O Dia de
Portugal 2017 foi comemorado oficialmente em três dias que se distribuíram por
Portugal e pelo Brasil, tradicionalmente considerado o país irmão.
Em Portugal,
o epicentro das comemorações foi a cidade do Porto, com a presença do
Presidente da República, 11 anos depois de a cidade ter acolhido as celebrações
oficiais; no Brasil, são cidades de referência as de São Paulo e do Rio de
Janeiro.
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O primeiro
momento do dia 9 foi a cerimónia do içar da Bandeira Nacional, às 10,30 horas
na Avenida dos Aliados. Nesse dia, Marcelo Rebelo de Sousa participou ainda em
mais seis atos públicos: visita às atividades militares complementares, pelas
11 horas; inauguração da exposição evocativa dos 500 anos do Foral Manuelino do
Porto, pelas 15 horas; visita à associação “Somos
Nós”, pelas 16 horas; participação na cerimónia de cumprimentos ao corpo diplomático,
pelas 19,30 horas; assistência ao concerto de órgão comemorativo do Dia de Portugal,
pelas 20,15 horas; e assistência ao fogo de artifício a partir do Terreiro da
Sé.
A cerimónia
militar do içar da Bandeira Nacional e prestação das honras militares pela
Guarda de honra, composta por cadetes da Academia da Força Aérea, decorreu
junto à estátua de Almeida Garrett. A seguir, foi a visita às atividades
militares complementares na Avenida dos Aliados, que até hoje, domingo dia 11,
esteve transformada num ‘quartel-general’ onde os três ramos das Forças Armadas
– Exército, Marinha e Força Aérea – mostraram capacidades e meios, desde um
F-16 a uma lancha anfíbia, passando por uma escalada ‘rappel’.
Na receção
ao Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas estiveram
presentes o Ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, o Presidente da
Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, o Presidente da Comissão Organizadora
das comemorações, o investigador patologista e Professor Doutor Sobrinho
Simões, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Artur Pina
Monteiro, os chefes do Estado-Maior da Força Aérea, Manuel Teixeira Rolo, do
Exército, Frederico José Rovisco Duarte, da Armada, António Silva Ribeiro e o
chefe do protocolo do Estado, António Almeida Lima.
O almoço
comemorativo do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades decorreu no Palácio
da Bolsa, com a participação do Chefe de Estado, do Presidente da Câmara
Municipal, do Presidente Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades e do Decano do Corpo Diplomático,
Monsenhor Rino Passigato, entre outros.
A seguir ao
almoço, Marcelo Rebelo de Sousa visita visitou, na Casa do Infante (centro
histórico), a exposição “O foral do Porto. 1517-2017. Marca de um rei, imagem de uma cidade”,
que assinala os 500 anos do Foral Manuelino da cidade.
Uma hora
mais tarde, o Presidente da República e Chefe de Estado era esperado pela associação
“Somos Nós” para uma visita guiada às
instalações desta IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) criada em 2006 por iniciativa de pais e amigos de
jovens adultos portadores de deficiência mental, com vista à sua autonomia e
integração após o fim do percurso escolar. Nesta associação – situada na conhecida
zona da Pasteleira (zona ocidental do Porto) e que pretende desenvolver a “autonomia” daqueles jovens nas suas
diversas vertentes, nomeadamente de convivência, sociabilização, atividades
funcionais e integração na comunidade e proporcionar-lhes “alternativas
profissionais” – Marcelo assistiu a aulas de teatro, sobre “treino do euro” e
de culinária, bem como à plantação de uma árvore.
É de referir
que a predita IPSS pretende, também “sensibilizar e corresponsabilizar a
sociedade e o Estado na resolução dos problemas dos cidadãos com deficiência e
suas famílias”, bem como “na defesa e promoção dos reais interesses e
necessidades dos deficientes nas instituições, no trabalho, no lar e
sociedade”.
Pelas 17
horas, ocorreu a habitual reunião semanal entre o Presidente e o Primeiro-Ministro,
António Costa, na Casa do Roseiral, para cumprimento do teor da alínea c) do
n.º 1 do art.º 201.º da CRP. E, pelas 19,30 horas no Paço Episcopal, junto à Sé
Catedral, teve lugar a apresentação de cumprimentos pelo Corpo Diplomático
acreditado em Portugal ao Presidente da República, tendo, à chegada de Marcelo
Rebelo de Sousa, a Orquestra do Conservatório de Música do Porto executado o
hino nacional.
Às 20,15
horas o Chefe de Estado assistiu, na Sé Catedral do Porto, à cerimónia de
boas-vindas, que contou com uma intervenção do Presidente da Câmara Municipal do
Porto, e ao Concerto de órgão “Hino a
Portugal”, comemorativo do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Depois de um
jantar volante nos Claustros da Sé, o Presidente assistiu ao fogo de artifício
no Terreiro da Sé.
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No dia 10, cerca de 1500 militares dos três ramos das Forças
Armadas deram início, pelas 9,15 horas, no cais do Molhe, à cerimónia militar
comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com as avenidas
da marginal do Porto fechadas ao trânsito e o navio patrulha oceânico “Figueira
da Foz” ao largo da praia do Molhe.
Durante a
cerimónia militar, teve lugar o discurso do Presidente da Comissão Organizadora,
o professor e investigador Manuel Sobrinho Simões, e o do Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A cerimónia,
cuja conclusão ocorreu pelas 12 horas, incluiu ainda Honras Militares, a
Revista às Tropas em Parada, a Homenagem aos Mortos em Combate, a Imposição de
Condecorações Militares e o Desfile das Forças em Parada nas avenidas Brasil e
Montevideu.
Durante a
cerimónia, depois dos aludidos discursos, o Chefe de Estado condecorou um
sargento-chefe da Força Aérea, um capitão-tenente da Marinha e um 1.º cabo do
Exército.
António
Ribeiro Barreiros, sargento-chefe da Polícia Aérea, recuperador salvador em
missões de helicóptero EH-101, com mais de 30 anos de serviço, foi condecorado
com a Medalha de Serviços Distintos, grau prata, “pela sua carreira e pelas
missões de salvamento de vidas humanas”. O capitão-tenente Mário Cortes Sanches,
oficial imediato da fragata “Vasco da Gama”, recebeu a Medalha de Mérito
Militar, 2.ª classe, pelo seu contributo “para o sucesso do planeamento das
operações correntes da atividade das forças e unidades navais, de fuzileiros e
de mergulhadores, muito em concreto para as operações Indalo e Triton, para
controlo do fluxo de migrantes na bacia do Mediterrâneo”, da agência europeia
Frontex. E o 1.º cabo Tiago Silva Portela, do 1.º Batalhão de Infantaria Mecanizada
Rodas, recém-chegado de missão da NATO no Kosovo, recebeu a Medalha
de Mérito Militar, de 4.ª classe, pela “forma cuidada e atenta, especialmente
nas condições difíceis” no desempenho da sua função de condutor de viatura
blindada de rodas Pandur.
O desfile da parada militar contou com
75 viaturas militares e um desfile aéreo, com 11 aeronaves – um C-130, um
C-295, quatro Alfajet e quatro F-16, que sobrevoaram os céus do Porto no
sentido sul-norte (Porto/Matosinhos). E constou da apresentação dos meios da
Componente Naval fundeados e os desfiles Motorizado, do Bloco de Estandartes
Nacionais, dos Antigos Combatentes, das Forças Apeadas, das Forças da
Componente Operacional, da Força a Cavalo e da Componente Aérea, já referida.
Segundo o porta-voz das Forças Armadas,
Helder Perdigão, pela 1.ª vez, as comemorações militares do 10 de junho contaram
com a presença de 25 cavalos: 9 da Escola das Armas, em Mafra, e 16 do Colégio
Militar.
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No seu discurso, o Chefe de Estado
defendeu a necessidade do combate à pobreza, da superação da injustiça, da
promoção do conhecimento e do abraçar a pátria, aclamando um país
“independente” e “livre da sujeição” – um país deveras “independente do atraso,
da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida da sujeição; e livre da
prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo”.
E, para lograr as tão desejadas
independência e liberdade, sendo o 10 de junho também o dia de Camões, Marcelo
apelou à união da “cultura ancestral” e da “antecipação do futuro”, destacando
a nossa língua, educação, ciência, inovação e conhecimento.
No discurso de cerca de 5 minutos, houve
lugar a uma palavra especial às comunidades portuguesas da diáspora,
comunidades “desse outro Portugal que nos faz universais”, que devem estar “mais
presentes”: “nas nossas leis, nas nossas decisões coletivas, na nossa economia,
mas sobretudo na nossa alma”.
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A seguir às
cerimónias do Porto, Marcelo
partiu para o Brasil, onde, à noite, em São Paulo, se encontrou com a
comunidade portuguesa.
Este é o
segundo ano em que o programa de comemorações do Dia de Portugal, de Camões e
das Comunidades Portuguesas é repartido entre o território nacional e um país
estrangeiro. No ano passado, as celebrações realizaram-se pela 1.ª vez em
França, junto das comunidades emigrantes na região de Paris, e contaram com a
participação do então Presidente francês, François Hollande. Tanto a Presidência
da República como o Governo têm procurado salientar que este ano, no Brasil, o
programa estará centrado nas comunidades e na cultura portuguesa, estando assim
em segundo plano as relações bilaterais do ponto de vista
político-institucional.
Segundo a
agência Lusa, a mais alta autoridade
brasileira cuja presença consta do programa de comemorações do 10 de Junho no
Brasil é o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que esteve hoje de
manhã na assinatura de dois acordos com o Estado Português: o primeiro para o
fornecimento de conteúdos para o Museu da Língua Portuguesa; e o segundo para a
construção da Escola Portuguesa de São Paulo.
O único
ponto do programa da noite do dia 10 em São Paulo foi uma receção à comunidade
portuguesa de São Paulo, seguida dum espetáculo pela fadista Gisela João, com a
presença do prefeito da maior cidade brasileira, João Dória, tal como Geraldo
Alckmin, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).
No atinente
à representação institucional portuguesa, António Costa está acompanhado pelos
ministros da Defesa, da Educação e pelo Secretário de Estado das Comunidades (José L.
Carneiro).
Com o chefe
de Estado viajou uma delegação institucional em representação da Assembleia da
República, dela fazendo parte os deputados Carlos Páscoa (PSD), João Paulo Correia (PS), Jorge Campos (Bloco de Esquerda), Telmo
Correia (CDS-PP) e António Filipe (PCP).
No final das
comemorações, hoje, ao fim da tarde, no Rio de Janeiro, o Presidente regressa a
Portugal, depois de se avistar com a comunidade portuguesa, enquanto o
Primeiro-Ministro inicia visitas oficiais à Argentina e Chile, permanecendo
dois dias em cada um destes países.
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Portugal é um dos poucos países que dedica o seu dia nacional
a uma data relacionada com a Cultura, dia apontado para a morte de Camões e não
a um facto da sua História política.
Assinala-se
o 10 de junho como “ O Dia de Portugal,
de Camões e das Comunidades Portuguesas” desde 1977, depois de, no Estado
Novo, com Salazar, ter sido o Dia da Raça.
A 1.ª
referência legal que declara “Dia de Festa
Nacional e de Grande Gala” o 10 de junho remonta a 27 de abril de 1880 – um
decreto das Cortes Reais em que o rei Dom Luís I acedeu a que se assinalassem
os 300 anos da data apontada pelos historiadores para a morte de Luís de
Camões, 10 de junho de 1580. Após a queda da Monarquia e a implantação da
República, em 1919, na primeira lista de feriados nacionais elaborada pelo Governo,
não aparece ainda o 10 de junho, mas o decreto 17.171, de 29 de agosto de 1919,
consagrava-o como feriado.
Depois
do golpe do 28 de maio de 1926, as celebrações passam a ter especial ênfase
como Dia da Raça (a raça
lusa). Porém, em 2008, quando
Cavaco Silva utilizou a palavra raça e a polémica voltou, com o Bloco de
Esquerda a criticar o Presidente por usar a “pior imagética” do Estado Novo. Ao
comentar uma paralisação de camionistas, Cavaco disse:
“Hoje eu
tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o dia de Portugal,
de Camões e das Comunidades Portuguesas”.
Apesar
de já ser assinalado pelos portugueses, o Dia de Portugal surge fixado como 10
de junho num decreto-lei de 4 de janeiro de 1952. Mas a revolução nascida do 25
de abril de 1974 riscou a comemoração do Dia da Raça; e o Dia de Camões passa a
ganhar relevância – afinal, durante o Estado Novo, os meios oposicionistas utilizaram
Camões como “bandeira” e símbolo. E o Dia de Portugal chegou a ser comemorado
no dia 25 de abril.
Entretanto,
em 1977, pelo Decreto-lei n.º 80/77, de 4 de março, foi reconsagrado o
significado do 10 de Junho como “representação do Dia de Portugal, como harmoniosa síntese da Nação Portuguesa, das
comunidades lusitanas espalhadas pelo Mundo e da emblemática figura do épico
genial”. Ficou, assim, batizado o “Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. E, a partir desse ano
de 1977, com o reforço dado pelo Decreto-lei n.º 39-B/78, de 2 de março, as
comemorações oficiais passaram a ter sede em várias cidades do país, de
Bragança a Faro, de Portalegre aos Açores. E, em 2016, Rebelo de Sousa,
estreou-se nas comemorações do 10 de Junho, que, pela 1.ª vez, se fizeram em
Lisboa e no estrangeiro – em Paris, França – escorado pelo art.º 4.º do
Decreto-Lei n.º 20-A/2016, de 27 de abril (diploma para fazer a vontade ao Presidente), que estabelece:
“A sede das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Portuguesas é estabelecida no local que, em cada ano, for designado pelo
Presidente da República”.
Este
ano, as cerimónias são repartidas entre o Porto, Rio de Janeiro e São Paulo, no
Brasil, e, em 2018, Marcelo já anunciou que estará nos Estados Unidos, com a
comunidade portuguesa.
E a
memória de Camões e o que ela significa, bem como o afã luso pela diáspora
merecem-no!
2017.06.11 – Louro de Carvalho
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