Realizou-se no início da tarde de
hoje, dia 4 de outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o primeiro briefing
sobre à XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”,
que se iniciou no Vaticano no dia 3 e prosseguirá até o próximo dia 28.
O Sínodo abriu
com a celebração da Santa Missa presidida pelo Santo Padre na Praça de São
Pedro e os trabalhos na Aula sinodal tiveram início com a oração e a saudação
do mesmo Papa Francisco, fazendo votos para que o Sínodo desperte os corações.Na homilia da
Missa, o Pontífice, sabendo que Jesus oferece aos discípulos a garantia de que
acompanhará todo o trabalho missionário que lhes confia e que o Espírito Santo
é o primeiro a guardar e manter sempre viva e atual no coração dos discípulos a
memória do Mestre, fazendo com que “a riqueza e beleza do Evangelho seja fonte de
constante alegria e novidade” exortou a que se invoque insistentemente o
Paráclito para que “ajude a trazer à memória e a reavivar as palavras do Senhor
que fazem arder o coração (cf Lc 24,32) num “ardor e paixão evangélica que geram o ardor e a paixão por Jesus”
e numa “memória que possa despertar e renovar em nós a capacidade de sonhar e esperar”. Na
verdade, “sabemos que os nossos jovens
serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos,
formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças
que trazemos no coração” (cf Jl 3,1).
***
Como refere o Vatican News, estiveram presentes no predito briefing o Prefeito do
Dicastério para a Comunicação e Presidente da Comissão sinodal para a
Informação, Paolo Ruffini, a colaboradora do secretário especial do Sínodo e
docente de sociologia e processos culturais e comunicativos da Universidade
Católica de Milão, Chiara Giaccardi, o Bispo de Quilmes e padre sinodal eleito
pela Conferência episcopal argentina, Dom Carlos José Tissera, e o jovem
vietnamita, auditor no Sínodo, Joseph Cao Huu Minh Tri.
Paolo
Ruffini, apresentou aos jornalistas os muitos temas tocados: o descarte, a
afetividade e sexualidade, as migrações, a vocação “no sentido mais amplo da
vocação à dimensão mais bonita e espiritual da vida, a relação com Deus e, por
último, a “credibilidade da Igreja”.
Dos 25 pronunciamentos feitos até à
2.ª Congregação Geral na Sala do Sínodo ficou evidenciado o “desejo constante de sonhar com os jovens,
para fazer a Igreja caminhar com eles”. Por outro lado, alguns testemunhos,
como precisou Ruffini, reiteraram um pedido de perdão, não somente pela questão
“dos abusos”, mas também por todas as vezes que a Igreja “não esteve à altura
de seus deveres”.
Em uníssono, os participantes do
Sínodo expressaram a sua satisfação pelo pedido do Papa de um intervalo de
silêncio de três minutos entre um pronunciamento e outro, o que, segundo Dom
Tissera, constitui uma escolha “útil” para discernir e “caminhar realmente juntos”. Com efeito, para o Padre Antonio
Spadaro SJ, Diretor da revista jesuíta “La Civiltà Cattolica” e Secretário da
Comissão sinodal para a informação, “o
Sínodo não é um parlamento, mas um lugar de discernimento; um lugar espiritual,
não um debate de ideias”.
Já o Bispo de Quilmes precisou que
este Sínodo “é um momento privilegiado
para a Igreja” para se colocar à “escuta” dos jovens, que representam “uma
bênção”, uma escuta capaz também de perceber seus silêncios. Para o prelado,
esta “oportunidade” deve sobretudo permitir à Igreja oferecer aquela coerência
que os jovens buscam, ajudar e favorecer “o
encontro entre Jesus e os jovens”. E, sendo os bispos e os sacerdotes “intermediários”
desta amizade, devem recordar aos jovens que a vida deles é preciosa e que não
estão sozinhos.
Por seu turno, Chiara Giaccardi, ao
tomar a palavra no briefing, evidenciou o caráter concreto dos testemunhos
pronunciados na Sala do Sínodo e a tangível vontade de colocar-se à escuta. E o
jovem auditor vietnamita expressou a alegria de participar neste encontro
sinodal e fez votos para que a Igreja ajude sempre mais os jovens, para além
das muitas dificuldades, a encontrar “as verdadeiras paixões” da vida.
***
O Irmão
Alois, Prior da Comunidade Ecuménica de Taizé, que participa no Sínodo dos
Bispos, no Vaticano, como convidado Especial do Papa, falou sobre o evento num
encontro com Anne Thibout, do Setor de Serviço nacional para a Evangelização
dos Jovens e as Vocações, da Igreja na França, de que nos dá conta o L’Osservatore Romano.
É a terceira
vez que o Irmão Alois participa no Sínodo dos Bispos. A sua experiência, bem
como os debates e encontros com os milhares de jovens, que são acolhidos na
Comunidade francesa de Taizé, na colina de Cluny, permitem-lhe oferecer o seu
testemunho sobre o pertinente tema da Assembleia sinodal, expondo a sua
experiência pessoal com a Juventude e passando em revista os diversos temas a
abordar na Assembleia Sinodal como corolário de todo um trabalho de preparação
feito desde o anúncio do Sínodo.
Diz o Prior
da Comunidade Ecuménica de Taizé que “os jovens, consultados sobre as suas
expectativas, em regime de preparação do Sínodo, apontaram unanimemente a
necessidade serem ouvidos e acolhidos pela Igreja”.
De facto, as
diferentes Conferências episcopais, que participaram das reflexões
pré-sinodais, afirmam que os jovens desejam “uma Igreja menos institucional e
mais relacional, capaz de acolher e sem julgar precipitadamente, uma Igreja amiga
e próxima, uma comunidade eclesial que seja uma família, onde possam ser
acolhidos, ouvidos, protegidos e integrados”.
O Irmão
Alois frisa que esta dimensão fraterna não deve ser uma opção apenas entre os
cristãos. Na verdade, “os irmãos da
comunidade de Taizé descobrem um lugar onde a disponibilidade e a confiança são
possíveis” e que “uma sociedade sem
perdão não pode sobreviver”, pois, “sem
perdão não há futuro, porque reinam a suspeita e a desconfiança”.
Um dos
principais assuntos que serão debatidos na Assembleia Sinodal é a
dimensão missionária do cristianismo, um tema que a Igreja católica no
mundo destaca, anualmente, no mês de outubro. E a este respeito, o Prior vinca:
“Não é suficiente falar. A missão é feita por contágio e não apenas com
palavras. É preciso encorajar o contacto pessoal que permite a escuta.”.
Esta
recomendação faz eco do que os jovens procuram para a sua vida espiritual. No encontro
“pré-sinodal”, realizado em Roma, ficou evidente que “os jovens querem ser testemunhas autênticas; homens e mulheres que
pretendem dar uma imagem viva e dinâmica da sua fé e da sua relação com Jesus;
pessoas que levam os outros a aproximarem-se, a encontrarem-se e a apaixonarem-se
por Jesus”.
O documento
preparatório para o Sínodo reafirma a relação do conceito de vocação com a
felicidade, que Jesus Cristo dá a cada pessoa. E o Irmão Alois partilha o seu
ponto de vista:
“Os jovens têm um grande desejo: a sede de um amor para sempre, que vai
além das numerosas separações, que os jovens assistem nas famílias, mas também
na Igreja”.
A resposta
ao apelo vocacional de cada jovem ancora-se na escolha renovada de seguir a
Cristo: “Cabe-nos a nós mostrar-lhes que o ‘Sim’ é possível, apesar das nossas
fragilidades” – disse.
Segundo o
documento preparatório “o acompanhamento
das jovens gerações não é um dever opcional, na educação e evangelização dos
jovens, mas um dever da Igreja e um direito da pessoa”. A este respeito, o
Prior de Taizé frisou “a necessidade de que todo o ‘Sim’ a Cristo seja
acompanhado”. É por isso que “a Igreja deve encontrar novos meios para
acompanhar todas as etapas da vida, para discernir sobre a vocação de cada um,
seja a religiosa seja a matrimonial”.
***
Por seu
turno, no discurso que proferiu na abertura do Sínodo, o Papa Francisco disse
que este “é um momento de partilha” e que, ao entrar naquela Sala “para falar dos jovens, já se sente a força
da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e
alegrar não só esta sala, mas toda a Igreja e o mundo inteiro”.
Agradecendo a todos ali presentes por
terem acreditado que “vale a pena
sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela”, assegurou:
“Vale
a pena ter a Igreja como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz, não
obstante as fraquezas humanas e as dificuldades, de fazer resplandecer e
transmitir a mensagem sem ocaso de Cristo; vale a pena agarrar-se à barca da
Igreja que, mesmo através das tempestades implacáveis do mundo, continua
oferecendo a todos refúgio e hospitalidade; vale a pena colocar-se à escuta uns
dos outros; vale a pena nadar em contracorrente e aderir a valores altos, como
a família, a fidelidade, o amor, a fé, o sacrifício, o serviço e a vida eterna”.
Sendo o Sínodo “um momento de partilha”, o Papa garantiu que “só o diálogo nos pode fazer crescer” e que “uma crítica honesta e transparente é construtiva e ajuda, ao contrário
das bisbilhotices inúteis, das murmurações, das ilações ou dos preconceitos”.
Por outro lado, o Pontífice
advertindo que é preciso saber escutar com humildade, disse:
“A
escuta aberta requer coragem para tomar a palavra e fazer-se voz de
tantos jovens no mundo que não estão presentes. É esta escuta que abre espaço
ao diálogo. O Sínodo deve ser um exercício de diálogo, sobretudo entre os que
participam nele. E o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à
novidade, estar pronto a mudar a sua opinião diante do que ouviu dos outros.
Isto é importante para o Sínodo.”.
Exortando que nos sintamos “livres para aceitar e compreender os outros”
e “para mudar as nossas convicções e
posições” – “sinal de grande
maturidade humana e espiritual”, sustentou:
“O Sínodo
é um exercício eclesial de discernimento. Franqueza no falar e
abertura no ouvir são fundamentais para que o Sínodo seja um processo de
discernimento. Sejamos sinal duma Igreja à escuta e em caminho. A
atitude de escuta não se pode limitar às palavras que trocaremos entre nós nos
trabalhos sinodais. Uma Igreja que não escuta mostra-se fechada à novidade,
fechada às surpresas de Deus, e não poderá ser crível, especialmente para os
jovens, os quais, em vez de se aproximar, irão afastar-se inevitavelmente.”.
Para o Papa, “o primeiro passo rumo à
escuta é libertar as nossas mentes e os nossos corações de preconceitos e
estereótipos”, pois, se “pensamos já saber quem é o outro e o que quer”, temos “verdadeiramente
dificuldade em ouvi-lo seriamente”. Nesta ótica, “os jovens são tentados a considerar
ultrapassados os adultos” e “os adultos são tentados a julgar os jovens
inexperientes, a saber como são e sobretudo como deveriam ser e comportar-se” –
o que pode representar “um forte obstáculo ao diálogo e ao encontro entre as
gerações”. E Francisco, frisando que a maioria das pessoas presentes no Sínodo
“não pertence à geração dos jovens”, alertou para o cuidado a ter “sobretudo
com o risco de falar dos jovens a partir de categorias e esquemas mentais já
superados” e exortou ao contributo “para tornar possível uma aliança entre
gerações”.
A propósito do clericalismo, o
Pontífice disse que “é preciso, por um lado, superar decididamente” este
“flagelo” – “o clericalismo é uma perversão e é raiz de muitos males na Igreja:
destes devemos pedir humildemente perdão e sobretudo criar condições para que
não se repitam” – e, por outro lado, tem de se “curar o vírus da autossuficiência e das
conclusões precipitadas de muitos jovens”.
Em termos da necessidade petrina de sabermos explicar as razões da nossa esperança (cf 1Pe 3,15 – “No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça.”), o Papa, desejando “que o Sínodo desperte os nossos corações”, observou:
Em termos da necessidade petrina de sabermos explicar as razões da nossa esperança (cf 1Pe 3,15 – “No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça.”), o Papa, desejando “que o Sínodo desperte os nossos corações”, observou:
“Precisamos de reencontrar as razões da nossa esperança
e sobretudo transmiti-las aos jovens que estão sedentos de esperança. O
encontro entre as gerações pode ser extremamente fecundo para gerar esperança.”.
Contra uma visão negativista do mundo,
do futuro e dos resultados do Sínodo acautelou:
“Não
nos deixemos tentar pelas ‘profecias de desgraças’, não gastemos energias a ‘contabilizar
falências e recordar amarguras’, mantenhamos o olhar fixo no bem que muitas
vezes não faz barulho”.
E, pelo lado positivo, exortou:
“Esforcemo-nos
para fazer sair deste Sínodo não só um documento, que geralmente é lido por
poucos e criticado por muitos, mas sobretudo propósitos pastorais concretos,
capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar
sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular
confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de
esperança, aprender um do outro e criar um imaginário positivo que
ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos e inspire aos
jovens – a todos os jovens, sem excluir nenhum, a uma visão de futuro repleto
da alegria do Evangelho”.
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Em suma, um sínodo vivido em partilha
tem de produzir frutos com a ajuda do Espírito Santo e a docilidade dos
crentes, na linha do discernimento eclesial, como exercício permanente, e da credibilidade
da Igreja, da caminhada em conjunto como estilo de vida e de ação, na coerência
e concretude ou testemunho concreto e comprometido, no encontro das “verdadeiras
paixões da vida por parte dos jovens”, na vocação fundamental à felicidade (podendo especificar-se na vida
matrimonial, na vida religiosa ou na vida consagrada na secularidade), nas alianças intergeracionais (superando barreiras e preconceitos) e, enfim, no reencontro das razões
da nossa esperança.
2018.10.04 – Louro de Carvalho
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