O
acesso ao atendimento médico optométrico e oftalmológico é decisivo para
alterar as condições de saúde ocular. Por isso, desde 1998 a OMS (Organização
Mundial de Saúde)
uniu-se a outras instituições,
nomeadamente a International Agency for
the Prevention of Blindness (Agência Internacional para a
Prevenção da Cegueira), para que um dia por ano se
pense, discuta e chame a atenção da sociedade sobre o tema, nomeadamente
concentrando-se a atenção na erradicação da cegueira evitável e na melhoria da
visão. Este dia é denominado Dia
Mundial da Visão e é celebrado na 2.ª quinta-feira de outubro, que recai,
em 2018, no dia 11 de outubro com o
objetivo de prevenir problemas visuais, proteger e tratar da visão das pessoas.
Nesta data,
em todo o planeta, médicos, pacientes, autoridades e comunidades desenvolvem
ações que procuram responder à seguinte pergunta: O que está ao nosso alcance fazer para que até 2019 tenhamos reduzido
em 25% o total de cegos por causas que poderiam ser evitadas?
Além das
dificuldades de acesso ao oftalmologista no SNS (Serviço Nacional de Saúde), outro grave problema é a falta de informação. Para
obviar a tal lacuna sociopolítica, quem dispõe de informação útil deverá
compartilhá-la pelos meios que tem ao seu alcance: a sua página nos meios de
comunicação social, o blogue, as redes sociais, o correio eletrónico para
amigos… Por outro lado, é de exigir ao poder político que está no topo da
administração pública ou ao que está mais próximo dos cidadãos toda a
informação pertinente e a oferta de serviços completos de atendimento
oftalmológico nas localidades onde vivem ou trabalham as pessoas.
Com efeito, a
participação cívico-política não se esgota no voto em dia de eleições ou de
referendo. Antes de mais, todo o cidadão deve estar ciente de que “combater a cegueira evitável é uma questão
de cidadania”.
***
As principais causas de cegueira no
mundo não são as mesmas que afetam os portugueses. Em Portugal, como noutros
países do mundo ocidental, as principais causas de baixa visão e/ou de cegueira
são a degenerescência macular ligada à idade (DMI), a retinopatia diabética e o glaucoma. Em Portugal, embora sem dados
concretos, pode afirmar-se que são poucos os casos de cegueira total por causas
passíveis de tratamento médico e ou cirúrgico. No entanto, vem-se observando “um
aumento de casos de baixa visão por retinopatia diabética e DMI”.
As principais causas dos 285 milhões
de casos de baixa visão e cegueira no mundo são as cataratas, as doenças da
córnea com opacificação, as infeções oculares e os erros refrativos não
corrigidos. E todas podiam ser prevenidas e/ou tratadas se as populações
tivessem acesso a cuidados de saúde adequados, o que não sucede em Portugal,
bem como na maior parte dos países em vias de desenvolvimento. Estar atento à
saúde da visão e ao seu impacto na vida de todos torna-se pertinente na celebração
da efeméride.
Considerando a OMS que 80 % de todas
as causas de deficiência visual são evitáveis ou podem ser tratáveis mediante
prevenção adequada, a abordagem apresenta-se como estratégica. De facto, segundo a OMS, 39 milhões
têm cegueira e 246 milhões têm comprometimento moderado ou grave da visão,
perfazendo um total de 285 milhões de pessoas com deficiência visual. 90%
destas pessoas vivem em países em desenvolvimento; 65% destas pessoas têm mais
de 50 anos; a cada 5 segundos, uma pessoa fica cega no mundo; e 80% da
deficiência visual é evitável, podendo ser prevenida ou tratada.
Em Portugal,
estima-se que as alterações da visão afetem cerca de metade da população e que
perto de 20 % das crianças, tal como 50 % dos adultos, sofram de erros
refrativos significativos.
A retinopatia
diabética e a ambliopia nas crianças são duas situações passíveis de prevenção
e deteção precoce, bem como de tratamento oftalmológico e recuperação. Neste
sentido, em 2016, foi realizado um programa de rastreio da saúde visual
infantil para deteção de ambliopia em crianças aos 2 anos de idade (nascidos em
2014), concretizado através dum projeto-piloto
que decorreu em 4 ACES (agrupamentos de centros de saúde) e 2 centros hospitalares da Administração Regional
de Saúde do Norte. Os resultados desse rastreio levaram ao seu alargamento na
Região Norte, no ano de 2017, a 8 ACES e a 4 instituições hospitalares e, em
2018, prevê-se a expansão a toda a região Norte, bem como a decisão do
Secretário de Estado Adjunto e da Saúde de alargar esta medida às restantes
regiões do país, a partir de 2018, sob coordenação da Direção-Geral da Saúde
(DGS), garantindo equidade a todas as crianças.
A adequação
de medidas promotoras da Saúde da Visão,
baseadas na evidência científica, está consubstanciada na Estratégia Nacional para a Saúde da Visão – ENSV 2017-2025 –, cujos
objetivos se concretizam através de programas, projetos ou iniciativas em
desenvolvimento ou que venham a ser criados no âmbito do Ministério da Saúde e
da sociedade civil.
Por ocasião
deste Dia Mundial da Visão, a ARSLVT (Administração
Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) faz um
balanço e refere que, no 1.º semestre de 2017, realizou um total de 32.333
rastreios da retinopatia diabética (a principal causa de cegueira
evitável na população entre os 20 e os 64 anos), tendo encaminhado precocemente para consulta 9,7 % das pessoas rastreadas.
O número total de rastreios releva um aumento da capacidade de resposta em
relação a 2016, ano em que no total foram rastreados 46.715 diabéticos, tendo
sido atempadamente encaminhados para consulta de oftalmologia 12,5 % desses
utentes. Desde fevereiro de 2016 que a ARSLVT tem implementado o rastreio da retinopatia
diabética, tendo sido sujeitos a este rastreio 79.048 pessoas, parte delas em
parceria com a Associação Protetora dos
Diabéticos de Portugal. O diagnóstico e tratamento precoce através do
rastreio podem evitar a diminuição acentuada da acuidade visual e a cegueira
por diabetes. O rastreio permite que, a médio e a longo prazo, se reduzam os
custos globais do SNS, se atinjam importantes ganhos de eficiência e evidentes
ganhos em saúde, pois o custo do tratamento precoce é inferior, e que se
despistem outras alterações de fundo ocular, como opacidades, cujo diagnóstico
a nível hospitalar permitirá o seguimento e tratamento dos doentes.
***
O
primeiro exame oftalmológico realizado no ser humano ocorre nos sete primeiros
dias de vida. Com o teste do olhinho (reflexo vermelho), podem prevenir-se pelo menos
60% das causas de cegueira ou sequelas visuais infantis. No adulto a atenção
deve ser ainda maior. E, depois dos 40 anos, devem fazer-se exames regulares
para verificar a presença de catarata, glaucoma e degeneração da mácula – as
principais causas de cegueira em pessoas com idades mais avançadas. E os
portadores de doenças crónicas, como hipertensão e diabetes, também devem
consultar especialistas regularmente, pois, se não forem tratadas, também podem
afetar a visão.
Todavia,
em todas as fases da vida é preciso procurar um oftalmologista. Com efeito, além
da infância, na pré-adolescência é preciso se atentar aos erros de refração,
como miopia (dificuldade de ver objetos que estão longe) e a hipermetropia (dificuldade
de ver objetos que estão próximos).
Mas, após os 40 anos, o risco é o glaucoma, doença que aumenta pressão ocular e
que provoca lesão nas fibras do nervo óptico que, se não tratado, pode levar a
cegueira irreversível. A partir dos 50 anos, o risco é a catarata (opacificação
do cristalino), que
resulta numa diminuição progressiva da visão. Nesse caso, apesar de levar à
cegueira a situação pode ser reversível com cirurgia. E, após os 60 anos,
algumas pessoas correm o risco de degeneração da mácula (o
centro de maior capacidade visual da retina) – doença progressiva que pode levar a cegueira
irreversível, mas que pode ser retardada ou controlada com medicamentos
específicos.
***
Em artigo de
opinião publicado hoje na Lux, Raul Sousa,
Presidente da APLO (Associação de Profissionais
Licenciados em Optometria) aborda em especial o problema da catarata
destacando que 95% das pessoas com mais de 65 anos sofre de catarata, embora
com distinta gravidade.
Referindo que “a catarata é a alteração da
transparência (opacificação) do cristalino e o seu
aparecimento é, normalmente, o resultado do processo natural lento de
envelhecimento, adverte:
“No entanto,
quando a catarata surge em jovens, crianças ou em doentes diabéticos, a sua
evolução é normalmente mais rápida. O fumo do tabaco e/ou o uso de determinada
medicação (como a cortisona), são considerados fatores de risco no
desenvolvimento desta doença. Por outro lado, ler, costurar, usar computador ou
ver televisão, não influem no aparecimento ou desenvolvimento de cataratas.”.
Em fase inicial, a catarata (dependendo do tamanho e localização) pode passar despercebida,
mas, embora seja lento o processo da perda de transparência do cristalino, mais
tarde ou mais cedo trará alterações na visão. A pessoa com cataratas não sente
dor, mas nota a visão mais ‘enevoada’ e/ou em duplicado, vai perdendo visão (sobretudo em ambientes com pouca luz), tem necessidade de
alterar os óculos e pode ver afetadas gravemente algumas tarefas diárias, como
a leitura, costura ou condução. O diagnóstico requer a verificação da
diminuição da acuidade visual, observação do cristalino pelo biomicroscópio,
observação oftalmoscópica e observação dos reflexos pupilares, devendo o oftalmologista
(ou o optometrista) confirmar a presença e
extensão da catarata ou de outros distúrbios visuais que possam provocar
enevoamento da visão.
A operação às cataratas deve ser feita a partir do
momento em que as tarefas diárias se tornam mais difíceis pela perda progressiva
de visão. Apesar de a recuperação da visão ser quase imediata, a cicatrização
pode demorar de um a dois meses.
***
É de
salientar que, a 3 de outubro, a APLO foi ouvida em audiência na Comissão
Parlamentar de Saúde sobre as consequências da não integração dos optometristas
nos cuidados primários para a saúde da visão. Ali, a APLO manifestou a sua
indignação com um processo de elaboração duma estratégia nacional para saúde da
visão que não respeita as recomendações da OMS por não mobilizar todos os
implicados no setor, não promovendo a cooperação e colaboração. E manifestou a
necessidade de se proceder à apresentação duma proposta de regulamentação da
profissão de optometrista que promova o acesso universal a cuidados para a
saúde da visão com qualidade e segurança, atempados e apropriados.
***
Em termos de iniciativas conexas com o Dia Mundial da Visão, além das da DGS, destacam-se duas: a APLO
promove uma campanha de consciencialização para a saúde visual das crianças em
idade escolar para detetar e tratar precocemente a ambliopia e outros erros
refrativos; e a Junta de Freguesia de Carnide, em colaboração com a Saúde Mais Próxima
da Santa Casa da Misericórdia e Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, promove um rastreio visual e a participação em
inúmeras atividades que incluem formações, cinema e um concerto de música.
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Os olhos
merecem estas expressões de cidadania e promoção da saúde!
2018.10.11 – Louro de Carvalho
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