O primeiro semestre do ano da TAP foi marcado pelo
aumento dos prejuízos. As perdas chegaram
quase aos 120 milhões de euros: 110,7 milhões referentes ao 1.º trimestre e 9 milhões
relativos ao 26 trimestre – ao todo, 119,7
milhões. Os valores
comparam com os 26,4 milhões de euros de prejuízos que a empresa registou no
período homólogo: de 26,4 milhões de
euros, no 1.º semestre de 2018, passaram a 119,7 milhões, no 1.º semestre deste ano.
Em comunicado, a empresa liderada por Antonoaldo Neves explica que o resultado
negativo dos primeiros três meses do ano foi “impactado principalmente pela
quebra de receitas de passagens do Brasil”, bem como pelo “aumentos dos custos
com pessoal em resultado das novas contratações e das revisões salariais
negociadas em 2018”. Já no 2.º trimestre, houve uma “tendência de recuperação”,
pois os prejuízos diminuíram para os 9 milhões de euros. E “a recuperação
registada no 2.º trimestre, com as perspetivas que o comportamento dos mercados
chave da TAP mostram para o 2.º semestre, as reservas registadas no sistema da
companhia e os benefícios crescentemente alcançados com a renovação da
frota, deixam a expectativa de atingir, este ano, um resultado operacional
melhor do que em 2018”, salienta o comunicado.
Os custos operacionais, por sua vez, reduziram 8,8% face ao período
homólogo, enquanto o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e
amortização) registou
um crescimento de 19,5%.
Assim, não bate a bota com a perdigota em relação
ao que disse o Primeiro-Ministro no debate radiofónico da manhã do dia 23 com o
líder do maior partido da oposição. Recorde-se que António Costa atribuía 77% desse
prejuízo à aquisição de aeronaves e maquinaria. E não é o que o teor do predito
comunicado permite concluir.
Todavia, segundo a própria empresa, se os prejuízos aumentaram, também o número de passageiros
cresceu. A companhia aérea atingiu
mesmo um novo recorde, tendo transportado 7,9 milhões de clientes nos primeiros
seis meses do ano. O número representa um crescimento de 4,8% face ao período
homólogo. Contudo, o aumento do
número de passageiros foi mais intenso durante os meses de julho e agosto (já no 2.º
semestre), altura em que o crescimento foi
de 11,5%, comparando com igual período do ano anterior.
Com o investimento na expansão e renovação da sua frota, a TAP terminou o primeiro semestre com 106 aviões e oito novos
mercados, com destaque para o início das operações no Médio Oriente
(rota de
Telavive) e o reforço do investimento nos
Estados Unidos da América (EUA),
nomeadamente em São Francisco, Chicago e Washington.
É certo que a empresa fez aquisição ou renovação de mais de uma centena de
aeronaves (E aí Costa tem razão em ter falado nisso no debate), mas não a contabiliza como causa do predito prejuízo.
***
Por outro lado, se em 2018, a TAP, como reza o
predito comunicado, procedeu a novas
contratações e negociou revisões salariais, este ano chegou a acordo com sindicatos e vai integrar
no AE (Acordo de Empresa) mais de 500 trabalhadores com contrato individual
de trabalho e aceitou criar mais dois subníveis nas carreiras.
Na verdade, o Grupo TAP chegou a acordo com 5 sindicatos para alargar as
carreiras profissionais na empresa e integrar centenas de trabalhadores no AE. O
acordo produzirá efeitos ainda em setembro e levará à integração no AE e
respetivas carreiras profissionais de mais de 500 profissionais hoje ligados à
TAP através de contratos individuais. E, a isto, José
Sousa, membro da direção do SITAVA (Sindicato
dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos),
disse que “é bom para todos: para os trabalhadores, para a empresa e para os
sindicatos, que acabam por ver uma reivindicação antiga atendida”. E, segundo
este dirigente sindical, a “TAP comprometeu-se a avançar
com a integração já em setembro”.
À companhia traz capacidade de organização, pois, durante anos, foi
contratando trabalhadores para categorias que não existem na empresa e agora concordou
em integrá-los nas carreiras existentes, por concluir que se estava a chegar ao
ponto de alguma ingovernabilidade: “Quando há 10 ou 20 trabalhadores nesta condição, numa empresa da
dimensão da TAP, ainda se gere, mas, quando se chega a muito mais, centenas,
fica ingovernável” – diz José Sousa.
Além do SITAVA, as negociações que levaram ao protocolo para a integração
destes trabalhadores no AE do Grupo TAP contaram igualmente com o SINTAC (Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil), o SQAC (Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial), o SIMA (Sindicato
das Indústrias Metalúrgicas e Afins) e o STHA (Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos).
Em comunicado conjunto, estas estruturas sindicais frisam que o protocolo “vai, finalmente, acabar na TAP com a chamada gestão
individualizada (contratos individuais de trabalho) e integrar no Acordo de Empresa todos os trabalhadores da TAP,
sem perda de qualquer remuneração ou direito”. Conforme explicou José Sousa,
nenhum trabalhador será penalizado ou beneficiado em termos pecuniários pela integração
no AE, mesmo que fique numa categoria profissional abaixo do seu corrente
salário, garantia que os sindicatos irão “acompanhar” de perto.
Na quase totalidade dos casos, os mais de 500 trabalhadores que passarão a
estar abrangidos pelo AE já se encontravam na companhia com contratos sem
termo, mas agora verão a sua carreira devidamente enquadrada numa das
categorias profissionais do grupo e, por arrasto, nos sistemas de progressões
automáticas previstos pelo AE.
No âmbito destas conversações entre a TAP e os
sindicatos, que o dirigente do SITAVA elogiou pela forma pacífica como decorreram e pela posição
assumida pela transportadora aérea, as partes conseguiram igualmente chegar a
acordo para avançar com alterações das carreiras profissionais na TAP, que
agora ganham dois subníveis acelerando o acesso a ganhos intermédios por parte
dos trabalhadores.
As carreiras na TAP estão divididas em escalões, do zero ao 8.º (e em alguns
casos até ao 9.º), e, mais
do que acrescentar novos níveis, a empresa e os sindicatos concordaram em criar
dois subníveis intermédios. Esta foi a forma encontrada para que algumas
progressões de nível, que demoram 36 meses, tenham agora um degrau intermédio
ao fim de 18 meses, o que permite antecipar alguns ganhos intermédios para os
trabalhadores. Contudo, esta alteração e a integração de trabalhadores no AE
não deverão ter impacto imediato nos custos salariais.
***
Porém, não é só em 2019 que o Grupo TAP está
com prejuízos. Com efeito, soube-se em 22 de março deste ano que, em
2018, o grupo teve prejuízos de 118 milhões de euros, mas prepara a entrada
em bolsa.
De facto,
2018 foi um ano difícil para o grupo em termos financeiros e operacionais. Mas o
presidente do Conselho de Administração assegura que o prejuízo de 118 milhões
de euros “não compromete o futuro” e o acionista privado quer a empresa
preparada para a bolsa. Com efeito este prejuízo contrasta com um lucro de 21,2
milhões de euros, registado no ano de 2017. E a administração atribuiu a
viragem dos resultados a elementos não recorrentes. Apesar de voltar ao
vermelho, a empresa está a ser preparada para a abertura do capital em bolsa,
revelou David Neeleman, o acionista privado, que apontou já para o próximo ano.
Porém, Antonoaldo Neves, o presidente executivo, sublinhou que é o mercado “quem
dita o timing”.
Assim, a empresa
está a preparar-se para o momento em que surja a oportunidade, mas não é possível
prever o calendário. Não se sabe como está o apetite do mercado nem que
percentagem cotar em bolsa, embora se admita a venda de uma participação até
30% numa oferta em bolsa.
Recorde-se
que a Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, tem 45% do grupo onde o
Estado é o maior acionista com 50%. E há 5% do capital disperso pelos
trabalhadores. Uma eventual entrada em bolsa terá de ser aprovada pelo
acionista público, que poderá ter de ceder parte da sua posição nesta dispersão
de capital. E Antonoaldo Neves considerou:
“Tivemos um prejuízo líquido consolidado de
118 milhões de euros […]. Os resultados vão além do prejuízo, já que a empresa
não causa impacto somente através do seu resultado financeiro.”.
Por sua vez,
segundo o Observador, a receita do
grupo passou de 2.978 milhões de euros em 2017 para 3.251 milhões de euros em
2018, traduzindo-se no aumento de 273 milhões de euros, mais 9,1% face ao
período homólogo. O crescimento das receitas engloba a expansão do mercado nos
EUA (mais 10%) e, pela negativa, o efeito da desvalorização cambial
no Brasil (menos 16%). Por
segmento, na TAP Manutenção e Engenharia em Portugal, que apresentou um
crescimento de 55%, destaca-se a venda de serviços de manutenção de motores
para terceiros, que avançou 70,1%, passando de 108,8 milhões de euros em 2017
para 185,1 milhões de euros em 2018.
Nos últimos
18 meses, a companhia lançou 17 novas rotas que contribuíram para o aumento das
receitas do grupo. É um feito notável para a TAP, pois “os mercados emergentes
não conseguem lançar 17 rotas num ano. Mas os trabalhadores investiram muito e
os frutos vão ser colhidos este ano – sustentou Antonoaldo Neves.
Em 2018, a
TAP registou 134.718 descolagens, o que compara com as 123.687 registas no ano
de 2017. E também cresceu, em 2018, a sua frota, passando de 88, em 2017, para
92, em 2018. Foi também iniciado, em 2018, um programa de corte de custos, que
permitiu poupanças na ordem dos 115 milhões de euros.
Miguel
Frasquilho, presidente do Conselho de Administração da TAP, indicou:
“O ano de
2018 foi difícil para a TAP quer em termos operacionais, quer em termos
económicos e financeiros, mas foi um ano que não comprometeu o nosso futuro. Um ano que nos permitiu continuar a criar raízes
para que o plano estratégico possa ser implementado como previsto.”.
Mais adiantou
a TAP, em comunicado, que “os custos extraordinários com irregularidades são consequência do
cancelamento de 2490 voos que obrigaram ao aluguer de aviões de
substituição com tripulações e ao pagamento
de indemnizações a passageiros, no total de cerca de 41 milhões de euros”.
Posteriormente, “foram alcançados acordos sindicais que asseguram a paz social
na empresa” – acrescentou.
Também foi implementado,
em 2018, um programa de saídas voluntárias e de pré-reformas, tendo os custos
associados a estas saídas sido fixados em 26,9 milhões de euros.
Por seu
turno, o gasto com combustível aumentou de 580 milhões de euros, em 2017, para
799 milhões de euros, em 2018. O total de custos operacionais avançou 14,7% em
2018, devido, sobretudo “à existência de custos de natureza extraordinária e
não recorrente”.
No ano de
2018, a TAP resolveu encarar a realidade. Tinha uma deficiência grande do
serviço ao cliente. Não estava entre as empresas [com melhor
posição] do ‘ranking’ da Star Aliance”, como
notou o presidente da Comissão Executiva. De acordo com os dados
disponibilizados, a pontualidade da TAP está, atualmente, “consolidada” em 80%,
contra os 73% registados em 2018.
O
presidente da Comissão Executiva da TAP disse, em março, que o grupo iria
contratar, este ano, 500 trabalhadores, abaixo dos mil que estavam nas
previsões iniciais, após a aceleração de contratações em 2018. Tinha uma
previsão de mil, mas, como acelerou a contratação no final do ano passado,
desacelerou a contratação este ano. E Antonoaldo Neves referiu que, durante
este ano, seriam contratados entre 120 a 130 pilotos, mas advertiu que só se contratavam
pilotos após o verão e que também haveria ter contratações em 2020, pois “a empresa agora trabalha de uma forma
planeada e antecipada”.
***
É óbvio que,
dada a complexidade do grupo TAP, é natural que haja prejuízos. Só não pode é
acontecer que vá de derrapagem em derrapagem. Não se pode olvidar que, no tempo
em que decorreu a privatização, nada se fez pela sanação financeira, laboral e
logística da companhia. O mesmo se diga da fase de reversão parcial da
privatização. E houve um erro de distribuir prémios por gestores e altos quadros
quando o grupo estava com prejuízos e em fase de novas aquisições.
Pior do que
os prejuízos num complexo empresarial semiestatal são os atrasos as avarias e,
por vezes, a falta de qualidade do serviço, sobretudo no que toca ao
atendimento aos balcões no respeitante a informação ao cliente.
A companhia
que serve de rosto do empresarialismo do Estado e do empresarialismo privado
não pode deixar de servir bem e de ser modelar em segurança de pessoas e bens.
E, quanto a prejuízos,
recordo que se desculpavam os da CP porque, além do material circulante e do pessoal,
tinha de tratar da manutenção e ampliação da via-férrea, pelo que veio a
desdobrar-se, nos últimos decénios, em CP (comboios e serviços) e Refer (via), tendo esta sido ultimamente incluída na IP (Infraestruturas
de Portugal). Ora, a
TAP não tem que construir vias aéreas nem tem de construir e gerir aeroportos.
Para isso, esta a ANA – Aeroportos de Portugal.
2019.09.24 –
Louro de Carvalho
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