quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Sínodo que fala dos jovens intenta o reencontro das razões da esperança


Realizou-se no início da tarde de hoje, dia 4 de outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o primeiro briefing sobre à XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que se iniciou no Vaticano no dia 3 e prosseguirá até o próximo dia 28.
O Sínodo abriu com a celebração da Santa Missa presidida pelo Santo Padre na Praça de São Pedro e os trabalhos na Aula sinodal tiveram início com a oração e a saudação do mesmo Papa Francisco, fazendo votos para que o Sínodo desperte os corações.Na homilia da Missa, o Pontífice, sabendo que Jesus oferece aos discípulos a garantia de que acompanhará todo o trabalho missionário que lhes confia e que o Espírito Santo é o primeiro a guardar e manter sempre viva e atual no coração dos discípulos a memória do Mestre, fazendo com que “a riqueza e beleza do Evangelho seja fonte de constante alegria e novidade” exortou a que se invoque insistentemente o Paráclito para que “ajude a trazer à memória e a reavivar as palavras do Senhor que fazem arder o coração (cf Lc 24,32) num “ardor e paixão evangélica que geram o ardor e a paixão por Jesus” e numa “memória que possa despertar e renovar em nós a capacidade de sonhar e esperar”. Na verdade, “sabemos que os nossos jovens serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos, formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças que trazemos no coração” (cf Jl 3,1).
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Como refere o Vatican News, estiveram presentes no predito briefing o Prefeito do Dicastério para a Comunicação e Presidente da Comissão sinodal para a Informação, Paolo Ruffini, a colaboradora do secretário especial do Sínodo e docente de sociologia e processos culturais e comunicativos da Universidade Católica de Milão, Chiara Giaccardi, o Bispo de Quilmes e padre sinodal eleito pela Conferência episcopal argentina, Dom Carlos José Tissera, e o jovem vietnamita, auditor no Sínodo, Joseph Cao Huu Minh Tri.
Paolo Ruffini, apresentou aos jornalistas os muitos temas tocados: o descarte, a afetividade e sexualidade, as migrações, a vocação “no sentido mais amplo da vocação à dimensão mais bonita e espiritual da vida, a relação com Deus e, por último, a “credibilidade da Igreja”.
Dos 25 pronunciamentos feitos até à 2.ª Congregação Geral na Sala do Sínodo ficou evidenciado o “desejo constante de sonhar com os jovens, para fazer a Igreja caminhar com eles”. Por outro lado, alguns testemunhos, como precisou Ruffini, reiteraram um pedido de perdão, não somente pela questão “dos abusos”, mas também por todas as vezes que a Igreja “não esteve à altura de seus deveres”.
Em uníssono, os participantes do Sínodo expressaram a sua satisfação pelo pedido do Papa de um intervalo de silêncio de três minutos entre um pronunciamento e outro, o que, segundo Dom Tissera, constitui uma escolha “útil” para discernir e “caminhar realmente juntos”. Com efeito, para o Padre Antonio Spadaro SJ, Diretor da revista jesuíta “La Civiltà Cattolica” e Secretário da Comissão sinodal para a informação, “o Sínodo não é um parlamento, mas um lugar de discernimento; um lugar espiritual, não um debate de ideias”.
Já o Bispo de Quilmes precisou que este Sínodo “é um momento privilegiado para a Igreja” para se colocar à “escuta” dos jovens, que representam “uma bênção”, uma escuta capaz também de perceber seus silêncios. Para o prelado, esta “oportunidade” deve sobretudo permitir à Igreja oferecer aquela coerência que os jovens buscam, ajudar e favorecer “o encontro entre Jesus e os jovens”. E, sendo os bispos e os sacerdotes “intermediários” desta amizade, devem recordar aos jovens que a vida deles é preciosa e que não estão sozinhos.
Por seu turno, Chiara Giaccardi, ao tomar a palavra no briefing, evidenciou o caráter concreto dos testemunhos pronunciados na Sala do Sínodo e a tangível vontade de colocar-se à escuta. E o jovem auditor vietnamita expressou a alegria de participar neste encontro sinodal e fez votos para que a Igreja ajude sempre mais os jovens, para além das muitas dificuldades, a encontrar “as verdadeiras paixões” da vida.
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O Irmão Alois, Prior da Comunidade Ecuménica de Taizé, que participa no Sínodo dos Bispos, no Vaticano, como convidado Especial do Papa, falou sobre o evento num encontro com Anne Thibout, do Setor de Serviço nacional para a Evangelização dos Jovens e as Vocações, da Igreja na França, de que nos dá conta o L’Osservatore Romano.
É a terceira vez que o Irmão Alois participa no Sínodo dos Bispos. A sua experiência, bem como os debates e encontros com os milhares de jovens, que são acolhidos na Comunidade francesa de Taizé, na colina de Cluny, permitem-lhe oferecer o seu testemunho sobre o pertinente tema da Assembleia sinodal, expondo a sua experiência pessoal com a Juventude e passando em revista os diversos temas a abordar na Assembleia Sinodal como corolário de todo um trabalho de preparação feito desde o anúncio do Sínodo.
Diz o Prior da Comunidade Ecuménica de Taizé que “os jovens, consultados sobre as suas expectativas, em regime de preparação do Sínodo, apontaram unanimemente a necessidade serem ouvidos e acolhidos pela Igreja”.
De facto, as diferentes Conferências episcopais, que participaram das reflexões pré-sinodais, afirmam que os jovens desejam “uma Igreja menos institucional e mais relacional, capaz de acolher e sem julgar precipitadamente, uma Igreja amiga e próxima, uma comunidade eclesial que seja uma família, onde possam ser acolhidos, ouvidos, protegidos e integrados”.
O Irmão Alois frisa que esta dimensão fraterna não deve ser uma opção apenas entre os cristãos. Na verdade, “os irmãos da comunidade de Taizé descobrem um lugar onde a disponibilidade e a confiança são possíveis” e que “uma sociedade sem perdão não pode sobreviver”, pois, “sem perdão não há futuro, porque reinam a suspeita e a desconfiança”.
Um dos principais assuntos que serão debatidos na Assembleia Sinodal é a dimensão missionária do cristianismo, um tema que a Igreja católica no mundo destaca, anualmente, no mês de outubro. E a este respeito, o Prior vinca:
Não é suficiente falar. A missão é feita por contágio e não apenas com palavras. É preciso encorajar o contacto pessoal que permite a escuta.”.
Esta recomendação faz eco do que os jovens procuram para a sua vida espiritual. No encontro “pré-sinodal”, realizado em Roma, ficou evidente que “os jovens querem ser testemunhas autênticas; homens e mulheres que pretendem dar uma imagem viva e dinâmica da sua fé e da sua relação com Jesus; pessoas que levam os outros a aproximarem-se, a encontrarem-se e a apaixonarem-se por Jesus”.
O documento preparatório para o Sínodo reafirma a relação do conceito de vocação com a felicidade, que Jesus Cristo dá a cada pessoa. E o Irmão Alois partilha o seu ponto de vista:
Os jovens têm um grande desejo: a sede de um amor para sempre, que vai além das numerosas separações, que os jovens assistem nas famílias, mas também na Igreja”.
A resposta ao apelo vocacional de cada jovem ancora-se na escolha renovada de seguir a Cristo: “Cabe-nos a nós mostrar-lhes que o ‘Sim’ é possível, apesar das nossas fragilidades” – disse.
Segundo o documento preparatório “o acompanhamento das jovens gerações não é um dever opcional, na educação e evangelização dos jovens, mas um dever da Igreja e um direito da pessoa”. A este respeito, o Prior de Taizé frisou “a necessidade de que todo o ‘Sim’ a Cristo seja acompanhado”. É por isso que “a Igreja deve encontrar novos meios para acompanhar todas as etapas da vida, para discernir sobre a vocação de cada um, seja a religiosa seja a matrimonial”.
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Por seu turno, no discurso que proferiu na abertura do Sínodo, o Papa Francisco disse que este “é um momento de partilha” e que, ao entrar naquela Sala “para falar dos jovens, já se sente a força da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e alegrar não só esta sala, mas toda a Igreja e o mundo inteiro”.
Agradecendo a todos ali presentes por terem acreditado que “vale a pena sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela”, assegurou:
Vale a pena ter a Igreja como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz, não obstante as fraquezas humanas e as dificuldades, de fazer resplandecer e transmitir a mensagem sem ocaso de Cristo; vale a pena agarrar-se à barca da Igreja que, mesmo através das tempestades implacáveis do mundo, continua oferecendo a todos refúgio e hospitalidade; vale a pena colocar-se à escuta uns dos outros; vale a pena nadar em contracorrente e aderir a valores altos, como a família, a fidelidade, o amor, a fé, o sacrifício, o serviço e a vida eterna”.
Sendo o Sínodo “um momento de partilha”, o Papa garantiu que “só o diálogo nos pode fazer crescer” e que “uma crítica honesta e transparente é construtiva e ajuda, ao contrário das bisbilhotices inúteis, das murmurações, das ilações ou dos preconceitos”.
Por outro lado, o Pontífice advertindo que é preciso saber escutar com humildade, disse:
A  escuta aberta requer coragem para tomar a palavra e fazer-se voz de tantos jovens no mundo que não estão presentes. É esta escuta que abre espaço ao diálogo. O Sínodo deve ser um exercício de diálogo, sobretudo entre os que participam nele. E o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à novidade, estar pronto a mudar a sua opinião diante do que ouviu dos outros. Isto é importante para o Sínodo.”.
Exortando que nos sintamos “livres para aceitar e compreender os outros” e “para mudar as nossas convicções e posições” – “sinal de grande maturidade humana e espiritual”, sustentou:
O Sínodo é um exercício eclesial de discernimento. Franqueza no falar e abertura no ouvir são fundamentais para que o Sínodo seja um processo de discernimento. Sejamos sinal duma Igreja à escuta e em caminho. A atitude de escuta não se pode limitar às palavras que trocaremos entre nós nos trabalhos sinodais. Uma Igreja que não escuta mostra-se fechada à novidade, fechada às surpresas de Deus, e não poderá ser crível, especialmente para os jovens, os quais, em vez de se aproximar, irão afastar-se inevitavelmente.”.
Para o Papa, “o primeiro passo rumo à escuta é libertar as nossas mentes e os nossos corações de preconceitos e estereótipos”, pois, se “pensamos já saber quem é o outro e o que quer”, temos “verdadeiramente dificuldade em ouvi-lo seriamente”. Nesta ótica, “os jovens são tentados a considerar ultrapassados os adultos” e “os adultos são tentados a julgar os jovens inexperientes, a saber como são e sobretudo como deveriam ser e comportar-se” – o que pode representar “um forte obstáculo ao diálogo e ao encontro entre as gerações”. E Francisco, frisando que a maioria das pessoas presentes no Sínodo “não pertence à geração dos jovens”, alertou para o cuidado a ter “sobretudo com o risco de falar dos jovens a partir de categorias e esquemas mentais já superados” e exortou ao contributo “para tornar possível uma aliança entre gerações”.
A propósito do clericalismo, o Pontífice disse que “é preciso, por um lado, superar decididamente” este “flagelo”“o clericalismo é uma perversão e é raiz de muitos males na Igreja: destes devemos pedir humildemente perdão e sobretudo criar condições para que não se repitam” – e, por outro lado, tem de se “curar o vírus da autossuficiência e das conclusões precipitadas de muitos jovens”.
Em termos da necessidade petrina de sabermos explicar as razões da nossa esperança (cf 1Pe 3,15 – “No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça.”), o Papa, desejando “que o Sínodo desperte os nossos corações”, observou:
 Precisamos de reencontrar as razões da nossa esperança e sobretudo transmiti-las aos jovens que estão sedentos de esperança. O encontro entre as gerações pode ser extremamente fecundo para gerar esperança.”.
Contra uma visão negativista do mundo, do futuro e dos resultados do Sínodo acautelou:
Não nos deixemos tentar pelas ‘profecias de desgraças’, não gastemos energias a ‘contabilizar falências e recordar amarguras’, mantenhamos o olhar fixo no bem que muitas vezes não faz barulho”.
E, pelo lado positivo, exortou:
Esforcemo-nos para fazer sair deste Sínodo não só um documento, que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos, mas sobretudo propósitos pastorais concretos, capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender um do outro e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos e inspire aos jovens – a todos os jovens, sem excluir nenhum, a uma visão de futuro repleto da alegria do Evangelho”.
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Em suma, um sínodo vivido em partilha tem de produzir frutos com a ajuda do Espírito Santo e a docilidade dos crentes, na linha do discernimento eclesial, como exercício permanente, e da credibilidade da Igreja, da caminhada em conjunto como estilo de vida e de ação, na coerência e concretude ou testemunho concreto e comprometido, no encontro das “verdadeiras paixões da vida por parte dos jovens”, na vocação fundamental à felicidade (podendo especificar-se na vida matrimonial, na vida religiosa ou na vida consagrada na secularidade), nas alianças intergeracionais (superando barreiras e preconceitos) e, enfim, no reencontro das razões da nossa esperança.     
2018.10.04 – Louro de Carvalho

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