Celebra-se
hoje, dia 1 de junho, o Dia Mundial da
Criança e os famosos não deixam passar em branco a data. São várias as
caras conhecidas que logo de manhã assinalaram a efeméride nas redes sociais,
partilhando a fotografia dos filhos ou recordando a própria infância juntos dos
fãs.
Mas nem só os
famosos evocam o dia com fotografias e recordações de infância. Também as pessoas
comuns – pais, avós e outros familiares e amigos – lançam mão de vários
expedientes para lembrar às crianças das suas relações quanto gostam delas e avivarem
os propósitos que fazem de lhes garantirem um futuro ainda mais risonho que
aquele que os nossos maiores nos legaram. De entre as iniciativas que se
organizaram a nível nacional, em escolas e autarquias, a comunicação social
releva 10 programas, de que se dá conta a seguir.
– Capitão Cuecas. Dos criadores do Shrek,
Madagascar e Panda do Kung Fu, chegou hoje a todas as salas de cinema, em Portugal.
Entre gargalhadas, animação e muita aventura, os mais novos podem conhecer este
novo super-herói no dia em que eles são os maiores protagonistas.
– Jardim Zoológico, Lisboa. A partir de 1 de
junho até ao dia 3, celebra o Dia Mundial
da Criança com várias atividades especialmente pensadas para as suas
pequenas crias. Entre mespéctaculos,
workshops e pinturas faciais por cada
bilhete de criança (dos 3
aos 12 anos) comprado
nas bilheteiras, recebe-se um voucher
para uma volta no Carrossel do Zoo.
– Jardim de Encantar no Areeiro, Lisboa. O
Jardim Fernando Pessoa deixa para o fim de semana o Dia Mundial da Criança para festejar sem horários e pressas. Das 11
horas às 18, há várias peças de teatro, espetáculos de circo e de fantoches,
caças ao tesouro, insufláveis, piscinas de bolas; e, às 21 horas, terminará o
dia com sessão de cinema ao ar livre para visualização do filme Um Porquinho Chamado Babe.
– Cinemateca Júnior, Lisboa. Preparou
sessões de cinema para pequenos e graúdos. A casa mais nobre de cinema de
Portugal passou alguns dos grandes clássicos dos filmes infantis. Às 10,30
horas começou a sessão Silly Symphonies
da Walt Disney que inclui vários pequenos filmes (como os Três Porquinhos e o Velho e o
Moinho) da produtora
de filmes de crianças mais conhecida do mundo. Da parte da tarde, com início às
14,30 horas, a cinemateca passou a primeira versão italiana, legendada em
português, das Aventuras de Pinóquio
(1972).
– Concentra Family Play, Sintra. De 27 de
maio a 4 de junho, o Forum Sintra criou um espaço interativo para
toda a família celebrar a efeméride. Com entrada gratuita, o Concentra Family Play tem dezenas de
jogos com gargalhadas e muita brincadeira para todas as gerações. Tiro ao alvo
e puzzles gigantes são algumas das atividades que podem experimentar os mais
novos. A idade mínima é de três anos. O espaço está na Praça Central e
funciona das 11 horas às 13 e das 14 às 19 aos fins de semana e das 16 horas às
20 de segunda a sexta-feira.
– Festival de Marionetas, Oeiras. De 1 a 4
de junho, Oeiras recebe pelo segundo ano consecutivo o Festival de Marionetas, que reúne companhias profissionais do Norte
e Sul de Portugal, de Espanha e do Reino Unido. Os espetáculos são gratuitos e
estão previstas atuações de marionetas em diferentes técnicas. Entre estas,
encontram-se ações de vara, teatro objetos e marioneta humana.
– Parque Marechal Carmona, Cascais. A 4 de
junho, em Cascais, o Dia Mundial da
Criança festeja-se da praia na Baía até ao Parque Marechal Carmona,
das 10 horas às 18. Pensada para idades entre os 3 e os 12
anos e respetivas famílias, a entrada é gratuita e poderão participar em vários
ateliês dedicados à atividade física e desportiva, ao jogo e recreio, ao
ambiente, à música, à leitura, à pintura, à criatividade, à ciência, à
prevenção da obesidade infantil e adoção de hábitos alimentares salutares –
podendo ainda assistir a diversas atuações no palco principal e interagir
com os vários grupos de animação de rua.
– Serralves em Festa, Porto. De 2 a 4 de
junho, o Norte viverá 50 horas de centenas de atividades consecutivas para
festejar com os mais novos. Das 8 horas de sexta-feira até às 0 horas de
domingo, a festa não para no Parque e Jardim da Fundação de Serralves. A
entrada também é gratuita, mas a programação é surpresa.
– NOS Primavera Sound, Porto. Celebra o Dia Mundial da Criança de 1 a 4 de
junho. No primeiro dia, o festival mais cool do Norte abre com o projeto Mão Verde, de Capicua e Pedro Geraldes,
seguindo-se Throes + The Shine, no
dia 2, e a comemoração dos 50 anos de “Sgt.
Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, com uma “Beatle Battle”, no dia 4. O Palco Mini Nos terá lugar nos Jardins do Palácio
de Cristal e promete 4 dias únicos cheios de música, boa disposição e muita
dança.
– Cinema no Espaço Guimarães, Guimarães.
No dia 1 de Junho, proporciona 3 sessões de cinema gratuitas: às 11 horas, 15
horas e 21 horas. O filme em exibição é o OZZY,
que conta a história das aventuras dum cão a precisar da ajuda de vários amigos
para voltar para casa.
***
Mas nem tudo
são rosas. Além de não se destacarem atividades significativas em importantes
zonas do interior, sabemos que muitas crianças sofrem a pobreza de recursos,
mas nem sempre a penúria de meios modernos tornados alienação, como telemóveis,
tablet, Ipad, etc. E, no resto do mundo, muitas vivem não só a pobreza, mas a
miséria, a exploração e o descarte.
Todavia, merece
referência e reflexão o que se passa com alguns casos de adoção de crianças.
Segundo o que
noticia o jornal Público, que cita
uma resposta do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social dada
ao BE (Bloco de Esquerda), entre o dia 1 de agosto de 2015 e
o dia 31 de agosto de 2016, foram devolvidas 43 crianças pelos candidatos a
pais adotivos, ou seja, já na fase de pré-adoção ou regime experimental. Dessas
43 crianças, de acordo com a resposta dada pelo referido Ministério ao
requerimento da deputada bloquista Sandra Cunha, 20 tinham até dois anos de
idade, duas apresentavam problemas graves de saúde e seis problemas ligeiros, sendo
saudáveis todas as outras.
O Relatório CASA 2015, do ISS (Instituto de Segurança Social), revela que, nesse ano, terão sido
devolvidas 26 crianças, enquanto o de 2016 refere a reentrada no sistema de 36
crianças.
Recorde-se
que o período experimental tem a duração de seis meses e se inicia após
concluídos os contactos para garantir que pais e filhos adotivos se conhecem e
se aceitam.
O elevado
número de crianças devolvidas às instituições ou famílias de acolhimento por
parte dos candidatos à adoção veio reforçar a preocupação do BE sobre a forma
como o processo é conduzido e monitorizado. Falha da lei ou da aplicação? Sandra
Cunha, a este respeito, afirmou:
“Ou há aqui um engano ou alguma coisa
vai muito mal no matching que é feito
entre os candidatos e as crianças”.
E, em
declarações à TSF, Sandra Cunha sustenta que “continua a existir o problema do
acompanhamento na fase de pré-adoção”, que não se faz da forma que se devia
fazer. A deputada bloquista frisa que “os técnicos da Segurança Social não
conseguem fazer milagres, estão integrados em equipas reduzidíssimas e não
conseguem fazer face aos pedidos todos”.
***
Outra situação a lamentar é o facto de uma em cada
quatro famílias não revelar aos filhos que foram adotados. É uma conclusão de
um estudo realizado pela Universidade do Porto realizado com 120 famílias
adotivas que mostra que 26% dos pais optam por não contar à criança que esta
foi adotada – reflexo duma comunicação fechada que tem a adoção como um segredo
familiar.
No “IPA – Investigação
sobre o Processo da Adoção – Perspetivas de pais e filhos”, estudo que
envolveu crianças entre os 5 e os 15 anos e onde foram entrevistados os pais,
os avós e os filhos, os resultados também revelam que 41% destas famílias
“simplesmente revelam a adoção”, enquanto 33% têm uma comunicação aberta e
frequente sobre este tópico. Maria Barbosa-Ducharne, a coordenadora daquele
projeto desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade do Porto, referiu à agência Lusa
que “a qualidade do ambiente familiar é essencial para o desenvolvimento emocional
das crianças adotadas”, sendo a comunicação “amplamente reconhecida” um fator
determinante dessa qualidade.
Segundo a investigadora, as crianças devem saber pelos pais
que são adotadas, “no contexto de uma relação afetiva, calorosa, segura, de confiança
e onde se sintam à vontade para colocar dúvidas e exprimir as suas emoções”. E
isso não “depende da quantidade de informação sobre o passado da criança”, como
bem referiu ela, acrescentando que se pode “falar do que se sabe, mas também do
que não se sabe, quando a procura pelas respostas é feita em família”. No entanto,
verifica-se que a revelação parece ser espoletada “pela entrada na escola”,
quiçá pelo “receio de que a criança venha a saber por outros da sua adoção”.
Também – diz a investigadora – os avós são importantes para
uma comunicação positiva no ambiente familiar, para lá de serem “figuras fundamentais
no apoio às famílias”, dado ser a eles que os pais recorrem, “muitas vezes”,
para cuidarem dos filhos enquanto trabalham e para os irem buscar à escola. Diz
a mesma especialista:
“Tal como
nessas famílias não adotivas, nas adotivas, em certos momentos do
desenvolvimento dos netos, os avós vão desempenhando papéis específicos –
muitas vezes na adolescência quando há algumas situações de crise, de conflito
e de atrito com os pais, os jovens encontram nos avós uma figura que os apoia e
os ouve e com quem podem partilhar as dificuldades que têm”.
No dizer de Barbosa-Ducharne, os resultados mostram o relevo
da preparação dos candidatos à adoção para a parentalidade adotiva e que a
comunicação é um “processo desenvolvimental”, que não se inicia apenas quando a
criança chega a casa, mas que evoluiu ao longo de todo o processo, desde o
momento da tomada de decisão em adotar e durante toda a vida da família
adotiva. Desde 2009, todos os candidatos que se propõem à adoção têm
oportunidade de fazer uma formação específica nesta área. Na verdade, uma
família adotiva é, antes de mais, uma família, mas tem esta especificidade. Por
isso, tem que fazer tudo o que as outras fazem e mais algumas coisas, por
exemplo: lidar com a história da vida da criança, ter competências para
compreender as dificuldades emocionais e relacionais, etc.
***
A outra
face da moeda é que em dois anos houve 24 crianças adotadas no estrangeiro. Em França e Espanha são sobretudo os
emigrantes a procurar crianças portuguesas. Neste momento, há 35 candidaturas
de fora.
Duas irmãs, uma com 6 anos, outra com 13 (esta com défice cognitivo acentuado) estavam numa instituição há anos
por terem perdido os pais. Foram consideradas aptas para a adoção internacional
depois de se terem esgotado as opções em Portugal: havia sempre candidatos para
a menina mais nova e nenhum para a mais velha. Porém, segundo Fátima Duarte,
técnica da CNPDPCJ (Comissão
Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens), “acabaram por ser adotadas por um
casal residente no estrangeiro”.
Como essas duas meninas, têm sido às dezenas os menores que
vão ter uma segunda vida fora do país. Só nos últimos dois anos 24 crianças
portuguesas retiradas aos pais pelos tribunais e institucionalizadas, foram
adotadas por famílias residentes no estrangeiro. Em França e Espanha, os
adotantes foram sobretudo casais emigrantes portugueses, mas também houve
candidatos da Bélgica, Itália e Holanda, segundo o ISS (Instituto de Segurança Social).
E o interesse é cada vez maior: atualmente são 35 as
candidaturas formalizadas junto da Autoridade Central para a Adoção
Internacional portuguesa de candidatos à adoção internacional residentes no
estrangeiro. Em 2016, foram formalizadas 18 candidaturas de candidatos
residentes no estrangeiro: 7 da Holanda, 6 de França, 4 de Itália e uma da
Bélgica.
Em 2015 foram dez as crianças residentes em Portugal
integradas em famílias residentes no estrangeiro. Em 2016, esse número aumentou
e foram 16 as crianças portuguesas a serem adotadas por casais de outros países
europeus. A fonte oficial do ISS refere:
“As
crianças portuguesas adotadas por famílias residentes no estrangeiro são-no por
terem sido sinalizadas pelas equipas de adoção, por não terem sido encontrados
em Portugal candidatos cujas capacidades respondam às suas necessidades
particulares de adoção. Todas elas se caraterizam por se afastarem das
pretensões maioritárias dos candidatos residentes em Portugal. São
"crescidas", padecem de algum problema de saúde/desenvolvimento ou
comportamento ou estão integradas em grupos de irmãos (fratrias).”.
São, sobretudo, crianças até aos 9 anos com problemas de
saúde ou integradas em fratrias ou crianças dos 10 aos 15 anos sem problemas de
saúde. Fátima Duarte explicita que, “quando há fratrias de 2 ou 3 irmãos, é
muito difícil conseguir-lhes pais adotivos”. Mesmo assim, a técnica da CNPCJR (Comissão Nacional de Proteção de
Crianças e Jovens em Risco) recorda casos felizes, como aqueles três irmãos, dos 7 aos 13 anos, que
foram para um lar de infância e juventude depois de a mãe morrer subitamente,
ainda muito nova. O pai dos miúdos já estava divorciado, não tinha condições
para ficar com eles e não se conseguiu mais ninguém. Restava-lhes ficar no lar
até terem 17/18 anos. E um casal português que vivia no Luxemburgo adotou os
três.
***
Por mais que se diga e se faça, ao lado de muitas pessoas
que, abnegada e dedicadamente, se entregam ao bem dos outros, no caso vertente
pelo amor paternal/maternal pelas crianças, há um conjunto de pessoas que
pretendem ter filhos. Porém, intentam-no para suprir lacunas ou frustrações
resultantes, por exemplo, da incapacidade biológica, sua ou do seu par, para a
parentalidade, exercício de vida solitária e sem sentido. Porém, por vezes,
quando o trabalho aperta, o apoio se torna mais necessário ou a resistência se
torna quase invencível, faltam as forças, sucumbe a generosidade, desfaz-se o
encantamento. Esquecem-se de que a vida é habitualmente dura e bem dura e só
quando a enfrentamos de pé é que ela se torna bela.
Quanto ao encobrimento do facto da adoção, é de ter em conta
que a situação de vida de mentira nunca é boa conselheira. Há que, a seu tempo,
mas quanto antes e de forma verdadeiramente pedagógica (talvez em regime de progressividade), contar a verdade.
E é de notar que a relação estabelecida com a adoção implica
o cuidado, o denodo, avessos ao desleixo ou ao abandono dos filhos, que o são
ou estão para o ser.
2017.06.01 –
Louro de Carvalho
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