Na semana conclusiva do Sínodo sobre os jovens, cujos trabalhos serão
concluídos no próximo domingo, dia 28 de outubro, com a Missa solene na Basílica
de São Pedro, são de assinalar, no dia 23: a apresentação do projeto do Documento Final e a entrega do texto,
ainda reservado aos participantes, na Sala do Sínodo (252 os
Padres Sinodais presentes); o briefing sobre o Sínodo, na Sala de
Imprensa da Santa Sé; e o encontro intergeracional.
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A
apresentação do projeto do Documento
Final foi saudada com um aplauso longo e caloroso, marcado pela aclamação dos
jovens. A atividade realizada até à tarde do dia 22 pela Comissão para a
Redação é classificável como “um trabalho cansativo, entusiasmante, atento a
uma verdadeira corrida contra o tempo”. Os dois secretários especiais – os
padres Giacomo Costa e Rossano Sala – comentaram brincando que “foi um exemplo bem-sucedido de sinodalidade,
cuja demonstração é o entendimento perfeito nascido entre um jesuíta e um
salesiano”, com referência aos dois institutos religiosos de proveniência (o primeiro é
SJ, Sacerdote Jesuíta; e o segundo é SDB, Salesiano de Dom Bosco).
O Relator
Geral Cardeal Sérgio da Rocha
explicou que o projeto foi elaborado a partir do Instrumentum Laboris,
texto base de referência do Sínodo. Porém, enquanto este é fruto dos dois anos
de escuta do mundo juvenil, o Documento
Final é fruto do discernimento realizado pelos Padres Sinodais no decorrer
da assembleia do Sínodo. São,
pois, documentos diferentes e complementares, que, juntos, dão “uma visão da complexidade das questões
levantadas e dos dinamismos em ato no caminho para enfrentá-los. Por isso,
devem ser lidos juntos, até porque “entre
eles há uma referência contínua e intrínseca”.
Também
constituem fontes do Documento Final
os pronunciamentos, os relatórios e as emendas surgidas nos trabalhos da aula
sinodal.
O Relator
Geral recordou que o primeiro e principal destinatário do Documento Final é o Papa, cuja aprovação o tornará em breve disponibilizado
“a toda a Igreja, às Igrejas
particulares, aos jovens e a todos aqueles que estão comprometidos com os
jovens na pastoral da juventude e vocacional”.
Mantendo a
estrutura fundamental do Instrumentum Laboris na subdivisão
nas três partes “reconhecer, interpretar, escolher”, o documento
reflete a estrutura da passagem dos discípulos de Emaús: “Caminhava com eles”, “os seus
olhos se abriram”, e por fim, “partiram sem demora”. Também os
temas do Instrumentum Laboris se encontram no Documento Final, mas sobressaem os que foram mais debatidos ao
longo destas três semanas.
Segundo o
Cardeal Sérgio da Rocha, o texto, subdividido em 173 parágrafos, resultou dum trabalho
de equipa, sendo os autores os Padres Sinodais, os participantes do Sínodo e,
em particular, os jovens. Entregue aos Padres Sinodais, o Projeto, ainda
reservado, é passível, no tempo que resta, de propostas de acréscimos e emendas.
Em termos
dinâmico-temáticos, o ponto de
partida e o ponto de chegada é, para o Cardeal Rocha, o povo de Deus “na variedade de situações socioculturais e
eclesiais” que os trabalhos fizeram emergir. Mas o caminho sinodal ainda
não terminou de facto, porque prevê uma fase de implementação, sendo importante
que as Igrejas particulares e as Conferências Episcopais “possam assumir de
maneira criativa e fiel a dinâmica do Documento a fim de adaptar ao seu
contexto o que surgiu durante os trabalhos”. Assim, o processo sinodal não
termina com “receitas pastorais a serem assumidas” (seria o
oposto do discernimento); e, se a
linguagem do texto elaborado não é propriamente jovem, recorda-se que foi
decidido preparar uma Carta dirigida a todos os jovens por parte dos Padres
Sinodais. A fase do Agir (da metodologia da Ação Católica) vem necessariamente depois e tem de ser longa,
sinodal e coerente – penso eu.
Na meditação
enquadrada pela oração que abriu a Congregação da manhã do dia 23, um Padre
Sinodal, Dom
Vilson Basso, Bispo de Imperatriz – MA, e Presidente da Comissão
Juventude da CNBB, refletindo sobre os tempos difíceis vividos pela Igreja,
convidou os presentes a viver o Sínodo como um kairos, ou seja, como
uma ocasião para conversão. Nessa meditação inspirada nos textos litúrgicos do
dia, aflorou a ideia de que os jovens querem efetivamente uma Igreja transparente e pobre,
sendo hoje as palavras do Crucifixo de São Damião a São Francisco de Assis, “Vai e reconstrói a minha Igreja” um
estímulo para todos. Com efeito, como sublinhou o orientador da meditação, uma
árvore plantada ao longo dum riacho não receia o calor quando ele vem. E, mesmo
em época de seca, o fruto da árvore não será menor se suas raízes estiverem
plantadas ao longo do rio de água viva, que é Jesus. Por isso, os votos que
formulou foram os de que, neste tempo de kairos, sofrimento e
graça, a Igreja prossiga corajosa, cheia de esperança e empatia; e que a opção
preferencial pelos jovens queira dizer dedicação
em termos de tempo, pessoas e recursos financeiros nas paróquias e nas dioceses
de todo o mundo.
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No Briefing sobre o Sínodo, sobressaiu a
asserção de que a sabedoria dos idosos orienta as energias dos jovens, bem como
tópicos sobre a corresponsabilidade
de jovens e idosos, o acolhimento da Igreja estendido a todos os homens e a
experiência do Sínodo como fonte de aprendizagem e inspiração. Assim, foi
recordado que não se pode separar o caminho dos jovens do dos idosos e que,
através de metáforas ligadas ao mar e ao universo, se pode apreender o sentido
do Sínodo e o caminho da Igreja.
Joseph
Sapati Moeono-Kolio, jovem auditor e membro da Caritas Internationalis para a Oceânia (Samoa), recordou que o seu povo navegou milhares de anos
pelos mares, graças à sabedoria dos idosos, capazes de se orientarem pelas
estrelas. E afirmou:
“Os idosos sentavam-se no fundo das canoas e os jovens remavam seguindo
as suas preciosas indicações. Esta sinergia repete-se na Igreja: os idosos têm
a sabedoria para interpretar e orientar. Mas são os jovens que têm a energia
para ir às periferias.”.
Segundo Dom
Bienvenu Manamika Bafouakouahou, Bispo de Dolisie (República do
Congo), o Sínodo é “uma espécie de lançamento em órbita”, em que os bispos são como
satélites que enviam sinais aos jovens da terra. Para este Padre Sinodal, o
Sínodo tem sido um caminho no convívio, onde o Papa, com a sua presença, “nos encorajou a trazer o que estava
borbulhando em nossos corações” e em que os jovens, “nos rejuvenescem através
de seus pronunciamentos”.
Já o Padre Antonio Spadaro, diretor da
revista “La Civiltà Cattolica”,
destacou que os sonhos dos idosos abrem aos jovens as portas do futuro
sublinhando a afirmação de Francisco de que “entrou na alma um versículo do
Profeta Joel” e que “percebeu que, se os idosos não sonham, os jovens não podem
ver o futuro”. E assegurou que, sendo o Sínodo “um modo de ser e de agir da Igreja”, a participação do povo de Deus na
vida da Igreja é um elemento essencial.
O sacerdote
jesuíta também recordou que, à tarde, o Papa Francisco iria encontrar os jovens
e idosos de diferentes países no Salão Nobre do Augustinianum, em Roma, por
ocasião da apresentação do livro “Francisco.
A sabedoria do tempo. Em diálogo com o Papa Francisco sobre as grandes questões
da vida”. Trata-se dum livro organizado pelo diretor da “Civiltà Cattolica”, com 250 entrevistas
realizadas em mais de trinta países, em que os anciãos relatam as suas
experiências aos jovens, e que nasceu de uma intuição do Papa, como observado
por Francisco no prefácio, “precisamos de
avós sonhadores e memoriosos”.
Por seu
turno, o Cardeal Luis Antonio G. Tagle, Arcebispo de Manila, declarou que “a Igreja
deve ser sempre acolhedora”, uma comunidade “que considera sempre a humanidade de todos e está sempre presente ao
lado de todos”. Assim, de acordo com o purpurado, esteve muito presente nas
discussões “o olhar humano da Igreja para as pessoas, independentemente da sua
orientação sexual” de forma que tem a sensação de que “os temas do mundo LGBT
estarão presentes no documento final”.
Acrescentando
que este Sínodo foi uma escola, o Arcebispo de Manila sublinhou que “os jovens
ensinaram muito”, pelo que “devemos partir dos jovens e das suas experiências
concretas” para depois se ir à pesquisa.
E, respondendo
a uma pergunta sobre quanto e como a voz das mulheres era ouvida pelos Padres
Sinodais, o Cardeal Tagle disse:
“No meu Círculo Menor,
percebemos que a força
da sabedoria que vem das mulheres deve ser ouvida. […]. Houve propostas
muito concretas que se referiam também à necessidade de ter mais em conta as
figuras das mulheres presentes nas Sagradas Escrituras, para as usar como
figuras interpretativas das experiências dos jovens e lançar uma nova luz sobre
elas.”.
Para o
Cardeal Charles Maung Bo, Arcebispo de Yangon (Myanmar), o Sínodo “tem sido uma fonte de inspiração” que
impele os pastores da Igreja a interrogarem-se sobre o que devem fazer pelos
jovens de hoje. E, concentrando-se nos jovens, disse que toda a Igreja “evolui
no caminho certo”. Neste sentido, espera que em cada diocese se siga as
recomendações do Papa, como espera “uma infinidade de frutos do Sínodo”.
Por fim, o
Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, recordou que fora
entregue aos Padres Sinodais – e brevemente ilustrado na Sala do Sínodo – o
projeto do Documento Final, que será
objeto de propostas de acréscimos ou modificações, antes de ser entregue ao
Papa.
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Incluído no Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens,
decorreu um encontro intergeracional em
que o Papa esteve com os mais novos e com idosos, no Instituto Patrístico
Augustinianum, em Roma. De acordo com o portal ‘Vatican News’, a iniciativa faz parte de um projeto global intitulado
“Francisco. A sabedoria do tempo. Em
diálogo com o Papa Francisco sobre as grandes questões da vida”, livro que
apresenta várias “histórias de vida” e que conta com o comentário de Francisco.
No encontro marcaram presença jovens e idosos de todo
o mundo, e também várias figuras ligadas à Igreja Católica, nomeadamente à pastoral
dos jovens e à comunicação, como o Arcebispo do Panamá, Dom José Domingo Ulloa
Mendieta, o anfitrião das Jornadas Mundiais da Juventude em 2019, o padre Jesuíta
Antonio Spadaro, diretor da revista ‘La
Civiltà Cattolica’, da Companhia de Jesus, e, ainda o diretor de cinema
Martin Scorcese.
O evento permitiu celebrar “um projeto nascido de uma ideia do Papa, que há muito tempo dedica a sua
atenção às relações entre as gerações, para que prossigam juntas no seu caminho”.
No
prefácio do predito livro, Francisco escreve:
“Como é bonito, pelo contrário, o encorajamento que o idoso consegue
comunicar a uma jovem ou a um jovem em busca do sentido da vida! Esta é a
missão dos avós. Uma verdadeira vocação.”.
E sublinha:
“Há uma expressão que não me agrada: ‘Voltar à casa do Pai’, como se a
nossa fosse uma viagem de ida e volta. É bonito dizer: ‘Estou indo para aquele
encontro’.”.
Como já foi
referido, o livro reúne 250 entrevistas realizadas em mais de trinta países,
graças ao projeto “Compartilhando a
Sabedoria do Tempo” realizado por um grupo de editoras coordenadas pela
estadunidense Loyola Press, com a ajuda da organização sem fins lucrativos
Unbound e do Serviço dos Jesuíta para os Refugiados. É uma história coral
composta de palavras e imagens, nas quais se encontram histórias e rostos de
idosos dos cinco continentes: o Papa comenta, em diálogo com o padre Spadaro,
as aulas de desenho, momentos pastorais, e compartilha momentos da sua própria
biografia pessoal.
A este
respeito, o Papa verifica:
“A nossa sociedade privou os avós de sua voz. Tirámos o espaço e a
oportunidade de eles nos contarem a sua experiência, as suas histórias, a sua
vida. Deixámo-los de lado e perdemos o bem da sua sabedoria. Quisemos remover o
nosso medo da fraqueza e da vulnerabilidade, mas assim fazendo, fizemos
aumentar nos idosos a angústia de serem mal apoiados e abandonados.”.
Pelo que
exorta:
“Devemos despertar o sentido civil da gratidão, do apreço, da hospitalidade,
capaz de fazer com que o idoso se sinta parte viva da comunidade. Colocando de
lado os avós, descartamos a possibilidade de entrar em contacto com o segredo
que lhes permitiu a eles seguirem em frente, fazerem caminho na aventura da
vida. […]. Faltam-nos modelos, testemunhos vividos. Ficamos perdidos.
Privamo-nos do testemunho de pessoas que não somente perseveraram no tempo, mas
que conservam no coração a gratidão por tudo aquilo que viveram.”.
Por outro
lado, censura como “feio o cinismo de um idoso que perdeu o sentido do seu
testemunho, que despreza os jovens, que se lamenta sempre” e conclui que, “deste modo, a sua sabedoria de vida não é
mais transmitida, torna-se estéril nostalgia”. Frisa, como já foi dito, “o
encorajamento que o idoso consegue comunicar a uma jovem ou a um jovem em busca
do sentido da vida”, referindo que “esta
é a missão dos avós, uma verdadeira vocação”. E vinca:
“Os idosos são a reserva sapiencial da nossa sociedade. A atenção pelos
anciãos é aquilo que distingue uma civilização.”.
Nestes
termos, Francisco exorta, no encontro intergeracional, os idosos, que define como
os “memoriosos da história”, a
“formarem um coro”, “um coro permanente dum grande santuário espiritual, onde a
oração de súplica e o canto de louvor apoiem a comunidade que trabalha e luta
no ‘campo’ da vida”. Mas também lhes pede que ajam e que tenham a coragem de
contrastar de todas as formas a “cultura do descarte” que lhes é imposta a
nível mundial.
Aos jovens e
sobre os jovens diz:
“E o que peço aos jovens? […] Sinto pena de um jovem cujos sonhos se
apagam na burocracia. Como o jovem rico do Evangelho. Vai embora triste, vazio.
Peço, portanto, escuta, proximidade aos idosos; peço para não aposentarem a
existência deles na ‘quietude burocrática, na qual guardam tantas propostas
privadas de esperança e de heroísmo. Peço um olhar às estrelas, aquele espírito
saudável de utopia que leva a recolher energia para um mundo melhor.”.
Em suma,
aquilo de que o Santo Padre gostaria era de “um mundo que viva um novo abraço entre os jovens e os idosos”.
***
Venha, pois,
daí esse mundo desejado pelo Papa, bem como a Carta prometida aos jovens pelos
Padres Sinodais! Já agora, que Francisco engendre uma nova Exortação Apostólica
sobre o tema. Teremos, por esta via, uma boa componente da reforma (reconstrução franciscana) da Igreja?
2018.10.24 – Louro de Carvalho
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