quinta-feira, 12 de setembro de 2019

“Um dos maiores cartões de apresentação da Igreja do Porto”


É um adequado epíteto com que Dom Manuel Linda, Bispo do Porto, caraterizou o seu antecessor Dom António Francisco na homilia da Missa a que presidiu na Sé Catedral do Porto, pelas 19 horas do dia 11, pelos bispos, sacerdotes e diáconos da diocese falecidos, e que marcou o segundo aniversário da morte do saudoso prelado, a 11 de setembro de 2017.
Na predita celebração, estiveram presentes: Dom Pio Alves, Bispo auxiliar, Dom António Taipa, Bispo auxiliar emérito e Dom Vitorino Soares, Bispo auxiliar nomeado pelo Papa Francisco e que será ordenado no próximo domingo dia 29 de setembro, e muitos sacerdotes.
Na homilia, o prelado portuense, comentando as bem-aventuranças, salientou cinco aspetos que julga essenciais: caraterizam o verdadeiro discípulo; assinalam uma dificuldade do presente que será alegria de futuro; definem o conceito de “justo” dizendo que “justo” é aquele que cumpre as bem-aventuranças; são a carta magna do reino de Deus, pois, o reino do mundo é de violência (Neste particular, recordou o 18.º aniversário do ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque e o recente homicídio da Irmã Antónia, religiosa da Congregação das Servas de Maria, que vivia o carisma de missionária dos enfermos); e são a certeza que Deus não esquece os sofredores.
De Dom António Francisco dos Santos frisou Dom Manuel Linda que foi exemplo da vivência das bem-aventuranças através de uma “simplicidade” contagiante e atrativa. Assinalou que a “simplicidade” é aquilo que “cativa”, enquanto “a soberba afasta”. Afirmou três caraterísticas que Dom António Francisco soube levar a todos os trabalhos e missões que serviu, em particular, na diocese do Porto: a doçura, a mansidão e a misericórdia. E, fazendo memória de todos os ministros ordenados que serviram a diocese, nesta celebração que os recordou particularmente, declarou ser Dom António Francisco um verdadeiro exemplo desse serviço.
E evocando o lema episcopal de Dom António Francisco dos Santos, “In manus Tuas”, o presidente da celebração declarou, no final da sua homilia, que o antigo bispo do Porto é “um dos maiores cartões de apresentação da Igreja do Porto”.
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Esta efeméride ficou marcada também pela segunda edição do Prémio Dom António Francisco, no valor de 75 mil euros, que vai ser atribuído, desta feita, à APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), segundo anunciaram os promotores do galardão. Como se lê num comunicado enviado à agência Ecclesia, “o projeto selecionado representa uma causa que merece sempre a maior atenção e cuidado de toda a sociedade” e “o trabalho desenvolvido por esta associação cumpre de forma exemplar os objetivos deste prémio”.
Na verdade, a APAV é uma instituição particular de solidariedade social, pessoa coletiva de utilidade pública, que tem como objetivo promover (e contribuir para) a informação, proteção e apoio aos cidadãos vítimas de infrações penais, uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado que apoia, de forma individualizada, qualificada e humanizada, vítimas de crimes, através da prestação de serviços gratuitos e confidenciais.
O júri do Prémio Dom António Francisco é constituído pelo presidente da Associação Comercial do Porto, pelo presidente da Irmandade dos Clérigos e pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que o atribuíram nesta segunda edição à associação fundada a 25 de junho de 1990 e que tem sede em Lisboa, mas que é de âmbito nacional.
Pelo segundo ano consecutivo, na data que assinala dois anos do falecimento de Dom António Francisco dos Santos (11 de setembro de 2017) foi atribuído este prémio “em homenagem a um homem que deixa uma enorme saudade”, o Bispo do Porto, desde 2014, que faleceu aos 69 anos, na Casa Episcopal da diocese, na sequência de um problema cardíaco.
Com um valor de 75 mil euros, o Prémio Dom António Francisco é uma iniciativa solidária da Associação Comercial do Porto, da Irmandade dos Clérigos e da Santa Casa da Misericórdia do Porto que se destina a apoiar cidadãos e projetos que se distingam na “promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, na defesa e promoção dos direitos humanos, no diálogo inter-religioso e ecuménico e na promoção da paz”.
Na sua primeira edição foram distinguidos projetos de apoio aos refugiados e população desfavorecida na cidade do Porto – Centro de São Cirilo e o trabalho do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Unidade Habitacional de Santo António, dos Jesuítas.
A data da cerimónia de entrega do prémio “será anunciada oportunamente”.
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A Diocese do Porto encontrou ainda outra forma de fazer memória do Bispo que vem homenageando. Assim, às 21 horas do dia 11, no auditório do Palácio da Bolsa, procedeu-se à apresentação do livro “Caminhando com Dom António Francisco dos Santos, a propósito de um monumento em Tendais”, da autoria de Bernardo Corrêa d’Almeida.
A apresentação foi confiada ao Cónego Jorge Teixeira da Cunha, presidente do Cabido da Sé e Professor de Teologia Moral da Universidade Católica. A obra reuniu a colaboração de várias pessoas, entre as quais Dom António Taipa, Bispo auxiliar emérito do Porto, que prefaciou o livro e o pintor António Bessa, autor da imagem da capa e de retratos de António Francisco.
No próximo domingo, dia 15 de setembro, a mesma publicação vai ser apresentado às 16 horas na biblioteca da Câmara Municipal de Cinfães, de onde era natural Dom António Francisco, mais concretamente da Paróquia de Tendais (Diocese de Lamego), paróquia para quem revertem os lucros do novo livro, já que foi ela que se responsabilizou pela edição.
Falando na apresentação do livro dedicado ao seu antecessor, o Bispo do Porto disse que Dom António Francisco dos Santos, falecido em 2017, fez com que muitas instituições “começassem a ver a Igreja doutra maneira”. E explicitou:
Na sua forma simpática, cordial, dialogante, sorridente, com aquela ternura que não é um artifício, mas é algo que brota de uma coração trabalhado, ele foi capaz de colocar-se como ponto de atração, a que as pessoas não resistiam”.
Mais reiterou que o falecido bispo é “um cartão de apresentação da diocese” e “um exemplo de candura”. E, segundo a ‘Voz Portucalense’, Dom Manuel Linda recordou o sorriso, a simpatia e capacidade de diálogo do prelado natural da Diocese de Lamego.
O autor do novo livro Frei Bernardo Corrêa D’Almeida, professor de Exegese e Teologia Bíblica na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, agradeceu os testemunhos das diversas personalidades que apresenta na publicação e lembrou a atitude dócil do antigo bispo diocesano.
O presidente do Cabido da diocese portuense, que apresentou o livro, destacou a “memória de alguém que marcou a cidade do Porto” e referiu-se a Dom António Francisco como o “amigo bispo inesquecível”, “uma figura de homem de Deus, caraterizada pela sua bondade, um avaliador fino e justo das pessoas, que se gastou depressa ao serviço de todos nós”.
Para o presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho, que recebeu este evento, Dom António Francisco dos Santos foi alguém “que se aproximou de forma muito rápida do coração” e percebeu “a importância do tecido empresarial na construção do que é a nossa rede social”, marcando “de forma indelével a vida da associação e da cidade”.
A Rádio Renascença destacou a presença de Pinto da Costa que disse que o antigo Bispo do Porto “era um grande amigo”. “Quando falava, sentíamos que estávamos a falar na terra com um santo”, afirmou o presidente do FC Porto à margem da apresentação de ‘Caminhando com Dom António Francisco dos Santos – A propósito de um monumento em Tendais’.
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Por fim, é de salientar o testemunho do Padre José Pedro Azevedo, que foi chefe de gabinete de Dom António Francisco e que a Voz Portucalense’ acaba de publicar.
Pressupondo que nos arriscamos “a deixar de existir”, se prescindirmos da memória do tempo, que “somos hoje o que os outros nos deixaram como legado e que é com a memória que construímos o futuro”, aplica a Dom António Francisco as seguintes palavras do profeta Zacarias: “Assim fala o Senhor do Universo: Virão de novo a Jerusalém povos e habitantes de grandes cidades” (Zc 8,20). E diz que tais palavras “proféticas e carregadas de esperança se concretizarão no Porto pela semente lançada à terra em tempo oportuno” pelo Bispo de saudosa memória, sendo que a sociedade portuense lho reconhece, “crentes e menos crentes, todos”.
Se “nenhuma vida surge ao acaso”, em Dom António “esta verdade era evidente”, pois “tocou o coração de todos os que com ele se encontraram”. E o sacerdote confessa:
Atingiu profundamente o meu coração como uma ‘seta que voa de dia’ (Sl 91,5) e alargou-o à medida maior da dor e do amor, porque todos nós precisamos de sinais para chegar a Jerusalém, à cidade santa, à Casa de Deus. Todos precisamos de quem nos dê a direção e aplane o caminho. Isto só acontece na simplicidade e na humildade que Jesus um dia referiu em relação às crianças.”.
Do cristão desafiante e fascinante, que “não defraudou a quem procura o Senhor” e que “nos deixa o odor da santidade”, o Padre José Pedro evoca três traços caraterísticos.
- Crente, cuja “vida partia de Deus e acabava em Deus”. Qualquer saída de casa e qualquer chegada a casa passava pela capela; qualquer preocupação era colocada sob o manto protetor de Nossa Senhora (“tantos papelinhos naquela Imagem!”); e “a oração era sempre o seu combustível e era a sua única força”, segundo o princípio inaciano “Reza como se tudo dependesse de Deus, mas trabalha como se tudo dependesse de ti”.
- Testemunha incansável do amor de Deus. “Não havia ninguém doente e que ele soubesse, a ficar por visitar, mesmo nos dias mais difíceis, nem que para isso tivesse de não jantar”.
- Bondade, com “um coração como o coração de Jesus, onde todos cabiam e onde ninguém, mas mesmo ninguém podia ficar de fora”, lutando todos os dias “para que a única medida fosse a misericórdia, sempre e em todas as circunstâncias” e tendo a sua vida toda sido “um magnífico compêndio duma teologia da bondade”, que valia a pena estudar.
E o Padre Azevedo assegura:
A Oração, a Caridade e a Bondade são imprescindíveis para todo o cristão, a chave para continuarmos a subir a Jerusalém, caminho da Cruz e porta da Ressurreição e para cumprirmos o testamento que Dom António Francisco em Fátima nos deixou: ‘Igreja do Porto: Vive esta hora, que te chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de Cristo e a partir de Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a beleza da fé e a alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa missão. A vossa e a minha missão’!”.
E conclui:
Passam dois anos do fim da sua santa viagem, mas a sua vida não terminou, porque não cabe no tempo e enquanto não nos virmos rezo como o salmista: “Ensina-nos a contar assim os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração” (Sl 90,12).
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São testemunhos espirituais, académicos e sociais que dão conta da inquestionável respiração evangélica e do odor de santidade que perpassa a vida e a memória deste santo prelado, honra da Igreja e orgulho dos colegas.
2019.09.12 – Louro de Carvalho

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