frequente; saída de casa em horários incomuns, como na
madrugada; conectação à Internet durante muito tempo; e inclusão de contactos
desconhecidos no telemóvel e nas redes sociais.
Segundo
internautas que tiveram contacto
com “curadores”, estes são hackers, investigam
toda a vida dos participantes e usam a informação para ameaçar de morte as
famílias dos jovens, caso o jogador abandone os desafios. Por isso, se encarece
a importância do diálogo reforçado com os filhos e da denúncia às autoridades policiais.
Ainda de acordo
com informações dos preditos internautas, a lista dos 50 desafios:
“1)
À navalha, escrever “F57” na mão e enviar foto ao curador; 2) acordar às 4,20 horas AM e visualizar vídeos psicadélicos e
assustadores enviados pelo curador; 3)
cortar braço com lâmina ao longo das veias, mas não muito profundo, apenas 3
cortes, e enviar foto ao curador; 4)
desenhar uma baleia numa folha de papel e enviar foto ao curador; 5) escrever “sim” na pena, no caso de
estar pronto para se tornar uma baleia, ou cortar-se muitas vezes, no caso de
não estar pronto; 6) tarefa com uma
cifra; 7) escrever “F40” na mão e
enviar foto ao curador; 8) escrever
“#i_am_whale” no seu status do VKontakte
(rede social russa); 9) obrigação de superar o medo; 10) acordar às 4,20 horas AM e ir para um telhado (quanto mais alto, melhor); 11) desenhar uma baleia na mão à navalha e enviar foto ao curador; 12) visualizar vídeos psicadélicos e de
horror o dia todo; 13) ouvir música
que “eles” (curadores) enviam; 14) cortar o lábio; 15)
furar a mão com agulha muitas vezes; 16)
fazer algo doloroso para si mesmo, ficar doente; 17) ir para o telhado mais alto que encontrar, ficar na borda por
algum tempo; 18) ir para uma ponte e
sentar-se na borda; 19) subir um guindaste
ou, pelo menos, tentar; 20) verificação
pelo curador se o participante é de confiança; 21) assistir a palestra “com uma baleia” (com outro jogador ou com um curador) no Skype; 22) ir para um
telhado e apoiar-se na borda com as pernas penduradas; 23) outra tarefa com uma cifra; 24) tarefa secreta; 25) reunião
com uma “baleia”; 26) informação da
data da morte do participante pelo curador, cuja aceitação é obrigatória; 27) acordar às 4,20 horas AM e ir para
os trilhos (visitar qualquer
estrada de ferro que puder encontrar); 28) não falar
com ninguém o dia todo; 29) fazer um
voto de que o participante “é uma baleia”; 30)
a 49) acordar, todos os dias, às 4,20
horas AM, visualizar vídeos de terror, ouvir música que “eles” enviam, fazer um
corte no corpo por dia, falar “com uma baleia”, durante o intervalo dos
desafios entre 30 e 49; e 50) acabar
com a sua própria vida.”.
***
Enfim, redobrada
atenção, cuidado e medidas adequadas da parte dos governos, polícias e pais!
2017.04.28 – Louro de Carvalho
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