Mobilizar, não observadores, mas protagonistas que deem
respostas concretas e eficazes para que economia e mercado, numa época marcada
por uma conturbação global, se coloquem sempre mais ao serviço da dignidade da
pessoa humana é a proposta dos cerca de 300 participantes do simpósio
internacional aberto no passado dia 18 em Roma, com a presença de
representantes de 18 países, em resposta ao apelo-pedido do Papa Francisco
feito à Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice (CAPP), em 13 de maio de 2016. Dizia o
Pontífice:
“É minha esperança que a vossa conferência possa contribuir para gerar
novos modelos de progresso económico mais diretamente orientados para o bem
comum, para a inclusão e para o desenvolvimento integral, para o incremento do
trabalho e para o investimento nos recursos humanos”.
O simpósio internacional
decorreu de 18 a 20 de maio de 2017, na Aula Nova do Sínodo, na Cidade do Vaticano
sob o tema geral “Alternativas
construtivas numa fase de desenvolvimento global”, merecendo destaque os
temas específicos: “Ocupação e dignidade do indivíduo na era
digital” e “Incentivos à solidariedade e à
virtude cívica”.
Dada a multiplicidade e variedade de participantes
e de temas e subtemas, quer os propostos pela Fundação CAP, quer os de outras
entidades, aqui se deixa o quadro geral do evento:
***
Simpósio internacional: Alternativas
construtivas numa fase de desenvolvimento global
18 de maio, quinta-feira
A Assembleia Anual iniciou-se com a Oração e Abertura dos Trabalhos, com o
Cardeal Domenico Calcagno, Presidente APSA (Administração do Património da Sé Apostólica), Vaticano;
Domingo Sugranyes Bickel,
Presidente do Conselho da Fundação (); e
Giovanni Marseguerra,
Coordenador do seu Comité Científico.
(N. B: Se nada se referir de específico em relação a um
cargo, presume-se que se referes a esta Fundação CAPP).
Seguiu-se a Introdução
geral aos temas da Conferência, por Alfredo Pastor, Membro do Comité Científico.
A 1. ª sessão temática desenvolveu
o tema “Fazer frente ao escândalo da
desocupação juvenil: oportunidade e processos educativos na era digital”.
Foi moderador Paolo Garonna, Membro do Comité Científico, e relator James Bessen, empresário e docente na
‘Boston University Law School’, autor de Learning by Doing. E foram painelistas: Carlo d’Asaro Biondo, Presidente da
Google para Europa, Médio-Oriente e África; Raúl Gonzalez Fabre SJ, da Universidade Pontifícia de Comillas,
Madrid; Oliver Röthig,
Secretário Regional Europeu da UNI Global Union. Seguiu-se a Mesa Redonda com perguntas/respostas.
Depois do almoço de trabalho, procedeu-se à
apresentação dos trabalhos de grupo e debate, em sessão
presidida por Alois Konstantin, Príncipe di Löwenstein. Em seguida, decorreram três sessões sobre os contributos dos trabalhos de grupo:
1.ª – Contributo do grupo CAPP de Bolonha, contributo
1 do grupo CAPP de Cagliari e contributos dos grupos CAPP da Alemanha, de
Madrid, de Turim, de Milão e do Reino Unido;
2.ª – Contributos dos grupos CAPP
de Cagliari, da Alemanha, de Milão, de Treviso e dos EUA;
3.ª – Contributos dos grupos CAPP
da Alemanha e de Malta.
Os praticantes, entretanto, deslocaram-se ao
Palácio da Cancelleria, Piazza della Cancelleria 1 para a Cerimónia de Atribuição do Prémio Internacional “Economia e Sociedade”, presidida pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado,
Vaticano, com intervenções do Cardeal Reinhard Marx, Presidente do júri do Prémio Internacional, e do autor da
obra vencedora. Foi, a seguir,
apresentado o Relatório sobre o tema “A Doutrina
Social da Igreja na era digital”, ao cuidado da Irmã
Helen Alford OP, Vice-Decano da Faculdade de Ciências Sociais, da
Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum).
Teve ainda lugar um evento social, no Palácio Doria Pamphilj, Via del Corso n.º 304, com comentários
de Delia Gallagher,
correspondente do Vaticano para a CNN.
19 de maio, sexta-feira
Os trabalhos prosseguiram com a meditação, sob a orientação de Monsenhor
Claudio Maria Celli, Assistente Internacional da Fundação e sessão
especial sobre “as reformas desencadeadas no Vaticano em matéria
de transparência financeira”, sendo relator René Brülhart, Presidente da AIF (Autoridade
da Informação Financeira), Vaticano.
A 2.ª sessão
temática abordou o tema “A luta contra o tráfico de seres humanos e a
criminalidade económica”. Foi moderador Antonio Maria Costa, Membro do Comité Científico, e
relator Raymond W. Baker, da
Global Financial Integrity. Participaram no painel: Ernie Allen, Presidente Emérito do Centro
Internacional para as crianças desaparecidas e exploradas, Marco Impagliazzo, Presidente da
Comunidade de Santo Egídio e promotor dos corredores humanitários, e Max-Peter Ratzel, Diretor Emérito da Europol. Seguiu-se
a Mesa Redonda com
perguntas/respostas.
Procedeu-se ao Debate geral sobre o trabalho da Fundação CAPP, sob a presidência
de Domingo Sugranyes Bickel, Presidente
do seu Conselho. Integraram o painel do debate: Giovanni Marseguerra, Coordenador do Comité
Científico, Adrian Pabst, Membro
e Secretário do Comité Científico, Alfredo Pastor, Membro Comité Científico, e
Anna Maria Tarantola, Conselheira da Fundação CAPP e Delegada do Conselho para
o Comité Científico.
Após o almoço de trabalho, realizou-se a 3.ª sessão temática em torno do tema “Incentivar a Solidariedade e a Virtude
Cívica”. Foi moderador Adrian Pabst,
Membro e Secretário do Comité Científico, e relator Lord Robert Skidelsky, economista, autor de How
Much is Enough? Foram painelistas:
Luigino Bruni, filósofo e
economista, LUMSA Roma e Sophia University Institute, Loppiano, Luigi Gubitosi, Commissario
Straordinario Alitalia S.p.A., Jean Sung, Diretor do Centro de Filantropia para a Ásia, J.P. Morgan
Private Bank, Monsenhor Paul Tighe,
Secretário Adjunto do Pontifício Conselho para a Cultura. A seguir, foi a Mesa Redonda com perguntas/respostas.
Depois, Pascal Duval, Presidente
do Comité Diretivo do FVS (Fondi Volontari di Solidarietà), procedeu
à apresentação do network FVS.
A sessão
conclusiva foi moderada por Domingo Sugranyes Bickel, Presidente do Conselho da Fundação CAPP, sendo
relatores Marcella Panucci,
Diretora Geral da Confindústria, e Monsenhor Diarmuid Martin, Arcebispo de Dublin.
20 de maio, sábado
Estabeleceu-se como ponto de encontro o sítio
frente ao Palácio do Santo Ofício, Piazza Sant’Uffizio à entrada do Portão
Petrino para a Santa Missa celebrada
pelo Cardeal Domenico Calcagno, na igreja de Santa Maria Mãe da Família,
Palácio do Governatorado, Vaticano, a que se seguiu a “apresentação das iniciativas tomadas pela
Santa Sé para proteger os cristãos e as outras minorias religiosas nas diversas
partes do mundo”, por Monsenhor
Paul R. Gallagher, Secretário
para as Relações com os Estados, da Secretaria de Estado, Vaticano, na Sala Régia.
Depois, às 12 horas, decorreu a Audiência Privada com o Santo Padre, na
Sala Clementina, a que se seguiu a partida para Castel Gandolfo, para a refeição e a apresentação do Observatório Vaticano por
ocasião do 125.° aniversário da instituição, por Fr. Paul Mueller SJ, Vice-diretor do Observatório.
Após o regresso de Castel Gandolfo a Roma, foram
apresentados: os Documentos preparatórios
do Simpósio Internacional; a Súmula da Conferência Internacional de
2016; as Conclusões de Madrid sobre uma Economia
Digital para o Bem Comum, e o
documento de apresentação da Conferência
atual 2017, redigido pelo Prof. Alfredo Pastor.
***
O Professor Giovanni Marguerra, Coordenador do Comité
Científico da CAPP, explicou-se à Rádio Vaticano:
“A
nossa Fundação, fiel à sua identidade […] procura, com as suas convenções e
nos seus encontros territoriais […] prosseguir enfrentando as emergências globais que
neste momento sacodem o mundo, olhando porém
para elas como momentos em que se tenta fazer mais integração, se procura
introduzir um modelo social em que a inclusão das pessoas seja a norma. Nós
temos uma sociedade profundamente desintegrada, profundamente desigual, entre
quem está dentro e quem está fora. E o que nos diz o Papa é para promover a
participação e a responsabilidade. A integração não é algo que acontece por si
só, mas acontece se alguém que está dentro assume a responsabilidade de fazer
participar quem está fora.”.
Partindo da orientação da Doutrina Social da Igreja, em três
sessões de trabalho debateram-se temas prioritários, verdadeiras “emergências
planetárias”. Começou-se pelos desafios apresentados pela digitalização ao
mundo do trabalho, não só com a ameaça de precariedade, desemprego e exclusão,
porque mais dados, mas também com mais serviços e produtos que podem “servir o
bem comum” e ser “uma oportunidade para aprender e envolver”. É fundamental
neste contexto a educação, como sublinha Marguerra:
“O
desemprego é um problema que atinge a carne viva de nossa sociedade, não é
somente uma questão de jovens ou de idosos. É também uma questão de quem tem as
competências para conseguir resistir a uma mudança tecnológica impactante e
quem, pelo contrário, não a tem e é expulso do meio do trabalho. Sob este aspeto,
procurar dar uma maior valorização à educação – não somente à formação, durante
toda a vida de trabalho – porque isto é já aquilo que devemos fazer se quisermos
sobreviver em um mundo que muda assim tão rapidamente – é sempre mais crucial o
papel da família, como crucial sempre foi em termos educativos, evidentemente.”.
Também o Presidente da Fundação, Domingo Bickel, declarara
ter a intenção de perguntar aos participantes, nas sucessivas sessões do
encontro, por propostas concretas sobre como enfrentar os efeitos de uma
economia criminal – como o tráfico de seres humanos – e de como incentivar a
solidariedade e as virtudes sociais. Participaram, nestas discussões, expoentes
da Europol, do voluntariado e renomados economistas. “O tema é empenhativo e requer
coragem e aliança” – explicou Marguerra – mas, para dar seguimento ao ideal de
fraternidade que tantas vezes o Papa nos recomenda, não temos outro caminho,
uma vez que “assistimos a contextos em que o homem e a mulher são
instrumentalizados, não sendo valorizada a sua dignidade”. E Marguerra deixa
bem claro:
“Cada
um tem a sua dignidade e acredito que o ensinamento a ser seguido com mais
atenção da doutrina social é justamente este da valorização e da promoção da
dignidade humana em cada circunstância”.
***
O Papa, como estava previsto, recebeu na manhã do dia 20, na
Sala Clementina, os participantes no Simpósio Internacional promovido pela
Fundação “Centesimus Annus Pro Pontifice”, sobre temas prioritários como “as
verdadeiras emergências planetárias”.
Aos numerosos participantes Francisco expressou o seu apreço
pelos esforços realizados na busca de modos alternativos de compreensão da
economia, do desenvolvimento e do comércio.
Assim, disse, a Fundação procura responder aos desafios
éticos consequentes da imposição de novos paradigmas e formas derivadas da
tecnologia, da cultura do esbanjamento e dos estilos de vida que ignoram os
pobres e desprezam os frágeis. E acrescentou:
“A
Fundação oferece uma preciosa contribuição ao levar em conta as atividades
comerciais e financeiras, à luz da rica tradição da Doutrina Social da Igreja e
de uma busca inteligente de alternativas construtivas. Vós desenvolveis modelos
de crescimento económico centrados na dignidade, liberdade e criatividade, caraterísticas
peculiares da pessoa humana”.
De facto, muitas pessoas se empenham para unir a família
humana na busca comum de um desenvolvimento sustentável e integral, pois, sabem
que as coisas podem mudar. E o contributo da Fundação é inestimável, até porque
mobiliza a cooperação de outras pessoas de boa vontade e muitas organizações.
E recordou aos presentes a Declaração que a Fundação fez este
ano, em que sublinha, justamente, que “a luta contra a pobreza exige uma
compreensão melhor como fenómeno humano e não meramente económico. E explicitou:
“Promover
o desenvolvimento humano integral requer diálogo e envolvimento nas
necessidades e aspirações das pessoas; requer escuta dos pobres e respostas a
situações concretas. Isso requer animar as comunidades e as suas relações com o
mundo dos negócios; criar meios para unir recursos e pessoas, onde os pobres
sejam protagonistas e beneficiários”.
Uma tal perspetiva de atividade económica centrada na pessoa
humana, frisou ainda o Santo Padre, encorajará para mais iniciativa, mais
criatividade, o espírito empresarial e da comunidade de trabalho e de empresa e
assim favorecerá inclusão social e o crescimento de uma cultura de
solidariedade eficaz.
O Papa concluiu a sua intervenção exprimindo a sua
preocupação pelo grave problema do desemprego de jovens e adultos, que assumiu
proporções alarmantes, sobretudo nos países em desenvolvimento – problema que
deve ser enfrentado com senso de justiça e responsabilidade para o futuro das
gerações. Por isso, exortou os membros da Fundação a terem a coragem de levar a
luz do Evangelho e as riquezas da Doutrina Social da Igreja para se resolverem
tais questões, mediante o diálogo e a pesquisa, para a construção de um mundo
mais justo, livre e harmónico.
***
A Fundação CAPP retira a designação da encíclica Centesimus Annus, de São João Paulo II, promulgada a 1 de maio de 1991, para marcar o
centenário da encíclica Rerum Novaram,
de Leão XIII, sobre a magnitude da questão social.
Pela sua importância, recordam-se os títulos dos seus seis
capítulos: “Caraterísticas da Rerum Novaram”;
“Para as ‘coisas novas’ de hoje”; “O ano de 1989” (o ruir do muro de Berlim); “Propriedade privada e o destino
universal dos bens”; “Estado e Cultura”; e “O Homem é o Caminho da Igreja”.
Além do centenário da grande encíclica de Leão XIII,
importava encarar as mudanças nom mundo – e suas consequências – operadas depois
da publicação da encíclica Sollicitudo
Rei Socialis, de 1987, sobretudo a emergência do capitalismo financeiro e de
outras formas de materialismo, que deixaram, como o Papa polaco previa, o sistema
em pantanas.
De facto, a questão social mantém cada vez maior relevância
ante vícios antigos, que persistem, e factos novos, que é preciso encarar e
para os quais o Papa Francisco não para de nos sensibilizar e mobilizar todos
os seus cooperadores e colaboradores. E não é lícito que se furtem a esta
mobilização geral.
2017.05.21
– Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário