sexta-feira, 30 de agosto de 2019

“Se a Amazónia sofre, o mundo sofre”



Tem início no domingo, 1 de setembro, Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação, a celebração ecuménica anual de oração e ação pela criaçãoO tempo da criação: cristãos unidos para defender a casa comum, que termina no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Milhares de pessoas estarão envolvidas na celebração e proteção do meio ambiente.
Mais de um mês para abraçar ecumenicamente e trabalhar para proteger a Criação, ameaçada pelo próprio homem. Renova-se, mais uma vez, “O tempo da Criação”, em que os cristãos do mundo inteiro e e diversas confissões se unem em oração e ação para cuidar da Casa Comum. É um comité diretivo ecuménico que sugere anualmente um tema para a celebração. O tema para 2019 é: “A rede da vida”. De facto, está a acelerar a perda de espécies. Um relatório recente das Nações Unidas estima que o estilo de vida atual ameaça extinguir um milhão de espécies.
Em carta de 23 de maio, Dia Mundial da Biodiversidade, o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral convidava os bispos católicos a aderirem a esta iniciativa ecuménica. O documento foi distribuído por ocasião do 4.º aniversário da Encíclica do Papa Francisco Laudato si’, para encorajar os pastores a celebrarem este tempo, estendendo às comunidades católicas o convite do Dicastério vaticano, a que se uniram o Movimento Católico Mundial pelo Clima e a Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM). Este encorajamento torna-se ainda mais significativo ante a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica sobre o apelativo tema: “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Esta celebração começou sob os auspícios da Igreja Ortodoxa e tem sido acolhida por católicos, anglicanos, luteranos, evangélicos e outros membros da família cristã em todo o mundo. O site ecuménico SeasonOfCreation.org oferece subsídios e ideias para os cristãos participarem na celebração. Os eventos variam de encontros de adoração e oração à recolha de lixo, e pedidos de mudança política para limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius. Outras iniciativas previstas são: em Quezon City, Filipinas, o Cardeal Luis Antonio Tagle, Arcebispo de Manila, presidirá uma missa, depois da qual serão plantadas árvores trazidas de áreas indígenas para a cidade; em Altamira, voluntários da Amazónia brasileira desenvolverão um projeto florestal num assentamento urbano; em Lukasa, Zâmbia, a Liga das Mulheres Católicas apresentará uma discussão sobre o meio ambiente na paróquia de São José Mukasa.
A este respeito, o Patriarca de Constantinopla Bartolomeu, na sua mensagem para o Dia de Oração pela Salvaguarda da Criação, escreveu:
A questão ecológica revela que o mundo é um só, que os problemas são globais e comuns. Para enfrentar os perigos é, portanto, necessária uma mobilização multilateral, uma convergência, uma colaboração, uma cooperação.”.
E pode ler-se ainda no seu texto:
É inconcebível que a humanidade esteja consciente da gravidade do problema e que continue a comportar-se como se não o conhecesse. Embora nas últimas décadas o principal modelo de desenvolvimento económico, no contexto da globalização sob a bandeira do fetichismo dos índices económicos e da maximização do lucro, tenha exacerbado os problemas ecológicos e sociais, continua a dominar amplamente a opinião de que ‘não há alternativa’ e que o não se conformar com o severo determinismo da economia levará a situações sociais e económicas incontroláveis. Desta forma, se ignoram e se desacreditam as formas alternativas de desenvolvimento e a força da solidariedade social e da justiça.”.
E Tomás Ínsua, diretor executivo do Movimento Católico Mundial pelo Clima, disse:
Só agindo em conjunto, à luz da nossa Igreja e do Espírito Santo, poderemos avançar. Nos últimos meses, incêndios violentos destruíram florestas na Amazónia, ondas de calor fizeram soar sinais de alarme em toda a Europa e a massa de gelo está a derreter-se num ritmo inimaginável, aumentando o nível do mar. Todos estes problemas partilham uma solução importante: devemos empreender a ‘conversão ecológica’ requerida por São João Paulo II, que o Papa Francisco expandiu para Laudato Si’.”.
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Enquanto a Amazónia arde, o Presidente brasileiro entra com uma birra: escarnece a mulher de Macron, que não gostou da brejeirice, e exige um pedido de desculpa de Macron para aceitar a ajuda financeira da Europa para combater os fogos na grande floresta (São já milhões de hectares ardidos). Ora, começa a entrar no ouvido o estribilho curto, mas cheio de significado: “Se a Amazónia sofre, o mundo sofre.
Entretanto, a CEPSMH (Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana) da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), emite uma nota da sobre o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que se assinala a 1 de setembro, estribada nas seguintes palavras do Papa Francisco:
Os pulmões do planeta repletos de biodiversidade que são a Amazónia e a bacia fluvial do Congo ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. Não se pode ignorar a importância destes lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade. Os ecossistemas das florestas tropicais possuem uma biodiversidade de enorme complexidade, quase impossível de conhecer completamente, mas, quando estas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies ou tais áreas transformam-se em áridos desertos. Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar os enormes interesses económicos internacionais que, a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. (Laudato si’, 38).
Diz a CEPSMH que, se tivesse que reduzir a nota a uma só palavra, essa palavra seria “Amazónia”, pois, como dizia ao Papa, a 25 de agosto, aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, “estamos todos preocupados pelos vastos incêndios que deflagram na Amazónia”, pelo que incitou à oração para que, “com o compromisso de todos, sejam dominados o mais rapidamente possível”, uma vez que “este pulmão de florestas é vital para o nosso planeta”.
Na Nota de 2018, a Comissão citou o Documento preparatório para o Sínodo da Amazónia, a realizar no próximo mês de Outubro; agora, ao ler o Instrumentum laboris, ficou impressionada com a qualidade da reflexão que permitirá “ensaiar novos e corajosos passos do nosso ser Igreja que nos lancem para o futuro, guiados pelo Espírito Santo, na continuidade do Concílio Vaticano II”. A Nota coloca os Bispos portugueses em união com os Bispos do Brasil (CNBB) e de toda a América Latina (CELAM), afirmando com eles: “Se a Amazónia sofre, o mundo sofre”.
Também a CEPSMH salienta estarem bem patentes entre nós as preocupações pelas consequências das alterações climáticas. Com efeito, já em Abril de 2017 a CEP publicou a Nota Pastoral “Cuidar da casa comum, prevenir e evitar os incêndios” sobre esta realidade que todos os anos nos afeta, vincando que “a diminuição do caudal dos rios e o risco de seca que continua são suficientes para recomendar uma especial prudência no gasto da água”.
Assim, a CEPSMH “convida todas as comunidades cristãs a dar graças a Deus pela Criação e a pedir ao Criador a conversão dos nossos corações e a dos corações daqueles de quem dependem as efetivas mudanças nas políticas públicas que têm tido estas ‘dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo’.” (LS, 13).
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A agência Ecclesia lê a Nota da Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana, de 29 agosto, como sendo a manifestação da associação da Igreja Católica (e não só dos Bispos portugueses) aos alertas pela situação na Amazónia, afetada por incêndios em vários dos países que abrange e uma forte intenção para o próximo Dia Mundial de Oração pela Criação.
O texto da Nota evoca a preocupação manifestada pelo Papa, no último domingo, com os “vastos incêndios que deflagram na Amazónia”, considerada por Francisco (e não só) como um “pulmão de florestas” vital para o planeta.
“Estas palavras do Papa, na Praça de São Pedro, exprimem também o nosso apelo e o nosso sentir”, assinala a Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana.
O supradito organismo da CEP aponta ainda o próximo Sínodo especial sobre a Amazónia, convocado para o próximo mês de outubro, pelo Papa, elogiando o instrumento de trabalho:
Ficamos impressionados com a qualidade da reflexão que permitirá, estamos certos, ensaiar novos e corajosos passos do nosso ser Igreja que nos lancem para o futuro, guiados pelo Espírito Santo, na continuidade do Concílio Vaticano II”.
A Igreja Católica instituiu o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado pela Criação por decisão de Francisco em 2015, após a publicação da encíclica ‘Laudato si’, Sobre o cuidado pela Casa Comum’, em junho desse ano, associando-se às comunidades ortodoxas e outras Igrejas cristãs.
A CEPSMH assinala outrossim, na mensagem para a celebração de 2019, o alerta para as consequências “bem patentes” das alterações climáticas em Portugal, nos incêndios, na “diminuição do caudal dos rios e o risco de seca”, recomendando “uma especial prudência no gasto da água”. E convida todas as comunidades cristãs a “dar graças a Deus pela Criação e a pedir ao Criador a conversão dos corações” para efetivas mudanças em políticas públicas que têm tido “dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo”.
Também a rede ‘Cuidar da Casa Comum’ vai promover iniciativas englobadas no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação, com textos de reflexão e o encontro ‘Também somos Terra’, que se realizará no dia 21 de setembro, entre as 11 horas e as 18, na casa das Irmãs Doroteias, no Linhó, perto de Sintra, que se encerra com uma celebração ecuménica. E a organização aponta que “Também somos Terra” é “um dia de festa, de ação de graças pelo dom da criação, de alegria e esperança, porque, apesar de tudo, o Criador é por nós”.
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Na linha de preparação para o Sínodo para a Amazónia e no âmbito do alerta para os incêndios na grande região que abrange sete países, a Arquidiocese de Belém está a receber entre os dias 28 e 30 de agosto os bispos de toda a Amazónia Brasileira.
Na verdade, organizado pela CEA (Comissão Episcopal Especial para a Amazónia), com apoio da REPAM-Brasil (Rede Eclesial Pan-amazónica),  o encontro, realizado no Centro de Espiritualidade Monte Tabor, da Arquidiocese de Belém, visa estudar o Documento de Trabalho do Sínodo, bem como partilhar as experiências das escutas e da caminhada do processo sinodal nas dioceses e prelazias da Amazónia.
Participa neste encontro de estudo Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (Minas Gerais) e presidente da CNBB. E também estão presentes neste encontro  Dom David Martinez de Aguirre Guiné, bispo de Puerto Maldonado, no Peru, e o Padre Michael Czerny, subsecretário da Secção Migrantes e Refugiados para o Serviço de Desenvolvimento Integral Humano, nomeados secretários do Sínodo para a Amazónia, bem como Cristiane Murray, da secretaria do Sínodo e vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé. E Alfredo Ferro, de Letícia, na Colômbia, da equipa de assessores da REPAM internacional e assessores da REPAM-Brasil auxiliam na realização do encontro. Essa é a última atividade antes do Sínodo, em outubro, que reunirá todos os bispos da Amazónia brasileira, bispos de outros países cujo território integra o  bioma e bispos do mundo todo.
Sobre o Documento de Trabalho do Sínodo, que será objeto da reflexão dos bispos, Dom Walmor destacou que há uma leitura antropológica muito pertinente rumo à perspectiva da ecologia integral. Porém, o presidente da CNBB reforçou que o maior desafio, ainda nesta fase de preparação, é reforçar a leitura teológica, uma vez que a tarefa principal da Igreja é a evangelização e o anúncio de Jesus Cristo. E disse:
Enfrentaremos estes desafios e fá-lo-emos do melhor modo possível para que o Sínodo, atividade que está em profunda sintonia com o coração do papa Francisco, represente uma grande contribuição para a Amazónia, para a Igreja no Brasil e no mundo”.
Na abertura do encontro, na manhã do dia 28, Dom Walmor afirmou que a Conferência deve acompanhar a partir de agora o caminho sinodal com uma programação e um planeamento de comunicação para abrir mais o coração da nossa própria Igreja e também da sociedade civil, pois a importância do que se trata, do que aborda, daquilo que nós queremos e esperamos, precisa repercutir muito no coração da nossa Igreja e também no coração da sociedade. Para o prelado, a intenção da Igreja não é apenas realizar um evento, “mas dar passos novos”, incentivando o envolvimento nas ações que superem os vários ruídos e incompreensões que se têm apresentado em relação ao Sínodo ou os tratem de forma adequada. O importante é que haja “uma repercussão muito boa e importante de tudo aquilo que se trata e se tratará durante o Sínodo e daquilo que virá na exortação pós-sinodal”.
Dom Walmor reforçou ainda a importância deste sínodo para a Igreja, declarando: 
O Sínodo da Amazónia, buscando novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, toca tudo o que a Igreja precisa para sair da inércia, ilumina todos os pontos onde existem sombras e dará a possibilidade de um impulso novo.
O Presidente da CNBB ainda refletiu sobre a questão de que a evangelização da Amazônia em debate no Sínodo não está relacionada com apenas um aspeto: 
Um Sínodo da Amazónia, já no seu instrumento de trabalho e naquilo que poderemos verificar, mostra o global da Amazónia. Refiro, por exemplo, que evangelização tem a ver com saúde, evangelização tem a ver com uma nova ordem social e política, evangelização tem a ver com espiritualidade profunda. E o Sínodo da Amazónia, de um modo muito singular e qualificado, dá-nos essa oportunidade.”.
Coordenado pelo cardeal Cláudio Hummes, presidente da CEA e da REPAM e relator do Sínodo para a Amazónia, o encontro conta com a participação de todos os bispos titulares e auxiliares das 56 dioceses e prelazias da Amazónia Brasileira. Participam também leigas, leigos e religiosos, lideranças dos 6 regionais da CNBB que compõem a região, para contribuir com as vozes das realidades e na interlocução com os bispos.
Recorde-se que o Sínodo para Amazónia, a realizar  no Vaticano entre os dias 6 e 27 de outubro próximo, é uma resposta do Papa Francisco à realidade da Pan-Amazónia. De acordo com Francisco, “o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspetivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazónica, pulmão de capital importância para o planeta”.
Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz.  
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Enfim, a Igreja dos leigos e da hierarquia, a instituição e a entidade espiritual e dinâmica, toda ela zela pelo bem da Amazónia e do planeta em tempo emergente de desmatamento e incêndios e em todo o tempo, o tempo da estruturação, da preservação e da conquista dum novo modo de encarar o mundo, não o sacrificando aos interesses iconoclastas sem o sentido do homem e da sociedade.
2019.08.30 – Louro de Carvalho   

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