quinta-feira, 11 de maio de 2017

Santuário de Fátima vai ser obsequiado com a III Rosa de Ouro

No próximo dia 12 de maio, o Papa depositará a III Rosa de Ouro aos pés da imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, logo após a oração na Capelinha das Aparições, em sinal do seu reconhecimento pelo espírito de lealdade para com a Santa Sé, o que situa o santuário mariano no topo da lista de locais de culto com mais ornamentos preciosos do género, fora de Roma.
A Comunicação Social começou a fazer a ressonância desta notícia depois que passou a ser vista e ouvida a videomensagem que Sua Santidade enviou aos portugueses ontem, 10 de maio.
Também eu ouvi o vídeo e li o texto. Porém, não percebi se a expressão “a minha rosa de ouro” iria além do que em gramática do português se designa por modificador apositivo do grupo do nome (antigamente chamava-se “aposto” ou “continuado”) “o meu bouquet de flores” – o que poderia não passar de um segmento discursivo metafórico, aliás bem significativo. Com efeito, o desejo espiritual e pastoral do Papa está bem expresso e vincado neste segmento:
“Preciso que estejam comigo, preciso da vossa união, física ou espiritual. O importante é que seja de coração, para o meu bouquet de flores, a minha rosa de ouro, formando nós um só coração e uma só alma. Entregar-vos-ei a todos a Nossa Senhora, pedindo-lhe para segredar a cada um: o meu imaculado coração será o teu refúgio, é o caminho que te conduzirá até Deus.”. 
Não há dúvida de que a melhor oferta que Francisco pretende oferecer à Mãe de Deus e Mãe dos discípulos de Jesus é o rosário dos filhos que, formando “um só coração e uma só alma”, constituam a verdadeira comunidade em que todos são “assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações” (cf At 2,42.46; 4,32-37).
A dúvida desfez-se com a informação dada pelo próprio Vaticano, já depois da intervenção do próprio Papa na videomensagem. E ficou a saber-se que o presente mencionado no “Missal para a Viagem Apostólica a Fátima” (editado a 8 de maio) – “Il Santo Padre venera l’ immagine della Madonna e presenta un dono in omaggio alla Santissima Vergine” – é a III Rosa de Ouro. Assim, o Santuário de Fátima hoje, dia 11, informa com toda a certeza:
“O Papa Francisco vai oferecer a terceira Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima, num gesto à chegada à Capelinha das Aparições a 12 de maio, primeira paragem da sua Peregrinação à Cova da Iria, para celebrar o Centenário das Aparições e canonizar os beatos Francisco e Jacinta Marto. A oferta da Rosa de Ouro vai ser feita logo depois da oração que o Papa vai rezar à sua chegada à Capelinha das Aparições.”.
Na videomensagem, Francisco começa por se dirigir ao “querido povo português”, dizendo da sua felicidade com a expectativa do encontro na “casa da mãe” e pedindo desculpa por não estar mais tempo em Portugal, para visitar outros pontos do país. A este propósito, confidencia:
“Bem sei que me queríeis também nas vossas casas e comunidades, nas vossas aldeias e cidades. O convite chegou-me. Escusado será dizer que gostaria de o aceitar, mas não me é possível. Desde já agradeço a compreensão com que as diversas autoridades acolheram a minha decisão de circunscrever a visita aos momentos e atos próprios da peregrinação no Santuário de Fátima, marcando encontro com todos, aos pés da Virgem Mãe.”. 
E não deixa de vincar o lema da sua peregrinação – “Com Maria, na esperança e na paz” –, para acentuar a sua índole de “um programa de conversão”, pronunciando um memorável ato de agradecimento, de humildade e propósito evangélico:
“Agradeço a vós as orações e sacrifícios que diariamente ofereceis por mim e de que muito preciso, pois sou um pecador entre pecadores. Um homem de lábios impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros. A oração ilumina os meus olhos, para saber olhar os outros como Deus os vê, para amar os outros como ele os ama. Em seu nome, venho até vós na alegria de partilhar o Evangelho da esperança e da paz.”. 
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O templo que foi agraciado com mais rosas de ouro (cinco) é a Basílica de São Pedro, em Roma, seguida da Arquibasílica de São João de Latrão (quatro), a catedral do Papa enquanto Bispo de Roma, também na capital italiana. Com esta oferta de Francisco, o Santuário de Fátima passa a ter três destas peças.
A tradição desta distinção está documentada desde o pontificado de Leão IX (1049-1054), mais precisamente em 1049, mas acredita-se remontar aos finais do século VI ou princípios do século VII. A bênção das Rosas de Ouro decorre, habitualmente, no Domingo da Alegria, o IV domingo da Quaresma.
A Rosa de Ouro é uma das distinções mais importantes concedidas a santuários, igrejas, personalidades e instituições católicas – em reconhecimento e recompensa por assinalados serviços prestados à Igreja ou ao bem da sociedade –, tendo já sido recebida pelo Santuário de Fátima em duas ocasiões: primeiro, a 21 de novembro de 1964, no fim da III Sessão do Concílio Vaticano II, concedida pelo Papa Paulo VI, benzida pelo próprio Papa no dia 28 de março, IV domingo da Quaresma do ano seguinte (1965) e entregue, a 13 de maio de 1965, pelo cardeal Fernando Cento, legado pontifício; e, depois a 12 de maio de 2010, entregue pessoalmente pelo Papa Bento XVI, que na altura designou o gesto como uma “homenagem de gratidão” a Nossa Senhora de Fátima.
Na cerimónia de bênção da Primeira Rosa de Ouro atribuída ao Santuário de Fátima, Paulo VI recordou a sua simbologia, que, no seu “significado místico, representam a alegria da dupla Jerusalém – Igreja Triunfante e Igreja Militante – e a belíssima Flor de Jericó – a Virgem Imaculada – que é também a vossa Padroeira e é a alegria e a coroa de todos os Santos”. Disse o Papa Montini:
“[A Rosa de Ouro] é o testemunho do Nosso paternal afeto que mantemos pela nobre Nação Portuguesa; é penhor da Nossa devoção que temos ao insigne Santuário, onde foi levantado à Mãe de Deus um Seu altar”.
E, esclarecendo que a rosa é o símbolo da penitência, recordou a mensagem da Senhora aos Pastorinhos, nas Aparições de maio a outubro de 1917, que constitui responsabilidade especial para os portugueses:
“Vindo a Virgem a Fátima para recordar ao mundo a mensagem evangélica da penitência e da oração, então por ele tão esquecida, deveis ser vós, amados filhos, a dar o exemplo no cumprimento desta mensagem”.
Em relação à segunda Rosa de Ouro, é de recordar que Bento XVI a entregou a 12 de maio de 2010, sendo esta a primeira vez em que um Papa teve este gesto pessoal em território português. Ajoelhado diante da imagem de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, o agora Papa emérito, em oração à Virgem, entregou a Rosa de Ouro “como homenagem de gratidão” pelas maravilhas que, por Ela, Deus tem realizado no coração dos peregrinos, e disse: “Estou certo de que os Pastorinhos de Fátima, os Beatos Francisco e Jacinta e a Serva de Deus Lúcia de Jesus nos acompanham nesta hora de prece e de júbilo”.
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Também o Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, recebeu, a 8 de dezembro de 2004, a Rosa de Ouro, atribuída por João Paulo II, por ocasião do centenário da coroação da imagem de Nossa Senhora, e entregue pelo cardeal Eugénio Sales, legado do Papa. 
O Papa Francisco irá ainda oferecer uma imagem de São Francisco de Assis à Base Aérea de Monte Real, bem como um mosaico evocativo do centenário das aparições ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um quadro da Última Ceia à Casa de Nossa Senhora do Carmo, um cálice e uma casula ao bispo de Leiria-Fátima e um cálice à Nunciatura Apostólica.
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Todavia, o Papa, pela canonização dos irmãos Marto, oferece duas rosas de Ouro a Portugal.
É, pois, de relevar a apresentação das imagens dos dois novos santos, que mostram claramente o coração de ouro destes dois irmãozinhos (os mais jovens santos não mártires da Igreja Católica), segundo o texto da Postulação, de 8 de maio.
Como é usual na tradição eclesiástica, na celebração em que se procede à canonização de novas figuras que passarão a integrar o catálogo dos santos, é exposta à veneração dos fiéis o retrato oficial dos novos santos. Assim, a Postulação da Causa dos Pastorinhos confiou à pintora Sílvia Patrício o encargo de proceder à representação figurativa de São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto. Mais do que a simples fotografia, os retratos apresentam uma formulação plástica que mostra a psicologia dos dois irmãos, a forma peculiar como estes se relacionavam com Deus e as expressões peculiares da sua santidade. É natural que não se quisesse que os retratos se afastassem da efígie que o Povo de Deus reconhece como identificadora dos pastorinhos. Por isso, tomaram-se com ponto de partida as fotografias que no ano 2000 foram colocadas na fachada da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, aquando da beatificação de Francisco e Jacinta – fotografias tiradas em Aljustrel, dias antes de 13 de outubro de 1917. Porém, as suas vestes, que as fotografias fixaram a preto e branco, ganharam cor a partir duma pesquisa de sabor etnográfico que a pintora levou a cabo.
Os atributos específicos destes novos santos são: o terço, que envergam na mão; e a candeia, tomada a partir duma candeia histórica que pertencera à família dos videntes, ao tempo das aparições. Este objeto foi assumido por João Paulo II no dia da beatificação, ao referir-se a estas figuras santas da Igreja como “candeias que Deus acendeu”. Cada uma delas é portadora duma “luz especial”, sincronizada com a ligação que os dois videntes tinham com os astros luminosos (Jacinta gostava mais da “candeia” de Nossa Senhora, a Lua; Francisco mostrava especial predileção pela “candeia” de Nosso Senhor, o Sol). Na auréola, o elemento plástico usado da tradição iconográfica da Igreja para significar a ideia de santidade, a pintora incluiu, qual peça multíplice de ourivesaria, vários símbolos que atestam a relação destas santas figuras humanas com a sua história de vida e representam alguns dos seus traços de santidade. A auréola de São Francisco tem inscritas a silhueta do Anjo de Fátima, que se faz portador da Eucaristia; a sarça-ardente, símbolo bíblico da adoração a Deus; e as espécies eucarísticas, que evocam a especial ligação de Francisco a “Jesus escondido”. A auréola de Santa Jacinta mostra a figura do Papa e a figura da Virgem Maria, representada com o seu Coração Imaculado, símbolo que é tomado no cimo do trabalho de “filigrana”, a exprimir o coração generoso de Jacinta na sua entrega. No atinente à expressão do olhar dos dois santos, procede-se de forma diversa, fazendo eco da psicologia de cada um: “Jacinta olha de frente para o observador, em atitude de interpelação; Francisco ergue os olhos ao alto, apontando para uma atitude eminentemente contemplativa”.
O pano de fundo dos quadros é uma cor plana entrecortada de cruzes luminosas da cor da auréola, relevando a frase eclesial de leitura dos sábios que brilham como esplendor no firmamento. 
A disposição dos santos na fachada da Basílica, de modo diferente de 1917, coloca primeiro Jacinta Marto, como primeira anunciadora dos acontecimentos de Fátima.  
As pinturas foram adaptadas ao campo visual das telas a expor na fachada da Basílica. E a designer Inês do Carmo, que as concebeu, realizou uma pagela a distribuir na canonização.

2017.05.11 – Louro de Carvalho

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