sábado, 28 de setembro de 2019

Na semana do futuro, a terceira greve climática


De acordo com a Sky News, no dia 27 de setembro, em cerca de 170 países organizaram-se mais de seis mil eventos através das redes sociais, culminando uma semana de mobilização global pelas alterações climáticas.
A iniciativa global já não é de agora e partiu da adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que se tornou a ativista de referência na luta contra as alterações climáticas, desafiando os decisores políticos de todo o mundo. Ficou conhecida por ter incentivado todos os estudantes a fazerem greve às “sextas-feiras, pelo futuro”, denunciando a inércia dos políticos nacionais e internacionais perante as alterações climáticas. “Eu não quero a vossa esperança. Eu não quero que sejam esperançosos. Eu quero que vós entreis em pânico”, dizia Greta, perante líderes mundiais reunidos em Davos, no Fórum Económico Mundial, em janeiro deste ano.
Segundo os observadores, o furacão Greta Thunberg começa a ter efeitos: milhões de pessoas, na sua maioria, jovens e estudantes, foram arrastadas e estiveram, a 27 de setembro, em greve pelo clima em todo o mundo, com milhares de iniciativas, e deram, assim, sequência a um movimento inspirado por aquela ativista sueca, que se tornou o rosto desta luta.
Estas manifestações culminaram uma semana de mobilização global pelas alterações climáticas que arrancou, no dia 23, com a Cimeira do Clima da ONU, convocada por António Guterres. Então a ativista, num discurso emocionado em que apontou o dedo aos governantes, clamou:
Aqui e agora é onde dizemos que basta. O mundo está a acordar. E a mudança está a chegar, quer gostem ou não.”.
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Porém, o dia 27 é só um dos dias da greve climática de setembro de 2019, também conhecida como Semana Global do Futuro, que se concretizou numa série de paralisações e protestos internacionais protagonizados por jovens e adultos para exigir que sejam tomadas medidas para combater as mudanças climáticas. As greves ocorreram entre 20 de setembro, três dias antes da cimeira climática das Nações Unidas, e 27 de setembro, termo da Semana Global do Futuro. Os protestos começaram a ocorrer em 4.500 locais em 150 países. O evento fez parte da greve escolar pelo movimento climático, inspirado pela ativista Greta Thunberg, referida.  
Os protestos de 20 de setembro foram provavelmente as maiores greves climáticas da história mundial, pois os organizadores relataram que mais de 4 milhões de pessoas participaram das greves em todo o mundo, incluindo 1,4 milhões de participantes na Alemanha. Estima-se que 300.000 manifestantes participaram em greves na Austrália, que outras 300.000 pessoas se juntaram a protestos no Reino Unido, que manifestantes em Nova Iorque – onde Greta Thunberg fez um discurso – totalizaram aproximadamente 250.000 e que mais de 2.000 cientistas em 40 países se comprometeram a apoiar as greves.
Uma segunda onda de protestos ocorreu em 27 de setembro, com mais de 2.400 protestos planeados. Foram relatados números: 1 milhão de manifestantes na Itália; e 170.000 pessoas na Nova Zelândia. No Canadá, onde Greta Thunberg falou, o conselho escolar de Montreal cancelou as aulas para os seus 114.000 alunos.
Esta é a terceira das greves escolares pelo movimento climático. A primeira greve, em março de 2019, teve 1,6 milhões de participantes de mais de 125 países. A segunda, de maio de 2019, foi marcada para coincidir com a eleição do Parlamento Europeu para o quinquénio de 2019-2024, consistindo em mais de 1.600 eventos em 125 países. A terceira ocorreu entre 20 e 27 de setembro. Foram programadas para durante as cimeiras das Nações Unidas: Cimeira do Clima para a Juventude (21 de setembro) e Cimeira da Ação Climática (23 de setembro). E 27 de setembro é também o aniversário da publicação de “Silente Spring”, um livro de 1962 que foi fundamental para iniciar o movimento ambientalista.
A 20 de setembro, no Brasil, nomeadamente no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Maceió, Recife, São Luís e São Salvador, ocorreram diversas manifestações em que as pessoas protestaram contra os incêndios na Amazónia, contra as indústrias poluentes (termoelétricas), contra as mudanças climáticas e para que todos ajudem a “salvar o planeta”.
Centenas de estudantes na capital portuguesa de Lisboa protestaram para uma demanda do Governo por medidas ambientais, incluindo o encerramento de centrais de carvão e gás no país, além de várias outras questões sobre o meio ambiente em Portugal.
Os principais protestos ocorreram nos Estados Unidos, nomeadamente em Nova Iorque (onde se realizou a Cimeira do Clima da ONU) e em Washington, DC, a capital. Mas também houve protestos em dezenas de outros países. Na Austrália, cerca de 300 mil pessoas foram às ruas em mais de 100 cidades; em Londres (Inglaterra), o número foi de 100 mil pessoas. Na Alemanha, cerca de 1,4 milhões de pessoas compareceram nos protestos. Milhares e milhares de pessoas também foram às ruas em África do Sul, Bolívia, Dinamarca, Países Baixos, Oceânia, Índia, Noruega, Polónia, Lituânia, Ucrânia e em diversos outros países.
Alguns meios de comunicação previram que a greve fosse o maior protesto climático da história mundial, sendo que, posteriormente, os organizadores relataram que mais de 4 milhões de pessoas participaram nas ações de greve em todo o mundo, confirmando assim as expectativas.
E em 27 de setembro, foram planeados e realizados mais de 6.000 protestos em todo o mundo. Os principais protestos, como se referiu acima, ocorreram na Itália, onde houve mais de 1 milhão de manifestantes nas ruas, e na Nova Zelândia, onde houve mais de 170.000 pessoas a protestar. E, no Canadá, onde Greta Thunger falou, o conselho escolar de Montreal cancelou as aulas para os seus 114.000 alunos.
O líder espiritual, Dalai-Lama, publicou uma mensagem no Twitter a apoiar as manifestações:
Esta é provavelmente a geração mais jovem que tem sérias preocupações com a crise climática e seus efeitos no meio ambiente. Eles estão a ser muito realistas sobre o futuro. Eles veem que precisamos ouvir os cientistas. Nós devemos encorajá-los.” – afirmou.
O ator australiano Chris Hemsworth publicou um vídeo no Instagram em que aparece no meio da manifestação. E escreveu:
A crise climática está sobre nós. As crianças entendem a ciência básica de que, se continuarmos a poluir o planeta, as mudanças climáticas piorarão e elas não terão futuro.” – escreveu o ator.
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Na Nova Zelândia, o número de manifestantes atingiu valores recorde. Para os organizadores da greve pelo clima neste país, que citam “fonte credíveis”, foram mais de 170 mil as pessoas a aderir – o que significa que mais de 3,5% dos neozelandeses saíram à rua.
Na manhã do dia 27, uma carta assinada por 11 mil neozelandeses já tinha sido entregue no Parlamento a pedir que o Governo declarasse emergência climática. E Raven Maeder, coordenadora do School Strike 4 Climate, na Nova Zelândia, disse ao The Guardian:
Os nossos representantes precisam de nos mostrar medidas significativas e imediatas que salvaguardem o nosso futuro neste planeta”.
E acrescentou:
Nada mais importará se não pudermos cuidar da Terra para as gerações atuais e futuras. Esta é a nossa casa.”.
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Entretanto, a jovem ativista do clima Greta Thunberg e o líder yanomami Davi Kopenawa estão entre os 4 ganhadores, anunciados, no passado dia 25, do prémio Right Livelihood 2019, uma prémio sueco alternativo ao Nobel. Thunberg conquistou o prémio “por inspirar e ampliar as demandas políticas por urgente ação climática que reflete factos científicos”, informou a Fundação Right Livelihood em comunicado.
No dia 23, a jovem sueca acusou os líderes mundiais por não terem enfrentado as mudanças climáticas, num discurso no início da Cimeira do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque.
Thunberg iniciara solitários protestos semanais do lado de fora do Parlamento da Suécia há um ano. Inspirados por ela, no dia 27, milhões de jovens foram às ruas em todo o mundo a pedir que os governos presentes na cimeira tenham atitudes emergenciais.
E a conquista de Kopenawa deve-se à sua “corajosa determinação em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazónia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas”, segundo a fundação. O líder indígena, fundador e presidente da Hutukara Associação Yanomami, em Roraima, denuncia o garimpo ilegal nas terras da sua tribo.
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Portugal juntou-se, no dia 27, ao movimento global pelo clima lançado pela predita adolescente sueca. Desencadearam-se múltiplas iniciativas associadas a uma greve geral às aulas, ao trabalho e ao consumo, na tentativa de envolver a sociedade na defesa do planeta, incentivada pelos jovens. Alunos e professores trocaram  as aulas por atividades planeadas em dezenas de municípios e para participarem nas manifestações previstas para a tarde. Três sindicatos, entre os quais dois do setor da educação (Fenprof e STOP) entregaram pré-avisos de greve para efeitos da participação dos docentes.
Marcada paras as 15 horas, a concentração no largo lisboeta do Cais do Sodré contou com milhares de pessoas de todas e idades e variadas nacionalidades, que protestaram contra as “políticas falhadas” dos decisores políticos, como explicou à agência Lusa Sinan Eden, um dos responsáveis pela organização do evento. “Nós somos o plano B”, declarou à agência Lusa, durante a manifestação cujo slogan mais proclamado é “não há planeta B”.
Ao invés das últimas duas greves que se realizaram em Portugal no passado ano letivo, esta aconteceu poucos dias depois de ter arrancado o começo das aulas, o que dificultou a mobilização de estudantes, explicou Sinan Eden. Apesar disso, os jovens foram a maioria no protesto em Lisboa, que arrancou cerca das 15,30 horas e que teve como destino final o Rossio, num cortejo que juntou jovens de várias idades, idosos, várias famílias, grupos de amigos, pais e filhos – mais de 20 mil pessoas (na capital) – no encerramento da Semana Global pelo Clima. Em paralelo, centenas de pessoas juntaram-se no Campus de Benfica do IPL (Instituto Politécnico de Lisboa), na Praça da Saúde da ESTeSL e no Campus do ISEL. Em comunicado, o IPL referiu com notório orgulho:
Uma manifestação massiva da comunidade do Politécnico de Lisboa que deu provas do empenho da instituição para com questões das alterações climáticas, associando-se ao movimento #climatestrike”.
Na verdade, unidos pelo clima, professores, alunos e pessoal não docente juntaram-se 11 minutos num gesto simbólico.
Em Coimbra, a manifestação realizou-se da Praça Dom Dinis para a Câmara Municipal e em Ponta Delgada, o protesto realizou-se nas Portas da Cidade. Cerca de 30 localidades em Portugal aderiram a esta semana de ação global pelo clima, de Arcos de Valdevez a Lagos, passando por Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Setúbal e Sines. E mais de 4 milhões de pessoas desfilaram pelo mundo, em milhares de iniciativas, dando sequência ao movimento de Greta.
Eu não quero viver nas cinzas. Quero ter um futuro. Quero ser professora e para isso preciso de ter alunos.” – diz Catarina Alpoim, lisboeta de 27 anos, que estuda Belas Artes e que foi uma entre milhares de pessoas que pedem aos políticos que ponham o ambiente nas suas agendas.
Na véspera, viu um documentário sobre a extinção de corais, depois lembrou-se do incêndio que fustigou milhares de hectares na Amazónia, Brasil, e decidiu fazer a caminhada pelo ambiente.
O ambiente não tem preço. Quero o mundo que mereço.” – pedem os manifestantes. Querem garantir a neutralidade de carbono até 2030, exigem o encerramento das centrais de carvão na próxima legislatura e o fim dos projetos que aumentem as emissões a nível nacional, como o aeroporto do Montijo. No manifesto, publicado na página oficial do movimento, reivindicam também a reforma da floresta e da agronomia, bem como a gratuitidade dos transportes públicos. Os principais visados são os políticos. Pede-se-lhes que tomem medidas concretas, “menos conversa e mais ação”. “O clima a aquecer e os políticos estão a ver”, acusam.
Bianca Castro, uma das organizadoras da manifestação, conclui:
Finalmente, conseguimos fazer a primeira greve global em Portugal e está a correr muito bem: temos o apoio dos mais velhos, estamos empenhados e há três sindicatos que estão do nosso lado”.
A principal diferença entre este protesto e os anteriores é que, desta vez, não são só os jovens quem desfilou entre o Cais do Sodré e o Rossio, em Lisboa: havia gente de todas as idades, apesar de os mais novos continuarem em maioria. A manifestação contou com o apoio de mais de 50 organizações, como a Zero ou a Amnistia Internacional, e foi aceite por três sindicatos, que entregaram pré-avisos de greve: a Fenprof (Federação Nacional dos Professores), o STOP (Sindicato de Todos os Professores) e o STSSSS (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Solidariedade e Segurança Social). Pedro Neto, diretor da Amnistia Internacional em Portugal, disse ao DN:
Defender o planeta é como o artigo 0 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, por isso, temos de estar todos juntos nesta luta”.
Lucília Sutil, docente de Ciências Naturais da Escola IBN Mucana, em Cascais, trouxe duas turmas de nono ano à manifestação: “Eles pediram. Só diziam que queriam muito vir e não fazia sentido não os trazer: é isto que ensinamos na escola” – justificou.
Na capital, enquanto decorria a manifestação, a Extinction Rebellion Portugal – um movimento internacional que chegou a Portugal há um ano – juntou-se à Greve Climática Global através de um bloqueio na avenida Almirante Reis, marcado para as 17 horas. Às 20 horas estava ainda prevista uma vigília que partia do Príncipe Real para chegar à Assembleia da República. Era para lá que se encaminhavam muitos dos que participaram na manifestação. Outros propunham-se rever o caminho que fizeram em sentido contrário – Rossio para o Cais do Sodré – para recolha do lixo que encontrassem pelo caminho, “porque isto é uma manifestação pelo ambiente”. Houve quem optasse por sentar-se no chão da praça do Rossio para uma sessão de meditação em honra da Terra. E a PSP teve de retirar jovens que persistiam em permanecer em frente da sede do Banco de Portugal.
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Esta foi a terceira greve climática deste ano. Também em Portugal a primeira paralisação em defesa do ambiente aconteceu em março e contou com a presença de cerca de 20 mil jovens a lembrar que “não há planeta B”. Em maio, dois dias após as eleições europeias, os estudantes voltaram a trocar as salas de aula pela rua em nome do combate às alterações climáticas – um protesto que se estendeu por mais de uma centena de países. Só em Lisboa, em frente ao Parlamento, estiveram mais de 5.000, apoiados por associações ambientalistas como a Zero.
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Há, no entanto, que advertir que nem tudo depende do homem, que, diga-se a verdade, se descuidou e, na mira de grandes lucros e na ânsia desenfreada do progresso, estragou o planeta com aval de cientistas, que garantem a validade das escolhas (a ciência tem de considerar as diversas variáveise políticos, que decidem supostamente em nome do bem comum.
Assim, a subida do nível do mar não resulta apenas do aquecimento global, mas também do movimento das placas tectónicas, ventos, ondas, ciclo lunar, fenómenos de agradação (formação de praias) e de degradação (das costas).
O aquecimento não é só da responsabilidade do homem, mas também do Sol. Por outro lado, os ciclos lunares, interferindo com a gravitação da Terra, por vezes “puxam” os oceanos e estimulam as correntes marinhas quentes e frias, que afetam os climas locais e o clima global.
É preciso não esquecer o impacto nos microclimas e nos climas locais por parte dos incêndios (muitos, mas nem todos, por culpa do homem), derrocadas, inundações (estas habitualmente sem culpa do homem), tempestades, e indústrias (estas, sim, obra do homem, mas algumas tornaram-se necessárias).
O derretimento glacial resulta não apenas do aquecimento, mas também das ondas marítimas quentes provindas do sul que, entrando no Ártico, aquecem as águas profundas e descongelam a infraestrutura dos icebergues.
Há quem preveja que, a seguir a esta onda de aquecimento global, venha uma onda de arrefecimento até 2035.
E as chuvas, embora possam ser influenciadas pela vegetação existente aqui e ali, são fundamentalmente fenómenos cíclicos de variação da temperatura dos oceanos que originam precipitação nos continentes, não dependendo propriamente do aquecimento global.
Enfim, apesar de nem tudo o que de mau se passa na Terra ser culpa homem, este não pode deixar de fazer tudo o que pode e deve para evitar as catástrofes ambientais, mas também sem fundamentalismos e excessos, como, por exemplo, eliminar drasticamente o consumo de carne de certos animais. Não é por ser uma universidade a decretar a ausência de carne de vaca nas ementas estudantis que a medida tem suporte e justificação científicos. Quando não, para levarmos tudo às últimas consequências, proibíamos as pessoas de respirar para não se poluir o ambiente com a emissão de CO2, que, diga-se, também é necessário para a vida na Terra (sem ele as plantas não realizam a fotossíntese).
Por isso, ativismo, sim, mas fundamentalismo, não!
2019.09.28 – Louro de Carvalho  

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