A Conferência
Episcopal Portuguesa (CEP) está representada no Sínodo dos
Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que está a decorrer
no Vaticano de 3 a 28 de outubro, por Dom Joaquim Mendes, Bispo auxiliar de
Lisboa e Presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família (CELF), e por Dom António Augusto Azevedo, Bispo auxiliar
do Porto e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM).
Além da
participação na aula sinodal plenária, integram, no âmbito dos “Círculos Menores”,
o grupo de língua portuguesa, denominado “Circulus
Lusitanus” – de que Dom Joaquim Mendes é relator e cujo moderador é o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de vida apostólica
– composto por padres sinodais, peritos,
auditores e assistentes de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola e Moçambique.
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Sobre o ambiente “fraterno” e “em família” que se vive entre os participantes
no Sínodo, Dom Joaquim Mendes falou ao “Voz
da Verdade” no final da segunda parte dos trabalhos do Sínodo, congratulando-se
ainda pelo facto de a língua portuguesa ser uma das suas línguas oficiais.
Começando por referir que “o ambiente é de grande fraternidade eclesial,
respeito, atenção e estima por parte de todos os participantes, desde o Santo
Padre, Cardeais, Bispos, Padres, Leigos, Delegados Fraternos, Assistentes”,
aponta o evento como uma experiência de se sentir em casa’, em ‘família’ – um
aspeto muito grato aos jovens, “que se sentem à vontade, manifestando-se, por
vezes, espontaneamente nas congregações gerais, perante algumas intervenções
que tocam mais a sua sensibilidade”. E, no atinente a este clima, pormenoriza:
“O ambiente é de grande proximidade,
cordialidade, simplicidade, abertura e diálogo, quer nas congregações gerais,
quer nos círculos menores, quer nos momentos de pausa, como a meio da manhã
para o café, ou nos momentos que precedem as sessões, em que o Santo Padre está
no hall de entrada, conversando,
fazendo fotos, misturando-se com os Padres Sinodais, como um deles”.
No respeitante à abertura e frontalidade
– princípios orientadores dos trabalhos –, aponta o clima de “escuta aberta ao
diálogo” e “sem restrições”, segundo a indicação do Papa na sua intervenção inicial, o que sucede, da parte de quem
pede a palavra, quer nas sessões plenárias, quer nos círculos menores. Efetivamente,
“o Sínodo é sinal da Igreja que se coloca
em escuta, em diálogo, aberta ao Espírito, às surpresas de Deus, buscando a Sua
vontade” – sublinha.
Acolheu a nomeação de relator do grupo como um serviço, porque esta é a sua
“forma de estar na Igreja e de exercer o
ministério”, em conformidade com o exemplo e as palavras de Jesus: “Eu estou no meio de vós como aquele que
serve” (Lc 22,27), lema que
o “acompanha desde o início do sacerdócio.
Quanto à introdução da língua portuguesa como a 6.ª língua do Sínodo,
afirma corresponder “a uma aspiração que
vem de há muito”, manifestada ao Vaticano por vários Presidentes da CEP,
designadamente o Cardeal Dom António Ribeiro, o Cardeal Dom José Policarpo e o
Cardeal Dom Manuel Clemente – porta-vozes do sentir, não só da Igreja
Portuguesa, mas também das Igrejas dos países de expressão portuguesa. Por
isso, o agradecimento “ao Papa Francisco e à Secretaria-Geral do Sínodo por
terem acolhido esta aspiração e por terem introduzido o português como língua
oficial do Sínodo, que é falada por 350 milhões de pessoas em todo o mundo”.
No concernente ao grupo de
trabalho de que é relator, diz que “é o número
11 de 14 círculos, composto por Padres Sinodais oriundos de três continentes:
América Latina (Brasil), África (Angola, Moçambique
e Cabo Verde) e Europa (Portugal).”. Integra
este grupo um jovem do Brasil, representante do Movimento Internacional de
Schoenstatt e membro do Comité Coordenador Nacional para a Pastoral Juvenil da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e ainda dois Peritos e dois
Assistentes. Também aqui “o ambiente é de grande cordialidade, abertura, escuta e diálogo”. E
cada Padre Sinodal traz a realidade juvenil da sua Igreja particular e local e
a experiência, que partilha no debate sobre os temas propostos no Instrumentum laboris, o texto base da
reflexão. E pormenoriza:
“Todos intervêm, há uma escuta atenta e
respeitosa e uma grande sintonia e comunhão, expressa na votação sobre os
módulos propostos por cada um, que tem sido unânime. O facto de falar a mesma
língua permite expressar melhor o próprio pensamento, ser compreendido e
compreender, e facilita o diálogo.”.
Passados que estão dois
terços da reunião sinodal, o relator do “Circulus Lusitanus” faz um balanço francamente positivo, relatando:
A 1.ª semana, a do debate e reflexão sobre a I Parte do Instrumentum laboris, foi de ‘escuta’ da
realidade dos jovens segundo as respostas ao Questionário das Conferências
Episcopais e às dadas pelos próprios jovens – dos 100.500 que responderam a
todas as perguntas do questionário online; dos 300 que participaram presencialmente
no Pré-Sínodo; e dos 15.000 que participaram através do Facebook. E foi considerado
ainda o contributo dum Seminário Internacional sobre a condição juvenil,
composto por 50 peritos e 20 jovens provenientes de todos os continentes, bem
como outros contributos institucionais e particulares.
A 2.ª semana “foi dedicada à II Parte e marcada pela leitura e
interpretação da realidade à luz da fé, com o olhar de Jesus, e a tomar
consciência dos desafios que ela coloca à Igreja”, tendo a palavra mais
referida nesta II Parte sido “acompanhamento” em ordem à maturidade da fé.
Considera esta II Parte como o “núcleo” do Sínodo e, nela, a fé.
No dia 15, foi concluída esta II Parte com as relações dos 14 grupos e prosseguiu
a reflexão sobre a III Parte, que incide sobre os percursos de conversão
pastoral e missionária a realizar, para que a Igreja cumpra a sua missão para
com os jovens.
Adianta que, “na conclusão do Sínodo, a Igreja dirá aos jovens o que podem
esperar dela, o que ela tem para lhes oferecer e o que eles também têm para
oferecer à Igreja”. Assim, “do caminho
percorrido, os jovens podem estar certos de que a Igreja os ama, é a sua ‘casa’,
nela todos têm lugar, todos nela podem encontrar abrigo, acolhimento, conforto,
compreensão e amor”. Com efeito, “a Igreja quer ser ‘mãe’ que os acolhe
como filhos, escuta, caminha com eles, ajudando-os a encontrar Jesus, a sentir-se
amados por Ele e a responder à sua chamada à alegria do amor”.
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Na sua
intervenção na Assembleia Sinodal, de que a Voz Portucalense, traz síntese, Dom António Augusto Azevedo, Presidente
da CEVM, referiu-se “concretamente ao tema da vocação” inserindo-a no contexto
deste Sínodo dos Bispos, que trata, como é sabido, sobre a problemática dos
jovens.
Na sua reflexão, assinalou
a necessidade de “alargar o sentido da
vocação”, pois “todo o jovem tem uma
vocação” – declarou Dom António Augusto, que lançou várias pistas de
reflexão:
“Neste processo
podemos ajudá-los a partir das questões essenciais: Qual o sentido da minha
vida? Qual é o meu lugar neste mundo? Qual é o significado da minha existência?
Qual é o caminho da verdadeira felicidade? Precisamos ainda de acompanhar os
jovens na busca das respostas mais autênticas e libertadoras que se encontram
na proposta cristã.”.
O Bispo auxiliar do Porto
sublinhou ainda a necessidade de “reforçar
a perspetiva vocacional nos vários ambientes formativos: a catequese, as
escolas e universidades, os grupos e movimentos”. Relevou também “a vocação matrimonial, a vocação artística,
a vocação para o compromisso social ou político e tantas outras”.
Em relação à vocação
sacerdotal, Dom António Augusto declarou que, para ser despertada, “o testemunho pessoal será sempre um fator
decisivo”, recordando a importância do “entusiasmo
contagiante de um jovem padre” ou a “fé
cheia de sabedoria de um velho sacerdote”. E salientou que se devem “multiplicar experiências, espaços e tempos
que favoreçam o encontro pessoal com um Cristo vivo que ama a todos, conta com
todos e chama alguns à vocação sacerdotal”.
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E Dom Joaquim Mendes, Presidente da CELF, no âmbito da sua
intervenção na 14.ª reunião geral da assembleia
sinodal, dedicada às novas gerações, disse que só uma “Igreja-família” é
capaz de dar resposta aos anseios dos jovens, assinalando que muitos se sentem
órfãos (e muitos são órfãos
vivos, talvez mais que os órfãos de pais defuntos) na sociedade atual. E frisou:
“Há
um sentimento de orfandade em muitos jovens. São numerosos os que nasceram e
cresceram numa família desestruturada, que não sabem o que é uma família, que
foram abandonados, que não foram amados.”.
A intervenção, com referência particular ao n.º 178, capítulo
III, da III Parte do Instrumentum laboris,
como se pode ler no “Voz da Verdade”,
partiu da necessidade de proporcionar aos jovens “uma experiência familiar de Igreja”. Assim, precisou:
“Creio que não se pode educar e evangelizar
sem chegar ao coração; e, para chegar ao coração, é preciso amar, acolher
incondicionalmente, proporcionar uma experiência impregnada de um verdadeiro
espírito de família”.
Partindo
do documento de trabalho da assembleia sinodal, o orador sustentou que as
paróquias devem ser “profecia de
fraternidade”, como uma casa que acolhe, “espaço de encontro, lugar de crescimento e de vida”. E detalhou:
“Família
para os que têm família, proporcionando aos jovens um ambiente familiar, onde
se sintam acolhidos, amados, cuidados, acompanhados no seu crescimento,
desenvolvimento integral e na realização dos seus sonhos e esperanças”.
Dom
Joaquim Mendes ousou apelar a uma maior confiança nos jovens, para os quais
pediu mais “espaços de acolhimento,
participação e corresponsabilidade”, no plano pastoral das paróquias, dos
movimentos e das escolas católicas, explanando:
“O Sínodo é uma oportunidade para uma conversão pastoral e missionária
das comunidades cristãs, para que proporcionem aos jovens aquilo a que eles têm
direito, anseiam, e esperam: uma Igreja-família, onde eles se sintam parte
viva, uma Igreja-casa onde todos têm lugar, onde todos se preocupam com todos,
onde se experimenta a fraternidade cristã que brota da fé e do amor de Jesus”.
O Presidente
da CELF insistiu na necessidade de oferecer aos jovens “ambientes eclesiais permeados de um verdadeiro espírito de família”.
E assegurou:
“Só
um testemunho de amor materno de uma Igreja-família pode tocar o coração dos
jovens e abrir caminho para o seu encontro pessoal com Jesus, com o Evangelho,
conduzir à descoberta do sentido da vida, da alegria do serviço e do
compromisso na transformação da própria Igreja e da sociedade”.
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É ainda de referir, desde já, que os participantes
lusófonos no Sínodo dos Bispos, em que se incluem os preditos dois Bispos portugueses,
propuseram, no passado dia 20, a criação dum observatório para a juventude na
Santa Sé, no que foram acompanhados por outros grupos linguísticos, que também
destacaram a necessidade dum organismo que coordene os “temas relacionados com
os jovens”, no Vaticano e a nível mundial.
“Seria oportuna a criação de um ‘conselho’ ou
‘observatório’ mundial da juventude”, sustentam os participantes de Portugal,
Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste.
O grupo de trabalho em língua portuguesa apresentou o
seu relatório sobre a terceira e última parte do ‘Instrumentum Laboris’, o documento orientador da assembleia
sinodal, sublinhando a “necessidade de
integração e comunhão de todas as forças eclesiais que trabalham com juventude”
e a exigência de estruturas paroquiais, diocesanas e nacionais que “favoreçam o diálogo e a missão”. E frisou
a importância de “maior diálogo e
colaboração entre os diferentes organismos da Cúria Romana que, de alguma
maneira, têm relação com o mundo juvenil”.
O relatório em língua portuguesa, que é utilizada pela
1.ª vez como idioma oficial no Sínodo, apela a uma Igreja e sociedade
“inclusivas”, capaz de promover a “solidariedade
com os mais necessitados e o cuidado da casa comum”. E, em relação ao mundo
digital, os representantes dos episcopados lusófonos pretendem que os jovens
sejam “protagonistas na evangelização e
não somente destinatários”.
O documento convida a considerar o acompanhamento
juvenil como um “verdadeiro processo de
iniciação à fé cristã e à vida eclesial”. Nele pode ler-se:
“A Igreja é chamada a ajudar os jovens a
terem uma visão integral da vocação, que leve em conta as dimensões humana,
comunitária, espiritual, pastoral e social”.
O texto adverte que, apesar de o termo “vocação” ser
suscetível de “algumas reservas”, é necessário “não descurar a promoção de uma cultura vocacional, com especial atenção
à vocação especificamente religiosa e sacerdotal”.
Os participantes desafiam a comunidade católica a
fazer “escolhas corajosas” em ordem à renovação da Pastoral Juvenil, investindo
nela recursos humanos e materiais, incluindo “pessoas com dedicação exclusiva à pastoral juvenil”.
“O Sínodo é uma
oportunidade de manifestar a opção preferencial pelos jovens, traduzida em
escolhas concretas e corajosas a nível paroquial, diocesano, nacional e
internacional”, assinala o relatório, com
18 pontos.
2018.10.21 – Louro de Carvalho
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