quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Dia Mundial da Visão 2018: CHEGA DE CEGUEIRA EVITÁVEL!


O acesso ao atendimento médico optométrico e oftalmológico é decisivo para alterar as condições de saúde ocular. Por isso, desde 1998 a OMS (Organização Mundial de Saúde) uniu-se a outras instituições, nomeadamente a International Agency for the Prevention of Blindness (Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira), para que um dia por ano se pense, discuta e chame a atenção da sociedade sobre o tema, nomeadamente concentrando-se a atenção na erradicação da cegueira evitável e na melhoria da visão.  Este dia é denominado Dia Mundial da Visão e é celebrado na 2.ª quinta-feira de outubro, que recai, em 2018, no dia 11 de outubro com o objetivo de prevenir problemas visuais, proteger e tratar da visão das pessoas.
Nesta data, em todo o planeta, médicos, pacientes, autoridades e comunidades desenvolvem ações que procuram responder à seguinte pergunta: O que está ao nosso alcance fazer para que até 2019 tenhamos reduzido em 25% o total de cegos por causas que poderiam ser evitadas?
Além das dificuldades de acesso ao oftalmologista no SNS (Serviço Nacional de Saúde), outro grave problema é a falta de informação. Para obviar a tal lacuna sociopolítica, quem dispõe de informação útil deverá compartilhá-la pelos meios que tem ao seu alcance: a sua página nos meios de comunicação social, o blogue, as redes sociais, o correio eletrónico para amigos… Por outro lado, é de exigir ao poder político que está no topo da administração pública ou ao que está mais próximo dos cidadãos toda a informação pertinente e a oferta de serviços completos de atendimento oftalmológico nas localidades onde vivem ou trabalham as pessoas.
Com efeito, a participação cívico-política não se esgota no voto em dia de eleições ou de referendo. Antes de mais, todo o cidadão deve estar ciente de que “combater a cegueira evitável é uma questão de cidadania”.
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As principais causas de cegueira no mundo não são as mesmas que afetam os portugueses. Em Portugal, como noutros países do mundo ocidental, as principais causas de baixa visão e/ou de cegueira são a degenerescência macular ligada à idade (DMI), a retinopatia diabética e o glaucoma. Em Portugal, embora sem dados concretos, pode afirmar-se que são poucos os casos de cegueira total por causas passíveis de tratamento médico e ou cirúrgico. No entanto, vem-se observando “um aumento de casos de baixa visão por retinopatia diabética e DMI”.
As principais causas dos 285 milhões de casos de baixa visão e cegueira no mundo são as cataratas, as doenças da córnea com opacificação, as infeções oculares e os erros refrativos não corrigidos. E todas podiam ser prevenidas e/ou tratadas se as populações tivessem acesso a cuidados de saúde adequados, o que não sucede em Portugal, bem como na maior parte dos países em vias de desenvolvimento. Estar atento à saúde da visão e ao seu impacto na vida de todos torna-se pertinente na celebração da efeméride.
Considerando a OMS que 80 % de todas as causas de deficiência visual são evitáveis ou podem ser tratáveis mediante prevenção adequada, a abordagem apresenta-se como estratégica. De facto, segundo a OMS, 39 milhões têm cegueira e 246 milhões têm comprometimento moderado ou grave da visão, perfazendo um total de 285 milhões de pessoas com deficiência visual. 90% destas pessoas vivem em países em desenvolvimento; 65% destas pessoas têm mais de 50 anos; a cada 5 segundos, uma pessoa fica cega no mundo; e 80% da deficiência visual é evitável, podendo ser prevenida ou tratada.
Em Portugal, estima-se que as alterações da visão afetem cerca de metade da população e que perto de 20 % das crianças, tal como 50 % dos adultos, sofram de erros refrativos significativos.
A retinopatia diabética e a ambliopia nas crianças são duas situações passíveis de prevenção e deteção precoce, bem como de tratamento oftalmológico e recuperação. Neste sentido, em 2016, foi realizado um programa de rastreio da saúde visual infantil para deteção de ambliopia em crianças aos 2 anos de idade (nascidos em 2014), concretizado através dum projeto-piloto que decorreu em 4 ACES (agrupamentos de centros de saúde) e 2 centros hospitalares da Administração Regional de Saúde do Norte. Os resultados desse rastreio levaram ao seu alargamento na Região Norte, no ano de 2017, a 8 ACES e a 4 instituições hospitalares e, em 2018, prevê-se a expansão a toda a região Norte, bem como a decisão do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde de alargar esta medida às restantes regiões do país, a partir de 2018, sob coordenação da Direção-Geral da Saúde (DGS), garantindo equidade a todas as crianças.
A adequação de medidas promotoras da Saúde da Visão, baseadas na evidência científica, está consubstanciada na Estratégia Nacional para a Saúde da Visão – ENSV 2017-2025 –, cujos objetivos se concretizam através de programas, projetos ou iniciativas em desenvolvimento ou que venham a ser criados no âmbito do Ministério da Saúde e da sociedade civil.
Por ocasião deste Dia Mundial da Visão, a ARSLVT (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) faz um balanço e refere que, no 1.º semestre de 2017, realizou um total de 32.333 rastreios da retinopatia diabética (a principal causa de cegueira evitável na população entre os 20 e os 64 anos), tendo encaminhado precocemente para consulta 9,7 % das pessoas rastreadas. O número total de rastreios releva um aumento da capacidade de resposta em relação a 2016, ano em que no total foram rastreados 46.715 diabéticos, tendo sido atempadamente encaminhados para consulta de oftalmologia 12,5 % desses utentes. Desde fevereiro de 2016 que a ARSLVT tem implementado o rastreio da retinopatia diabética, tendo sido sujeitos a este rastreio 79.048 pessoas, parte delas em parceria com a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal. O diagnóstico e tratamento precoce através do rastreio podem evitar a diminuição acentuada da acuidade visual e a cegueira por diabetes. O rastreio permite que, a médio e a longo prazo, se reduzam os custos globais do SNS, se atinjam importantes ganhos de eficiência e evidentes ganhos em saúde, pois o custo do tratamento precoce é inferior, e que se despistem outras alterações de fundo ocular, como opacidades, cujo diagnóstico a nível hospitalar permitirá o seguimento e tratamento dos doentes.
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O primeiro exame oftalmológico realizado no ser humano ocorre nos sete primeiros dias de vida. Com o teste do olhinho (reflexo vermelho), podem prevenir-se pelo menos 60% das causas de cegueira ou sequelas visuais infantis. No adulto a atenção deve ser ainda maior. E, depois dos 40 anos, devem fazer-se exames regulares para verificar a presença de catarata, glaucoma e degeneração da mácula – as principais causas de cegueira em pessoas com idades mais avançadas. E os portadores de doenças crónicas, como hipertensão e diabetes, também devem consultar especialistas regularmente, pois, se não forem tratadas, também podem afetar a visão.
Todavia, em todas as fases da vida é preciso procurar um oftalmologista. Com efeito, além da infância, na pré-adolescência é preciso se atentar aos erros de refração, como miopia (dificuldade de ver objetos que estão longe) e a hipermetropia (dificuldade de ver objetos que estão próximos). Mas, após os 40 anos, o risco é o glaucoma, doença que aumenta pressão ocular e que provoca lesão nas fibras do nervo óptico que, se não tratado, pode levar a cegueira irreversível. A partir dos 50 anos, o risco é a catarata (opacificação do cristalino), que resulta numa diminuição progressiva da visão. Nesse caso, apesar de levar à cegueira a situação pode ser reversível com cirurgia. E, após os 60 anos, algumas pessoas correm o risco de degeneração da mácula (o centro de maior capacidade visual da retina) – doença progressiva que pode levar a cegueira irreversível, mas que pode ser retardada ou controlada com medicamentos específicos. 
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Em artigo de opinião publicado hoje na Lux, Raul Sousa, Presidente da APLO (Associação de Profissionais Licenciados em Optometria) aborda em especial o problema da catarata destacando que 95% das pessoas com mais de 65 anos sofre de catarata, embora com distinta gravidade.
Referindo que “a catarata é a alteração da transparência (opacificação) do cristalino e o seu aparecimento é, normalmente, o resultado do processo natural lento de envelhecimento, adverte:
No entanto, quando a catarata surge em jovens, crianças ou em doentes diabéticos, a sua evolução é normalmente mais rápida. O fumo do tabaco e/ou o uso de determinada medicação (como a cortisona), são considerados fatores de risco no desenvolvimento desta doença. Por outro lado, ler, costurar, usar computador ou ver televisão, não influem no aparecimento ou desenvolvimento de cataratas.”.
Em fase inicial, a catarata (dependendo do tamanho e localização) pode passar despercebida, mas, embora seja lento o processo da perda de transparência do cristalino, mais tarde ou mais cedo trará alterações na visão. A pessoa com cataratas não sente dor, mas nota a visão mais ‘enevoada’ e/ou em duplicado, vai perdendo visão (sobretudo em ambientes com pouca luz), tem necessidade de alterar os óculos e pode ver afetadas gravemente algumas tarefas diárias, como a leitura, costura ou condução. O diagnóstico requer a verificação da diminuição da acuidade visual, observação do cristalino pelo biomicroscópio, observação oftalmoscópica e observação dos reflexos pupilares, devendo o oftalmologista (ou o optometrista) confirmar a presença e extensão da catarata ou de outros distúrbios visuais que possam provocar enevoamento da visão.
A operação às cataratas deve ser feita a partir do momento em que as tarefas diárias se tornam mais difíceis pela perda progressiva de visão. Apesar de a recuperação da visão ser quase imediata, a cicatrização pode demorar de um a dois meses.
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É de salientar que, a 3 de outubro, a APLO foi ouvida em audiência na Comissão Parlamentar de Saúde sobre as consequências da não integração dos optometristas nos cuidados primários para a saúde da visão. Ali, a APLO manifestou a sua indignação com um processo de elaboração duma estratégia nacional para saúde da visão que não respeita as recomendações da OMS por não mobilizar todos os implicados no setor, não promovendo a cooperação e colaboração. E manifestou a necessidade de se proceder à apresentação duma proposta de regulamentação da profissão de optometrista que promova o acesso universal a cuidados para a saúde da visão com qualidade e segurança, atempados e apropriados.
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Em termos de iniciativas conexas com o Dia Mundial da Visão, além das da DGS, destacam-se duas: a APLO promove uma campanha de consciencialização para a saúde visual das crianças em idade escolar para detetar e tratar precocemente a ambliopia e outros erros refrativos; e a Junta de Freguesia de Carnide, em colaboração com a Saúde Mais Próxima da Santa Casa da Misericórdia e Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, promove um rastreio visual e a participação em inúmeras atividades que incluem formações, cinema e um concerto de música.
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Os olhos merecem estas expressões de cidadania e promoção da saúde!
2018.10.11 – Louro de Carvalho

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