A suprema
autoridade da Igreja católica proclamou no passado domingo, 14 de outubro, sete novos santos (o Papa Paulo VI, o Arcebispo Oscar Romero, os religiosos Francisco
Spinelli, Vicente Romano, María Catalina Kasper, Nazaria Ignacia de Santa
Teresa de Jesus e o leigo Núncio Sulprizio), entre os quais sobressai o beato
salvadorenho Dom Óscar Arnulfo
Romero, que sofreu o martírio a 24 de março de 1980 em San Salvador, de
cuja arquidiocese era o prelado.
Com efeito,
tornou-se o primeiro santo de El Salvador e constituiu-se por antonomásia o
Santo das Américas, dado ter encarnado a figura luminosa de pastor da América Latina.
O Padre Juan
Carlos Rengucci, sacerdote argentino da Pia Sociedade São Caetano, que morou 6 anos em El Salvador e, no
âmbito dos seus estudos superiores eclesiásticos, pesquisou os escritos
pastorais do novel santo, de passagem por Roma nestes dias, referiu esta figura
luminosa e profética destacando o significado e a importância peculiar
desta canonização não só para o povo salvadorenho, mas também para toda a
Igreja na América Latina.
***
Rezam as crónicas vaticanas que Francisco proclamou entre aqueles santos o Arcebispo
de El Salvador como símbolo duma Igreja comprometida com os pobres e
martirizado em 1980 e o Papa italiano Paulo VI, cujo pontificado foi de 1963 a
1978, que amou o Senhor e a Igreja que evidenciou como peregrina e promotora da
paz em diálogo vivo e paciente com a modernidade na atenção permanente aos
sinais dos tempos. Em homenagem a eles, o Papa usou como vestes litúrgicas
durante a cerimónia o cíngulo com sangue que Romero usava no dia do
assassinato, bem como a casula de Paulo VI. E milhares de pessoas, religiosos e
autoridades assistiram à solene proclamação, marcada pelo fervor de cerca de 7
mil salvadorenhos, que viajaram para assistir à canonização do seu Dom Romero.
Em atmosfera festiva, os salvadorenhos cantaram e levaram cartazes com a imagem
do religioso, martirizado em 1980.
Por décadas acusado de ser marxista e próximo da Teologia da Libertação, o novo santo latino-americano será venerado nos altares como um exemplo para os católicos de todo o mundo pela sua denúncia das injustiças sociais e pela defesa dos direitos humanos.
Por este empenhamento assim enquadrado social e pastoralmente, Monsenhor Romero, o agora novo santo chegou a ser considerado ‘perigoso’ pelo Vaticano. Foi preciso João Paulo II ter brandido a bengala a que se arrimava e bradar que o Arcebispo fora morto no altar, bem como a clarividência da Congregação para as Causas dos Santos, presidida por Angelo Amato sob a orientação de Bento XVI e atenta à postura aberta do Papa Francisco para ultrapassar o preconceito sobre o perfil de Oscar Arnulfo Romero Gadamer.
E, 38 anos após o seu martírio, o prelado, conhecido como forte defensor dos direitos humanos, da paz e dos mais pobres, foi declarado santo na Igreja Católica para ser venerado universalmente e ser modelo de vida para todos os crentes doando-se até à total entrega da vida ainda que seja necessário o martírio de sangue.
Por décadas acusado de ser marxista e próximo da Teologia da Libertação, o novo santo latino-americano será venerado nos altares como um exemplo para os católicos de todo o mundo pela sua denúncia das injustiças sociais e pela defesa dos direitos humanos.
Por este empenhamento assim enquadrado social e pastoralmente, Monsenhor Romero, o agora novo santo chegou a ser considerado ‘perigoso’ pelo Vaticano. Foi preciso João Paulo II ter brandido a bengala a que se arrimava e bradar que o Arcebispo fora morto no altar, bem como a clarividência da Congregação para as Causas dos Santos, presidida por Angelo Amato sob a orientação de Bento XVI e atenta à postura aberta do Papa Francisco para ultrapassar o preconceito sobre o perfil de Oscar Arnulfo Romero Gadamer.
E, 38 anos após o seu martírio, o prelado, conhecido como forte defensor dos direitos humanos, da paz e dos mais pobres, foi declarado santo na Igreja Católica para ser venerado universalmente e ser modelo de vida para todos os crentes doando-se até à total entrega da vida ainda que seja necessário o martírio de sangue.
Dele disse o
Papa na homilia da missa de canonização:
“Deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria incolumidade, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”.
“Deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria incolumidade, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”.
Assim, pode dizer-se que o ato de canonização marca a
“reconciliação” da Santa Sé com o homem que chegou a ser considerado um
“perigo” e que era visto como figura “controversa”.
A este respeito, Karla Ann Koll, professora de História e
Missão da Universidade Bíblica Latino-americana, com sede na Costa Rica,
declarou:
“Eles viam em Romero um perigo, (um risco)
de abrir a porta para uma outra forma de fazer teologia”.
Romero denunciou efetivamente à Igreja assassinatos e outros
crimes cometidos pelo governo militar e por guerrilhas no seu país, mas queixou-se
de não ter recebido apoio e de até se sentir “abandonado” pela instituição,
incluindo alguns irmãos no episcopado.
Com efeito, como Bispo auxiliar de San Salvador (como reza a biografia publicada no
cerimonial do rito da canonização) “dedicou-se à defesa dos pobres” e a sua nomeação como
Arcebispo de El Salvador em 1977, depois de ter passado por cargo homólogo em
Santiago de Maria, ocorreu em ambiente de “plena repressão social e política.
***
Também o jornalista
brasileiro José Mayrink, de 80 anos, 56 deles dedicados ao jornalismo, foi a
Roma para participar na canonização de Óscar Romero, a quem entrevistou em El
Salvador três dias antes do seu assassinato. E contou ao Vatican News:
“Eu entrevistei-o três dias antes de morrer. Eu falei com ele na
sexta-feira de manhã, dia 21, e ele foi morto na segunda-feira.”.
Tendo ido
desta feita a Roma mais como devoto do que como profissional da imprensa,
testemunhou devotamente o momento de canonização duma personalidade que profundamente
marcou a sua vida. Falou do clima vivido em El Salvador nos difíceis anos da
guerra civil, do trabalho da imprensa neste contexto e de Dom Óscar Arnulfo
Romero que lhe confessara que “Em El
Salvador todos temos medo de morrer”. Mayrink, que recebeu da esposa quando
já estava no Brasil a notícia do assassinato de Dom Romero, agora declarou:
“Vim aqui porque conheci, entrevistei e falei com um Santo”.
E
desenvolveu:
“Esse Santo agora canonizado, marcou a minha vida. Quando eu falo de 56
anos de jornalismo, eu falo disso sempre como um dos principais momentos que eu
vivi e que mudaram a minha vida (…). Eu já o invocava e lhe pedia a ajuda. Espero
que ele se lembre de mim.”.
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Um dia antes
da canonização, foi inaugurada uma estátua de Santo Oscar Arnulfo Romero no bairro EUR em Roma. A escultura é
obra do artista Guillermo Perdono.
Na
inauguração estiveram presentes o Presidente de El Salvador, Sanchez Ceren, a Prefeita de
Roma, Virginia Raggi, a
embaixadora de El Salvador na Itália, Elizabeth Alas Guidos, expoentes da
Igreja Católica e do Corpo Diplomático de El Salvador.
Segundo um
comunicado da embaixada de El Salvador, a iniciativa nasceu para reforço das
relações entre os mais de 40 mil cidadãos salvadorenhos residentes na Itália e
“conhecer suas raízes através do resgate da memória histórica, cultural e
espiritual, pois Dom Romero não é apenas uma referência histórica, é principalmente um
guia espiritual de El Salvador, assim como uma referência para os direitos
humanos”.
Na
inauguração da estátua a embaixadora de El Salvador na Itália vincou:
“Não me canso de repetir que, se queremos
efetivamente o fim da violência, é preciso partir da base de todas as
violências: a violência estrutural, a injustiça social baseada numa aberração
da propriedade privada e numa absolutização da riqueza que, além de tudo, procura
defender com a repressão”.
Depois da
cerimónia de inauguração, o Cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chavez abençoou
a estátua. Entre as pessoas presentes estavam a sobrinha e o irmão de Dom
Romero.
Expressando
a sua emoção pela canonização do tio, a sobrinha Anita falou ao Vatican News:
“É uma grande emoção saber que teremos um santo em El Salvador e também
na família. É uma alegria tão grande que não sabemos explicar como foi possível
receber de Deus este grande dom, de pertencer a esta família: a família de um
Santo. Estamos contentes, agradecemos a Deus e a Igreja por isso. Para nós,
tudo o que Dom Romero fez na vida foi viver o Evangelho, viver as
Bem-aventuranças, a Bíblia.”.
Em seguida,
falando sobre os anos difíceis que vivia o país àquela época, Anita disse que
até hoje os dias são difíceis, mas, como dizia o Santo, “não se pode desistir, jamais perder a fé: sempre a verdade, sempre a
verdade!”. E a sobrinha de Dom Romero concluiu:
“Quando a fé é forte não se pode desanimar porque ele nos deixou
exemplos disso: continuar, ir adiante, lutar pela unidade e pela defesa dos
mais indefesos”.
Por sua vez,
o irmão Tibério agradeceu ao seu país e à Itália pela canonização do irmão:
“Saúdo todo o povo salvadorenho e o povo italiano, Agradecemos muito por
tudo o que está acontecendo e que Deus abençoe a todos com a intercessão de
Santo Oscar Romero. Muito obrigado.”.
***
O Santo
Padre – que recebeu, na manhã do passado dia 15, na Sala Paulo VI, no Vaticano,
cerca de cinco mil peregrinos de El Salvador e da América Latina, que vieram,
acompanhados por seus Bispos, sacerdotes e inúmeros religiosos e religiosas,
para a Canonização de Dom Oscar Romero, entre outros, realizada no dia anterior
– apresentou-o,
exemplo e estímulo para os povos da América Latina, assegurando:
“Santo Óscar Romero soube encarnar, com perfeição, a imagem do Bom
Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas”.
E,
prosseguindo, explanou:
“Por isso, agora e, sobretudo,
desde a sua canonização, vocês podem encontrar nele ‘exemplo e estímulo’ no ministério que lhes foi confiado:
exemplo de predileção, para os mais necessitados da misericórdia de Deus;
estímulo para testemunhar o amor de Cristo e a solicitude pela Igreja. Que o
santo Bispo Romero os ajude a ser, para todos, sinais da unidade na
pluralidade, que caracteriza o santo povo de Deus.”.
A seguir, o
Papa dirigiu-se aos numerosos sacerdotes e religiosos e religiosas de El
Salvador, chamados a viver o compromisso cristão, inspirados no estilo de vida do
novo santo, exortando-os a serem dignos dos seus ensinamentos, sendo
sobretudo “servidores do povo sacerdotal”, com e como Jesus, o único e eterno
sacerdote:
“Santo Oscar Romero concebia o
sacerdote entre dois grandes abismos: o da infinita misericórdia de Deus e o da
infinita miséria dos homens. Queridos irmãos, esforcem-se, sem cessar, para
realizar este infinito anseio de Deus de perdoar os homens, que se arrependem
de suas misérias, e abrir os corações de seus irmãos à ternura do amor de Deus,
também mediante a denúncia profética dos males do mundo.”.
O Pontífice,
saudando cordialmente os numerosos peregrinos a quem recordou a mensagem que o
novel Santo deixou a todos, grandes e pequenos, sem exceção, insistiu:
“Ele repetia, com vigor, que
todo católico deve ser mártir, porque mártir significa dar testemunho da
mensagem de Deus aos homens. Deus quer estar presente em nossas vidas e nos
convida a anunciar a sua mensagem de liberdade para toda a humanidade. Somente
nele podemos ser livres do pecado, do mal, do ódio em nossos corações; livres
para amar e acolher o Senhor e nossos irmãos e irmãs. Esta verdadeira
liberdade, aqui na terra, passa pela preocupação com o homem concreto, para
despertar em cada coração a esperança da salvação.”.
E frisou:
“Sabemos bem que não é fácil agir assim. Por isso, precisamos do apoio
da oração e de estar unidos a Deus e em comunhão com a Igreja. Santo Oscar
Romero dizia que “sem Deus e sem o
ministério da Igreja isso não é possível”. Um dia, referiu-se ao Crisma
como o “sacramento dos mártires”,
pois “sem a força do Espírito Santo, os
primeiros cristãos não teriam resistido às provações da perseguição, não teriam
morrido por Cristo.”.
No termo da
sua alocução àqueles milhares de peregrinos, o Papa disse ainda:
“Envio a minha saudação a todo
o Povo de Deus, em peregrinação em El Salvador, que vibra, hoje, pela alegria
de ver um de seus filhos elevado à glória dos altares. Seus habitantes têm uma
fé viva, que expressa em diferentes formas de religiosidade popular e à qual
conforma a sua vida social e familiar. Todos devem cuidar do Povo santo de
Deus... não o escandalizem”.
Entretanto, como
frisou, não faltaram as dificuldades e o flagelo da divisão e guerra. A
violência fez-se sentir com veemência na história recente. Porém, este povo
resiste e vai adiante, embora muitos tenham sido obrigados a deixar as suas
terras em busca de futuro melhor. E concluiu:
“A memória de Santo Oscar
Romero é uma oportunidade excecional para enviar uma mensagem de paz e
reconciliação a todos os povos da América Latina”.
2018.10.17 –
Louro de Carvalho
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