segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O preço do petróleo está a disparar nos mercados internacionais



Foi já o quinto ataque com drones às instalações petrolíferas daquela que é a maior companhia petrolífera do mundo, a Saudi Aramco, empresa estatal do reino da Arábia Saudita. Só que, desta vez, os estragos provocados com drones, nas instalações da empresa em Abqaiq e Khurais, foram brutais. Imagens de satélite exibem enormes nuvens de fumo provocadas pelos incêndios de grandes dimensões que deflagraram (essas extensas nuvens de fumo parecem revelar estragos mais significativos do que aqueles que a empresa está a admitir) e que vão obrigar à paragem de boa parte do fornecimento da matéria-prima por parte deste país para todo o mundo. E o mundo vai sentir os efeitos destas explosões através da subida das cotações nos mercados.
Os ataques levados de rebeldes do grupo Houthi (do Iémen, mas com apoio do Irão) comprometeram metade da produção diária de petróleo da Arábia Saudita e 5% de toda a oferta mundial.
De súbito, metade da produção diária de petróleo da Arábia Saudita ficou comprometida, pois o ataque provocou extensos danos, eliminando da oferta do país, que é o maior produtor do mundo, cerca de cinco milhões de barris de petróleo diários, num total de 20 milhões de barris que os produtores da matéria-prima colocam diariamente no mercado, de forma a dar resposta à procura global pelo “ouro negro”. Entretanto, a Saudi Aramco está a tentar restabelecer a produção, o que poderá demorar bastante tempo.
É um rombo que a Arábia Saudita procura suprir ao admitir enviar para o mercado o equivalente da produção diária das suas reservas da matéria-prima, o que poderá responder à quebra com as reservas que detém tanto no reino como no Egito, no Japão e até na Holanda, mas que pode não chegar. Daí que os Estados Unidos da América, em segundo lugar no ranking da produção, estejam também já no “terreno” a disponibilizar ao mercado as suas reservas.
E poderá haver um esforço global que será coordenado pela AIE (Agência Internacional de Energia) para que vários países coloquem parte dos barris que detêm no mercado para evitar uma escalada em espiral das cotações.
Em Portugal, enquanto as ações da GALP valorizaram em 3%, a ENSE (Entidade Nacional para o Setor Energéticos) disponibilizou-se igualmente para mobilizar reservas de petróleo caso se prolongue o corte temporário. Em comunicado, a ENSE afirma que “dispõe de reservas estratégicas que podem ser mobilizadas para suprir uma falta eventual” e precisa que tem “à sua disposição 538,1 mil toneladas de crude em reservas físicas e 373,5 mil toneladas em tickets que representam direitos de opção sobre crude armazenado em Portugal e noutros países da União Europeia”. “Estas quantidades estão à disposição da ENSE para mobilização imediata, caso se entenda necessário”, sublinha a entidade, acrescentando:
É importante destacar neste momento que, caso o impacto sobre a oferta seja persistente e os operadores que importam petróleo para Portugal tenham alguma dificuldade temporária para obter crude, o país através da ENSE dispõe de reservas estratégicas”.
A Saudi Aramco poderá “levar meses” a retomar a produção em pleno, após os ataques. E não há capacidade, no mundo, para tapar o “buraco” de mais de cinco milhões de barris diários.
Criou-se um “buraco” na oferta de petróleo mundial, sendo que não há capacidade extra no mundo para o “tapar”. Só as reservas podem mitigar o desequilíbrio entre a oferta e a procura, mas invariavelmente os preços vão ficar mais caros.
De cerca de dez milhões de barris diários, a Saudi Aramco viu a sua capacidade de produção de petróleo reduzida a metade após o ataque às instalações da empresa. Apesar de a empresa ter tentado acalmar os receios dos investidores, com o imediato anúncio duma rápida reparação das instalações afetadas, surgem agora várias fontes a alertarem que será complicado que se consiga voltar ao normal em breve. As nuvens de fumo vistas do espaço mostram que o impacto dos ataques foi significativo.
À Reutersduas fontes próximas da Saudi Aramco, revelaram que foram informadas de que o regresso à produção em pleno poderá “levar meses”. E, enquanto isso não acontece, procuram-se formas de tentar compensar a redução da produção por parte do maior produtor de petróleo do mundo. Mas a tarefa não é fácil.
Não há, no mundo, “almofada” para absorver um impacto na produção como este. De acordo com dados da AIE, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) tinha, em junho passado, uma capacidade de produção de petróleo extra em torno dos 3,2 milhões de barris por dia, mas inferior à perda agora registada. E destes 3,2 milhões, cerca de dois milhões de barris extra vinham da Arábia Saudita. Sobra menos de um milhão de barris de capacidade adicional. E, mesmo outros países fora da OPEP, como a Rússia, têm pouca margem para aumentar a oferta, sendo que para muitos outros não é de todo viável explorar poços de petróleo simplesmente porque o custo não é compensado com o preço atual da matéria-prima. Entre esses produtores estão os de petróleo de xisto, dos EUA.
Enquanto prossegue um “apontar de dedo” ao Irão como sendo o responsável pelos ataques, o Departamento de Energia norte-americano, além de dizer que está preparado para recorrer aos recursos das Reservas Estratégicas de Petróleo, de 630 milhões de barris, para compensar quaisquer interrupções no mercado, deu orientações para se trabalhar com a AIE para avaliar possíveis opções para uma ação global coletiva se for necessário.
Estas movimentações demonstram a importância das instalações situadas em Abqaiq e Khurais no normal abastecimento do mercado mundial de petróleo. E são reveladoras do interesse tanto da Arábia Saudita como dos EUA de manterem o preço do petróleo em torno dos níveis atuais, os 60 dólares por barril, pois uma valorização expressiva das cotações poderá ter um impacto muito negativo na economia global, quando são cada vez maiores os receios do abrandamento económico e a guerra comercial entre os EUA e a China está a castigar todo o mundo.
Olhando para os esforços feitos e a fazer, o impacto nas cotações poderá, em teoria, ser limitado, já que a oferta de petróleo poderá manter-se inalterada e o contexto é de abrandamento no crescimento da procura pela matéria-prima. Porém, na prática, há margem para que os preços subam. Por um lado, porque os mercados tenderão a ressentir-se a uma quebra momentânea da oferta, levando à subida dos preços. Por outro, haverá a dúvida sobre quanto tempo será necessário para que as instalações afetadas voltem a funcionar, restabelecendo a oferta da matéria-prima. É que as reservas dos países são finitas.
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Os preços da matéria-prima, a 70 dólares, dispararam nos mercados internacionais, o que pode agravar preço dos combustíveis até 12 cêntimos por litro. É uma valorização histórica. Da última vez que estiveram nos níveis atuais, os combustíveis estavam bem mais caros.
Tendo o preço do petróleo chegado à fasquia dos 70 dólares, deixando antever um impacto expressivo nos preços dos combustíveis no mercado nacional, há margem para subidas de vários cêntimos no valor por litro do gasóleo e ainda mais no caso da gasolina, caso a tendência de subida se mantenha. Com efeito, o Brent (que serve de referência às importações nacionais) esteve a subir mais de 19% para 71,95 dólares por barril  nas primeiras negociações da madrugada de hoje. Entretanto, aliviou ligeiramente a valorização, mas continua acima dos 65 dólares em Londres, estando ligeiramente acima dos 60 dólares em Nova Iorque.
A última vez que o Brent atingiu a fasquia dos 70 dólares foi há 6 meses. Em todo o mês de maio, o barril fechou abaixo desta barreira apenas em 3 sessões, o que se refletiu nos preços nas bombas. O preço médio da gasolina simples de 95 octanas foi de 1,599 euros, enquanto o do gasóleo de 1,424 euros, com base no histórico da DGEG (Direção-Geral de Energia e Geologia).
O preço de referência da gasolina situa-se atualmente em 1,475 euros por litro, após 5 semanas de queda. Ou seja, há uma diferença de 12,4 cêntimos por litro. No caso do gasóleo (que está em máximos desde o início de agosto), a diferença é menor, mas expressiva: são 6,7 cêntimos entre os valores de maio e os atuais 1,357 euros por litro.
Os preços dos combustíveis em Portugal são atualizados semanalmente, com base na evolução média dos preços do petróleo e derivados nos mercados internacionais na semana anterior, pelo que este tipo de aumentos só acontecerá se a tendência de subida das cotações se mantiver. 
Este ajustamento feito pelas petrolíferas tem também em conta as variações nas moedas. A diferença entre o dólar (divisa em que se transaciona o petróleo) e o euro (em que os combustíveis são comprados nas bombas) também não deverá ajudar os consumidores. Em maio, um euro equivalia a 1,12 dólares, enquanto agora vale 1,10 dólares, penalizado pelos novos estímulos anunciados pelo BCE (Banco Central Europeu). Ou seja, é preciso um montante mais elevado em euros para comprar a mesma quantidade de petróleo em dólares e as empresas fazem refletir esse agravamento nos preços finais. Assim, se o valor do barril continuar a subir, os consumidores esperarão que se torne mais caro abastecer o carro na próxima semana. A evolução irá depender da capacidade dos produtores de acalmarem os receios com um desequilíbrio entre a oferta e a procura. Porém, mesmo com os esforços para manter a oferta, as perspetivas de menor produção de petróleo nos próximos tempos estão a levar as cotações da matéria-prima a disparar. O Brent chegou a ganhar quase 20%, a maior subida de 1991, para superar os 70 dólares, tendo aliviado, entretanto, a tendência positiva, mas segue nos 65 dólares. E nos EUA, o West Texas Intermediate está nos 60 dólares.
A escalada das cotações reflete, pois, os receios em torno de um desequilíbrio entre a oferta e a procura, apesar de a Saudi Aramco estar a procurar restabelecer rapidamente a produção. Chegou a avançar que poderia voltar a ter as instalações operacionais esta segunda-feira de manhã, mas a data tem vindo a ser adiada.
Depois, vem a questão da segurança das instalações petrolíferas, especialmente as da Arábia Saudita, que deverá passar a ser tida em conta como um risco, levando o mercado a incluir um prémio nas cotações do petróleo.
Quem não se lembra de que Saddam Hussein jurou que, se fosse expulso do Kuwait pela força, o país iria arderia? E cumpriu a palavra colocando fogo em tudo. Durante a evacuação, as tropas iraquianas incendiaram aproximadamente 700 poços de petróleo pelo caminho.
Efetivamente, quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait a 2 de agosto de 1990, colocou em movimento um conflito político que resultaria numa catástrofe ambiental devastadora causada pela ação do homem. Foi em janeiro de 1991 que o fogo começou e o último foco só foi extinto dez meses depois. No total, o fogo consumiu seis milhões de barris de petróleo por dia (por estimação). Devido ao grande número de poços em chamas, era impossível para uma ou mesmo várias equipas de bombeiros apagar todo o fogo no tempo necessário para evitar uma catástrofe global. Então, o governo do Kuwait pediu ajuda internacional. E responderam cerca de 50 países de todo o globo, incluindo a Inglaterra.
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Enfim, são ataques irresponsáveis que perturbam a ecologia e a economia mundial e que podem ser focos de alteração das condições de paz onde a guerra na sua expressão clássica ainda não chegou. Eis uma boa razão para as diplomacias estarem atentas e ativas, porque, se elas falham, a guerra fica iminente e o mundo precisa de paz, que passa pela vontade política, pelo diálogo e pelo desenvolvimento.
2019.09.16 – Louro de Carvalho

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