terça-feira, 13 de agosto de 2019

Pela 79.ª vez, peregrinos ofereceram trigo ao Santuário de Fátima


Os peregrinos que estiveram hoje, dia 13 de agosto, no Santuário de Fátima ofereceram trigo e cumpriram esta tradição solidária pela 79.ª vez, durante o ofertório da Missa de encerramento da Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, evocativa da 4.ª aparição de Nossa Senhora (a única que não aconteceu na Cova da Iria no dia 13, mas sim nos Valinhos, a 19) e que integrou a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado, presidida pelo Prefeito da Congregação para os Bispos (Santa Sé), o Cardeal canadiano Marc Ouellet, e que se iniciou ontem, dia 12.
Com efeito, a Igreja Católica em Portugal está a viver a 47.ª Semana Nacional das Migrações, dinamizada pela OCPM (Obra Católica Portuguesa das Migrações), que termina com uma jornada de solidariedade a 18 de agosto.
O Santuário informou durante a celebração da Eucaristia de encerramento desta peregrinação, que foram, durante 2018, oferecidos 8215 quilos de trigo e 530 quilos de farinha, tendo-se consumido neste santuário mariano, naquele ano, aproximadamente 37700 hóstias, e 2 milhões e 90 mil partículas e foram celebradas 10561 Missas.
A oferta de trigo pelos peregrinos da Diocese de Leiria-Fátima e de outras dioceses de Portugal e do estrangeiro é um gesto da apresentação dos dons da Eucaristia da peregrinação aniversária de 13 de agosto, que recorda a 4.ª aparição de Nossa Senhora aos Santos Francisco e Jacinta Marto e à sua prima, a Irmã Lúcia – tradição que se cumpre desde 1940, quando um grupo de jovens da JAC (Juventude Agrária Católica), de 17 paróquias da Diocese de Leiria, ofereceu 30 alqueires de trigo destinados ao fabrico de hóstias para consumo no Santuário de Fátima.
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Na saudação a Nossa Senhora que inaugurou a Peregrinação, os Cardeais António Marto, Bispo de Leiria-Fátima e Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da  Pontifícia Comissão para a América Latina, lembraram os jovens e os migrantes.
Sobre os migrantes, afirmou Dom António Marto:
Não se trata apenas de migrantes, mas de irmãos e de irmãs que devem ser acolhidos, respeitados e amados onde quer que cheguem”.
Por sua vez, o Cardeal canadiano referiu:
As caravanas de migrantes nunca foram tão numerosas como neste nosso tempo perturbado por tantos males e ameaças”.
Na abertura desta peregrinação, que denominou de “de fé e de esperança”, disse:
Penso particularmente naqueles e naquelas que sofrem pela sua condição de migrante, que choram pelas suas famílias e amigos que deixaram nos seus países de origem, que ainda não encontraram uma situação conveniente no país de adoção”.
E, falando de Fátima e do seu pode carismático, concluiu:
Fátima é um lugar privilegiado de graça, de consolo e de esperança. Unimo-nos à oração da Virgem Maria, à oração das santas crianças mensageiras Francisco e Jacinta, e à do Santo Padre que não se cansa de chamar a atenção do mundo inteiro para o destino dos migrantes e dos refugiados.”.
Já Dom António Marto, que falara também dos migrantes, aproveitou o momento para invocar a intercessão de Nossa Senhora para a juventude portuguesa e mundial.
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Na homilia da Missa da Vigília, Dom Marc Ouellet, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária olhou para o drama dos refugiados e apresentou a caridade cristã como “sinal de Deus em ação na história”. Estabeleceu um paralelo entre a génese da Igreja e o drama dos migrantes e refugiados, que definiu como “mensageiros de Deus” e alvo primeiro da caridade de todos batizados. E, ao evocar episódios da “história santa”, lembrou a origem peregrina da Igreja, um “povo a caminho, (…) tantas vezes fustigado e sofredor”, mas sempre “acompanhado” e “protegido” por Deus. Desta constatação e do Mistério da Encarnação, que evidencia um Deus que se faz próximo da humanidade, o insigne purpurado deduziu a “Aliança” de amor através da qual os batizados em Cristo são “levados a espalhar aos outros a caridade gratuita”, e exortou a esta ação caritativa em ordem aos que o Santo Padre apelida de “últimos”, que são os “enganados, abandonados, torturados, abusados e violentados”.
Definindo os migrantes e refugiados como “um povo de seres humanos vulneráveis, descartados, maltratados e desprezados, como o foi o Crucificado”, o prelado romano (de origem canadiana) pediu oração pela ação do Espírito Santo para que estes sejam “reconfortados, consolados, levantados” e que encontrem, nas “peripécias de viagem, () o testemunho da caridade dos cristãos e dos não-cristãos”. E, dirigindo-se à assembleia de peregrinos, vincou:
A vossa solidariedade para com todos eles, que manifestais através desta peregrinação, é um sinal dos tempos e um sinal de Deus em ação na história, Deus que revela através do seu povo a caminho a aspiração profunda da humanidade que ultrapassa, de facto, o horizonte terrestre”.
Na conclusão, Dom Marc Ouellet definiu os migrantes e refugiados como “mensageiros de Deus”, apresentando uma leitura escatológica a partir da realidade que vivem. E frisou:
Não sois apenas miseráveis expostos a todas a intempéries, sois mensageiros de Deus que, através de vós, recorda a todos o destino comum da humanidade a caminho até à cidade de Deus, a Jerusalém celeste prometida a todos os homens de boa vontade”.
Concelebrou a Missa como o Cardeal Ouellet o Cardeal Marto, bispo de Leiria-Fátima, três bispos e 72 sacerdotes. Na assembleia estiveram meia centena de grupos organizados de peregrinos, provenientes de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, Irlanda, Malta, Brasil, Estados Unidos da América, Costa do Marfim, Senegal, Vietname e Malásia.
A Peregrinação prosseguiu com uma Vigília de Oração noturna, que terminou com a Procissão Eucarística, já de manhã. E, às 9 horas, procedeu-se à recitação do Terço, na Capelinha das Aparições, tendo, às 10 horas, começado a Missa Internacional, que integrou a tradicional oferta do trigo no momento da apresentação dos dons, como já foi referido, bem como a bênção aos doentes e ao povo e a Procissão do Adeus.
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Diante dos milhares de peregrinos que participaram nas celebrações deste dia 13, tendo concelebrado 99 sacerdotes, 4 bispos e 2 cardeais, o Cardeal Marc Ouellet lembrou que somos todos “peregrinos e mendigos da esperança” mas também “missionários”, “apóstolos ativos”, a quem se exige
Uma caridade mais fervorosa, mais paciente e criativa, para que encontremos a nossa alegria e a nossa salvação não apenas quando as nossas preces são atendidas, mas também na alegria de servir os nossos irmãos e irmãs”.
De olhos postos nos migrantes, o purpurado desafiou os peregrinos a serem “apóstolos ativos” da esperança e da paz diante “das nuvens carregadas que pairam sobre o planeta”. E observou:
A mensagem de Fátima permanece mais atual do que nunca, porque nuvens carregadas pairam sobre o planeta e nós não sabemos o que nos reserva o amanhã. Ainda que o Santo Padre venha multiplicando as iniciativas e assumindo a defesa dos mais vulneráveis na causa da paz, nomeadamente através da promoção de uma ecologia humana integral, muitos são os líderes políticos que se fecham cada vez mais ao diálogo, à compaixão e à paz.”.
A centenária mensagem de Fátima “é e continua a ser a Paz, a garantia da paz, da oração e da penitência para a paz do mundo”, precisou, acrescentando:
Sentimo-nos totalmente impotentes na conjuntura atual da história, mas estamos certos de que Nosso Senhor opera de forma singular na história desde que Sua mãe pronunciou o Fiat ao anúncio do Anjo”.
Sublimando na perspetiva cristã e eclesial a condição do migrante e peregrino, sublinhou:
Hoje, pensamos particularmente em todos os migrantes e refugiados que percorrem as estradas do nosso planeta à procura de uma pátria terrestre melhor, mas à procura também da pátria que Deus prepara para nós na Jerusalém Celeste, cujas portas Cristo escancarou a fim de aí acomodar toda a família humana resgatada pelo seu sangue”.
Alertando para o facto de o povo de Deus a caminho “levar consigo as suas alegrias e as suas tristezas” e ser “solidário com toda a humanidade em Cristo, Príncipe da Paz”, ensinou:
O nosso olhar sobre Maria e o olhar de Maria sobre nós, iluminados pelo Espírito Santo, fazem de nós novas criaturas, homens e mulheres de esperança, peregrinos que de repente sentem que o fardo é mais leve, pobres que repentinamente param de se queixar e começam a ter compaixão pelos que são mais vulneráveis e sofredores”.
Pedindo aos peregrinos que se inspirem no exemplo dos pastorinhos para retomarem o caminho com um espírito novo e novas energias  transformando os infortúnios em aventura missionária, ao jeito de Maria, o Cardeal exortou:
Caros amigos peregrinos, migrantes e refugiados, o que levaremos aos nossos irmãos e irmãs quando regressarmos desta peregrinação? Lembranças? Objetos que nos recordem a graça recebida neste lugar? Atitudes novas para com eles que resultam da transformação do nosso olhar através do olhar de Maria? Sim, haverá certamente lugar para tudo isto, mas também para nos decidirmos tornar apóstolos ativos ao serviço do Príncipe da Paz e da sua Mãe, a Rainha da Paz.”.
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Como foi dito já, esta Peregrinação integrou também a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado, um dos pontos altos do programa da 47.ª Semana Nacional das Migrações, promovida pela Igreja Católica de 11 a 18 de agosto, cujo tema é “Não são apenas migrantes”. Agosto é um dos meses em que Fátima recebe mais migrantes, sobretudo da nossa diáspora. Além dos peregrinos lusófonos, acorreram grupos de fiéis de dezenas de países, como Vietname, Síria, Senegal, Suécia, Polónia, Malásia, França, Reino Unido, Sri Lanka, EUA, Malta, Bélgica, Brasil, Alemanha, Itália, Costa do Marfim, Irlanda, Indonésia e Espanha.
A diretora da OCPM (Obra Católica Portuguesa das Migrações) lamentou a subsistência de “uma sociedade que exclui” e onde mais do que meios falta a “boa vontade” de ajudar quem precisa de acolhimento. Efetivamente, na conferência de imprensa com os jornalistas, no início da Peregrinação, Eugénia Quaresma frisou a responsabilidade que recai sobre o poder político, de “colocar a questão das migrações na agenda”, mas também sobre “quem elege”, no sentido “de se combaterem os medos” e de se “mudar a narrativa” atual. E apontou que é preciso combater os medos, em vez de alimentar o populismo e a xenofobia, sustentando a necessidade de um trabalho conjunto, que envolva todos os países e governos.
E, em alusão à situação de Itália, um dos países onde a questão do acolhimento aos refugiados mais se tem colocado, indicou:
É importante que se entenda que a questão das migrações é de resolução conjunta e colaborativa, não pode ser só uma questão dos Estados do sul, tem que haver solidariedade na resolução das questões”.
Mais a diretora da OCPM disse que a Igreja Católica em Portugal “está a trabalhar para que as pessoas percebam que todos beneficiam com a diversidade e com o acolhimento, e com a capacidade de integrar o potencial que estas pessoas trazem”.
Eugénia Quaresma recordou ainda a importância de promover “canais seguros e regulares para as migrações”, no sentido de “combater também o tráfico de seres humanos”, e de “influenciar os Estados a serem mais abertos ou a funcionar de uma forma mais aberta”. E relevou o “desafio das crianças” migrantes e refugiadas, cada vez mais um problema presente em diversos países, crianças que chegam muitas vezes sozinhas, sem qualquer suporte – pois, “ao acolher estas crianças estamos não só a cuidar do nosso presente, mas mais a semear o nosso futuro”.
No atinente ao Programa de Recolocação e Reinstalação de Refugiados, desde o início desta crise humana a Europa já acolheu perto de 46 mil pessoas, sendo que para Portugal vieram 1674, e dentro destas 726 pessoas através da PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados) – um número que, para Eugénia Quaresma, vem desmistificar desde logo aquele “discurso de invasão” que muitas vezes tem caraterizado esta problemática.
E a responsável da OCPM, reforçando a necessidade de uma mudança de mentalidade diz:
726 pessoas é um número pequenino, se pensarmos que elas estão dispersas por diversas comunidades e regiões. É um número que não custa a aceitar, que não custa a acolher”, defendeu aquela responsável (…) Se não fosse a recusa de alguns países, a Europa tinha capacidade para acolher muito mais, é uma questão de boa vontade, não só de política e de condições, é uma questão de conseguirmos contar com todos para melhorar este mundo em que vivemos.”.
Por seu turno, Dom António Vitalino Fernandes Dantas, o Bispo que acompanha a OCPM, também presente na predita conferência de imprensa, disse que é preciso “promover a cultura do encontro, da comunicação e da comunhão”.
António Vitalino assinalou que o “mundo atual está marcado pela mobilidade”, algo que “não é novidade” para o cristão, que “sempre foi considerado um peregrino a caminho da terra prometida”, mas alertou para “as guerras, as perseguições, cataclismos e fome”.
Neste contexto, aludiu às alterações climáticas, recordando a realização do Sínodo especial para a Amazónia, “que tratará da Amazónia e do seu significado para o clima a nível mundial”, convocado pelo Papa Francisco para o mês de outubro.
O vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana explicou que os migrantes portugueses estão em “maior número nos países desenvolvidos” onde mantêm um “amor muito grande ao seu país, às suas famílias e tradições”, e destacou as peregrinações que participam em países como a França, a Suíça e a Alemanha. E, contextualizando o acompanhamento espiritual dos migrantes, disse que, “normalmente, as conferências episcopais se orientam para a nomeação pela Erga Migrantes Caritas Christi, de 2004”, que “fala em organização jurídica da nomeação de padres assistentes pastorais e delegados”, embora haja também os missionários avulsos, que enfrentam, por vezes, dificuldades tal como as induzem.
A peregrinação internacional aniversária de agosto releva a tragédia que afeta hoje milhões de pessoas que estão a ser obrigadas a deixar as suas casas devido a problemáticas como a pobreza, a guerra e a perseguição étnica e religiosa.
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Na despedida dos peregrinos, o Cardeal Marto elogiou e agradeceu a ação da GNR no Mediterrâneo ao resgatar mais duma centena de migrantes que tentavam chegar à Europa vindos da costa do Norte de África, deixou mensagem para os migrantes e refugiados e agradeceu testemunho de fé dos peregrinos. Sobre a ação da GNR, disse:
Neste dia não posso deixar de exprimir o louvor e gratidão pelo gesto da Guarda Nacional republicana nas águas do Mediterrâneo, que resgatou mais de uma centena de refugiados”. (…) É um gesto e um sinal muito belo de solidariedade e de coragem que honra a ação da GNR.”.
António Marto, dirigindo-se à assembleia, lembrou que esta peregrinação, “festa de família junto de Nossa Senhora”, serviu para “tomarmos consciência de que os migrantes e os refugiados não são objeto de mercadoria, nem bode de expiação para os males da sociedade”, mas “irmãos e irmãs que devem ser acolhidos e amados”. E, aludindo à situação laboral que atravessa o país, com a greve dos camionistas, nomeadamente os de transporte de matérias perigosas, agradeceu a todos os peregrinos presentes por terem vindo a Fátima, observando:
Viestes em grande número, em número significativo e nem sequer a greve vos desanimou. Aqui fica o meu agradecimento pelo vosso testemunho de fé corajosa, mesmo quando é posta à prova” (…) Fátima é um lugar privilegiado de graça, de consolo e de esperança.”.
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E, sim, Fátima mantém-se na senda da evangelização que se inicia pelo acolhimento, pelo pregão e pelo testemunho orante e atento, importando que o reforce e diversifique e leve o Santuário e o sue dinamismo missionários às comunidades mais próximas e mais distantes.
2019.08.13 – Louro de Carvalho

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