domingo, 25 de agosto de 2019

Posições recentes da Igreja Católica sobre a Amazónia


A Amazónia está em chamas e o próprio Presidente do Brasil já entendeu que devia fazer alguma coisa, aliás tudo o que deve, pela Amazónia. Reconhecendo a amplitude da crise, decidiu destacar militares para o combate ao fogo e assumiu a luta contra as queimadas.
A Igreja Católica, além de lançar o brado pela Amazónia reforça a sua posição sobre o território em nome da proteção dos indígenas e da salvação do planeta, que daí haure uma mui grande porção do oxigénio que alimenta a nossa respiração, como a dos demais seres vivos.    
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Assim a urgência do cuidado da Casa Comum inspira os jesuítas do SJPAM (Serviço Jesuítico Pan-amazónico) a defender e promover a sustentabilidade ambiental e os direitos dos povos indígenas da Amazónia, através dos projetos sociais, educativos e pastorais que realizam no Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela e Guiana.
Segundo o Vatican News, “Déjate abrazar” (“Deixa-te abraçar”) é o título da campanha lançada com um triplo objetivo: “aumentar a conscientização sobre os principais problemas do território, mostrar o trabalho realizado pelos jesuítas na região e expandir redes de solidariedade que permitam captar recursos para a sustentabilidade de seu trabalho”.
A campanha pretende concretizar a rejeição a todas as formas de indiferença diante do inadiável cuidado do bioma pan-amazónico e “deixar-nos abraçar pela Amazónia, para acolher assim a vida que nos doa e suas necessidades mais urgentes”.
À “Vida Nueva” Alfredo Ferro, responsável do SJPAM, comenta que “a Companhia de Jesus na América Latina, através da Conferência dos Provinciais, tem uma rede chamada Red Claver que arrecada fundos para as obras sociais”. E, para divulgar e participar na campanha, o SJPAM criou o site “dejateabrazar.org”.
Entretanto, o alcance da campanha ultrapassa as obras da Companhia de Jesus na Amazónia, conforme declarou o Padre Ferro:
Nós, como SJPAM, respondemos à prioridade regional para a Amazónia, motivo pelo qual se considerou importante unirmo-nos em prol das atividades que realizamos e mais especificamente no apoio que damos à REPAM”.
Que a Amazónia está em perigo revelam-no os números, que falam por si mesmos. Neste sentido, o site déjate abrazar” recorda que, segundo o World Wide Fund for Nature, nos últimos 50 anos a Amazónia perdeu quase 20% de sua extensão social. Segundo a FAO, 420 comunidades indígenas dependem diretamente dos seus recursos. E a ONG Global Witness revela que em 2017 foram assassinados 57 líderes indígenas brasileiros, por defenderem o meio ambiente. Por tudo isto, o SJPAM faz um apelo à solidariedade por meio de uma plataforma de doação on-line, para a dádiva de qualquer valor mensal em dólares ou soles peruanos, referindo o portal que a “sua doação ajudará a fortalecer a defesa da nossa Mãe Amazónia”.
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Por sua vez, a Presidência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) manifestou a 22 de agosto, a sua preocupação com os incêndios que ocorrem em diferentes partes do mundo, especialmente na Amazónia, cujos efeitos são de natureza global.
Fazendo eco das palavras do Papa, os representantes da Igreja na América Latina e no Caribe, em nota publicada pela presidência sob o título “Levantamos a voz pela Amazónia”, exortam os homens e as mulheres a serem guardiões da criação.
O texto é, segundo o Vatican News, assinado pelo presidente, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, Peru; pelo 1.º vice-presidente, Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, Brasil; pelo 2.º vice-presidente, Cardeal Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua, Nicarágua; pelo presidente do Conselho de Assuntos Económicos, Dom Rogelio Cabrera López, Arcebispo de Monterrey, México; e pelo secretário-geral, Dom Juan Carlos Cárdenas Toro, Bispo-auxiliar de Cali, Colômbia.
Considerando os terríveis incêndios que estão a consumir grande parte da flora e da fauna no Alasca, na Gronelândia, na Sibéria, nas Ilhas Canárias e, em particular, na Amazónia, os Bispos desejam manifestar a sua preocupação perante a gravidade desta tragédia, que não é apenas de impacto local ou mesmo regional, mas de proporções planetárias. E lê-se no seu texto:
A esperança pela proximidade do Sínodo Amazónico, convocado pelo Papa Francisco, está agora manchada pela dor desta tragédia natural. Aos irmãos povos indígenas que habitam este amado território, expressamos toda a nossa proximidade e unimos a nossa voz à sua para clamar ao mundo por solidariedade e chamar a atenção para acabar com esta devastação”.
E, citando a advertência profética do preâmbulo do Instrumentum laboris para o Sínodo da Amazónia, escreve a presidência do CELAM: 
Na selva amazónica, de vital importância para o planeta, desencadeou-se uma profunda crise por causa de uma prolongada intervenção humana, onde predomina uma ‘cultura do descarte’ (LS 16) e uma mentalidade extrativista. A Amazónia é uma região com uma rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja. Esta realidade vai além do âmbito estritamente eclesial amazónico, porque se focaliza na Igreja presente em todo o mundo e também no futuro de todo o planeta.”.
Por conseguinte, a nota do CELAM exorta os governos dos países amazónicos (especialmente do Brasil e da Bolívia) as Nações Unidas e a comunidade internacional a tomarem medidas sérias para salvar o pulmão do mundo, pois, como afirmam os bispos, o que acontece com a Amazónia não é só uma questão local, mas global. Ou seja, “se a Amazónia sofre, o mundo sofre”. E, recordando as palavras de Francisco na Homilia no início do ministério Petrino, a 19 de março de 2013, diz o texto da presidência do CELAM:
Gostaríamos de “pedir, por favor, a todos aqueles que ocupam cargos de responsabilidade nos âmbitos económico, político e social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos guardiães da criação, do projeto de Deus inscrito na natureza, guardiães do outro, do ambiente; não deixemos que os sinais de destruição e de morte acompanhem o caminho deste nosso mundo”.
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Também a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) emitiu na tarde do passado dia 23, uma nota (também disponível em vídeo), sob o título “Levante a voz pela Amazónia”, sobre o recente quadro de aumento de queimadas na região amazónica de que resultaram os “absurdos incêndios” e outras criminosas depredações em curso na Amazónia, chamando a atenção para a exigência de posicionamentos adequados. Diz o documento, que é um lancinante apelo:
É urgente que os governos dos países amazónicos, especialmente o Brasil, adotem medidas sérias para salvar uma região determinante no equilíbrio ecológico do planeta – a Amazónia. Não é hora de delírios, desgraças e juízos e comentários.”.
No documento, a CNBB ressalta que Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, convocado pelo Santo Padre para outubro próximo – no cumprimento de sua tarefa missionária e da evangelização – é sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida, a partir do respeito ao meio ambiente. 
E os Bispos da CNBB observam:
O povo brasileiro, os seus representantes e servidores têm a maior responsabilidade na defesa e preservação de toda a região amazónica. O Brasil possui significativa extensão desse precioso território, com o rico tesouro da sua fauna, flora e recursos hidrominerais. Os absurdos incêndios e outras criminosas depredações requerem, agora, posicionamentos adequados e providências urgentes. O meio ambiente precisa de ser tratado nos parâmetros da ecologia integral, em sintonia com o ensinamento do Papa Francisco, na sua Carta Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado com a casa comum.”.
O pregão “Levante a voz pela Amazónia” implica “um movimento, agora, indispensável, em contraposição aos entendimentos e escolhas equivocados”, pois “a gravidade da tragédia das queimadas e outras situações irracionais e gananciosas, com impactos de grandes proporções, locais e planetárias, requerem que, construtivamente, sensibilizando e corrigindo rumos, se levante a voz”. Por isso, não se estranha o teor da nota da CNBB ao clamar:
É hora de falar, escolher e agir com equilíbrio e responsabilidade, para que todos assumam a nobre missão de proteger a Amazónia, respeitando o meio ambiente, os povos tradicionais, os indígenas, de quem somos irmãos. Sem assumir esse compromisso, todos sofrerão com perdas irreparáveis.”.
E a nota conclui com o apelo “a construir juntos uma nova ordem social e política, à luz dos valores do Evangelho de Jesus, para o bem da humanidade, da Pan-Amazónia, da sociedade brasileira e sobretudo dos pobres desta terra”, pois torna-se indispensável promover e preservar a vida na Amazónia e em todos os outros lugares do Brasil, mediante diálogos e entendimentos lúcidos”.
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Enfim, jesuítas, bispo do CELAM e bispos da CNBB estão apostados na salvação do planeta, que pode baquear pelo lado daquela região latino-americana. “Levantamos a voz” ou “Levante a voz pela Amazónia são clamores oportunos – e deviam ser importunos – pela preservação do planeta e pela ecoeconomia de rosto humano e de solidariedade com os mais desprotegidos.
O Sínodo dos Bispos para a Amazónia agendado para outubro próximo parece estar a ser toldado pela espessura das nuvens do fumo amazónico e chamuscado pelas labaredas ígneas, mas não deixa de ser luminoso “sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida a partir do respeito ao meio ambiente”.
Também a comunidade internacional se tem manifestado em prol da Amazónia que, atualmente, é destaque na imprensa mundial pela emergência ambiental. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu uma reunião neste final de semana durante o encontro do G7. E a Amazónia tornou-se o tema central da cimeira do G7.
O aumento no número de focos de incêndio em florestas tem sido um dos assuntos mais repercutidos, inclusive nas redes sociais, com destaque para a #PrayForAmazonia (“Reze pela Amazónia”). A repercussão dos internautas e de chefes de Estado faz referência às imagens e aos dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que mostram um aumento de 82% no número de focos de incêndio florestal entre janeiro e agosto de 2019, em comparação com o período homólogo de 2018. O Mato Grosso é o estado com mais ocorrências. A relação, segundo especialistas, é mais com o desmatamento e não tanto com uma seca mais forte.
Esse círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos a uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que está longe ainda de chacoalhar (incomodar), de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos”.
Assim, a emergência ambiental na Amazónia implica o apelo a uma ética ecológica de desenvolvimento. A região tem sido afetada por aquela que, segundo especialistas, é a maior onda de incêndios florestais no Brasil em sete anos. A repercussão, a nível internacional, levou chefes de Estado e bispos brasileiros e bispo de toda a América Latina a posicionarem-se: é, de facto, necessária uma orientação ética ecológica na Amazónia, além da fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”, como afirmou Dom Jaime Spengler, o vice-presidente da CNBB.
Por seu turno, Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande/MS, relata a situação vivida localmente, como a atuação constante dos bombeiros para apagar focos de incêndio. A consciência para o alerta desse “círculo vicioso de poluição ambiental”, como comenta Dom Dimas, precisa de partir dos cristãos para uma “verdadeira cruzada em defesa da Casa Comum”. A este respeito, Dom Dimas declara:
É com tristeza que a sociedade brasileira e internacional constata esse permanente e crescente índice da utilização de queimadas como alternativa para limpeza, fins agrários, e isso em todos os campos do Brasil. Aqui em Campo Grande não é diferente. No nosso Estado, os bombeiros já tiveram, nos últimos meses, que apagar focos de incêndio em quase 300 lugares – mas certamente são ações localizadas. Quando essa mentalidade se espalha para o Brasil todo, a gente acaba ficando insensível diante, por exemplo, do que acontece na Amazónia.”.
E clarifica em prol duma ecologia integral na sequência da encíclica social do Papa Francisco e do que a CNBB vem defendendo de há muito tempo:
Afinal de contas, a Amazónia não é um património privado, nem é só do governo, ela é um património de todos os brasileiros. E esse círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos a uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que está longe ainda de chacoalhar (incomodar), de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos. Precisamos, de novo, de resgatar a Laudato si’ e a história mesmo da Igreja no Brasil, que já promoveu várias Campanhas da Fraternidade em torno do tema ecológico. Eu lembro-me de que já em 1979 houve uma Campanha com o título ‘Preserve o que é de todos’. Então, a consciência ecológica é por uma ‘ecologia integral’ que precisa ser assimilada pelo nosso bom povo brasileiro e, particularmente, por aqueles que têm o ofício de cuidar do que é de todos.”.
Por outro lado, a CNBB pede fiscalização séria. As queimadas fora de controlo na Amazónia também “chamam a atenção e preocupam” a CNBB. O vice-presidente, Dom Jaime Spengler, afirma que é necessária uma fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”, pois, “segundo especialistas, o fator que melhor explica o aumento no número de focos de calor naquela região é o desmatamento”, embora provavelmente haja “também outras situações que caraterizam crimes ambientais e que merecem atenção”. Ora, esses elementos apontam para a sempre necessária fiscalização séria.
E Dom Jaime discorre:
“Papel de destaque, nesse âmbito, possuem os órgãos de controlo que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados. Há vozes, é verdade, que defendem o desenvolvimento da região através da exploração do subsolo, das florestas, do avanço da agricultura... Certamente tudo isso pode, sim, cooperar para o desenvolvimento da região, mas a que preço? Pode cooperar para o desenvolvimento da região desde que as iniciativas sejam orientadas por uma ética, digamos, ecológica; pela responsabilidade socioeconómica e ambiental. Além disso, não se pode esquecer a dignidade e a nobreza dos ecossistemas da região.
Depois, estribando-se na palavra do Papa Francisco e na de pesquisadores de renome, afirma:
Recordo-me de que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato si’, fala do perverso sistema de propriedade e consumo atual. É impressionante essa expressão. Por isso, daí a necessidade de encontrar novos caminhos para a promoção da ‘ecologia integral’, no respeito pelo ambiente, pelos povos nativos e pela própria terra.
Pesquisadores renomados têm alertado com insistência sobre a urgência de cuidado sério para os diversos ecossistemas. Não se pode aceitar que expressões de impacto ou opiniões vagas sustentadas ou influenciadas por interesses nebulosos ou escusos interfiram na vida desse património extraordinário que é a região pan-amazónica.”.
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Em suma, a promoção, a defesa e a preservação do património comum da humanidade deve mobilizar todos os cidadãos, instituições e organizações. E, se mais ninguém quiser campear esta mobilização urgente, deve a Igreja fazê-lo: é também parte do núcleo da sua missão de evangelizar. Cabe aos órgãos de soberania dos Estados travar o espírito iconoclasta sobre o meio ambiente e o afã do lucro por quaisquer meios. E a Igreja, obrigatoriamente perita em humanidade deve incentivar e acompanhar a luta por estas causas.
2019.08.25 – Louro de Carvalho

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