terça-feira, 13 de junho de 2017

“É a hora” de os cristãos acordarem e proclamarem a sua fé

O enunciado em epígrafe ficará como o pregão da II Peregrinação Internacional do ano centenário das Aparições ao Santuário de Fátima, celebrada nestes dias 12 e 13 de junho, sob o tema “Glória a Ti, Rainha da Paz”, e a que presidiu Dom Ângelo Bagnasco, Cardeal Arcebispo de Génova e Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), que foi Presidente da Conferência Episcopal Italiana, por sucessão do Cardeal Camilo Ruini, até à recente nomeação do Cardeal Gualtiero Bassetti.
Segundo os dados fornecido pelo Santuário, nesta peregrinação, que segue o programa-tipo das peregrinações aniversárias, inscreveram-se 164 grupos, num total de 8242 peregrinos, vindos de todos os cantos no mundo. Os grupos mais expressivos são os da Polónia, com 27 peregrinações seguida da Itália com 23. No entanto, os italianos trazem mais peregrinos a Fátima – 1620 contra  os 1220 polacos. Dos Estados Unidos vieram 11 grupos num total de 480 peregrinos. Filipinas, Portugal e Coreia do Sul são os países que inscreveram mais grupos a seguir aos norte-americanos, polacos e italianos.  Há ainda peregrinos do Paquistão, da Suazilândia, de Singapura, da Eslováquia, da Jamaica, do Líbano, das Ilhas Maurícias, do México, da Holanda, de Taiwan, do Vietname, da África do Sul e do Zimbabwe.
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Já na Missa internacional do dia 12, depois da Procissão das Velas,  Ângelo Bagnasco disse que os católicos devem rejeitar o perigo da desfiguração da fé, que equivale a desfigurar o rosto de Cristo. E explicou-se nos termos seguintes:
“Desfigurar a fé significa desfigurar o rosto de Jesus, significa tirar do Evangelho a espinha dorsal da graça, da vida sobrenatural; é reduzi-lo a um manual de sabedoria humana. As aparições de Nossa Senhora convocam-nos ao coração da fé, sem o qual a vida seria assimilada pela lógica do mundo.”.
O prelado genovês, que pronunciou a sua homilia em português, subordinada ao tema “O Coração Imaculado”, recordou a recente canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto – no quadro da peregrinação de 13 de maio presidida pelo Papa Francisco – dizendo que “a Virgem Santa”, que aqui “vela para que a fé continue intacta”, aparece “aos simples, os três pastorinhos, que vivem as bem-aventuranças sem presunção”, pois “Deus resiste aos soberbos e oferece-se aos humildes”. E, falando de um Santuário “tão grande quanto o mundo”, assinalou:
“Em Fátima tudo acontece na luz: os relâmpagos, a luz sobre a árvore, o milagre do sol… tudo é luminoso. Mesmo as palavras mais sérias e as mensagens mais exigentes iluminam a fé, a vida da Igreja, a história do mundo.”.
O Presidente do CCEE sublinhou a importância das duas palavras típicas da Cova da Iria, “oração e penitência”, advertindo:
“Uma certa maneira de contar as notícias hoje em dia quer fazer-nos crer que tudo é sombrio e que já não há esperança. Mas a realidade não é assim: se olharmos as coisas mais de perto, descobrimos Deus em ação.”.
E sustentou que a recomendação da oração e penitência não transmite uma “visão triste e sombria do mundo e da vida”, mas exprime, antes, “a seriedade do amor de Deus por nós que somos obra das suas mãos”. E o que nos impede de “ver a beleza e a seriedade do amor divino” são “a superficialidade e o desejo de possuir e de ter prazer, o desejo de fazer o que queremos sem nos referirmos a Deus”. Com efeito, “amar e ser amado é para nós tão necessário como o pão, mas não é um jogo: o Filho de Deus amou-nos até ao Calvário” – o que mostra que “o dom da vida é a medida decisiva e última do amor”. Este é, para Bagnasco, “o mistério da cruz”, sendo que “a contemplação do Crucificado expulsa de nós o torpor e a indolência, e desperta para o ardor da fé”.
E o Cardeal Arcebispo de Génova adverte:
“Fora do mistério da cruz, fora da seriedade do amor, até o pecado perde seriedade e fica reduzido a uma norma à qual se pode dar a volta; a imortalidade da alma deixa de nos atrair, a vida eterna parece abstrata, o presente impera. A virtude da paciência, ou seja, o esforço das pequenas coisas do dia a dia aborrece-nos, a conversão deixa de ter um rosto religioso; rezar pelos pecadores, que somos todos nós, afigura-se como algo longínquo, quase uma insolência. Entramos assim no modo de pensar do mundo.”.
Por isso, pediu aos peregrinos que não sigam este “modo de pensar do mundo”, mas confiem na promessa deixada pela Virgem Maria em Fátima, cujo coração triunfará não só no fim do mundo, mas “triunfa já secretamente em tantos corações: é o triunfo de Belém, de Nazaré, do Calvário, é um triunfo secreto, mas não menos glorioso, fascinante e eficaz”.
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Na homilia da Missa Internacional do dia 13, o Presidente da Peregrinação desenvolveu o enunciado “Em Fátima respira-se a fé”, repartido por cinco tópicos: “A fé”; “Porquê Fátima?”; “A hora de acordar”; “O Sol de Cristo”; e “O Coração Imaculado” (que fora o tópico fundamental da homilia do da noite de 12 para 13).
Sobre a fé, disse que, “onde está a Mãe, ali está o Filho” e assim “o encontro é mais intenso, a caridade cresce, a fé é mais clara e límpida: mais límpida porque mais essencial”. E explicou:
“O Evangelho da Anunciação leva-nos ao coração da fé: Maria confia-nos a Deus porque confia em Deus. Esta é a fé de Maria, esta é a fé da Igreja. Estamos aqui como peregrinos com as nossas tribulações e esperanças; mas estamos aqui também como povo de Deus que representa a Igreja dispersa por toda a terra; mais ainda, aos pés da Virgem, queremos trazer as angústias e os pedidos de toda a humanidade perdida e sofredora, necessitada de luz e de amor!”
Quanto a Fátima, o Cardeal justifica:
“O coração humano tem necessidade de palavras de vida eterna; todos desejamos uma mãe que nos dê alento e nos acompanhe; o homem procura a redenção das próprias fraquezas; a humanidade está fascinada com a luz que brilha no meio das trevas; é atraída pela oração que revela o que somos, pequenos diante da majestade de Deus e tomados sob o cuidado do sacrifício de Cristo.”.
E, interrogando-se, interpela-nos:
“Redenção e pecado, luz e trevas, oração e conversão, amor, sacrifício, salvação eterna… não é isto a substância da fé? E não isto a mensagem de Fátima, o caminho da vida cristã? À luz da vida dos pastorinhos, o fruto destas palavras não será a paz do coração e a alegria da alma, seja qual for a circunstância?”.
No atinente à urgência paulina de acordar do sono, Bagnasco constata que a nossa história de vida “tem muitas nuvens, mas é a hora do acordar” – um acordar que “já começou e que não pode parar”. E, se o ocidente perde “a sua própria humanidade”, se “o mundo proclama a vida e semeia a morte, declara a solidariedade e fecha-se, prega o amor mas é individualista”, contudo, as pessoas interrogam-se “sobre o futuro do mundo, sobre o destino da vida”.
E, como a 13 de outubro de 1917 se viram “uns flashes de luz, assim no coração dos homens começam a surgir as perguntas verdadeiramente importantes, a necessidade de verdade, a sede de amor e de bem”.
E, sobre o Coração Imaculado, o Cardeal Arcebispo de Génova sugere que fitemos o rosto de Maria assegurando que “no seu coração imaculado encontraremos o coração de Cristo, um rosto que une todos os nossos rostos”. E deseja que o nome de Jesus, “envolvido pelo nome de Maria”, como o Menino “foi envolvido pelas faixas em Belém”, ressoe neste recinto. Na verdade, “a partir do Seu nome cada um de nós sentirá pronunciar o seu próprio nome, sentirá a sua vida ser iluminada, a sua fé regenerada e a sua esperança reforçada”.
Em relação ao Sol de Cristo, o Presidente da Celebração Eucarística diz que em Fátima brilha “a luz que brota do seio da Virgem Santa: Jesus Cristo”. E garante que “nunca nos cansaremos de falar de Jesus”. Isto, porque “Ele é o Filho de Deus vivo, o revelador do invisível, o fundamento de todas as coisas”; porque “é o Mestre da humanidade, o Redentor”; porque “é o segredo da história, é a chave dos nossos destinos, o Rei do mundo novo”. E sobretudo porque Ele “nos conhece e ama, é o companheiro de estrada e o amigo da nossa vida” e que há de vir como juiz misericordioso; e porque “é o Pão que desceu do Céu, é a Fonte de água viva que sacia a nossa fome e a nossa sede”.

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Creio bem que não é fácil produzir um discurso de síntese como o do Cardeal Bagnasco neste dia 13 de junho. Está ali tudo: a Senhora que facilitou a encarnação do Verbo e O envolveu em faixas para que o mudo O pudesse conhecer, ouvir e amar; a Mãe que tem um coração semelhante ao do Filho e que para o coração deste pretende conduzir os dos outros; a mensagem que, pelo arrependimento do facto de termos alinhado em demasia pelo espírito do mundo e pela oração que nos leve a contemplar o rosto de Deus e a fazer nossa a preocupação pela salvação temporal e eterna dos homens, ressoa em nós como exigência perante de união à cruz de Cristo; o incremento da fé viva e essencial que robusteça a esperança e frutifique na abundância da caridade e na solidez da justiça.
De facto, a Mensagem de Fátima “ilumina a fé, a vida da igreja e a história do mundo”. E é efetivamente a hora de acordar para a profissão intrépida da fé e para a recuperação da humanidade do Ocidente.

É a hora de, levados por Maria ao coração da fé, nos decidirmos a ser, como cristãos e como Povo de Deus, testemunhas e mensageiros do amor de Deus pelos homens e apresentadores e intérpretes junto de Deus dos dramas da humanidade e dos erros dos homens sobre si mesmos, sobre os demais e sobre o Planeta, cabendo-nos igualmente o papel de intercessores para que o mundo creia e seja mais justo, livre, humano e fraterno.
Em Fátima continua, pois, a brilhar o sol, a luz que brota do seio da Virgem Santa: Jesus Cristo”, como concluiu o Cardeal Arcebispo de Génova.
Enfim, mais um belo marco do Centenário fatimita e do Ano Jubilar Mariano!

2017.06.13 – Louro de Carvalho

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