domingo, 21 de outubro de 2018

O contributo dos Bispos portugueses no Sínodo dos Bispos de 2018


A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada no Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que está a decorrer no Vaticano de 3 a 28 de outubro, por Dom Joaquim Mendes, Bispo auxiliar de Lisboa e Presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família (CELF), e por Dom António Augusto Azevedo, Bispo auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM).
Além da participação na aula sinodal plenária, integram, no âmbito dos “Círculos Menores”, o grupo de língua portuguesa, denominado “Circulus Lusitanus” – de que Dom Joaquim Mendes é relator e cujo moderador é o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de vida apostólica – composto por padres sinodais, peritos, auditores e assistentes de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola e Moçambique.
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Sobre o ambiente “fraterno” e “em família” que se vive entre os participantes no Sínodo, Dom Joaquim Mendes falou ao “Voz da Verdade” no final da segunda parte dos trabalhos do Sínodo, congratulando-se ainda pelo facto de a língua portuguesa ser uma das suas línguas oficiais.
Começando por referir que “o ambiente é de grande fraternidade eclesial, respeito, atenção e estima por parte de todos os participantes, desde o Santo Padre, Cardeais, Bispos, Padres, Leigos, Delegados Fraternos, Assistentes”, aponta o evento como uma experiência de se sentir em casa’, em ‘família’ – um aspeto muito grato aos jovens, “que se sentem à vontade, manifestando-se, por vezes, espontaneamente nas congregações gerais, perante algumas intervenções que tocam mais a sua sensibilidade”. E, no atinente a este clima, pormenoriza:
O ambiente é de grande proximidade, cordialidade, simplicidade, abertura e diálogo, quer nas congregações gerais, quer nos círculos menores, quer nos momentos de pausa, como a meio da manhã para o café, ou nos momentos que precedem as sessões, em que o Santo Padre está no hall de entrada, conversando, fazendo fotos, misturando-se com os Padres Sinodais, como um deles”.
No respeitante à abertura e frontalidade – princípios orientadores dos trabalhos –, aponta o clima de “escuta aberta ao diálogo” e “sem restrições”, segundo a indicação do Papa na sua intervenção inicial, o que sucede, da parte de quem pede a palavra, quer nas sessões plenárias, quer nos círculos menores. Efetivamente, “o Sínodo é sinal da Igreja que se coloca em escuta, em diálogo, aberta ao Espírito, às surpresas de Deus, buscando a Sua vontade” – sublinha.
Acolheu a nomeação de relator do grupo como um serviço, porque esta é a sua “forma de estar na Igreja e de exercer o ministério”, em conformidade com o exemplo e as palavras de Jesus: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27), lema que o “acompanha desde o início do sacerdócio.
Quanto à introdução da língua portuguesa como a 6.ª língua do Sínodo, afirma corresponder “a uma aspiração que vem de há muito”, manifestada ao Vaticano por vários Presidentes da CEP, designadamente o Cardeal Dom António Ribeiro, o Cardeal Dom José Policarpo e o Cardeal Dom Manuel Clemente – porta-vozes do sentir, não só da Igreja Portuguesa, mas também das Igrejas dos países de expressão portuguesa. Por isso, o agradecimento “ao Papa Francisco e à Secretaria-Geral do Sínodo por terem acolhido esta aspiração e por terem introduzido o português como língua oficial do Sínodo, que é falada por 350 milhões de pessoas em todo o mundo”.
No concernente ao grupo de trabalho de que é relator, diz que “é o número 11 de 14 círculos, composto por Padres Sinodais oriundos de três continentes:  América Latina (Brasil), África (Angola, Moçambique e Cabo Verde) e Europa (Portugal).”. Integra este grupo um jovem do Brasil, representante do Movimento Internacional de Schoenstatt e membro do Comité Coordenador Nacional para a Pastoral Juvenil da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e ainda dois Peritos e dois Assistentes. Também aqui o ambiente é de grande cordialidade, abertura, escuta e diálogo”. E cada Padre Sinodal traz a realidade juvenil da sua Igreja particular e local e a experiência, que partilha no debate sobre os temas propostos no Instrumentum laboris, o texto base da reflexão. E pormenoriza:
Todos intervêm, há uma escuta atenta e respeitosa e uma grande sintonia e comunhão, expressa na votação sobre os módulos propostos por cada um, que tem sido unânime. O facto de falar a mesma língua permite expressar melhor o próprio pensamento, ser compreendido e compreender, e facilita o diálogo.”.
Passados que estão dois terços da reunião sinodal, o relator do Circulus Lusitanus” faz um balanço francamente positivo, relatando:
A 1.ª semana, a do debate e reflexão sobre a I Parte do Instrumentum laboris, foi de ‘escuta’ da realidade dos jovens segundo as respostas ao Questionário das Conferências Episcopais e às dadas pelos próprios jovens – dos 100.500 que responderam a todas as perguntas do questionário online; dos 300 que participaram presencialmente no Pré-Sínodo; e dos 15.000 que participaram através do Facebook. E foi considerado ainda o contributo dum Seminário Internacional sobre a condição juvenil, composto por 50 peritos e 20 jovens provenientes de todos os continentes, bem como outros contributos institucionais e particulares.
A 2.ª semana “foi dedicada à II Parte e marcada pela leitura e interpretação da realidade à luz da fé, com o olhar de Jesus, e a tomar consciência dos desafios que ela coloca à Igreja”, tendo a palavra mais referida nesta II Parte sido “acompanhamento” em ordem à maturidade da fé.
Considera esta II Parte como o “núcleo” do Sínodo e, nela, a fé.
No dia 15, foi concluída esta II Parte com as relações dos 14 grupos e prosseguiu a reflexão sobre a III Parte, que incide sobre os percursos de conversão pastoral e missionária a realizar, para que a Igreja cumpra a sua missão para com os jovens.
Adianta que, “na conclusão do Sínodo, a Igreja dirá aos jovens o que podem esperar dela, o que ela tem para lhes oferecer e o que eles também têm para oferecer à Igreja”. Assim, “do caminho percorrido, os jovens podem estar certos de que a Igreja os ama, é a sua ‘casa’, nela todos têm lugar, todos nela podem encontrar abrigo, acolhimento, conforto, compreensão e amor”. Com efeito, “a Igreja quer ser ‘mãe’ que os acolhe como filhos, escuta, caminha com eles, ajudando-os a encontrar Jesus, a sentir-se amados por Ele e a responder à sua chamada à alegria do amor”.
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Na sua intervenção na Assembleia Sinodal, de que a Voz Portucalense, traz síntese, Dom António Augusto Azevedo, Presidente da CEVM, referiu-se “concretamente ao tema da vocação” inserindo-a no contexto deste Sínodo dos Bispos, que trata, como é sabido, sobre a problemática dos jovens.
Na sua reflexão, assinalou a necessidade de “alargar o sentido da vocação”, pois “todo o jovem tem uma vocação” – declarou Dom António Augusto, que lançou várias pistas de reflexão:
Neste processo podemos ajudá-los a partir das questões essenciais: Qual o sentido da minha vida? Qual é o meu lugar neste mundo? Qual é o significado da minha existência? Qual é o caminho da verdadeira felicidade? Precisamos ainda de acompanhar os jovens na busca das respostas mais autênticas e libertadoras que se encontram na proposta cristã.”.
O Bispo auxiliar do Porto sublinhou ainda a necessidade de “reforçar a perspetiva vocacional nos vários ambientes formativos: a catequese, as escolas e universidades, os grupos e movimentos”. Relevou também “a vocação matrimonial, a vocação artística, a vocação para o compromisso social ou político e tantas outras”.
Em relação à vocação sacerdotal, Dom António Augusto declarou que, para ser despertada, “o testemunho pessoal será sempre um fator decisivo”, recordando a importância do “entusiasmo contagiante de um jovem padre” ou a “fé cheia de sabedoria de um velho sacerdote”. E salientou que se devem “multiplicar experiências, espaços e tempos que favoreçam o encontro pessoal com um Cristo vivo que ama a todos, conta com todos e chama alguns à vocação sacerdotal”.
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E Dom Joaquim Mendes, Presidente da CELF, no âmbito da sua intervenção na 14.ª reunião geral da assembleia sinodal, dedicada às novas gerações, disse que só uma “Igreja-família” é capaz de dar resposta aos anseios dos jovens, assinalando que muitos se sentem órfãos (e muitos são órfãos vivos, talvez mais que os órfãos de pais defuntos) na sociedade atual. E frisou:
Há um sentimento de orfandade em muitos jovens. São numerosos os que nasceram e cresceram numa família desestruturada, que não sabem o que é uma família, que foram abandonados, que não foram amados.”.
A intervenção, com referência particular ao n.º 178, capítulo III, da III Parte do Instrumentum laboris, como se pode ler no “Voz da Verdade”, partiu da necessidade de proporcionar aos jovens “uma experiência familiar de Igreja”. Assim, precisou:
Creio que não se pode educar e evangelizar sem chegar ao coração; e, para chegar ao coração, é preciso amar, acolher incondicionalmente, proporcionar uma experiência impregnada de um verdadeiro espírito de família”.
Partindo do documento de trabalho da assembleia sinodal, o orador sustentou que as paróquias devem ser “profecia de fraternidade”, como uma casa que acolhe, “espaço de encontro, lugar de crescimento e de vida”. E detalhou:
Família para os que têm família, proporcionando aos jovens um ambiente familiar, onde se sintam acolhidos, amados, cuidados, acompanhados no seu crescimento, desenvolvimento integral e na realização dos seus sonhos e esperanças”.
Dom Joaquim Mendes ousou apelar a uma maior confiança nos jovens, para os quais pediu mais “espaços de acolhimento, participação e corresponsabilidade”, no plano pastoral das paróquias, dos movimentos e das escolas católicas, explanando:
O Sínodo é uma oportunidade para uma conversão pastoral e missionária das comunidades cristãs, para que proporcionem aos jovens aquilo a que eles têm direito, anseiam, e esperam: uma Igreja-família, onde eles se sintam parte viva, uma Igreja-casa onde todos têm lugar, onde todos se preocupam com todos, onde se experimenta a fraternidade cristã que brota da fé e do amor de Jesus”.
O Presidente da CELF insistiu na necessidade de oferecer aos jovens “ambientes eclesiais permeados de um verdadeiro espírito de família”. E assegurou:
Só um testemunho de amor materno de uma Igreja-família pode tocar o coração dos jovens e abrir caminho para o seu encontro pessoal com Jesus, com o Evangelho, conduzir à descoberta do sentido da vida, da alegria do serviço e do compromisso na transformação da própria Igreja e da sociedade”.
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É ainda de referir, desde já, que os participantes lusófonos no Sínodo dos Bispos, em que se incluem os preditos dois Bispos portugueses, propuseram, no passado dia 20, a criação dum observatório para a juventude na Santa Sé, no que foram acompanhados por outros grupos linguísticos, que também destacaram a necessidade dum organismo que coordene os “temas relacionados com os jovens”, no Vaticano e a nível mundial.
“Seria oportuna a criação de um ‘conselho’ ou ‘observatório’ mundial da juventude”, sustentam os participantes de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste.
O grupo de trabalho em língua portuguesa apresentou o seu relatório sobre a terceira e última parte do ‘Instrumentum Laboris’, o documento orientador da assembleia sinodal, sublinhando a “necessidade de integração e comunhão de todas as forças eclesiais que trabalham com juventude” e a exigência de estruturas paroquiais, diocesanas e nacionais que “favoreçam o diálogo e a missão”. E frisou a importância de “maior diálogo e colaboração entre os diferentes organismos da Cúria Romana que, de alguma maneira, têm relação com o mundo juvenil”.
O relatório em língua portuguesa, que é utilizada pela 1.ª vez como idioma oficial no Sínodo, apela a uma Igreja e sociedade “inclusivas”, capaz de promover a “solidariedade com os mais necessitados e o cuidado da casa comum”. E, em relação ao mundo digital, os representantes dos episcopados lusófonos pretendem que os jovens sejam “protagonistas na evangelização e não somente destinatários”.
O documento convida a considerar o acompanhamento juvenil como um “verdadeiro processo de iniciação à fé cristã e à vida eclesial”. Nele pode ler-se:
A Igreja é chamada a ajudar os jovens a terem uma visão integral da vocação, que leve em conta as dimensões humana, comunitária, espiritual, pastoral e social”.
O texto adverte que, apesar de o termo “vocação” ser suscetível de “algumas reservas”, é necessário “não descurar a promoção de uma cultura vocacional, com especial atenção à vocação especificamente religiosa e sacerdotal”.
Os participantes desafiam a comunidade católica a fazer “escolhas corajosas” em ordem à renovação da Pastoral Juvenil, investindo nela recursos humanos e materiais, incluindo “pessoas com dedicação exclusiva à pastoral juvenil”.
O Sínodo é uma oportunidade de manifestar a opção preferencial pelos jovens, traduzida em escolhas concretas e corajosas a nível paroquial, diocesano, nacional e internacional”, assinala o relatório, com 18 pontos.
2018.10.21 – Louro de Carvalho

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