Celebrou-se hoje, dia 7 de maio, mais uma vez o Dia da Mãe. Com efeito, em Portugal, celebra-se no primeiro domingo do mês de maio.
É
certo que chegou a ser
celebrado, no nosso país a 8 de dezembro, por ser a festa (atualmente, solenidade) da Imaculada Conceição da Mãe de
Jesus, para a catolicidade o modelo das mães. Porém, ainda não há muitos anos,
o dia passou a ser assinalado no 1.º domingo de maio, também em homenagem à
Virgem Maria, mãe de Cristo, pois este mês das flores é dedicado a Ela. E a efeméride
é ocasião para a homenagem a todas as mães, servindo para visibilizar de modo
especial a ternura do amor materno para com os filhos e para reforçar e
demonstrar o amor dos filhos pelas suas mães.
No Dia da Mãe, os filhos costumam oferecer
presentes às suas mães e preparam surpresas de ternura para elas, por forma a
mostrarem quanto as amam e para lhes agradecerem todo o seu empenho e dedicação.
E aqueles e aquelas cujas mães já os esperam do outro lado mimam-nas com as
orações ou com o preito sincero da saudade filial. E seria bom que enveredassem
pela homenagem da postura, atitudes e comportamentos que elas mais quereriam
ver neles, como a força de vida, a coragem, a bondade e a luta pela paz como
estilo de vida e relação.
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A
mais antiga comemoração do dia das mães é de índole mitológica. Na Grécia
antiga, a entrada da primavera era festejada em honra de Cible ou Rhea, a Grande
Mãe dos Deuses. Era, pois, uma festividade derivada do costume de adorar formalmente
a mãe, na Grécia, que era realizada nos idos de março (dia 15), em toda a Ásia Menor,
desde o ano 250 aC.
No século XVII, em Inglaterra, celebrava-se no 4.º domingo de Quaresma, o chamado “Domingo da Mãe”, que
homenageava todas as mães inglesas.
Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões
em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada pela
ativista Ann Mary Reeves Jarvis,
que fundou, em 1858, os Mothers
Days Works Clubs com o
objetivo de diminuir a mortalidade infantil em
famílias de trabalhadores. Depois, em 1865, organizou o Mother's Friendship Days (dias de amizade para as mães) para melhorar as
condições dos feridos na Guerra da Secessão que
assolou os Estados Unidos. Em 1870, a escritora Julia Ward Howe – autora de O Hino
de Batalha da República – publicou o manifesto Mother's Day Proclamation,
pedindo paz e desarmamento depois da Guerra.
Em 1904,
quando a metodista Anna Jarvis perdeu a mãe Ann Maria Reeves Jarvis, ficou muito triste. As amigas decidiram organizar uma
festa em memória de sua mãe; e Anna, que a 12 de maio de 1907 (quase três anos
após a sua morte) criou um memorial à
sua mãe e iniciou uma campanha para que o Dia das Mães fosse um feriado
reconhecido,
pretendendo que a festa fosse festejada para todas as mães, vivas ou mortas. E,
em 1914, a data foi oficializada, sob a presidência de Woodrow Wilson, pela
resolução Joint Resolution Designating the Second Sunday in May as
Mother's Day, aprovada pelo Congresso a 8 de maio, instituindo o segundo
domingo de maio como Dia das Mães. No
âmbito desta resolução, o Presidente
determinou, no dia seguinte, que no Dia
das Mães os edifícios públicos fossem decorados com bandeiras. Assim, o Dia
das Mães foi celebrado, pela primeira vez, a 9 de maio de 1914.
Porém,
com a crescente difusão e comercialização do Dia das Mães, Anna Jarvis afastou-se do movimento, lamentou a
criação e lutou para a abolição do feriado.
***
Começando
na antiguidade a celebração da Mãe como símbolo da fecundidade e da vida, da
verdura onde nascem e crescem as flores, agraváveis à vista e ao olfato, muitas
das quais dão os frutos nutritivos e saborosos, a festa depressa se fixou na mulher-mãe
que educativamente leva os filhos à caminhada para a Páscoa (a Quaresma é a caminhada espiritual,
pela penitência e pela escuta da Palavra, para a Páscoa da Ressurreição). Depois, na preocupação
de fazer da Virgem Maria o modelo das mães, situou-se no dia da Imaculada
Conceição, inserido no tempo pré-natalino.
Passando
para o mês de maio, a efeméride assume a índole memorialista em termos da
saudade norte-americana, mantém-se para os crentes na esfera de Maria, mas
agora como Senhora da Páscoa, e repesca o sentido primaveril da floração,
verdura, vida fecundidade. É também a Mãe-Natureza a desabrochar para os frutos
a amadurecer no tempo do estio, com vista à colheita outonal. Na verdade, nesta
época do ano, a Natureza torna-se mais bela que nunca, vestindo-se de flores
das mais variadas cores, dos mais ricos matizes, de intensos e diversos
perfumes. O seu clima propicia o começo do período reprodutivo de muitas plantas
e árvores. E é o renascimento primaveril que, à semelhança do dinamismo
maternal e inspirando-o, reinstala a alegria e o colorido, depois duma estação
cinzenta e fria. Prepara-se, como a mãe à espera do seu filho, para acolher a
vinda do verão, com o seu intenso calor e maturação frutificante.
Os
animais e os vegetais reanimam-se ao longo do espaço onde a primavera retorna. As
temperaturas aumentam gradualmente e as águas do mar aquecem cada vez mais. Mas
o clima é geralmente mais ameno que o do verão. É inegável a poesia desta
estação, pois ela é inspirada pela presença de flores como a margarida, o pingo
de leite, a rosa, o girassol, bem como por jasmins,
hortênsias, hibiscos, lágrimas-de-Cristo, crisântemos, narcisos, violetas,
damas-da-noite, entre outras.
Neste período, também as pessoas vão despertando
e, saindo dos seus casulos, dão mais atenção e cuidado aos jardins, cultivam
flores, plantas e árvores. A alegria invade os corações humanos e também dos
animais, que também saem dos seus refúgios e passam a circular com mais
intensidade no alto e na terra. Saímos da introspeção hiemal e passamos a florescer e a despertar em
vida e calor. É a chegada da energia que nos faz abrir novas fontes de
criatividade, tornar mais otimistas, observadores e determinados. As cores passam por profundas transformações, contagiando
os recantos atingidos pela primavera, que inspira poetas e artistas de todas as
áreas. Os raios solares aproximam-se cada vez mais destes espaços coloridos,
intensificando os diversos matizes com sua luz dourada. A Natureza como que se
espreguiça e renasce.
É um tempo em que
ocorre o florescimento de várias espécies de plantas, um período em que a
natureza fica bela, presenteando o ser humano com flores coloridas e
perfumadas, o início da época de reprodução de muitas espécies de árvores e
plantas.
E,
para os seres humanos, a ambiência primaveril espelha-se no rosto acolhedor da
mãe, que os acolheu pela geração, gestão, nutrição, educação e demais desvelos
maternos, por modo que eles venham a ser cidadãos autónomos, responsáveis e
intervenientes. A primavera significa, pois, crescimento, prosperidade
e bem-estar, tal como a mãe que tudo faz para criar ternura, bem-estar e prosperidade
e provocar o crescimento harmonioso e vigoroso.
A primavera é o começo de um novo ciclo, que
representa o “nascimento”. É o período da rega dos jardins e do lançamento das
sementes para o nosso processo de renascimento. Durante o equinócio de
primavera, apetece-nos a integrar a “Mãe Terra”, que todos os anos renova o seu
ciclo de nascimento e ressurreição, muito favorável a novos inícios.
Na primavera, a primeira manifestação de energia vital é o
nascer e brotar da vegetação. Trata-se dum momento de prosperidade e
crescimento. É uma estação excelente para trabalhar a comunicação, a abundância
e a fertilidade em nosso caminhar pessoal e social, lembrando-nos de que as
crianças representam as sementes do futuro e estão muito presentes com sua
alegria e disposição dentro deste processo, ao serviço do qual se colocam as
mães.
***
De acordo com antigas tribos indígenas, a primavera é a
estação do despertar. É quando enxergamos através da ilusão, ou quando
descobrimos novas informações, trazendo clareza contra o caos ou confusão. Deste
modo, recomeçamos rompendo velhos padrões, renovamos as nossas intenções e
propósitos e preparamos-nos para um novo ciclo, que traz o equilíbrio entre o masculino
e o feminino em nossas sinergias.
De facto, a primavera, como momento de florescimento,
recomeço, clareza e iluminação, inspira-nos a buscar um significado para a vida
e a buscar luz e força interior, bem como a fluidez para o caminho. Damos um
salto na primavera. Cada dia é como uma nova oportunidade de produzir sementes.
E as sementes que agora plantamos são para a próxima vida; e as sementes da
próxima vida estão a ser preparadas na vida presente. Sendo assim, na primavera,
somos convidados a examinar o nosso modo pessoal de ser e a decidir como vai o
nosso sistema de crenças (que
inspiram e norteiam a vida), pois dispomos do poder de tomar decisões e de usar o nosso livre
arbítrio.
A energia da primavera impulsiona-nos a procurar a verdade da
vida e a libertar-nos de ilusões que dificultam o nosso renascimento e trazem
claridade para trabalharmos as questões materiais. O poder desta estação é o
despertar do espanto, da espontaneidade, da admiração e da verdade. É o momento
de aprender a olhar os nossos desafios como oportunidades de crescimento
pessoal, ampliando a nossa força interior e a nossa fé. Neste momento em que a
força de vida, a Terra e a Natureza aparecem tão intensamente a seduzir-nos,
ficamos motivados para fazer com que a nossa vida se mova, depois das limitações
e do recolhimento do inverno, e sentimo-nos abertos à vida em sociedade, na
justiça e na solidariedade.
***
Por fim, aqui deixo, para todas as mães em tom
primaveril e de alguma contrição, o
Poema à Mãe, de Eugénio
de Andrade
No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha – queres ouvir-me? –
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas – tu sabes – a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha – queres ouvir-me? –
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas – tu sabes – a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
2017.05.07 – Louro de Carvalho
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