quinta-feira, 1 de junho de 2017

Em Dia Mundial da Criança nem tudo são rosas

Celebra-se hoje, dia 1 de junho, o Dia Mundial da Criança e os famosos não deixam passar em branco a data. São várias as caras conhecidas que logo de manhã assinalaram a efeméride nas redes sociais, partilhando a fotografia dos filhos ou recordando a própria infância juntos dos fãs.
Mas nem só os famosos evocam o dia com fotografias e recordações de infância. Também as pessoas comuns – pais, avós e outros familiares e amigos – lançam mão de vários expedientes para lembrar às crianças das suas relações quanto gostam delas e avivarem os propósitos que fazem de lhes garantirem um futuro ainda mais risonho que aquele que os nossos maiores nos legaram. De entre as iniciativas que se organizaram a nível nacional, em escolas e autarquias, a comunicação social releva 10 programas, de que se dá conta a seguir.
Capitão Cuecas. Dos criadores do Shrek, Madagascar e Panda do Kung Fu, chegou hoje a todas as salas de cinema, em Portugal. Entre gargalhadas, animação e muita aventura, os mais novos podem conhecer este novo super-herói no dia em que eles são os maiores protagonistas.
Jardim Zoológico, Lisboa. A partir de 1 de junho até ao dia 3, celebra o Dia Mundial da Criança com várias atividades especialmente pensadas para as suas pequenas crias. Entre mespéctaculos, workshops e pinturas faciais por cada bilhete de criança (dos 3 aos 12 anos) comprado nas bilheteiras, recebe-se um voucher para uma volta no Carrossel do Zoo.
Jardim de Encantar no Areeiro, Lisboa. O Jardim Fernando Pessoa deixa para o fim de semana o Dia Mundial da Criança para festejar sem horários e pressas. Das 11 horas às 18, há várias peças de teatro, espetáculos de circo e de fantoches, caças ao tesouro, insufláveis, piscinas de bolas; e, às 21 horas, terminará o dia com sessão de cinema ao ar livre para visualização do filme Um Porquinho Chamado Babe
Cinemateca Júnior, Lisboa. Preparou sessões de cinema para pequenos e graúdos. A casa mais nobre de cinema de Portugal passou alguns dos grandes clássicos dos filmes infantis. Às 10,30 horas começou a sessão Silly Symphonies da Walt Disney que inclui vários pequenos filmes (como os Três Porquinhos e o Velho e o Moinho) da produtora de filmes de crianças mais conhecida do mundo. Da parte da tarde, com início às 14,30 horas, a cinemateca passou a primeira versão italiana, legendada em português, das Aventuras de Pinóquio (1972).
Concentra Family Play, Sintra. De 27 de maio a 4 de junho, o Forum Sintra criou um espaço interativo para toda a família celebrar a efeméride. Com entrada gratuita, o Concentra Family Play tem dezenas de jogos com gargalhadas e muita brincadeira para todas as gerações. Tiro ao alvo e puzzles gigantes são algumas das atividades que podem experimentar os mais novos. A idade mínima é de três anos. O espaço está na Praça Central e funciona das 11 horas às 13 e das 14 às 19 aos fins de semana e das 16 horas às 20 de segunda a sexta-feira.
Festival de Marionetas, Oeiras. De 1 a 4 de junho, Oeiras recebe pelo segundo ano consecutivo o Festival de Marionetas, que reúne companhias profissionais do Norte e Sul de Portugal, de Espanha e do Reino Unido. Os espetáculos são gratuitos e estão previstas atuações de marionetas em diferentes técnicas. Entre estas, encontram-se ações de vara, teatro objetos e marioneta humana.
Parque Marechal Carmona, Cascais. A 4 de junho, em Cascais, o Dia Mundial da Criança festeja-se da praia na Baía até ao Parque Marechal Carmona, das 10 horas às 18. Pensada para idades entre  os 3 e os 12 anos e respetivas famílias, a entrada é gratuita e poderão participar em vários ateliês dedicados à atividade física e desportiva, ao jogo e recreio, ao ambiente, à música, à leitura, à pintura, à criatividade, à ciência, à prevenção da obesidade infantil e adoção de hábitos alimentares salutares – podendo ainda assistir a diversas atuações no palco principal e interagir com os vários grupos de animação de rua.
Serralves em Festa, Porto. De 2 a 4 de junho, o Norte viverá 50 horas de centenas de atividades consecutivas para festejar com os mais novos. Das 8 horas de sexta-feira até às 0 horas de domingo, a festa não para no Parque e Jardim da Fundação de Serralves. A entrada também é gratuita, mas a programação é surpresa.
NOS Primavera Sound, Porto. Celebra o Dia Mundial da Criança de 1 a 4 de junho. No primeiro dia, o festival mais cool do Norte abre com o projeto Mão Verde, de Capicua e Pedro Geraldes, seguindo-se Throes + The Shine, no dia 2, e a comemoração dos 50 anos de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, com uma “Beatle Battle”, no dia 4. O Palco Mini Nos terá lugar nos Jardins do Palácio de Cristal e promete 4 dias únicos cheios de música, boa disposição e muita dança.
Cinema no Espaço Guimarães, Guimarães. No dia 1 de Junho, proporciona 3 sessões de cinema gratuitas: às 11 horas, 15 horas e 21 horas. O filme em exibição é o OZZY, que conta a história das aventuras dum cão a precisar da ajuda de vários amigos para voltar para casa. 
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Mas nem tudo são rosas. Além de não se destacarem atividades significativas em importantes zonas do interior, sabemos que muitas crianças sofrem a pobreza de recursos, mas nem sempre a penúria de meios modernos tornados alienação, como telemóveis, tablet, Ipad, etc. E, no resto do mundo, muitas vivem não só a pobreza, mas a miséria, a exploração e o descarte.
Todavia, merece referência e reflexão o que se passa com alguns casos de adoção de crianças.
Segundo o que noticia o jornal Público, que cita uma resposta do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social dada ao BE (Bloco de Esquerda), entre o dia 1 de agosto de 2015 e o dia 31 de agosto de 2016, foram devolvidas 43 crianças pelos candidatos a pais adotivos, ou seja, já na fase de pré-adoção ou regime experimental. Dessas 43 crianças, de acordo com a resposta dada pelo referido Ministério ao requerimento da deputada bloquista Sandra Cunha, 20 tinham até dois anos de idade, duas apresentavam problemas graves de saúde e seis problemas ligeiros, sendo saudáveis todas as outras.
O Relatório CASA 2015, do ISS (Instituto de Segurança Social), revela que, nesse ano, terão sido devolvidas 26 crianças, enquanto o de 2016 refere a reentrada no sistema de 36 crianças.
Recorde-se que o período experimental tem a duração de seis meses e se inicia após concluídos os contactos para garantir que pais e filhos adotivos se conhecem e se aceitam.
O elevado número de crianças devolvidas às instituições ou famílias de acolhimento por parte dos candidatos à adoção veio reforçar a preocupação do BE sobre a forma como o processo é conduzido e monitorizado. Falha da lei ou da aplicação? Sandra Cunha, a este respeito, afirmou:
“Ou há aqui um engano ou alguma coisa vai muito mal no matching que é feito entre os candidatos e as crianças”.
E, em declarações à TSF, Sandra Cunha sustenta que “continua a existir o problema do acompanhamento na fase de pré-adoção”, que não se faz da forma que se devia fazer. A deputada bloquista frisa que “os técnicos da Segurança Social não conseguem fazer milagres, estão integrados em equipas reduzidíssimas e não conseguem fazer face aos pedidos todos”.
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Outra situação a lamentar é o facto de uma em cada quatro famílias não revelar aos filhos que foram adotados. É uma conclusão de um estudo realizado pela Universidade do Porto realizado com 120 famílias adotivas que mostra que 26% dos pais optam por não contar à criança que esta foi adotada – reflexo duma comunicação fechada que tem a adoção como um segredo familiar.
No “IPA – Investigação sobre o Processo da Adoção – Perspetivas de pais e filhos”, estudo que envolveu crianças entre os 5 e os 15 anos e onde foram entrevistados os pais, os avós e os filhos, os resultados também revelam que 41% destas famílias “simplesmente revelam a adoção”, enquanto 33% têm uma comunicação aberta e frequente sobre este tópico. Maria Barbosa-Ducharne, a coordenadora daquele projeto desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, referiu à agência Lusa que “a qualidade do ambiente familiar é essencial para o desenvolvimento emocional das crianças adotadas”, sendo a comunicação “amplamente reconhecida” um fator determinante dessa qualidade.
Segundo a investigadora, as crianças devem saber pelos pais que são adotadas, “no contexto de uma relação afetiva, calorosa, segura, de confiança e onde se sintam à vontade para colocar dúvidas e exprimir as suas emoções”. E isso não “depende da quantidade de informação sobre o passado da criança”, como bem referiu ela, acrescentando que se pode “falar do que se sabe, mas também do que não se sabe, quando a procura pelas respostas é feita em família”. No entanto, verifica-se que a revelação parece ser espoletada “pela entrada na escola”, quiçá pelo “receio de que a criança venha a saber por outros da sua adoção”.
Também – diz a investigadora – os avós são importantes para uma comunicação positiva no ambiente familiar, para lá de serem “figuras fundamentais no apoio às famílias”, dado ser a eles que os pais recorrem, “muitas vezes”, para cuidarem dos filhos enquanto trabalham e para os irem buscar à escola. Diz a mesma especialista:
“Tal como nessas famílias não adotivas, nas adotivas, em certos momentos do desenvolvimento dos netos, os avós vão desempenhando papéis específicos – muitas vezes na adolescência quando há algumas situações de crise, de conflito e de atrito com os pais, os jovens encontram nos avós uma figura que os apoia e os ouve e com quem podem partilhar as dificuldades que têm”.
No dizer de Barbosa-Ducharne, os resultados mostram o relevo da preparação dos candidatos à adoção para a parentalidade adotiva e que a comunicação é um “processo desenvolvimental”, que não se inicia apenas quando a criança chega a casa, mas que evoluiu ao longo de todo o processo, desde o momento da tomada de decisão em adotar e durante toda a vida da família adotiva. Desde 2009, todos os candidatos que se propõem à adoção têm oportunidade de fazer uma formação específica nesta área. Na verdade, uma família adotiva é, antes de mais, uma família, mas tem esta especificidade. Por isso, tem que fazer tudo o que as outras fazem e mais algumas coisas, por exemplo: lidar com a história da vida da criança, ter competências para compreender as dificuldades emocionais e relacionais, etc.
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A outra face da moeda é que em dois anos houve 24 crianças adotadas no estrangeiro. Em França e Espanha são sobretudo os emigrantes a procurar crianças portuguesas. Neste momento, há 35 candidaturas de fora.
Duas irmãs, uma com 6 anos, outra com 13 (esta com défice cognitivo acentuado) estavam numa instituição há anos por terem perdido os pais. Foram consideradas aptas para a adoção internacional depois de se terem esgotado as opções em Portugal: havia sempre candidatos para a menina mais nova e nenhum para a mais velha. Porém, segundo Fátima Duarte, técnica da CNPDPCJ (Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens), “acabaram por ser adotadas por um casal residente no estrangeiro”.
Como essas duas meninas, têm sido às dezenas os menores que vão ter uma segunda vida fora do país. Só nos últimos dois anos 24 crianças portuguesas retiradas aos pais pelos tribunais e institucionalizadas, foram adotadas por famílias residentes no estrangeiro. Em França e Espanha, os adotantes foram sobretudo casais emigrantes portugueses, mas também houve candidatos da Bélgica, Itália e Holanda, segundo o ISS (Instituto de Segurança Social).
E o interesse é cada vez maior: atualmente são 35 as candidaturas formalizadas junto da Autoridade Central para a Adoção Internacional portuguesa de candidatos à adoção internacional residentes no estrangeiro. Em 2016, foram formalizadas 18 candidaturas de candidatos residentes no estrangeiro: 7 da Holanda, 6 de França, 4 de Itália e uma da Bélgica.
Em 2015 foram dez as crianças residentes em Portugal integradas em famílias residentes no estrangeiro. Em 2016, esse número aumentou e foram 16 as crianças portuguesas a serem adotadas por casais de outros países europeus. A fonte oficial do ISS refere:
“As crianças portuguesas adotadas por famílias residentes no estrangeiro são-no por terem sido sinalizadas pelas equipas de adoção, por não terem sido encontrados em Portugal candidatos cujas capacidades respondam às suas necessidades particulares de adoção. Todas elas se caraterizam por se afastarem das pretensões maioritárias dos candidatos residentes em Portugal. São "crescidas", padecem de algum problema de saúde/desenvolvimento ou comportamento ou estão integradas em grupos de irmãos (fratrias).”.
São, sobretudo, crianças até aos 9 anos com problemas de saúde ou integradas em fratrias ou crianças dos 10 aos 15 anos sem problemas de saúde. Fátima Duarte explicita que, “quando há fratrias de 2 ou 3 irmãos, é muito difícil conseguir-lhes pais adotivos”. Mesmo assim, a técnica da CNPCJR (Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco) recorda casos felizes, como aqueles três irmãos, dos 7 aos 13 anos, que foram para um lar de infância e juventude depois de a mãe morrer subitamente, ainda muito nova. O pai dos miúdos já estava divorciado, não tinha condições para ficar com eles e não se conseguiu mais ninguém. Restava-lhes ficar no lar até terem 17/18 anos. E um casal português que vivia no Luxemburgo adotou os três.
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Por mais que se diga e se faça, ao lado de muitas pessoas que, abnegada e dedicadamente, se entregam ao bem dos outros, no caso vertente pelo amor paternal/maternal pelas crianças, há um conjunto de pessoas que pretendem ter filhos. Porém, intentam-no para suprir lacunas ou frustrações resultantes, por exemplo, da incapacidade biológica, sua ou do seu par, para a parentalidade, exercício de vida solitária e sem sentido. Porém, por vezes, quando o trabalho aperta, o apoio se torna mais necessário ou a resistência se torna quase invencível, faltam as forças, sucumbe a generosidade, desfaz-se o encantamento. Esquecem-se de que a vida é habitualmente dura e bem dura e só quando a enfrentamos de pé é que ela se torna bela.
Quanto ao encobrimento do facto da adoção, é de ter em conta que a situação de vida de mentira nunca é boa conselheira. Há que, a seu tempo, mas quanto antes e de forma verdadeiramente pedagógica (talvez em regime de progressividade), contar a verdade.
E é de notar que a relação estabelecida com a adoção implica o cuidado, o denodo, avessos ao desleixo ou ao abandono dos filhos, que o são ou estão para o ser.

2017.06.01 – Louro de Carvalho     

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