O atentado terrorista desencadeado com
um camião-cisterna armadilhado na manhã de hoje, 31 de maio, no bairro
diplomático de Cabul, perto do Palácio Presidencial e junto das embaixadas da Alemanha, Turquia
e Japão, fez 90 mortos e 463 feridos, como
refere o centro de imprensa do Governo afegão e a própria ONU.
O mesmo centro de imprensa, já aludido,
indica como fonte deste balanço, que aumenta os números veiculados por
anteriores notícias do Ministério da Saúde Pública (80 mortos e 350
feridos), o Conselho Afegão de Ulemas, o principal órgão religioso do país, que
inclui clérigos muçulmanos e académicos sobre Religião e Direito, e que,
segundo a agência noticiosa norte-americana Associated
Press, considera que “realizar tais ataques no mês sagrado do Ramadão é completamente
contra a Humanidade”.
Testemunhas
falam num carro armadilhado que estava estacionado junto da embaixada da
Alemanha e que, ao explodir, destruiu janelas e portas num raio de centenas de
quilómetros. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram uma grande coluna de
fumo negro sobre o centro da cidade e uma série de carros destruídos.
O atentado, um dos piores dos últimos
anos no Afeganistão, sendo mesmo o mais mortífero, ainda não foi reivindicado,
tendo indicado um porta-voz dos talibãs, na rede social Twitter, que este grupo rebelde “não está envolvido no ataque de
Cabul e condena-o firmemente”, nomeadamente no atinente à população civil.
Em comunicado
difundido pelo seu porta-voz Zabihulla Mujaid, os talibãs asseguram que “os
mujhaedines não têm nada com a explosão” e declaram que os elementos do grupo
não estão autorizados a preparar ataques “sem objetivos”, como o que se
verificou em Cabul, neste dia 31.
O mesmo comunicado
salienta que “o Emirato Islâmico (denominação dos talibãs) condena os ataques levados a cabo contra civis e em
que se verificam baixas civis sem um objetivo claro”.
Na verdade, na última década só um atentado suicida em Kandahar (a segunda cidade afegã), a 17 de fevereiro de 2008, que fez mais de 100 mortos e várias dezenas
de feridos, ultrapassou o número de vítimas mortais do ataque deste dia 31 em
Cabul, a capital afegã.
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O porta-voz da polícia de Cabul, Basir Mujahid, citado pela BBC,
disse à EFE que um camião
armadilhado explodiu numa estrada muito movimentada ao início da manhã e perto
da embaixada da Alemanha.
E acrescentou que “é difícil dizer qual era o alvo exato do atentado”, visto
que, naquela zona, se situam várias embaixadas, edifícios do governo e o
Palácio Presidencial. Segundo este elemento policial, as primeiras investigações indicam
que o veículo foi carregado com explosivos detonados numa zona onde se verifica
sempre uma grande concentração de tráfego. Porém, apesar de o atentado ter sido
perpetrado perto da embaixada alemã, o seu objetivo ainda não é conhecido, pelo
que toda a zona foi isolada e as investigações ainda decorrem. A explosão, que
se ouviu em várias zonas da capital, ocorreu a poucos dias depois do início do
Ramadão.
Por seu turno, Najib Danish, porta-voz
do Ministério do Interior afegão, informou, na sua conta oficial de Twitter, que a explosão decorrente do
ataque aconteceu no distrito policial 10, perto da praça de Zanbaq, na área
diplomática da capital.
Como resultado do ataque – disse o Ministro dos Negócios
Estrangeiros alemão, Sigmar Gabriel – a predita explosão, além de ter provocado
danos materiais, feriu funcionários da embaixada alemã e matou um guarda afegão
no exterior. Porém, todos os trabalhadores da embaixada estão já em segurança, pois
o Ministério ativou um gabinete de crise para lidar com a situação naquela zona
e o Ministro já enviou condolências à família do guarda morto.
Sigmar
Gabriel disse que os pensamentos do Governo alemão “estão com as famílias e
amigos das vítimas”, desejando “aos feridos uma recuperação rápida” e prometendo
que o ataque não abalará a determinação alemã em “apoiar o regime afegão com a
estabilização do seu país”.
Por sua vez, a Ministra dos Assuntos
Europeus francesa, Marielle de Sarnez, declarou à agência Reuters e à
rádio Europe 1 que o edifício da embaixada de França ficou
danificado, mas não há para já registo de vítimas entre os funcionários.
E a chefe da
diplomacia da Índia, no seu Twitter,
relata que a embaixada da Índia não
registou vítimas nem feridos. Sushma Swaraj escreve que “Graças a Deus, o
pessoal da embaixada indiana saiu ileso da enorme explosão de Cabul”. No
entanto, segundo embaixador Manpreet Vohra, o edifício sofreu “danos
consideráveis”, com “janelas partidas e portas rebentadas”.
A BBC
relata que 4 jornalistas seus ficaram feridos, na sequência do ataque que
atingiu a carrinha em que seguiam. No comunicado
de Twitter, lamenta ainda a
morte do condutor da carrinha. Mohammed Nazir – de origem afegã – trabalhava para
a estação há mais de 4 anos. E o correspondente da BBC em Cabul descreve cenas
caóticas, com dezenas de pessoas transferidas para o hospital.
***
O ataque
ainda não foi reivindicado, mas a explosão aconteceu depois do anúncio, no
final de abril, da “ofensiva de primavera” dos talibãs (que até vieram condenar o atentado), contra as forças estrangeiras no
país. Neste momento, os Estados Unidos têm cerca de 8400 tropas (reforço de Trump) destacadas no Afeganistão, a par de
outros 5000 soldados de vários países da NATO.
Um
ataque recente dos talibãs contra um campo de treino do exército afegão em
Mazar-e Sharif provocou a morte a pelo menos 135 soldados, levando o Ministro
da Defesa e o chefe de gabinete das Forças Armadas a resignarem aos seus
cargos. E, a par dos talibãs, também o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) tem estado ativo no Afeganistão, tendo reivindicado
um atentado bombista no início deste mês de maio que teve como alvo uma coluna
de veículos da NATO de passagem pela embaixada dos EUA, tendo morrido pelo menos 8 civis no ataque.
Recorde-se que a 23 de julho de 2016, um ataque suicida também em Cabul
contra uma manifestação da minoria étnica hazara (de origem mongol e maioritariamente xiita), reivindicado pelo Estado Islâmico (de linha sunita), fez 80 mortos e 231 feridos.
Os dois
últimos ataques bombistas de grandes proporções em Cabul, o último no princípio
de maio, foram reivindicados pelo Estado Islâmico, mas os talibãs também têm
levado a cabo uma série de ataques que provocaram muitos mortos entre a
população civil. Assim, em março, um ataque seu contra um posto da polícia de
Cabul fez 29 mortos e 122 feridos, a maior parte civis. E, em janeiro, um duplo
atentado perto do Parlamento, reivindicado pelos talibãs, causou 30 mortos e 80
feridos.
***
O Presidente
do Afeganistão, Ashraf Ghani, condenou veementemente o atentado de Cabul que
fez, neste dia 31, pelo menos 90 mortos segundo o último balanço provisório. Segundo
as autoridades, o atentado, ainda não reivindicado, foi levado a cabo por um
bombista suicida que fez explodir um carro armadilhado numa zona onde se situam
várias representações diplomáticas da capital afegã. Uma nota emitida pelo
gabinete do Chefe de Estado afegão refere que “os terroristas, mesmo no mês
sagrado do Ramadão, no mês de Deus e de oração, não param a matança do nosso
povo inocente”.
Também o
Paquistão condenou “fortemente o atentado terrorista de Cabul”, acrescentando
que a explosão causou a perda de vidas e provocou “muitos” feridos. A
declaração do Paquistão refere que o ataque provocou danos em várias
residências de diplomatas paquistaneses que sofreram ferimentos ligeiros.
Por seu
turno, o Papa expressou suas condolências por este ataque terrorista. Com efeito,
um comunicado enviado pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro
Parolin, afirma que, “após tomar conhecimento, com tristeza, do abominável
ataque em Cabul e dos muitos mortos e feridos graves, o Papa Francisco
manifesta as suas sentidas condolências a todos os que foram afetados por este
brutal ato de violência”, confiando “as almas dos falecidos à misericórdia do
Todo-Poderoso” e assegurando “ao povo do Afeganistão as suas contínuas orações
pela paz”.
Também o
secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou veementemente este atentado
bombista, que fez pelo menos 90 mortos e 463 feridos, e pediu intensificação
dos esforços na luta contra o terrorismo. O porta-voz do secretário-geral, Stéphane
Dujarric, afirma em comunicado que “os ataques indiscriminados contra civis são
graves violações dos direitos humanos e da lei humanitária internacional e
nunca podem ser justificados”. Expressando repúdio pelo atentado, Guterres
sublinhou a “necessidade de reforçar a luta contra o terrorismo e o extremismo
violento” e de fazer os responsáveis responder perante a justiça.
Por sua vez,
o Conselho de Segurança da ONU condenou igualmente o atentado, classificando-o
como um ato “atroz e cobarde” e sublinhando que ocorreu durante a celebração do
mês do Ramadão. Em nota enviada à imprensa, lê-se:
“Os membros
do Conselho de Segurança reafirmam que o terrorismo em todas as suas formas e
manifestações constitui uma das mais graves ameaças à paz e à segurança
internacionais”.
O órgão
executivo da ONU insistiu também na necessidade de levar diante da justiça os
autores e organizadores do atentado, bem como os que o financiaram, e instou
todos os Estados “a cooperarem ativamente com o Governo do Afeganistão e com
todas as autoridades relevantes a este respeito”. E, por último, reiterou que “qualquer
ato de terrorismo é criminoso e injustificável, independentemente do motivo ou
do autor, lugar ou momento” em que ocorra.
Por causa do ataque, o Governo alemão anunciou a suspensão do
programa de deportações de requerentes de asilo afegãos que viram os seus
pedidos recusados. “Os funcionários [da embaixada] têm funções logísticas
importantes na receção das pessoas deportadas”, justificou um porta-voz do
Ministério dos Negócios Estrangeiros. Porém, a política de deportações posta em
curso pela chanceler Angela Merkel em dezembro não será terminada.
A Amnistia Internacional aproveitou para deixar um apelo a Berlim para que
reconsidere a política de expulsões de volta ao Afeganistão de requerentes de
asilo cujo pedido não foi atendido. “As deportações não são justificáveis
perante estas condições de segurança”, segundo declarou aquela organização de
defesa dos direitos humanos.
***
Dada a multiplicidade de ataques desta ordem no Afeganistão e um pouco por
todo o mundo – recordem-se os ataques recentes em Manchester, no Egito ou no
Sudão do Sul, para lá de todos os numerosos e cruéis que se têm lamentado –
parece que o terrorismo, revestido de novas cambiantes e refinada crueldade, se
torna um mal crónico. Será que temos de aprender a viver com ele? E porque não
tentar a eliminação ou a minoração das suas causas? É que, mesmo ante uma
doença crónica, os pacientes não se limitam a conviver com ela: tentam
minimizá-la pelo estilo de vida, pela adoção de comportamentos de vida saudáveis,
pela medicação e pela esperança da eliminação da doença – sem perder a
liberdade e o gosto de viver.
Assim se comportam as pessoas-pessoas: de pé face à doença, ao terrorismo e
à morte!
2017.05.31 – Louro de Carvalho
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