O enunciado
em epígrafe ficará como o pregão da II Peregrinação Internacional do ano
centenário das Aparições ao Santuário de Fátima, celebrada nestes dias 12 e 13
de junho, sob o tema “Glória a Ti, Rainha
da Paz”, e a que presidiu Dom Ângelo Bagnasco, Cardeal Arcebispo de Génova e
Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), que foi Presidente da Conferência Episcopal Italiana,
por sucessão do Cardeal Camilo Ruini, até à recente nomeação do Cardeal
Gualtiero Bassetti.
Segundo os
dados fornecido pelo Santuário, nesta peregrinação, que segue o programa-tipo
das peregrinações aniversárias, inscreveram-se 164 grupos, num total de 8242
peregrinos, vindos de todos os cantos no mundo. Os grupos mais expressivos são
os da Polónia, com 27 peregrinações seguida da Itália com 23. No entanto, os
italianos trazem mais peregrinos a Fátima – 1620 contra os 1220 polacos.
Dos Estados Unidos vieram 11 grupos num total de 480 peregrinos. Filipinas,
Portugal e Coreia do Sul são os países que inscreveram mais grupos a seguir aos
norte-americanos, polacos e italianos. Há ainda peregrinos do Paquistão,
da Suazilândia, de Singapura, da Eslováquia, da Jamaica, do Líbano, das Ilhas Maurícias,
do México, da Holanda, de Taiwan, do Vietname, da África do Sul e do Zimbabwe.
***
Já na Missa
internacional do dia 12, depois da Procissão das Velas, Ângelo Bagnasco
disse que os católicos devem rejeitar o perigo da desfiguração da fé, que
equivale a desfigurar o rosto de Cristo. E explicou-se nos termos seguintes:
“Desfigurar a fé significa desfigurar o rosto de Jesus, significa tirar do
Evangelho a espinha dorsal da graça, da vida sobrenatural; é reduzi-lo a um
manual de sabedoria humana. As aparições de Nossa Senhora convocam-nos ao
coração da fé, sem o qual a vida seria assimilada pela lógica do mundo.”.
O prelado
genovês, que pronunciou a sua homilia em português, subordinada ao tema “O Coração Imaculado”, recordou a recente
canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto – no quadro da
peregrinação de 13 de maio presidida pelo Papa Francisco – dizendo que “a Virgem Santa”, que aqui “vela
para que a fé continue intacta”, aparece “aos simples, os três pastorinhos, que
vivem as bem-aventuranças sem presunção”, pois “Deus resiste aos soberbos e
oferece-se aos humildes”. E, falando de
um Santuário “tão grande quanto o mundo”, assinalou:
“Em Fátima tudo acontece na luz: os relâmpagos, a luz sobre a árvore, o
milagre do sol… tudo é luminoso. Mesmo as palavras mais sérias e as mensagens
mais exigentes iluminam a fé, a vida da Igreja, a história do mundo.”.
O Presidente
do CCEE sublinhou a importância das duas palavras típicas da Cova da Iria, “oração e penitência”, advertindo:
“Uma certa maneira de contar as notícias hoje em dia quer fazer-nos crer
que tudo é sombrio e que já não há esperança. Mas a realidade não é assim: se
olharmos as coisas mais de perto, descobrimos Deus em ação.”.
E sustentou
que a recomendação da oração e penitência não transmite uma “visão triste e sombria
do mundo e da vida”, mas exprime, antes, “a
seriedade do amor de Deus por nós que somos obra das suas mãos”. E o que
nos impede de “ver a
beleza e a seriedade do amor divino” são “a superficialidade e o desejo de
possuir e de ter prazer, o desejo de fazer o que queremos sem nos referirmos a
Deus”. Com efeito, “amar e ser amado é
para nós tão necessário como o pão, mas não é um jogo: o Filho de Deus amou-nos
até ao Calvário” – o que mostra que “o
dom da vida é a medida decisiva e última do amor”. Este é, para Bagnasco, “o
mistério da cruz”, sendo que “a contemplação do Crucificado expulsa de nós o
torpor e a indolência, e desperta para o ardor da fé”.
E
o Cardeal Arcebispo de Génova
adverte:
“Fora
do mistério da cruz, fora da seriedade do amor, até o pecado perde seriedade e
fica reduzido a uma norma à qual se pode dar a volta; a imortalidade da alma
deixa de nos atrair, a vida eterna parece abstrata, o presente impera. A
virtude da paciência, ou seja, o esforço das pequenas coisas do dia a dia
aborrece-nos, a conversão deixa de ter um rosto religioso; rezar pelos
pecadores, que somos todos nós, afigura-se como algo longínquo, quase uma
insolência. Entramos assim no modo de pensar do mundo.”.
Por isso, pediu
aos peregrinos que não sigam este “modo de pensar do mundo”, mas confiem na
promessa deixada pela Virgem Maria em Fátima, cujo coração triunfará não só no
fim do mundo, mas “triunfa já secretamente em tantos corações: é o triunfo de
Belém, de Nazaré, do Calvário, é um triunfo secreto, mas não menos glorioso,
fascinante e eficaz”.
***
Na homilia
da Missa Internacional do dia 13, o Presidente da Peregrinação desenvolveu o enunciado
“Em Fátima
respira-se a fé”,
repartido por cinco tópicos: “A fé”; “Porquê Fátima?”; “A hora de acordar”; “O Sol de
Cristo”; e “O Coração Imaculado”
(que
fora o tópico fundamental da homilia do da noite de 12 para 13).
Sobre a fé, disse que, “onde está a Mãe, ali
está o Filho” e assim “o
encontro é mais intenso, a caridade cresce, a fé é mais clara e límpida: mais
límpida porque mais essencial”. E explicou:
“O Evangelho da Anunciação leva-nos ao coração da
fé: Maria confia-nos a Deus porque confia em Deus. Esta é a fé de Maria, esta é
a fé da Igreja. Estamos aqui como peregrinos com as nossas tribulações e
esperanças; mas estamos aqui também como povo de Deus que representa a Igreja
dispersa por toda a terra; mais ainda, aos pés da Virgem, queremos trazer as
angústias e os pedidos de toda a humanidade perdida e sofredora, necessitada de
luz e de amor!”
Quanto a Fátima, o Cardeal justifica:
“O
coração humano tem necessidade de palavras de vida eterna; todos desejamos uma
mãe que nos dê alento e nos acompanhe; o homem procura a redenção das próprias
fraquezas; a humanidade está fascinada com a luz que brilha no meio das trevas;
é atraída pela oração que revela o que somos, pequenos diante da majestade de
Deus e tomados sob o cuidado do sacrifício de Cristo.”.
E,
interrogando-se, interpela-nos:
“Redenção
e pecado, luz e trevas, oração e conversão, amor, sacrifício, salvação eterna…
não é isto a substância da fé? E não isto a mensagem de Fátima, o caminho da
vida cristã? À luz da vida dos pastorinhos, o fruto destas palavras não será a
paz do coração e a alegria da alma, seja qual for a circunstância?”.
No atinente à urgência paulina de
acordar do sono, Bagnasco constata
que a nossa história de vida “tem muitas nuvens, mas é a hora do acordar” – um acordar
que “já começou e que não pode parar”.
E, se o ocidente perde “a sua própria humanidade”, se “o mundo proclama a vida
e semeia a morte, declara a solidariedade e fecha-se, prega o amor mas é
individualista”, contudo, as pessoas interrogam-se “sobre o futuro do mundo,
sobre o destino da vida”.
E, como a 13 de outubro de 1917 se viram “uns flashes de luz, assim no coração dos homens começam a surgir as perguntas verdadeiramente importantes, a necessidade de verdade, a sede de amor e de bem”.
E, sobre o Coração Imaculado, o Cardeal Arcebispo de Génova sugere que fitemos o rosto de Maria assegurando que “no seu coração imaculado encontraremos o coração de Cristo, um rosto que une todos os nossos rostos”. E deseja que o nome de Jesus, “envolvido pelo nome de Maria”, como o Menino “foi envolvido pelas faixas em Belém”, ressoe neste recinto. Na verdade, “a partir do Seu nome cada um de nós sentirá pronunciar o seu próprio nome, sentirá a sua vida ser iluminada, a sua fé regenerada e a sua esperança reforçada”.
E, como a 13 de outubro de 1917 se viram “uns flashes de luz, assim no coração dos homens começam a surgir as perguntas verdadeiramente importantes, a necessidade de verdade, a sede de amor e de bem”.
E, sobre o Coração Imaculado, o Cardeal Arcebispo de Génova sugere que fitemos o rosto de Maria assegurando que “no seu coração imaculado encontraremos o coração de Cristo, um rosto que une todos os nossos rostos”. E deseja que o nome de Jesus, “envolvido pelo nome de Maria”, como o Menino “foi envolvido pelas faixas em Belém”, ressoe neste recinto. Na verdade, “a partir do Seu nome cada um de nós sentirá pronunciar o seu próprio nome, sentirá a sua vida ser iluminada, a sua fé regenerada e a sua esperança reforçada”.
Em
relação ao Sol de Cristo, o
Presidente da Celebração Eucarística diz que em Fátima brilha “a luz que brota
do seio da Virgem Santa: Jesus Cristo”. E garante que “nunca nos cansaremos de falar
de Jesus”. Isto, porque “Ele é o Filho de Deus vivo, o revelador do invisível,
o fundamento de todas as coisas”; porque “é o Mestre da humanidade, o Redentor”;
porque “é o segredo da história, é a chave dos nossos destinos, o Rei do mundo
novo”. E sobretudo porque Ele “nos conhece e ama, é o companheiro de estrada e
o amigo da nossa vida” e que há de vir como juiz misericordioso; e porque “é o
Pão que desceu do Céu, é a Fonte de água viva que sacia a nossa fome e a nossa
sede”.
***
Creio bem que não é fácil
produzir um discurso de síntese como o do Cardeal Bagnasco neste dia 13 de
junho. Está ali tudo: a Senhora que facilitou a encarnação do Verbo e O
envolveu em faixas para que o mudo O pudesse conhecer, ouvir e amar; a Mãe que
tem um coração semelhante ao do Filho e que para o coração deste pretende
conduzir os dos outros; a mensagem que, pelo arrependimento do facto de termos
alinhado em demasia pelo espírito do mundo e pela oração que nos leve a
contemplar o rosto de Deus e a fazer nossa a preocupação pela salvação temporal
e eterna dos homens, ressoa em nós como exigência perante de união à cruz de
Cristo; o incremento da fé viva e essencial que robusteça a esperança e frutifique
na abundância da caridade e na solidez da justiça.
De facto, a Mensagem de Fátima
“ilumina a fé, a vida da igreja e a história do mundo”. E é efetivamente a hora
de acordar para a profissão intrépida da fé e para a recuperação da humanidade
do Ocidente.
É a hora de,
levados por Maria ao coração da fé, nos decidirmos a ser, como cristãos e como Povo de Deus, testemunhas e
mensageiros do amor de Deus pelos homens e apresentadores e intérpretes junto de
Deus dos dramas da humanidade e dos erros dos homens sobre si mesmos, sobre os
demais e sobre o Planeta, cabendo-nos igualmente o papel de intercessores para
que o mundo creia e seja mais justo, livre, humano e fraterno.
Em Fátima
continua, pois, a brilhar o sol, a luz que brota do seio da Virgem Santa: Jesus
Cristo”, como concluiu o Cardeal Arcebispo de Génova.
Enfim, mais
um belo marco do Centenário fatimita e do Ano Jubilar Mariano!
2017.06.13 – Louro de Carvalho
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