sábado, 6 de outubro de 2018

Os santuários de hoje são lugares privilegiados da nova evangelização


É uma das poderosas afirmações do Padre Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima, no seminário de formação que decorreu no Santuário da Santa Casa de Loreto, em Itália, que decorreu entre os dias 1 e 3 de outubro.
Foi a XV Coordenação Nacional da Obra Romana de Peregrinações (ORP), obra que reúne todos os anos as pessoas que colaboram com esta instituição promotora de peregrinações. E o tema do encontro deste ano foi a “A experiência do ORP ao serviço da realidade eclesial”, com enfoque especial nas temáticas juvenis, justamente em cima do início dos trabalhos da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos a decorrer no Vaticano, de 3 a 28 de outubro, em torno do tema Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Fez a abertura do evento da ORP Dom Remo Chiavarini, Delegado Administrador da ORP. Em seguida, o Bispo auxiliar da Diocese de Roma, Dom Paolo Selvadagi, conduziu a reflexão sobre “A experiência da peregrinação na vida dos jovens”.
Seguiu-se, no final da intervenção de Dom Paolo Selvadagi, uma mesa redonda coordenada por Don Gionatan De Marco (coordenador do Escritório para a Pastoral do Tempo Livre, Turismo e Desporto da Conferência Episcopal Italiana). Entre os convidados, figuraram o Padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, já referido, o Padre Andrè Cabes, Reitor do Santuário de Lourdes, Frei Francesco Patton, custódio da Terra Santa, e o padre Rifat Bader, pároco do Sagrado Coração de Jesus em Naour, na Jordânia.
A tarde do primeiro dia continuou com Dom Fabio Dal Cin, Arcebispo de Loreto, que abordou o tema “Eis a serva do Senhor (Lc 1,38) Carisma e peculiaridade do Santuário da Santa Casa de Loreto”. A seguir, o Bispo Dom Pierbattista Pizzabala, Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, falou sobre a experiência da peregrinação na Terra Santa sob o título “No caminho depois dos passos e nos lugares de Jesus, jovens na Terra Santa”. E o primeiro dia terminou com uma solene celebração da Eucaristia, presidida pelo Cardeal Angelo De Donatis, Vigário do Papa para a Diocese de Roma.
No dia 2 de outubro, o encontro teve como objetivo aprofundar alguns aspectos técnicos atinentes aos sacerdotes do Centro Pastoral da Obra Romana de Peregrinação. E, às 18 horas, os participantes recitaram o Santo Rosário sob a orientação do Padre Franco Carollo, Reitor do Santuário da Santa Casa de Loreto.
As atividades foram encerradas no dia 3, com algumas reflexões sugeridas pelo Bispo Dom Chiavarini. E, como parte integrante do evento, foi apresentado o catálogo de peregrinações 2019, em versão dedicada às paróquias, dioceses e realidades eclesiais.
A este respeito, Dom Chiavarini declarou:
Os jovens e as famílias, que serão objeto de programas específicos, estarão mais presentes em nossas viagens, um sinal de que a questão do sagrado e, em particular, a busca pelo sentido da própria vida continua a ser um estágio inevitável do crescimento pessoal”.
É de referir que a Obra Romana das Peregrinações (em italiano, Opera Romana Pellegrinaggi) é também conhecida como a “Agência de Viagens do Vaticano”. Nasceu há 84 anos, em 1934, com uma missão que vai para lá da oferta de peregrinações. A sua finalidade é dar assistência a todos aqueles que iniciam um caminho de encontro com Deus através dos lugares santos existentes na Itália e noutros países, mesmo além das fronteiras dos países europeus, encontrando na peregrinação um instrumento e um lugar privilegiado para a evangelização e para a catequese.
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Da intervenção do Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima na aludida mesa redonda em que participou, destaca-se o que disse sobre o encontro de jovens com Maria, enquanto “Mãe” e enquanto “Mestra”.
Tendo começado por afirmar que “os jovens estão no centro da vida”, a propósito da XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que começou esta semana e remete para uma reflexão sobre o lugar dos jovens na Igreja, o Padre Cabecinhas, evocou a próxima Jornada Mundial da Juventude, em janeiro de 2019, em que estará presente a imagem peregrina da Virgem de Fátima, com “milhares de jovens de todo o mundo, chamando-os a celebrar a sua fé com alegria e a testemunhá-la com alegria. Destes dois eventos disse que “são eventos eclesiais importantes que justificam o facto de tratarmos de jovens e, no nosso caso, de jovens e peregrinações”.
Depois, enfatizou que “os santuários de hoje são lugares privilegiados da nova evangelização: para a transmissão da fé, a partir das fortes experiências de fé que se tornam possíveis neles e a partir da mensagem específica”. E deu como exemplo Fátima, que “poderá falar eficazmente aos jovens de hoje”, isto porque se trata de “uma mensagem que não se afasta do que é secundário na vida de fé, mas concentra a sua atenção naquilo que é fundamental na fé cristã; uma mensagem que extrai a sua relevância da mensagem do Evangelho, a alimenta e conduz a ela; uma mensagem capaz de levar a uma forte experiência de Deus através de Maria”.
Na verdade, segundo o Reitor do Santuário, em Fátima “Maria apresenta-se como Mãe e Professora mostrando o seu Coração Imaculado como ‘refúgio’ e ‘caminho’ materno que conduz a Deus”. Ora, deste modo, o coração materno, que é abrigo “nas dificuldades e dramas da vida”, é refúgio “para os jovens, nas suas dificuldades e dúvidas, em suas inseguranças e medos, mas é um refúgio que reforça os sonhos e um apoio que ajuda a assumir a responsabilidade pela própria vida e pela direção em que alguém caminha”.
E, acentuando que os jovens são uma presença habitual em Fátima, considerou:
Se é verdade que muitos jovens se afastam de uma vida inserida na comunidade paroquial, não é menos verdade que não pararam de procurar um caminho espiritual que os estimule, fortes experiências de encontro com Deus que os possam motivar e guiar. Como lugar de forte experiência de Deus, o Santuário oferece a todos os que peregrinam a possibilidade de realizar essa experiência através de Maria.”.
Por conseguinte, é de frisar que “os jovens não perderam o interesse pela fé”, mas “expressam muitas vezes uma insatisfação com as formas com as quais, nas nossas comunidades, vivemos e manifestamos essa fé”, sendo por isso “que pode acontecer que a experiência de um lugar diferente, como o Santuário, os atraia”. Disse-o o Padre Carlos Cabecinhas, reiterando a responsabilidade do Santuário em “criar as condições para uma forte experiência de fé e encontro com Deus que possa então voltar a ligar os jovens às suas comunidades de origem”.
O sacerdote referiu as iniciativas que o Santuário de Fátima promove para jovens, como é o Projeto Sete ou a Casa do Jovem, e querem tornar cada participante “protagonista exortando-o a fazer o seu caminho de fé guiado por Maria”. Com efeito, segundo o Reitor, “os jovens de hoje são marcados pela indiferença em consequência de uma autorreferencialidade que marca o seu modo de vida”, mas, pela mão dos Pastorinhos de Fátima, cada jovem tem a possibilidade de aprender a “solidariedade em bondade e compaixão”, vindo a contrariar e a ultrapassar o silêncio e a solidão que paradoxalmente envolve o jovem, apesar do movimento frenético da abundância da informação. Neste sentido, o Reitor anotou que “hoje, os jovens muitas vezes vivem em profundo isolamento e solidão, apesar de muita tecnologia e redes sociais, que dão a ilusão de estarem em relação e terem muitos amigos”. Porém, considerou que os jovens, com Jacinta, Francisco e Lúcia, “aprendem a apoiar-se mutuamente”.
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O Padre Carlos Cabecinhas aproveitou a viagem para estar presente nas celebrações do 60.º aniversário do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Talsano, também em Itália.

Com efeito, no passado dia 4 de outubro, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Talsano- Itália, celebrou o 60.º aniversário da Consagração da Paróquia (1958), que foi elevada a santuário, a 16 de julho de 1959, pelo Cardeal Luciano Francesco Roberti.
As celebrações tiveram como tema “Maria e Francisco estão aqui entre nós”, iniciaram-se na tarde do dia 2 e estenderam-se até ao dia 4. O Reitor do Santuário de Fátima, no decurso duma celebração, entronizou uma réplica da Imagem de Nossa Senhora de Fátima presente na Capelinha das Aparições. E, na reflexão que orientou, sublinhou que o conteúdo das aparições angélicas ocorridas em 1916 afirma “o primado de Deus, Santíssima Trindade, na nossa vida”.
Considerando a índole dos tempos atuais, frisou que “vivemos, hoje, tempos exigentes em que já não enfrentamos oposição militante, mas indiferença”. E explicou que isto sucede porque “nas nossas sociedades, vive-se cada vez mais como se Deus não existisse, sem contar com Ele e com a Sua vontade para configurar a vida e definir as escolhas e opções”.
Sublinhando o “primado de Deus” e “o lugar central que deve ocupar na nossa vida”, garantiu que é para esses valores que nos chama a atenção a mensagem de Fátima, pois “toda a Mensagem de Fátima e a sua espiritualidade partem da Santíssima Trindade e a Ela conduzem”. Frisando que “não há ali discursos teológicos sobre Deus, Santíssima Trindade”, mas que “há antes um conhecimento existencial, capaz de transformar a vida”, esclareceu que é neste horizonte trinitário “que a mensagem de Fátima, logo desde as aparições do Anjo, sublinha a centralidade da Eucaristia na nossa vivência cristã e daqui nasce a exortação à adoração, à atitude reparadora, à oração insistente e sem desânimo”.
Depois, referiu que “a oração é outra dimensão fundamental da mensagem de Fátima”, e lembrou os Pastorinhos como “modelo de santidade”, declarando:
Nos Santos Francisco e Jacinta contemplamos uma vida simples, mas vivida com heroicidade; uma vida de crianças daquelas idades, mas completamente centrada em Deus”.
Para o Reitor, é possível encontrar “ a atitude de escuta atenta dos apelos de Deus”. E justifica:
Os Pastorinhos acolheram de imediato e sem reservas os pedidos de Deus que lhes chegaram pela mão do Anjo e de Nossa Senhora. O exemplo das suas vidas desafia-nos a também nós escutarmos atentamente a voz de Deus, que nos fala na Sua Palavra.”.
O exemplo do Pastorinhos permite encontrar “o exemplo da atitude de atenção aos outros e às suas necessidades” e “mostra-nos que não há verdadeiro amor a Deus que não passe necessariamente pelo amor aos irmãos”.
E o Padre Cabecinhas concluiu dizendo que celebrar o aniversário do Santuário de Talsano “é desafio renovado a acolher a mensagem de Fátima e a imitar os Santos Pastorinhos”.
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É bom que os santuários evangelizem e levem os homens a centrar-se em Deus e nos irmãos.
2018.10.06 – Louro de Carvalho

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