segunda-feira, 15 de maio de 2017

Está a decorrer em Lisboa a Cimeira Mundial do Luxo

Iniciou-se na tarde de ontem, dia 14, a13.ª edição da cimeira Business of Luxury – designada entre nós por Cimeira Mundial do Luxo –, organizada pelo Financial Times. São cerca de 400 os participantes no evento, ou seja, os CEO das maiores marcas mundiais estão em Portugal.
Segundo o Dinheiro Vivo e o DN, sítios onde se recolheu a maior parte da informação que, a seguir, se explana, são os homens-fortes dum setor que gera todos os anos mais de 1,5 biliões de euros. Determinam a roupa que se veste, os carros que se compram e até a comida que se põe nos pratos. Chegaram ontem a Portugal para uma cimeira de três dias, em que vão debater os desafios do Mundo Material.
Os desafios colocados pela tecnologia e a inovação são o tema central da cimeira, que encerra ao início da tarde do dia 16 e que faz de Lisboa a capital mundial do luxo nestes dias. O evento tem lotação esgotada, embora o preço dos bilhetes oscile entre os 2560 euros e os 3200 euros. Dos cerca de 400 participantes, 80% dos quais vêm do estrangeiro de propósito para ouvir 32 oradores que passam pelo Four Seasons Ritz Hotel, 46% são CEO ou fundadores de marcas internacionais. Este número de visitantes ultrapassa em muito os 280 inscritos no ano passado, que ocorreu em São Francisco, nos EUA.
O arranque do evento ocorreu no final da tarde de ontem, com uma receção de boas-vindas no Convento do Carmo. Todavia, foi necessário aguardar o dia de hoje para se ouvirem nomes grandes como Axel Dumas, CEO da Hermès, Cyrille Vigneron, presidente da Cartier, ou Jean-François Palus, responsável máximo do grupo Kering, que detém marcas como a Gucci, Saint Laurent ou Balenciaga – além de responsáveis da Bentley e McLaren.
Entre os cabeças de cartaz também há portugueses. Assim, o ex-Presidente da Comissão Europeia e atual chairman da Goldman Sachs, José Manuel Durão Barroso, debate com o economista e jornalista Martin Wolf as perspetivas de crescimento da economia mundial. José Neves, fundador da Farfetch, até hoje a única startup portuguesa avaliada em mais de mil milhões de dólares, fala de liderança e inovação no setor do retalho. E de Londres vem Nuno Mendes, chef do conceituado restaurante do hotel Chiltern Firehouse, que mostra “como a comida se tornou o novo luxo”.
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O Primeiro-Ministro saudou os participantes num discurso que pretende que o estatuto de Lisboa como capital mundial do luxo não seja apenas temporário. António Costa, na sessão de abertura, destacou o tema como “particularmente importante para a economia europeia neste mundo global”, e enumerou as qualidades nacionais que podem colocar Portugal no roteiro mundial do luxo, expressando-se nos termos seguintes:
“A globalização é uma oportunidade para a massificação do luxo. A Europa, para ser competitiva, tem de investir em bens e serviços que geram valor acrescentado. O que marca o luxo é o seu caráter único e diferenciado e só a mão humana, o sentimento ou a cultura acumulada ao longo de séculos podem permitir essa diferenciação. Só na Europa conseguimos juntar criatividade com tradição. Há outras regiões do mundo com elevado nível de criatividade, mas dificilmente se encontra outro espaço como o europeu que une a tradição com criatividade, e Portugal conhece bem esse processo.”.
Quanto à especificidade de Portugal no setor, Costa chamou a atenção para os “novos bens e novos sabores” que os descobridores portugueses trouxeram para a Europa, que já na altura criaram uma “cadeia de valor que desenvolveu o luxo”. Para o líder do Governo, a diferenciação de Portugal no setor faz-se através dos recursos humanos altamente qualificados, “fruto do investimento dos últimos anos”, pelo que destacou a posição de “primeira linha” do país a nível da criatividade e inovação tecnológica e a “longa tradição de abertura e tolerância” do país. Por outro lado, frisou as vantagens da pluralidade e diversidade, incluindo a relação intergeracional, dado que “o contacto entre os diferentes gera criação e o novo”. E fez referência a uma série de artistas, como Joana Vasconcelos, Vhils e Julião Sarmento, que vêm contribuindo para “a crescente afirmação de Portugal”, e ao “crescimento da produção artística” reconhecida lá fora.
Ao discurso de Costa não faltou ainda a referência circunstancial à vitória inédita de Portugal no Festival da Eurovisão, protagonizada por Salvador Sobral. A este respeito, declarou:
“Este fim de semana, um jovem cantor português ganhou pela primeira vez o Festival da Eurovisão, alcançando o maior número de pontos de sempre, e fê-lo cantando em português e com uma canção onde, mais do que a compreensão do que se dizia, a expressão pessoal do sentimento foi a chave do resultado”.
Mais afirmou que “o que tem mais valor neste mundo global e o que se consegue diferenciar” é a “intrínseca qualidade humana, insubstituível pelos robots e pela falta de criatividade”.
Relevando a importância da evolução tecnológica no crescimento da economia, o Primeiro-Ministro chamou ainda a atenção para a “intensa rede de incubadoras que tem vindo a animar a criação de startups”, dando os exemplos concretos da Feedzai ou da Farfetch. E concluiu:
“Queremos manter e conservar excelência dos nossos artesãos e criar espaço para que todos aqueles, de todas as partes do mundo, possam estabelecer-se aqui”.
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Nos últimos 5 anos, Portugal entrou no radar mundial. Desta feita, o Financial Times traz a Lisboa a Cimeira do Luxo. Na verdade, em outubro de 2016, Jo Ellison regressou a Portugal, após 15 anos sem visitar o país. A editora de moda do britânico Financial Times veio ver com os próprios olhos os motivos para tanto burburinho e, ao telefone com o Dinheiro Vivo, disse:
“O mundo inteiro quer visitar Portugal. O renascimento do país nos últimos anos é incrível”.
Depois de 12 anos a dar a volta ao mundo, os organizadores da FT Business of Luxury quiseram perceber o segredo da ascensão de Portugal como destino de luxo. E Jo Ellison explica:
“A ideia de fazer o evento em Lisboa surgiu na cimeira do ano passado, em São Francisco, quando conversávamos sobre o incrível renascimento da cidade a nível cultural. E percebemos que todos partilhávamos a perceção de que Portugal, e Lisboa em particular, é hoje um dos melhores sítios para se estar e para aproveitar. Foi considerada pela Condé Nast Traveller como a cidade mais cool do mundo no ano passado, receberam a Web Summit em novembro, têm imensa arquitetura moderna e têm uma gastronomia incrível que está a ganhar popularidade.”.
Embora o setor do luxo não esteja só a dar os primeiros passos no país, nos últimos 5 anos registou um crescimento sem precedentes. De facto, como explica Helena Amaral Neto, coordenadora dos cursos dedicados ao luxo do ISEG, “o segmento não tinha qualquer expressão antes de 2012”, sendo que “tudo o que está a acontecer hoje vem tudo do movimento do imobiliário, que depois gerou turismo”. E, apesar de não haver estudos concretos sobre o peso do setor como um todo na economia portuguesa, a especialista faz a sua estimativa:
“Só na componente imobiliária associada aos vistos Gold estamos a falar de 2,7 mil milhões de euros. Se juntarmos o turismo de luxo, o retalho, o setor automóvel, entre outros, chegamos facilmente a um valor de vendas global próximo dos 5% do PIB.”.
Tudo soma qualquer coisa como 9000 milhões de euros.
É entre os gauleses que o estatuto de residente não habitual, criado em 2010, vem conquistando mais adeptos. Só no ano de 2016 foram vendidas perto de 7500 casas de luxo em Portugal, ou seja, 20 imóveis milionários por dia, perto de 6% do total das propriedades vendidas. E estão no topo das preferências dos investidores, na grande maioria estrangeiros Lisboa, Cascais, Sintra e Algarve. Diz a especialista, identificando uma tendência específica que terá vindo para ficar:
“Temos condições de luxo que não são comparáveis com qualquer capital europeia. Além de que no setor imobiliário somos muito baratos para o nível que temos. Dois milhões de euros não compram nem um T2 em Londres.”.
E ironiza:
“Costumo chamar-lhe a quarta invasão francesa”.
O regime que oferece uma década de benefícios fiscais atraiu mais de 10 mil estrangeiros no ano passado. Um número que deverá triplicar em 2017, caso se mantenha o ritmo registado nos dois primeiros meses do ano, em que foram feitos mais de seis mil pedidos.
No retalho, as atenções voltam-se para Oriente. E a criação de rotas diretas entre Portugal e China a partir do verão potenciará um mercado ainda por explorar. E a docente Helena Amaral Neto explicita:
“Os chineses são dos principais consumidores de retalho de luxo da Europa. São turistas que organizam as viagens em função das compras. E compram na Europa porque lá os produtos de luxo custam quase o dobro, por motivos fiscais. Em Portugal, temos uma vantagem adicional que é o IVA a 23%. Os clientes chineses podem pedir o reembolso, o que faz com que em Portugal as compras saiam ainda mais baratas”.
No 1.º trimestre, segundo a Global Blue, cada cidadão chinês que fez compras em Portugal gastou em média 644 euros. Mas a liderança continua a ser dos visitantes angolanos, que representam 38% das compras realizadas por cidadãos que não integram o espaço europeu. Nos primeiros 3 meses de 2017, as compras tax-free aumentaram 51% face a 2016. Porém, não é só a venda de bens de luxo que está em alta. Aos poucos, Portugal consegue afirmar-se na produção de nível premium. Muitas marcas de luxo olham para Portugal como opção para produzir roupa e sapatos. E, em breve, poderão competir, por exemplo, com Itália, segundo o que refere Jo Ellison, que afirma compreender a opção de estrelas como Michael Fassbender, Monica Belucci ou Eric Cantona, que há pouco compraram casa no país, devido à qualidade de vida que podem ter em Portugal. Sabem que vão comer bem, que o tempo é bom e que têm o mar por perto. Somos um país a ser redescoberto também pelos portugueses, reconhecendo o imenso potencial que o país tem para florescer. E o mercado do luxo está atento porque Portugal não se restringe às lojas de marca para compras, vai muito além.
Lisboa é o sítio ideal para a experiência duma vida de luxo, combinando com perfeição o moderno com o tradicional. É por isto que Portugal está no epicentro do setor do luxo nos próximos meses. Assim, no final de junho, em Lisboa decorrerá a INNOCOS Summit, evento de 2 dias dedicado ao setor da cosmética, a contar com responsáveis de marcas como Chanel ou Estee Lauder. Também escolheu a capital como palco da próxima grande conferência dedicada ao segmento o grupo Condé Nast, proprietário de publicações como a Vogue, GQ e Vanity Fair. É um evento que trará ao país mais de 500 participantes entre 18 e 19 de abril de 2018.
Há ainda outro fator a colocar Portugal na rota dos milhões: a segurança, às vezes não valorizada porque a damos como dado adquirido, hoje em dia um verdadeiro luxo. De facto, o contexto atual favorece-nos quando as ameaças terroristas ou a situação política de países como Reino Unido, França ou Brasil tornam Portugal muito atrativo.
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Por isso, haja educação, investimento, turismo, música e luxo – mas sem deslumbramento!

2017.05.15 – Louro de Carvalho

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