É verdade. Segundo
noticiou o Vatican News, Sushma
Swaraj faleceu vítima de ataque cardíaco a 6 de agosto, aos 67 anos de idade.
Depois de se encontrar com ela aquando da canonização de Madre Teresa,
Francisco comentou, a seu respeito, que “é uma pessoa muito espiritual”. Como
ministra das Relações Exteriores, não mediu esforços em trabalhar pela
libertação do padre Tom Uzhunnalil, salesiano sequestrado no Iémen e mantido em
cativeiro durante mais de um ano.
O Cardeal
Oswald Gracias, Arcebispo de Mumbai e presidente da CBCI (Conferência
dos Bispos da Índia), disse
que, pela morte de Sushma Swaraj, “a nação perdeu uma grande personalidade
indiana”, que foi “uma administradora muito hábil, uma líder versátil e eficaz”.
Na mensagem
de condolências publicada no dia 7, o purpurado recorda o compromisso efetivo
assumido por Sushma Swaraj, então ministra das Relações Exteriores, na
libertação de padre Tom Uzhunnalil. E assegura que “todos os indianos no exterior que passavam por alguma dificuldade,
encontraram nela uma ministra simpática, que fazia de tudo para os ajudar”.
Foi uma das
personalidades políticas mais conhecidas e amadas da Índia. Ministra das Relações
Exteriores no primeiro governo Modi (2014 a 2019), por motivos de saúde, acabou por não se candidatar
às eleições em março passado. Sushma Swaraj, diabética, foi submetida a um
transplante de rim em 2016, mas veio a falecer de ataque cardíaco. Antes,
foi Ministra da Saúde noutro governo liderado pelo BJP, com o Primeiro-Ministro
Atal Bihari Vajpayee (1998-2004).
É recordada
como a ministra contactável via Twitter: os indianos que viviam no exterior e
tinham necessidade de assistência diplomática, contratavam-na pessoalmente nas
redes sociais.
Na predita
mensagem de pesar, o Cardeal Gracias recorda que “Sushma Swaraj chefiou a
delegação do governo para a canonização de Madre Teresa. Tinha, com efeito, uma
devoção especial pela Madre. Naquela ocasião, encontrou-se com o Santo Padre,
que mais tarde falou dela, referindo: “A
ministra indiana das Relações Exteriores é uma pessoa muito espiritual”.
Nos seus
funerais em Delhi, estiveram presentes políticos de todas as tendências. Rahul
Gandhi, ex-presidente do Congresso Nacional Indiano, disse que a morte de Swaraj
foi um choque, pela perda de “uma
liderança política excecional, uma oradora talentosa e uma parlamentar excecional,
com uma amizade que superava os limites do partido”.
***
A
pari e a contrastar, enquanto se homenageia a devota de Santa Teresa, a violência contra os cristãos na Índia aumentou desde
2014 e é frequentemente obra de grupos extremistas hinduístas, instigados por
“discursos de ódio religioso” na internet e nas redes sociais.
No primeiro
semestre de 2019 foram registados 158 episódios de violência contra cristãos em
23 Estados da Índia, que resultaram em ferimentos de 110 mulheres e 89 crianças.
Os dados foram enviados à agência Fides
pelo UCF (United
Christian Forum), organização
que ativou uma linha telefónica específica para denúncias e assistência em
casos de violência. De acordo com a nota, entre os 158 incidentes registados pelo
“Helpline” (serviço telefónico de ajuda sigilosa e com resguardo
do anonimato de quem traz questões atinentes à violência), 130 dizem respeito a ataques ou intimidações e
ameaças por parte de grupos violentos que agrediram fiéis pacificamente
reunidos em igrejas ou em encontros de oração. E o UCF denuncia em nota que “isso significa que praticar a própria fé
está a tornar-se um motivo de insegurança em 90% do território indiano” e
que a violência impune se tornou “uma
norma no país, onde nenhum partido político assumiu uma posição forte contra
tais atos de intimidação contra as minorias religiosas”.
Outra tendência
preocupante é a recusa da polícia em registar o FIR (First
Information Record), que é a
denúncia contra os autores de violência. “Somente em 24 dos 158 incidentes foi
possível efetivar uma denúncia contra os culpados”, revela aquela nota,
mencionando a “inação da polícia” em 11 Estados governados por partidos laicos
e em 12 Estados onde estão no Governo partidos marcadamente hinduístas.
Entre os
Estados que registam o maior número de violências contra os cristãos, está
Uttar Pradesh com 32 incidentes de violência, seguido por Tamil Nadu, com 31
incidentes.
E a
supradita nota especifica:
“O modus operandi seguido em todos estes episódios é
sempre o mesmo: uma multidão acompanhada pela polícia irrompe num momento de
oração gritando slogans, agredindo os
fiéis, inclusive mulheres e crianças. Então os pastores são presos ou detidos
pela polícia com a falsa acusação de conversões fraudulentas. (…) Tais casos
são de tal forma corriqueiros, que ninguém tem tempo para os condenar, nem
políticos, nem a sociedade civil ou líderes religiosos.”.
A
organização assinala um aumento constante da violência contra os cristãos desde
2014:
“Em 2014 houve cerca de 150 incidentes; em 2015 e 2016 foram cerca de
200; em 2017 e 2018 chegaram a 250 e 300 casos, respetivamente; e, em 2019, tem
havido uma média de 26 incidentes a cada mês”.
Tehmina
Arora, diretora da unidade indiana da ADF (Alliance
Defending Freedom),
associação comprometida na defesa dos direitos cristãos, sustenta:
“Ninguém deveria ser perseguido por causa da sua fé. É preocupante ver
esses terríveis atos sectários continuarem, mesmo depois de uma série de
indicações dadas ao Governo pela Suprema Corte. A polícia e as administrações
locais, responsáveis pela lei e ordem, devem agir rapidamente e contra
qualquer pessoa que promova violência em massa.”.
Segundo a
ADF, sentimentos e atos anticristãos na Índia tiveram um aumento desde que o
governo federal passou a ser liderado pelo partido nacionalista hinduísta do
Primeiro-Ministro Narendra Modi, que em 2019 iniciou o seu segundo mandato.
A Fides refere que os cristãos na Índia são
29 milhões e representam 2,3% da população. Na Índia existem 966 milhões de
cidadãos hinduístas, isto é, 80% da população indiana, que no total chega a 1,3
bilião de pessoas. Os muçulmanos são 172 milhões (cerca de 14%).
***
Entretanto, os Bispos indianos pedem “esforço de
paz e reconciliação” para Caxemira.
Com uma
medida aprovada pela Câmara Baixa do Parlamento indiano, a Índia revogou o “status
especial” da Caxemira garantido pela Constituição de 1947, que passa a ser um “território
da união”. A medida gerou protestos e a região foi isolada. O Governo
paquistanês reafirmou o seu “apoio político, diplomático e moral” à causa da
Caxemira e ao seu “inalienável direito à autodeterminação”. E os Bispos indianos
declaram pela voz de Dom Theodore Mascarenhas, Bispo Auxiliar de Ranchi – e que
recentemente concluiu o seu mandato como secretário-geral da Conferência Episcopal
da Índia – ao comentar para a agência Fides
a atual situação reinante na Caxemira, que é motivo de grande preocupação e
atrai a atenção também da comunidade católica da Índia.
“A situação na Caxemira é delicada e exige um esforço de todos, pela paz
e a reconciliação, para que não degenere em conflito: hoje acompanhamos a
situação com a nossa oração. Expressamos a nossa proximidade ao povo da
Caxemira, que novamente vive dias de tensão e sofrimento. Com a esperança de
uma evolução pacífica dos acontecimentos, rezamos pela paz na Caxemira e em
toda a Índia.”.
Com aquela
medida aprovada pela Câmara Baixa do Parlamento indiano, a região da Caxemira no
noroeste da Índia, o único Estado indiano com maioria muçulmana (68% da população
local de 14,5 milhões de habitantes), passará a
ser um “território da União”, isto é, administrado pelo Governo federal, por
meio de um representante do executivo.
A
deliberação parlamentar gerou protestos e distúrbios no território, que perde, com
esta medida, a sua autonomia. Segundo declarou à agência Fides o padre Shaiju Chacko, porta-voz da Diocese de Jammu-Srinagar
(única diocese
católica na Caxemira) “a decisão
poderia gerar um ulterior sentimento de distância e de alienação entre a
população local e o Governo central, aumentando a “instabilidade interna e os
riscos de radicalização violenta, sobretudo nos jovens”, em área em que
grupos jihadistas e extremistas já organizaram atentados no passado.
No Estado da
Caxemira, foram registadas desordens e protestos; e as forças de segurança
indianas (o Governo enviou 50.000 novos soldados, além dos 60.000 já existentes) prenderam mais de 500 pessoas para evitar
riscos de outras manifestações de rua e possíveis ataques terroristas.
Dada a
tensão elevada, cerca de 20 mil entre peregrinos e turistas foram retirados da
Caxemira, que está isolada de contactos externos. Em clima social de muita
tensão e instabilidade, observa o padre Shaiju Chacko:
“A Igreja convida à prudência, a não se deixar levar por tendências
violentas e manter a calma. Continuamos a trabalhar, a nível pastoral e social,
pelo bem da população. Pedimos ao governo de Nova Délhi um gesto de confiança e
de reconciliação em relação à população local, que já sofreu demais.”.
Enquanto
isso, o Paquistão declara, em nota oficial do Ministério das Relações
Exteriores, condenar e rejeitar
fortemente a decisão da Índia, classificando-a como “um passo
unilateral inaceitável”. Ademais, Islamabad reafirma o seu “apoio político, diplomático e moral” à
causa da Caxemira e o seu “inalienável
direito à autodeterminação”.
O Território
já foi palco de cinco guerras entre a Índia e o Paquistão, países com arsenal
nuclear: em 1947, 1965, 1971, 1999 e 2001-2002. Índia e China, por sua vez,
enfrentaram-se uma vez em 1962, pelo controle de Aksai Chin, bem como pelo
nordeste do estado indiano de Arunachal Pradesh.
A Índia e o
Paquistão também se envolveram em diversas escaramuças no glaciar de Siachen.
Desde a
década de 1990, o Estado indiano de Jammu e Caxemira tem sido afetado por
confrontos entre caxemires separatistas, incluindo militantes que a Índia alega
serem apoiados pelo Paquistão e as Forças Armadas do Paquistão, o que causaram
milhares de mortos.
A região da
Caxemira, localizada no extremo noroeste do subcontinente indiano, como
se disse, tem sido disputada principalmente pela Índia e Paquistão, mas também
pela China.
A Índia
reivindica a totalidade do antigo Estado principesco dogra (da Dinastia
Dogra) de Jammu e Caxemira e atualmente
administra cerca de 43% da região, incluindo a maior parte de Jammu, Caxemira,
Ladakh (com o
glaciar de Siachen). A posição
oficial da Índia é que Caxemira é “parte integrante” da Índia, enquanto a
posição oficial do Paquistão é que a Caxemira é um território disputado cujo status definitivo
poderá ser determinado somente pelo povo da Caxemira (Alguns
grupos alegam que a Caxemira deve ser independente da Índia e do Paquistão).
Contesta a
alegação da Índia o Paquistão, que controla 37% da Caxemira, principalmente a Caxemira
Livre (Azad Kashmir) e as regiões setentrionais de Gilgit e
Baltistão. A China, por sua vez, controla 20% da Caxemira, incluindo
Aksai Chin, que ocupou na sequência da breve guerra sino-indiana de 1962 e da
área do Trans-Caracórum, conhecida como o vale de Shaksgam e que foi cedida
pelo Paquistão em 1963.
***
Mesmo perseguida,
a Igreja encontra a lucidez e a força anímica para enfrentar a calúnia das
conversões fraudulentas e arrostar com a onda de atos violentos contra os seus crentes,
homenagear os devotos dos seus santos e santas e pronunciar-se solidariamente
pela tolerância e pela autodeterminação dos povos – continuando sempre a trabalhar a nível pastoral e social.
2019.08.09 – Louro de Carvalho
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