sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Pelo bem-estar de todos e pelo progresso equitativo e sustentável


São três os eventos destes dias que dizem respeito ao enunciado em epígrafe e em que o Papa teve intervenção.
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Hoje, dia 27, o Santo Padre iniciou as suas atividades com a receção, na Sala Clementina, no Vaticano, a 180 participantes no seminário sobre “O bem comum na era digital”, promovido pelo Pontifício Conselho para a Cultura e pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral – um seminário em que os participantes propõem as bases éticas para a defesa da dignidade de toda a pessoa humana, em vista do bem comum, que são as bases do verdadeiro progresso equitativo e sustentável.
Sobre este encontro, Francisco disse:
Os notáveis desenvolvimentos no campo tecnológico, especialmente sobre a inteligência artificial, apresentam implicações cada vez mais significativas em todos os setores da ação humana. Por isso, acho mais do que necessários debates abertos e concretos sobre este tema.”.
Neste sentido, o Pontífice retomou a sua encíclica Laudato sí, sobre o cuidado da casa comum, estabelecendo um paralelismo básico: o benefício indiscutível a obter do progresso tecnológico pela humanidade dependerá da extensão em que as novas possibilidades disponíveis forem usadas de maneira ética. Tal paralelismo e correlação, para o Papa Francisco, exigem que, pari passu com o imenso progresso tecnológico em andamento, haja um desenvolvimento adequado de responsabilidades e valores. Ao invés, segundo o Pontífice, o “paradigma tecnocrático”, que promete um progresso descontrolado e ilimitado, será imposto e até poderá eliminar outros fatores de desenvolvimento, com enormes perigos para toda a humanidade.
Ora, com este encontro sobre “O bem comum na era digital”, os participantes contribuem “para prevenir esta deriva e tornar concreta a cultura do encontro e do diálogo interdisciplinar”. E o Papa vincou:
Muitos de vós sois representantes importantes de vários campos das ciências aplicadas. Por isso, expressais, não apenas competências diferentes, mas também sensibilidades diferentes e várias abordagens diante das problemáticas que, fenómenos como a inteligência artificial, abrem nos setores de sua pertinência.”.
O objetivo principal do encontro é, na ótica do Pontífice, bastante ambicioso: obter critérios e parâmetros éticos básicos, capazes de fornecer orientações sobre as respostas aos problemas éticos suscitados pelo uso invasivo das tecnologias, quando a humanidade enfrenta desafios inauditos e novos, que exigem novas soluções. E Bergoglio ponderou:
Logo, aprecio o facto de vós não terdes medo de declinar, às vezes até de maneira precisa, certos princípios morais, tanto teóricos quanto práticos, no contexto do ‘bem comum’. O bem comum é um bem ao qual todos os homens aspiram.”.
Com efeito, as problemáticas que os encontristas são chamados a analisar dizem respeito a toda a humanidade e exigem soluções urgentes. E, a este respeito, Francisco citou alguns exemplos práticos e atuais como a robótica, instrumento eficiente, utilizado para aumentar os lucros, mas que priva milhares de pessoas do trabalho, colocando em risco a sua dignidade. Outro exemplo é o das vantagens e riscos associados ao uso da “inteligência artificial” em grandes questões sociais. Por isso, o progresso tecnológico exige um olhar, uma reinterpretação e um cuidado em termos éticos. E o Papa afirmou:
Se o chamado progresso tecnológico da humanidade se tornar inimigo do bem comum, poderá levar a uma infeliz regressão e a uma forma de barbárie ditada pela lei dos mais fortes. Portanto, queridos amigos, agradeço pelo vosso trabalho por uma civilização, que busca reduzir as desigualdades económicas, educacionais, tecnológicas, sociais e culturais.
Francisco concluiu a sua alocução expressando, ante os participantes no seminário, o seu apreço pelas bases éticas propostas, que garantem a defesa da dignidade de toda a pessoa humana, em vista do bem comum. Um mundo melhor e mais equitativo – advertiu o Papa – só será possível graças ao progresso tecnológico, se, porém, ele for acompanhado por uma ética baseada na visão do bem comum, na ética de liberdade, na responsabilidade e fraternidade, capaz de promover o pleno desenvolvimento das pessoas em relação à criação.
Na verdade, se as tecnologias ajudam o homem e a comunidade, constituem uma forte mais-valia facilitadora; porém, se absorvem o homem, criando-lhe dependências irresistíveis, ou se são utilizadas de forma perversa ou para fins perversos, serão fator de escravização, despersonalização e mesmo morte.
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Hoje, antevéspera do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado (celebrar-se-á no próximo dia 29, domingo), o esmoler pontifício visitou duas instalações para encontrar milhares de trabalhadores agrícolas, sendo a maioria oriunda da África, que vivem em condições de grave precariedade a nível jurídico, habitacional e de saúde. E esteve entre os braçantes nas plantações de tomate.
Na verdade, o Papa Francisco enviou o seu esmoler, o Cardeal Konrad Krajewski, ao sul da Itália, para visitar os chamados “guetos” da região de Foggia, que abrigam os migrantes empregados na agricultura.
O esmoler, acompanhado do Bispo de San Severo, Dom Giovanni Checchinato, e do Arcebispo de Foggia-Bovino, Dom Vincenzo Pelvi, visitou duas instalações para encontrar milhares de trabalhadores agrícolas, sendo a maioria proveniente da África (principalmente da Nigéria, Gana, Senegal e Gâmbia), que vivem em condições de grave precariedade a nível jurídico, habitacional e de saúde. Com este gesto, lê-se num comunicado da Esmolaria Apostólica, o Pontífice quis manifestar a sua proximidade “a todas essas pessoas vítimas da exploração, da marginalização e da exclusão, levar-lhes uma palavra de esperança e fazer-se voz do seu grito de ajuda”.
Trata-se, segundo o predito comunicado, uma visita que faz ressoar com força as palavras do Papa Francisco na mensagem para este 105.° Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, podendo ler-se:
A resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode resumir-se em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se pusermos em prática estes verbos, contribuímos para construir a cidade de Deus e do homem, promovemos o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudamos também a comunidade mundial a ficar mais próxima de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável que se propôs e que, caso contrário, dificilmente serão atingíveis.”.
O horizonte temporal de julho a setembro concentra a colheita de tomates no sul da Itália. Milhares de trabalhadores sazonais – muitos deles em situação irregular – são empregues nesta atividade e abrigados em instalações improvisadas. São “guetos” sem iluminação, sem rede de esgoto e com escassez de água potável. Trabalha-se o dia inteiro, sob o sol escaldante e com baixíssima remuneração. Grande parte é de migrantes irregulares.
Enfim, estamos visceralmente na linha do atual pontificado: Igreja em saída, misericórdia, atenção aos pobres e cuidado da casa comum. Tudo isto implica a reforma permanente da Igreja – pessoas e estruturas – e um olhar mais amigo do mundo para que se torne cada vez mais com aquilo que Deus sonhou para ele. Mais do que ver os males, cujas raízes há que extirpar, importa pesquisar e contemplar nele os sinais de Deus e as marcas do Verbo seminal.
No Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o Papa Francisco celebrará a Santa Missa na Praça São Pedro, para cuja participação convida com vista a expressar também com a oração “a proximidade aos migrantes e refugiados do mundo inteiro”. De facto, não são apenas migrantes, mas pessoas a quem não pode ser retirada ou diminuída a dignidade humana.
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Por fim, um evento não menos importante.
Francisco recebeu em audiência, no dia 26, na Sala do Consistório, no Vaticano, 120 participantes da 1.ª Assembleia Geral de Talitha Kum, Rede Internacional da Vida Consagrada contra o tráfico de pessoas – que, este ano, completa este ano dez anos de fundação e vida.
Com efeito, esta organização, constituída como uma das vanguardas da Igreja contra o tráfico de pessoas, nasceu, em 2009, a partir duma intuição missionária da UISG (União Internacional das Superioras Gerais).
Depois de agradecer a saudação da Irmã Gabriella Bottani, coordenadora internacional da rede Talitha Kum, e da Irmã Jolanda Kafka, presidente da UISG, o Pontífice frisou:
“Em apenas dez anos, chegou a coordenar 52 redes de religiosas presentes em mais de 90 países em todos os continentes. Os números de seu serviço falam claro: dois mil agentes, mais de quinze mil vítimas do tráfico ajudadas e mais de duzentas mil pessoas alcançadas com atividades de prevenção e conscientização.”.
De facto, é obra ter, “em apenas dez anos”, a Talitha Kum ter chegado “a coordenar 52 redes de religiosas presentes em mais de 90 países em todos os continentes”. E o Papa, congratulando-se com o organismo pelo trabalho importante que realiza “nesse âmbito tão complexo e dramático”, uma obra que une a missão e a colaboração entre os Institutos, disse: 
Vós escolhestes estar na linha de frente. Por isso, as numerosas congregações que trabalharam e continuam a trabalhar como ‘vanguardas’ da ação missionária da Igreja contra a chaga do tráfico de pessoas, merecem reconhecimento. Trabalhar juntas. É um exemplo. É um exemplo para toda a Igreja, também para nós: homens, sacerdotes e bispos. É um exemplo!”.
Esta é a primeira Assembleia Geral de Talitha Kum e tem como objetivo a avaliação do caminho percorrido e a identificação das prioridades missionárias para os próximos cinco anos. E Francisco recordou às participantes: “Vós decidistes discutir duas questões principais relacionadas com o fenómeno do tráfico nas várias sessões de trabalho”. A primeira considera as grandes diferenças que ainda marcam a condição das mulheres no mundo, que derivam principalmente de fatores socioculturais; e a segunda, os limites do modelo de desenvolvimento neoliberal, que com a sua visão individualista, corre o risco de desresponsabilizar o Estado”. São desafios complexos e urgentes que exigem respostas adequadas e eficazes. 
E o Pontífice vincou solidariamente:
Sei que na vossa assembleia vós vos comprometeis a encontrar soluções, evidenciando os recursos necessários para realizá-las. Aprecio esse trabalho de planeamento pastoral com vista a uma assistência mais qualificada e profícua às Igrejas locais.”.
A propósito, Francisco recordou que a Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral publicou recentemente as Orientações Pastorais sobre o Tráfico de Pessoas”, “um documento que explicita a complexidade dos desafios de hoje e oferece indicações claras para todos os agentes pastorais que desejam implicar-se nesse âmbito”.
Depois, incentivou todos os institutos femininos de vida consagrada que apoiaram o compromisso das suas religiosas na luta contra o tráfico e na assistência às vítimas; encorajou os institutos femininos a prosseguirem nesse compromisso; e apelou também a outras congregações religiosas femininas e masculinas, a “que se unam a essa obra missionária, disponibilizando pessoas e recursos a fim de alcançar todos os lugares”. E disse às participantes:
Espero que se multipliquem as fundações e os benfeitores que garantem o seu apoio generoso e desinteressado às vossas atividades. Nesse convite a outras congregações religiosas, também penso nos problemas que muitas congregações religiosas têm, e talvez algumas possam dizer, tanto femininas quanto masculinas: ‘Temos tantos problemas para resolver dentro, não podemos ...’. Dizei-lhes que o Papa disse que os problemas ‘internos’ são resolvidos saindo para a rua. Que entre ar fresco.”.
E, tendo em conta a extensão dos desafios colocados pelo tráfico de pessoas, pelo que é preciso promover um compromisso sinérgico por parte das diferentes realidades eclesiais, explicou:
Se, por um lado, a responsabilidade pastoral é confiada essencialmente às Igrejas locais e aos Ordinários, por outro, deseja-se que eles saibam envolver no planeamento e na ação pastoral as congregações religiosas femininas e masculinas, e as organizações católicas presentes em seus territórios, a fim de tornar mais rápida e eficaz a obra da Igreja.
Segundo o Papa, “na luta contra o tráfico de pessoas, as congregações religiosas realizam de modo exemplar a sua tarefa de animação carismática das Igrejas locais”. E “as suas intuições e iniciativas pastorais traçaram o caminho de uma resposta eclesial urgente e eficaz”. Ora, este é “o caminho que o Espírito Santo fez: Ele é o autor da desordem na Igreja com muitos carismas e, ao mesmo tempo, é o autor da harmonia na Igreja”;  e é este “um caminho de riqueza”, pois “é estar na Igreja, com os dons do Espírito Santo: é a liberdade do Espírito”.
Por fim, o Papa exortou:
Nunca termineis o dia sem pensardes no olhar de uma das vítimas que vocês conheceram. Esta será uma oração bonita.”.
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O progresso sustentável e equitativo implica a atenção a todos e a eliminação das estruturas e mecanismos de degradação da dignidade humana, bem como a ecoeconomia, o cuidado da casa comum e a erradicação da pobreza. Tudo isto passa pela promoção da educação, da cultura e da saúde pública e a de cada um. Se as ferramentas tecnológicas servirem este desiderato, teremos um mundo outro: de fraternidade, desenvolvimento, paz, justiça e prosperidade.
Para conseguir a satisfação deste grande objetivo, o Papa acredita que é necessário articular a instituição eclesial estruturada em suas normas com a energia que os organismos carismáticos, dons dos Espírito em prol da comunidade e do mundo, que pululam ao sabor da vitalidade evangélica a criar sinergias.
Se, como diz o povo, em tempo de guerras não se limpam armas, quando a magnitude e extensão dos problemas arrasam, todas as ações são necessárias e exigem rapidez. Tão importante como a prudência é o arrojo!
2019.09.27 – Louro de Carvalho

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