É um adequado epíteto com que Dom Manuel Linda, Bispo do
Porto, caraterizou o seu antecessor Dom António Francisco na homilia da Missa a
que presidiu na Sé Catedral do Porto, pelas 19 horas do dia 11, pelos bispos, sacerdotes
e diáconos da diocese falecidos, e que marcou o segundo aniversário da morte do
saudoso prelado, a 11 de setembro de 2017.
Na predita celebração,
estiveram presentes: Dom Pio Alves, Bispo auxiliar, Dom António Taipa, Bispo
auxiliar emérito e Dom Vitorino Soares, Bispo auxiliar nomeado pelo Papa
Francisco e que será ordenado no próximo domingo dia 29 de setembro, e muitos sacerdotes.
Na homilia, o prelado portuense, comentando as
bem-aventuranças, salientou cinco aspetos que julga essenciais: caraterizam o verdadeiro discípulo; assinalam uma
dificuldade do presente que será alegria
de futuro; definem o conceito de “justo” dizendo que “justo” é aquele que cumpre as bem-aventuranças;
são a carta magna do reino de Deus,
pois, o reino do mundo é de violência (Neste particular, recordou o 18.º
aniversário do ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque e o recente homicídio da Irmã
Antónia, religiosa da Congregação das Servas de Maria, que vivia o carisma de
missionária dos enfermos); e são a
certeza que Deus não esquece os
sofredores.
De Dom António Francisco dos Santos frisou Dom Manuel
Linda que foi exemplo da vivência das bem-aventuranças através de uma “simplicidade”
contagiante e atrativa. Assinalou que a “simplicidade” é aquilo que “cativa”, enquanto
“a soberba afasta”. Afirmou três caraterísticas que Dom António Francisco soube
levar a todos os trabalhos e missões que serviu, em particular, na diocese do
Porto: a doçura, a mansidão e a misericórdia. E, fazendo memória de todos os ministros ordenados
que serviram a diocese, nesta celebração que os recordou particularmente,
declarou ser Dom António Francisco um verdadeiro exemplo desse serviço.
E evocando o lema episcopal de Dom António Francisco
dos Santos, “In manus Tuas”, o
presidente da celebração declarou, no final da sua homilia, que o antigo bispo
do Porto é “um dos maiores cartões de
apresentação da Igreja do Porto”.
***
Esta efeméride ficou marcada também pela segunda
edição do Prémio Dom António Francisco, no valor de 75 mil euros, que vai
ser atribuído, desta feita, à APAV (Associação Portuguesa de Apoio à
Vítima), segundo anunciaram os promotores
do galardão. Como se lê num comunicado enviado à agência Ecclesia, “o projeto selecionado
representa uma causa que merece sempre a maior atenção e cuidado de toda a
sociedade” e “o trabalho desenvolvido
por esta associação cumpre de forma exemplar os objetivos deste prémio”.
Na verdade, a APAV é uma instituição particular de
solidariedade social, pessoa coletiva de utilidade pública, que tem
como objetivo promover (e contribuir para) a
informação, proteção e apoio aos cidadãos vítimas
de infrações penais, uma organização sem fins lucrativos e de
voluntariado que apoia, de forma individualizada, qualificada e
humanizada, vítimas de crimes, através da prestação de serviços gratuitos e
confidenciais.
O júri do Prémio Dom António Francisco é
constituído pelo presidente da Associação Comercial do Porto, pelo presidente
da Irmandade dos Clérigos e pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto,
que o atribuíram nesta segunda edição à associação fundada a 25
de junho de 1990 e que tem sede em Lisboa, mas que é de âmbito
nacional.
Pelo segundo ano consecutivo, na data que assinala
dois anos do falecimento de Dom António Francisco dos Santos (11 de setembro
de 2017) foi atribuído este prémio “em
homenagem a um homem que deixa uma enorme saudade”, o Bispo do Porto, desde
2014, que faleceu aos 69 anos, na Casa Episcopal da diocese, na sequência de um
problema cardíaco.
Com um valor de 75 mil euros, o Prémio Dom
António Francisco é uma iniciativa solidária da Associação Comercial
do Porto, da Irmandade dos Clérigos e da Santa Casa da Misericórdia do
Porto que se destina a apoiar cidadãos e projetos que se distingam na
“promoção e defesa da dignidade da pessoa
humana, na defesa e promoção dos direitos humanos, no diálogo inter-religioso e
ecuménico e na promoção da paz”.
Na sua primeira edição foram distinguidos projetos de
apoio aos refugiados e população desfavorecida na cidade do Porto – Centro de
São Cirilo e o trabalho do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Unidade
Habitacional de Santo António, dos Jesuítas.
A data da cerimónia de entrega do prémio “será
anunciada oportunamente”.
***
A Diocese do Porto encontrou ainda outra forma de
fazer memória do Bispo que vem homenageando. Assim, às 21 horas do dia 11, no
auditório do Palácio da Bolsa, procedeu-se à apresentação do livro “Caminhando com Dom António Francisco dos
Santos, a propósito de um monumento em Tendais”, da autoria de Bernardo
Corrêa d’Almeida.
A apresentação foi
confiada ao Cónego Jorge Teixeira da Cunha, presidente do Cabido da Sé e
Professor de Teologia Moral da Universidade Católica. A obra reuniu a
colaboração de várias pessoas, entre as quais Dom António Taipa, Bispo auxiliar
emérito do Porto, que prefaciou o livro e o pintor António Bessa, autor da
imagem da capa e de retratos de António Francisco.
No próximo domingo, dia 15 de
setembro, a mesma publicação vai ser apresentado às 16 horas na biblioteca da
Câmara Municipal de Cinfães, de onde era natural Dom António Francisco, mais
concretamente da Paróquia de Tendais (Diocese de Lamego), paróquia para quem revertem os lucros do novo livro,
já que foi ela que se responsabilizou pela edição.
Falando na apresentação do livro dedicado ao seu
antecessor, o Bispo do Porto disse que Dom António Francisco dos Santos,
falecido em 2017, fez com que muitas instituições “começassem a ver a Igreja
doutra maneira”. E explicitou:
“Na sua forma simpática, cordial,
dialogante, sorridente, com aquela ternura que não é um artifício, mas é algo
que brota de uma coração trabalhado, ele foi capaz de colocar-se como ponto de
atração, a que as pessoas não resistiam”.
Mais reiterou que o falecido bispo é “um cartão de
apresentação da diocese” e “um exemplo de candura”. E, segundo a ‘Voz Portucalense’, Dom Manuel Linda
recordou o sorriso, a simpatia e capacidade de diálogo do prelado natural da Diocese de Lamego.
O autor do novo livro Frei Bernardo Corrêa D’Almeida,
professor de Exegese e Teologia Bíblica na Faculdade de Teologia da
Universidade Católica Portuguesa, no Porto, agradeceu os testemunhos das
diversas personalidades que apresenta na publicação e lembrou a atitude dócil
do antigo bispo diocesano.
O presidente do Cabido da diocese portuense, que
apresentou o livro, destacou a “memória de alguém que marcou a cidade do Porto”
e referiu-se a Dom António Francisco como o “amigo bispo inesquecível”, “uma figura de homem de Deus, caraterizada
pela sua bondade, um avaliador fino e justo das pessoas, que se gastou depressa
ao serviço de todos nós”.
Para o presidente da Associação Comercial do Porto,
Nuno Botelho, que recebeu este evento, Dom António Francisco dos Santos foi
alguém “que se aproximou de forma muito rápida do coração” e percebeu “a
importância do tecido empresarial na construção do que é a nossa rede social”,
marcando “de forma indelével a vida da associação e da cidade”.
A Rádio Renascença destacou a presença de Pinto da Costa
que disse que o antigo Bispo do Porto “era um grande amigo”. “Quando falava, sentíamos que estávamos a
falar na terra com um santo”, afirmou o presidente do FC Porto à margem da
apresentação de ‘Caminhando com Dom
António Francisco dos Santos – A propósito de um monumento em Tendais’.
***
Por fim, é de salientar o
testemunho do Padre José Pedro Azevedo, que foi chefe de gabinete de Dom
António Francisco e que a ‘Voz Portucalense’ acaba de publicar.
Pressupondo que nos arriscamos “a deixar de existir”,
se prescindirmos da memória do tempo, que “somos hoje o que os outros nos
deixaram como legado e que é com a memória que construímos o futuro”, aplica a
Dom António Francisco as seguintes palavras do profeta Zacarias: “Assim fala o
Senhor do Universo: Virão de novo a
Jerusalém povos e habitantes de grandes cidades” (Zc 8,20). E diz que tais palavras “proféticas e carregadas de
esperança se concretizarão no Porto pela semente lançada à terra em tempo
oportuno” pelo Bispo de saudosa memória, sendo que a sociedade portuense lho
reconhece, “crentes e menos crentes, todos”.
Se “nenhuma vida surge ao acaso”, em Dom António “esta
verdade era evidente”, pois “tocou o coração de todos os que com ele se
encontraram”. E o sacerdote confessa:
“Atingiu profundamente o meu coração como
uma ‘seta que voa de dia’ (Sl 91,5) e alargou-o à medida maior da dor e do
amor, porque todos nós precisamos de sinais para chegar a Jerusalém, à cidade
santa, à Casa de Deus. Todos precisamos de quem nos dê a direção e aplane o
caminho. Isto só acontece na simplicidade e na humildade que Jesus um dia
referiu em relação às crianças.”.
Do cristão desafiante e fascinante, que “não defraudou a quem procura o Senhor” e
que “nos deixa o odor da santidade”,
o Padre José Pedro evoca três traços caraterísticos.
- Crente,
cuja “vida partia de Deus e acabava em
Deus”. Qualquer saída de casa e qualquer chegada a casa passava pela
capela; qualquer preocupação era colocada sob o manto protetor de Nossa Senhora
(“tantos
papelinhos naquela Imagem!”); e “a
oração era sempre o seu combustível e era a sua única força”, segundo o princípio
inaciano “Reza como se tudo dependesse de
Deus, mas trabalha como se tudo dependesse de ti”.
- Testemunha
incansável do amor de Deus. “Não havia ninguém doente e que ele soubesse, a
ficar por visitar, mesmo nos dias mais difíceis, nem que para isso tivesse de
não jantar”.
- Bondade,
com “um coração como o coração de Jesus,
onde todos cabiam e onde ninguém, mas mesmo ninguém podia ficar de fora”,
lutando todos os dias “para que a única
medida fosse a misericórdia, sempre e em todas as circunstâncias” e tendo a
sua vida toda sido “um magnífico compêndio duma teologia da bondade”, que valia a pena estudar.
E o Padre Azevedo assegura:
“A Oração, a Caridade e a Bondade são
imprescindíveis para todo o cristão, a chave para continuarmos a subir a
Jerusalém, caminho da Cruz e porta da Ressurreição e para cumprirmos o
testamento que Dom António Francisco em Fátima nos deixou: ‘Igreja do Porto:
Vive esta hora, que te chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de
Cristo e a partir de Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a
beleza da fé e a alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão
evangelizadora é a nossa missão. A vossa e a minha missão’!”.
E conclui:
“Passam dois anos do fim da sua santa
viagem, mas a sua vida não terminou, porque não cabe no tempo e enquanto não nos
virmos rezo como o salmista: “Ensina-nos
a contar assim os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração” (Sl
90,12).
***
São testemunhos
espirituais, académicos e sociais que dão conta da inquestionável respiração evangélica
e do odor de santidade que perpassa a vida e a memória deste santo prelado,
honra da Igreja e orgulho dos colegas.
2019.09.12 –
Louro de Carvalho
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