A trilogia enunciada em
epígrafe foi o tema geral do colóquio comemorativo dos 100 anos das aparições
de Fátima que se realizou em Lisboa e em Fátima, respetivamente a 26 e 27 de
maio – iniciativa conjunta da Academia Portuguesa de História (APH) e do Santuário de Fátima (SF).
O pano de fundo que revela o
escopo do colóquio, constante do desdobrável de promoção do evento, é do
seguinte teor:
“No ano em que se completa um século
sobre as aparições de Fátima, os membros da Academia Portuguesa da História e
demais historiadores olham para Fátima como um acontecimento poliédrico,
suscetível de ser analisado sob diversas perspetivas que permitem perceber, por
um lado, o lugar do fenómeno na História de Portugal e na História do Mundo
contemporâneo e, por outro, as diversas abordagens epistemológicas que os
investigadores lhe têm votado”.
Assim, durante
e dias a Mensagem de Fátima foi evocada em diversas comunicações como uma
“mensagem de paz” por académicos provindos quer do meio clerical quer do mundo
dos leigos.
***
Dada a
diversidade de temas em torno do tema geral, deixa-se a panorâmica geral do
evento coordenado pela Presidente
da Academia Portuguesa de História, Prof. Doutora Manuela Mendonça, e pelo
Diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, Doutor Marco
Daniel:
A Sessão de
Abertura, em Lisboa, a 26, contou com as intervenções do Secretário de Estado
da Cultura, Dr. Miguel Honrado, e do Reitor do Santuário de Fátima, Padre
Doutor Carlos Cabecinhas.
O primeiro
núcleo temático, “O Tempo e o Espaço de Fátima”, mereceu a intervenção, sob o
título “Micro e macro-história do
acontecimento ‘Fátima’”, de Marco
Daniel Duarte, APH e SESDI (Serviço de Estudos e Difusão do Santuário).
“Fontes
para o estudo de Fátima” foi o segundo núcleo temático que foi abordado
na modalidade de painel com intervenções: de Dom Carlos Azevedo, APH e CPC (Conselho Pontifício para a Cultura), sobre “As fontes para a História de Fátima”; de Cristina Sobral, FLUL (Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa) sobre “As Memórias de Lúcia de Jesus”; e de
Maria José Azevedo Santos, APH e FLUC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), sobre “A escrita da Terceira Parte do Segredo de Fátima”. Seguiu-se o pertinente
debate.
Depois do almoço,
teve lugar o terceiro núcleo temático, “Fátima e a Primeira República”. António
Ventura, APH e FLUL, abordou o tema “A
questão religiosa ao tempo da Primeira República”, a que se seguiu o painel
com intervenções: de Luís Filipe Torgal, CEIS20/UC (Centro de Estudos
Interdisciplinares do Século XX), sobre “O Republicanismo e Fátima”;
e de José Poças das Neves, CEF (Centro de Estudos de Fátima), sobre “Ação do poder
central e local em Fátima durante a segunda década do século XX”. Depois,
veio o conveniente debate.
A Sessão de
Boas-Vindas, em Fátima, a 27, foi liderada, por Dom António Marto, Bispo de
Leiria-Fátima.
Seguiu-se o
desenvolvimento do quarto núcleo temático, “Fátima, o Estado Novo e o 25 de
Abril”, com a intervenção de Adriano Moreira, APH, sob o título “Fátima e o tempo do Estado Novo”, a que
se seguiu o painel temático com intervenções: de Sérgio Campos Matos, APH,
FLUL, sobre “A questão religiosa ao tempo
do Estado Novo”; de Paulo Fontes, CEHR/UCP (Centro de Estudos de História Religiosa / Universidade
católica Portuguesa),
sobre “Fátima, o catolicismo português e
a Igreja Católica. Da Segunda Guerra Mundial ao fim da ‘Guerra Fria’”; e de
Bruno Cardoso Reis, ICS/UL (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), sobre “Fátima, lugar sagrado nacional e global. Do Estado Novo ao 25 de Abril”.
Seguiu-se o debate.
Após o
almoço, coube o desenvolvimento do quinto núcleo temático, “Fátima
e o Discurso Religioso Contemporâneo”, com as comunicações: de Maria
Manuela Tavares Ribeiro, APH e FLUC, sob o título “Fátima e os discursos sobre a paz mundial”; e de Dom Manuel
Clemente, cardeal patriarca de Lisboa, APH e UCP, sob o título “Fátima no contexto do catolicismo contemporâneo”
– seguidas de debate.
A
Sessão de Encerramento foi protagonizada pela Presidente da Academia Portuguesa
de História e pelo Diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de
Fátima, tendo-se prolongado com a entrega da medalha comemorativa do Centenário
das Aparições à Academia Portuguesa da História pelo Reitor do Santuário, e
com a visita ao
Santuário, nomeadamente a exposição temporária ‘As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo
contemporâneo’, patente ao público no Convivium de Santo Agostinho.
***
Enquanto se
aguarda a publicação dos trabalhos, ficam algumas considerações genéricas.
Dom António
Marto sustenta que “Fátima é um acontecimento que se vai revelando ao longo da
história” e “é um ponto incontornável para a história do século XX”.
O Bispo de
Leiria-Fátima sublinhou a importância da investigação histórica para
evitar “visões redutoras” sobre os acontecimentos de 1917 na Cova da Iria. Por
isso, saudou o compromisso da Academia Portuguesa de História nesta organização
conjunta com o Santuário, sublinhando que se trata de uma oportunidade
“congregadora de diferentes escolas e visões” e que o colóquio possibilita “o
cruzamento de olhares e o debate” sobre o fenómeno de Fátima, que, pela sua
importância, gera “múltiplas leituras”. Para o prelado, as aparições são um
facto incontornável na história da Igreja, de Portugal e do “século XX”, sendo
vistas por alguns como a “mais política” de todas as aparições marianas. Por
outro lado, Dom António Marto disse que a “significativa adesão” que o tema do
colóquio suscitou mostra que “Fátima continua a estar na ordem do dia”.
Também Dom
Carlos Azevedo apelou aos historiadores a que sujem as mãos na documentação de
Fátima para apuramento da verdade e do rigor do fenómeno fatimita, visto que
todos se enriquecem com o rigor da verdade.
O painel do
tema “Fátima e o discurso religioso
contemporâneo”, com as comunicações de Adriano Moreira e Manuel Clemente, é
deveras importante e reveste-se de grande atualidade.
Adriano
Moreira professor, académico e político, especialista em Relações
Internacionais, apresentou o tema “Fátima
e o tempo do Estado Novo”. Frisando que “a parcialidade e rigor da história
não podem, todavia, deixar de aceitar valores religiosos”, o professor
catedrático jubilado falou da “questão religiosa”, recordando que, durante o
Estado Novo, o “receio crescente do avanço do sovietismo” levou ao reforço da
“linha católica”.
O antigo Ministro
falou da “influência determinante” da Igreja Católica na definição do Estado no
Ocidente e dos valores “cristãos” nesta evolução política, em que a humanidade
procura “uma nova ordem Internacional”. Neste sentido, assegurou que é
importante compreender a progressiva importância de Fátima em relação com a
situação internacional do século XX.
Por seu
turno, Dom Manuel Clemente, especialista em História da Igreja, abordou o tema
“Fátima no contexto do catolicismo contemporâneo”,
advertindo que “as linhas que apresento aqui hoje são como uma tentativa de
explicação que algo que nos foge, mas toca e perdura”.
Falou dos
três pastorinhos, Francisco, Lúcia e Jacinta, da sua santidade, mas sobretudo da
sua condição de “pessoas concretas de um país que era o seu”. E referiu que,
entre o período de 1917-2017, se pode fazer um recorte temporal, desde “os
testemunhos dos pastorinhos até ao que o Papa Francisco nos disse na sua
recente visita a Fátima, o tema da paz qualifica a Mensagem de Fátima”.
Também o painel composto por Paulo Fontes, Bruno
Reis e Sérgio Campos Matos, que abordaram temas relacionados com “Fátima, o Estado Novo e o 25 de abril”,
se revelou de grande interesse. Paulo Fontes, diretor e investigador do Centro
de Estudos de História Religiosa na UCP, falou sobre “Fátima, o catolicismo português e a Igreja Católica. Da Segunda Guerra
Mundial ao fim da ‘Guerra Fria’”, referindo que “há uma necessidade de a história
se debruçar sobre Fátima”, pois “Fátima é também um lugar da modernidade portuguesa”
e sublinhando que “Fátima tornou-se um fenómeno de massas, e essa é uma das
caraterísticas da sociedade moderna”. Além disso, o investigador acentuou que
“a temática da paz afirmava-se, desde do início, como um eixo interpretativo da
Mensagem de Fátima”. Com efeito, “no contexto da nova guerra que se desencadeia
(II Guerra Mundial), os
acontecimentos de Fátima ganham nova ressonância a nível mundial”.
E Bruno Cardoso
Reis, mestre em história contemporânea, abordou o tema “Fátima, lugar sagrado nacional e global. Do Estado Novo ao pós-25 de
abril”. Começando por referir a importância deste Colóquio “para o
reconhecimento de Fátima na História de Portugal”, disse que, “em Fátima, temos
um processo interessante e relevante para a história não só do catolicismo, mas
também em termos globais”.
Também Sérgio
Campos Matos, professor associado com agregação da FLUL, abordou o tema “A questão religiosa ao tempo do Estado Novo”,
conjecturando que “podemos falar neste tempo numa questão interior com um certo
sentimento de crise e uma perplexidade perante os desafios duma nova modernidade”.
Na verdade, no Estado Novo a “relação entre o Estado e a Igreja não foi isenta
de conflitos”. E, “se observarmos o comportamento religioso português no século
XX, encontramos dois lados divididos em Portugal: há um grande contraste entre
o norte e o sul”.
Por sua vez, Maria
Manuela Ribeiro, professora catedrática na FLUC, apresentou uma comunicação
sobre o tema “Fátima e os discursos sobre
a paz mundial”. Segundo o que referiu, “em 1917, um ano difícil para todos
os países, reforçam-se os desejos da paz, uma paz imediata”, tendo Fátima constituído
“uma mensagem e um reforço dessa paz”.
E conseguiu-se
o que o Diretor do Serviço de
Estudos e Difusão do Santuário de Fátima afirmou à Sala de Imprensa do
Santuário de Fátima e à agência Ecclesia,
a 23 de maio:
“O colóquio trará abordagens diversificadas
e de diversos quadrantes, provavelmente até com conclusões divergentes que
merecem um debate científico em ordem a uma problematização de um acontecimento
histórico que é complexo. As formações e as investigações que os diferentes
autores que intervirão têm levado a cabo fazem prever que este colóquio seja um
fórum muito frutífero para a historiografia de Fátima.”.
Em suma, pede-se para Fátima rigor histórico, apuramento da mensagem
e ardor de Santuário.
2017.05.30 – Louro de Carvalho
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