A passagem do Evangelho de
Marcos (Mc 10,35-45) tomada para a Liturgia da Palavra do XXIX domingo do Tempo Comum no Ano
B tem lugar paralelo
em Mateus (Mt 20,20-28), mas com uma diferença.
Enquanto em Marcos os apóstolos Tiago e João é que fazem o pedido a Jesus de
lhes conceder que se sentassem um à direita e outro à esquerda no Reino da
glória, em Mateus é Salomé, a mãe destes filhos de Zebedeu que se aproxima de
Jesus com eles e Lhe faz o pedido.
Zebedeu (forma grega para designar Zebadias ou Zabdiel, a significar “Jahvé
deu”) era um pescador da Galileia com
bens suficientes para ter serventes ou jornaleiros ao serviço (Mc 1,20) e para João, um dos filhos, ter acesso ao Pontífice
(Jo 18,25) e poder sem dificuldade arcar com o múnus de receber
em sua casa a mãe de Jesus (Jo, 19,27). Por sua
vez, Salomé (perfeita) era
uma das servidoras do colégio apostólico e agora subia com Jesus a Jerusalém (Mt 27, 55-56). O facto de os evangelistas não evidenciarem Zebedeu,
a não ser na expressão “os filhos de Zebedeu”, talvez encontre motivo na
ocorrência da sua morte pouco depois do encontro com Jesus na Galileia, que deu
azo à chamada destes seus dois filhos (Lc 5,10) para o apostolado. Também alguns pensam que Salomé
estava aparentada com Jesus pelo lado de Zacarias, o marido de Isabel, parenta
de Maria (Lc 1,36).
No respeitante ao nome de Tiago ou Jacob (em grego, Iáckobos; e em latim, Iacobus) este filho do Zebedeu é chamado de Tiago, o maior, para distingui-lo do
outro, Tiago, o menor, filho de Alfeu. Jacob,
nome hebraico que significa “o suplantador”, foi dado ao segundo filho de Isaac
e de Rebeca. Jacobo, que será a tradução direta para espanhol, tem muitas
variantes, Giacomo (italiano), Jacme (provençal), Jacques (francês), James (inglês), Jaime (espanhol e português). Da
pronúncia Santi Iacobi, no latim medieval
temos Santiago nome que originou Tiago (por abreviação ou truncação), Diago (por
sonorização de t para d), Diego (por assimilação vocálica incompleta) e Diogo (por
dissimilação vocálica). E Ioánes (João), do hebraico Iochanan (a
significar: Jahveh favoreceu), era o nome dum sacerdote durante o Pontificado de Joaquin, que voltou junto com Zorobabel.
O apóstolo João era irmão menor de Tiago e, como este, filho de Zebedeu e,
segundo a tradição, o autor do 4.º Evangelho.
***
O pedido
ambicioso da cleronomia e do acesso ao topo do carreirismo
Estes filhos de Zebedeu, que
Jesus chamou de Boanerges ou Filhos do Trovão (também Simão teve a mudança de nome para Pedro), correspondendo a filhos
da voz de Deus ou da vingança do Senhor (cf 1Sm 2,10), aproximaram-se do Mestre a manifestar a vontade de
conseguirem os dois postos de maior honra no suposto Império de Jesus. Obviamente
não entraram de chofre: começaram a palpar terreno dizendo querer que o Mestre
lhes conceda o que pedem; e, à pergunta sobre que tipo de pedido, esclarecem de
pronto: o primeiro e o segundo lugar na Glória (em grego, doxa).
Querer estar pertinho de Jesus e partilhar com Ele do
seu mistério e projeto é coisa boa, mas o diabo está na intenção e no desejo da
finalidade dessa proximidade: mandar, ter poder. De facto, quer diretamente,
quer através da mãe e junto com ela, os dois pediram os postos de maior
relevância pensando que Jesus ia instaurar o Reino em Jerusalém para onde se
dirigiam. O modo de julgar, tanto da mãe como dos filhos, era totalmente humano
como se o novo reino fosse um Reino temporal e geográfico à laia dos reinos que
eles conheciam. O seu modo de pensar era o dos judeus da época, que pretendiam
um reino davídico de dominação, ao estilo romano. Se Salomé fosse parenta
indireta de Jesus, como sustentam certos comentaristas, o seu pedido e atuação
não seriam tão inusitados e desmedidos. O parentesco era motivo de especial prerrogativa
por parte dos que Jesus chama grandes em política e sociedade. Por isso, se
tornou pertinente a advertência de Jesus que vem na segunda parte desta
perícopa evangélica (41-45).
Poderá dizer-se que Pedro tinha sido louvado e
preferido como chefe da comunidade (cf Mt 16,16). Porém, em Marcos (8,27-30), como em Lucas (cf Lc 9,18-21), existe a confissão de Pedro, mas sem referência ao
prémio pela mesma como em Mateus (cf Mt 16,17-18). Apenas Mateus incorre em certa falta de lógica ao
referir que mãe e filhos pedem um lugar já destinado por Jesus a Pedro. Contudo,
a recusa de Jesus face à tentação de Pedro, a quem chama de Satanás, (vd Mt 16,
21-23), dava a entender que o primado de
Pedro tinha ficado em capitis diminutio.
A transfiguração, perante os três discípulos Pedro, Tiago e João, mostra uma
certa predileção pelos dois irmãos a ponto de eles, os filhos do trovão (Boanerges em
Mc 3,17) ter a ousadia de pedir ao Senhor
licença para lançar sobre uma aldeia samaritana fogo do céu (cf Lc 9,54) nessa última viagem a Jerusalém, tal como Elias em 2
Rs 1, 10-12. Agora, dirigem-se-Lhe como o novo rei de Israel que em Jerusalém
vai iniciar o Reino.
Diz-se que Ciro, rei da Pérsia, preferia colocar os hóspedes
mais honrados à esquerda pela proximidade do lugar do coração. Não se tratava
apenas de privilégios (vd 1Rs 2,19), mas
também de verdadeiros ofícios em que o rei exercia o poder através dos
ministros. O Salmo 110, 1 fala do Messias como convidado de Jahvé, para se sentar
à direita do seu trono, o que significava participar do seu poder e dignidade. Jesus
utiliza aquele salmo davídico com interpretações messiânicas para confundir a
ciência dos fariseus que não souberam responder porque David chama Senhor ao
messias, sendo que este era seu filho ou descendente e, portanto, inferior a
ele próprio (Mc 12,35-37). Por outro
lado, o título de Boanerges, que
Jesus deu aos dois irmãos mostra que eram personalidades fortes, inclinados a
comandar. Assim, pediam o que naturalmente sentiam como adequado à sua vocação.
Lucas (Lc 22,24-30) coloca o episódio após o anúncio da traição de Judas
e, não atribuindo o pedido a Tiago e João, refere, no v. 24, que se levantou “entre
eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior”.
***
A lição de
Jesus contida na sua resposta
Considerando que não sabiam o que estavam a pedir, respondeu
de maneira fina sem se indignar por um pedido aparentemente desmedido e
imprudente. Era preciso dialogar sobre a pretensão deles. Escutando-os,
servia-lhes de exemplo para a escuta. Antes lhes pôs a questão de
serem capazes de assumir o destino dele: Podeis
beber o cálice (em grego, potêrion) que tenho de
beber e receber o batismo (em grego, baptisma) em que devo
ser batizado? (verbos no presente com sentido de futuro). Era destino de amargura e sangue o que eles chamam
de glória do Reino, cálice a beber e batismo em que se deve ser submerso, cálice
de vingança, cólera e indignação, cálice que por três vezes Jesus rogou ao Pai
para não beber (cf Mc 14,6). Jesus
sabia que seria tratado como inimigo pela ira do Pai. Era o cálice da vingança
divina a que aludem Salmos e Profetas.
Assim, o Salmo 75 refere:
“O Senhor tem um cálice na mão. Nela derrama
um vinho fermentado e bem misturado e obriga a bebê-lo a todos os malvados da
terra até à última gota”. (Sl 75, 9-10).
Em Isaías, lê-se:
“Desperta. Desperta, levanta-te, Jerusalém,
que da mão do Senhor bebeste o cálice da sua ira, o cálice do atordoamento e o
esgotaste.” (Is 51,17).
Em Jeremias:
“Porque assim me disse o Senhor, o Deus de
Israel: Toma de minha mão este cálice do vinho de meu furor e darás a beber
dele a todas as nações às quais eu te enviar (Jr 25,15).
E, em Ezequiel 23, 31-33:
“Seguiste (Jerusalém) o caminho de tua irmã
(Samaria). Por isso, entregarei o seu cálice na tua mão… beberás o cálice de
tua irmã, cálice fundo e largo.. cálice de espanto e desolação.” (Ez 23,
31-33).
No concernente ao Batismo, só Marcos traz essa
referência. É a submersão ou imersão na água ou no fogo do Espírito Santo (Mt 3,11). Mas Jesus toma essa figura para designar o seu
batismo de sangue, imerso no seu próprio sangue como o guerreiro que vem de
Edom (o país
inimigo por excelência) com a
veste manchada do sangue dos inimigos ou como o que sai do lagar depois da pisa
das uvas, porque era o dia da vingança e chegava o ano dos redimidos (cf Is 63,1-4). Só que esse sangue era o próprio de Jesus em que a
justiça divina tinha determinado castigar o pecado e, por isso, Jesus, predisse:
“tenho de ser batizado num batismo (de
dores) e como me angustio até ser consumado” (Lc 12,50). E, quando censurou Pedro por ter usado da espada
contra Malco no Monte das Oliveiras, fez referência ao cálice do seu destino: “Mete a espada na bainha; não beberei
porventura, o cálice que o Pai me deu? (Jo 18,11). Jesus insta os dois interlocutores pedintes a unirem-se-Lhe
na hora de sua paixão e morte. Na verdade, a sua morte não era um ato de rancor
e vingança dos dirigentes de Israel, nem provinha de decisão iníqua da justiça
romana, nem demonstrava um triunfo do mal demoníaco, mas um ato de amor do Pai
que mostrava a sua misericórdia salvando o pecador e revelava a sua justiça
punindo o justo para indicar a gravidade do pecado e a urgência da
conversão. Obviamente quem segue o Senhor terá disponibilidade para ter o mesmo
fim que Ele (batismo, cálice e gloria), não necessariamente
pela via do martírio, mas pela doação total.
***
A pronta
disponibilidade dos Boanerges e o esclarecimento da parte de Jesus
Eles temerariamente disseram que “sim”. E, face a esta
resposta positiva e resoluta dos dois discípulos, Jesus anuiu: beberiam o
cálice que Ele beberia e seriam batizados no batismo em que Era é batizado, mas advertiu que sobre os postos de honra que
almejavam não Lhe pertencia concedê-los, pois serão daqueles para quem estão
reservados. Sentar-se à direita e à esquerda é uma questão de previdência
divina, preparada pelo Pai como diz Mateus (Mt 20,23). E a profecia de Jesus em relação aos dois irmãos
gémeos cumpriu-se, mas depois de terem realizado o previsto batismo de Cristo
no sangue e no Espírito. No caso de Tiago, realizou-se material e totalmente,
pois foi morto no ano 44 por ordem de Agripa (At 12,2); e de João Tertuliano diz que foi martirizado ante portam latinam submerso
em azeite fervente do qual saiu ileso, para morrer de velho em Patmos, ilha do
Egeu. Afinal, souberam arriscar!
Na segunda parte da resposta de Jesus, de não dispor
dos lugares preferidos no Reino, porque já estão predestinados, o uso do verbo
na passiva (êtoímastai) indica que é desígnio de Deus (ou do Pai, como frequentemente Jesus afirma) a decisão para coisas que não correspondem à sua
humanidade, mas aos planos divinos, não a ele como Mestre dum colégio
apostólico, mas que já está determinado pela suprema autoridade de Deus, Criador
e Senhor do Universo. Não há aqui referência ao mistério trinitário, então completamente
desconhecido dos apóstolos. O Pai que eles conheciam era o Pai celeste, de quem
se deviam tornar filhos (Mt 5,45), o Senhor
do céu e da terra (Mt 11,25), que
decide quem deve entrar no Reino (Jo 6,44), que reservava os melhores postos no Reino (Mt 20,23) e de cujos planos futuros nem os anjos nem o Filho
podiam saber com determinação o dia e a hora (Mt 24,36 e Mc 13,32). Próprio do Filho era o julgamento final (Mt 25,34), como o era dum triunfador sobre os inimigos. Porém,
a suprema ironia é que no momento em que Jesus recebe o Reino (na cruz) estavam com ele, um à sua direita e outro à sua
esquerda, não dois dos discípulos (enquanto os outros fugiram, um dos
Boanerges, João, estava à distância junto com Maria e as mulheres que a
acompanhavam), mas dois
homens condenados por latrocínio: um impenitente e um arrependido. A este foi ali
prometido o paraíso.
***
A reação dos
demais membros do colégio apostólico e a lição de Jesus
Perante a pretensão dos
Boanerges, compreensivelmente os dez
começaram a indignar-se contra eles. Com efeito, a ambição humana estava
fortemente arraigada no ânimo dos discípulos de Jesus. Daí a sua indignação com
os dois irmãos que pretendiam a melhor posição no futuro Reino de que todos estavam
à espera com a entrada de Jesus em Jerusalém. Face a essa manifesta
indisposição contra os filhos de Zebedeu, Jesus chamou-os e, dando-lhes a todos
eles a lição do serviço, ao invés do que fazem os considerados chefes no mundo,
e exprimindo claramente a finalidade para que veio ao mundo, disse-lhes:
“Sabeis como aqueles que são considerados
governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas e como os
grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser
grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós,
faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.”.
Jesus opõe, assim, o seu Reino aos reinos em prática
dos povos vizinhos. Nestes últimos, os chefes tiranizam os povos e os grandes exercem
um poder opressor sobre os súbditos. Bastava ser um adulto na época para ter
sofrido os abusos e vexações, ao menos tributárias, de Herodes, de Arquelau e
de Antipas para não falar dos venais procuradores romanos. Ora, no reino do
Messias, cuja semente eram aqueles discípulos, não podia suceder assim. Ao
invés, o que aspira a ser grande tem de ser servidor, e o que almeja ser o
primeiro deve ser o servo de todos. Não deve existir ambição nem pretensão nas
lideranças do Reino, pois estas não são para proveito próprio, mas carisma em
prol da comunidade, ministério, diakonia,
exatamente como aquele que serve de livre vontade ou é servo. Assim, quem
ambiciona postos que apenas ofereçam serviço e trabalho de servo? Porém, o exemplo vem justamente do
Filho do Homem, que “não veio (para) ser
servido, mas servir e dar sua vida (como) resgate (lytron, em grego) por muitos.
As palavras entre parênteses não estão no grego
original, mas foram acrescentadas para completar a nossa sintaxe. A expressão “Filho do homem” tem vários sentidos. Um
deles é o substituto do “eu”, como fazemos
em português. A frase seria traduzida: “Assim
como eu …”. Jesus, Rei e Chefe principal do novo Reino, teve não só um
momento, mas uma vida dedicada ao bem dos súbditos, vindo a dar a vida como
resgate por muitos. A palavra grega “lytron”
é traduzida para latim como redemptio,
aqui no acusativo do singular redemptionem.
Surge no NT só em ambos estes casos paralelos, os de Marcos e Mateus. Significa
resgate ou preço pago pela liberdade ou alforria dum escravo. Geralmente usa-se
a palavra apolytrosis, que aparece em
Lucas e nas cartas de Paulo com significado mais teológico e restritivo de
resgate, ou pagamento, o preço do sangue de Cristo (Ef 1,7) e que geralmente é traduzida por redenção. Era o
preço da passagem de escravos a libertos (no caso dos cristãos a filhos), o preço da liberdade segundo o que vemos em Jo
8,33, a passagem de escravos do pecado, que segundo Paulo tem personalidade
própria (Rm 6,6), à liberdade de filhos (Jo 8,36). O preço foi o sangue que Jesus derramou até a
última gota (Jo 19,34). E, como o
sangue simbolizava a vida, Ele afirma que deu a vida pelos que eram até então
pecadores e, portanto, escravos do pecado, mas que agora nele creem (Jo 8,31-32) e se tornaram amigos (Jo 15,15) e filhos. E, sobre a dimensão do serviço, a lição de
Jesus vem explicita em Lucas na perícopa acima referenciada, acrescentando em
consonância com um tópico do discurso eucarístico antes enunciado na ceia,
devemos escutar:
“Pois, quem é maior: o que está sentado à
mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de
vós como aquele que serve. Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas
minhas provações, e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe
dele a meu favor, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E
haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.” (Lc
22,27-30).
E João, depois do lava-pés, transcreve o discurso de
Jesus sobre o serviço, no âmbito do seu amor levado ao extremo e como
preparação para o mandamento novo do amor:
“Compreendeis o que
vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou.
Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os
pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz,
vós façais também. Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o
seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. Uma vez que sabeis
isto, sereis felizes se o puserdes em prática.” (Jo 13,13-17).
***
Concluindo
Na História da Igreja vemos repetida aquela atuação
dos Boanerges.
O poder real era outrora ambicionado pelos representantes do clero. Disso são amostra
cabal os antipapas, os poderes militares e políticos dos Pontífice romanos, os litígios
entre bispos desde o século III, a excessiva cleronomia, que, ao invés do Vaticano
II, impede a evidência do real papel do laicado e esgrime na luta pela progressão
e promoção na carreira eclesiástica. Tudo isto a par do desejo de mando que se
trasladou para o laicado sob a capa de democratização e igualdade ou sob a
acusação de discriminação do sexo. De facto, enquanto muitos e muitas lutam genuinamente
pela igualdade de oportunidades na Igreja, outros querem lugares de mando e não
de serviço.
Ora, como Kennedy perguntava o que podia fazer pela pátria,
também nós nos devemos interrogar insistentemente sobre o que podemos fazer pelo
Reino de Cristo e responder com sincera e generosamente. Na verdade, não
sabemos o que pedimos quando esperamos e rogamos por triunfos pessoais. E, após 2000
anos, estamos submersos na ignorância que oprimia os Boanerges. Ainda sonhamos
com recompensas terrenas e coroas temporais. Vemos clérigos desejar títulos de monsenhor, cónego ou bispo, como se
isso fosse degrau para espalhar e engrandecer mais e melhor o Reino. Há poucos
crentes que, a exemplo de Isabel da Hungria, deixem a coroa no banco do templo
para coroar a cabeça com a coroa de espinhos que encimava o crucifixo da
igreja. É, pois, pela via de muitas tribulações que devemos entrar no Reino dos
Céus (cf At 14,22). O pior não é que Tiago
ou João estejam de novo dentro da Igreja, mas que dificilmente, como os outros
restantes apóstolos, haja quem não os censure, porém, não por outro motivo a
não ser a inveja. Ora, nada se deve fazer por vanglória ou partidarismos, mas
por humildade, tendo cada um dos como outros superiores a si mesmo (cf Fl 2,3). Feliz de quem pode com sinceridade regozijar-se
quando o outro é exaltado, embora ele mesmo seja esquecido, simplesmente posto
de lado ou mesmo relegado para a prática do bem nas áreas em que os outros não
querem trabalhar, áreas – passe a expressão – de latrinas do Reino.
Jesus cumpre a profecia de Isaías (cf Is
53,10-11) segundo a qual o Senhor esmaga o
seu servo com sofrimento até ao sacrifício da via em reparação, após o qual
receberá muita gente como despojos. Ele é o Sumo Sacerdote que a Carta aos Hebreus
(cf Heb 4,14-16) diz ter penetrado os Céus, pelo que, firmes na fé, vamos
confiantes ao trono da graça e alcançaremos misericórdia.
2018.10.21 – Louro de Carvalho
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