Pedrógão
Grande, no distrito de Leiria, foi ontem, dia 17 de junho, assolado por um
enorme incêndio devastador em bens, ambiente, mas sobretudo em vítimas humanas
mortais e feridos. Até ao momento em que escrevo, já se contabilizaram 62
mortos e mais de meia centena de feridos, que alguns dizem que pode duplicar. Dezenas
de pessoas encontraram a morte dentro dos veículos em que se faziam transportar,
ao passo que outras foram por ela apanhadas na berma da estrada. E outras foram
salvas entre o heroísmo de alguém e o milagre divino.
Segundo informação
policial, a causa da deflagração deste brutal flagelo incendiário, que se
estendeu rapidamente aos concelhos vizinhos de Figueiró dos Vinhos e
Castanheira de Pera, não teve mão criminosa, mas resultou do capricho da
natureza: o desencadear duma trovoada seca abriu várias frentes de fogo. A PJ
diz ter encontrado uma árvore atingida por um raio. O diretor nacional da
Polícia Judiciária afirmou à Lusa,
hoje de manhã, que o incêndio que deflagrou no concelho de Pedrógão Grande teve origem numa trovoada seca, afastando qualquer
indício de origem criminosa. Disse Almeida Rodrigues:
“A
PJ, em perfeita articulação com a GNR, conseguiu determinar a origem do
incêndio e tudo aponta muito claramente para que sejam causas naturais.
Inclusivamente, encontrámos a árvore que foi atingida por um raio. Conseguimos
determinar que a origem do incêndio foi provocada por trovoadas secas.”.
Creem alguns
que pouco ou nada mais havia a fazer, dado o caráter repentino do fogo, as
múltiplas frentes de deflagração, a inospitalidade dos terrenos, a difícil
acessibilidade, a inusitada acumulação de caruma provocada por ventos
anteriores recentes, a impensada altura das labaredas, a velocidade dos ventos
e a sua mudança repetitivamente repentina de direção, com a consequente mudança
de direção das chamas. E as muitas pessoas que morreram e as que se sentiram impedidas
de respirar – transportadas para o Centro de Saúde local, feito hospital de campanha
– não foram apanhadas pelas labaredas, mas ficaram encurraladas na estrada em
zonas de fumo baixo e espesso.
***
Algumas informações de pormenor
Como refere
o Público, “trovoadas secas,
temperaturas altas e vento contribuíram para um incêndio que começou antes das
três horas da tarde de sábado em Escalos Fundeiros”. Passavam das duas da manhã
de hoje quando o Primeiro-Ministro deu conta de que havia 24 mortos confirmados. Mais tarde, a
contagem elevou o número para 25. E os balanços foram-se sucedendo, com notícias
piores. Ainda de madrugada, o Chefe do Governo declarou, na sede da Proteção
Civil, em Carnaxide, que “esta é seguramente e maior tragédia que temos vivido.
Perante 61 mortos (já são
62) e pelo menos 150 desalojados, foi decretado luto
nacional nos dias 18, 19 e 20 de Junho.
Entretanto,
o Presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, disse à Lusa que, com base nas informações dos
diversos órgãos de comunicação social, o número de desalojados pode chegar aos
250. Entre as vítimas mortais estão pelo menos 30 pessoas que morreram dentro
das viaturas ou foram apanhadas pelas chamas perto dos carros, na estrada,
entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera. Três morreram por inalação de
fumos, junto a um cemitério. Havia ainda ao princípio desta tarde 59 feridos,
18 transportados para hospitais em Lisboa, Porto e Coimbra, cinco em estado
grave. E o Presidente da República esteve em Pedrógão Grande, onde, além
de deixar uma “palavra de ânimo, de solidariedade, de confiança e de conforto”
defendeu claramente a atuação da Proteção Civil, referindo que “o que se fez
foi o máximo que era possível fazer, não tendo sido “possível fazer mais”, e
acrescentando que os bombeiros foram “verdadeiros heróis”. E garantiu: “Não há nem falta de competência, nem falta
de capacidade, nem falta de imediata resposta perante desafios difíceis”.
Durante a
noite foram chegando ao concelho grupos de combate a incêndios dos distritos de
Setúbal, Évora e Lisboa. A este respeito, Rui Esteves, comandante operacional
nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil explicava, pelas duas da manhã,
não ter sido possível um reforço de meios mais forte mais cedo por causa do
número de incêndios em todo o país (156, segundo afirmou de madrugada António Costa). Ao ser questionado sobre o assunto,
garantiu também que, apesar das falhas nas comunicações, os bombeiros estiveram
sempre contactáveis. À mesma hora, a EDP tentava repor a eletricidade no
concelho com recurso a oito geradores.
Por seu
turno, o Presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, vaticinava, ao
princípio da madrugada, que o número de mortos seria mais do dobro do que o
indicado até então. Horas antes de se saber que o fogo seria mortal, declarara
ter falta de meios para acorrer às aldeias que estavam em “muito perigo” e
pedira mais bombeiros para o combate. As vítimas mortais “serão do concelho”,
umas; e outras poderão ser visitantes.
Por volta
das três da madrugada, a situação em Figueiró dos Vinhos era descrita como
“caótica” devido ao avanço do incêndio de Pedrógão: “Há diversas povoações a
arder em todo o concelho e as chamas estão a cercar a vila”, dizia à Lusa a vereadora Marta Fernandes. O
incêndio era combatido unicamente pelos bombeiros locais e pelos moradores das
zonas afetadas, uma vez que as corporações dos concelhos vizinhos estavam na
linha da frente do combate ao incêndio em Pedrógão Grande.
Pouco
depois das 4 da manhã, o incêndio continuava com 4 frentes ativas, era
combatido por 593 operacionais, apoiados por 191 viaturas. Várias
estradas estavam cortadas em Leiria, Coimbra e Vila Real. Dois
pelotões de militares, “que são muito importantes também para as operações de
rescaldo”, vieram, neste domingo, reforçar os meios no concelho, segundo disse a
Ministra da Administração Interna, que também se deslocou a Pedrógão Grande.
Hoje de manhã chegaram ainda dois Canadair
de Espanha, que se juntaram aos meios aéreos portugueses e esperavam-se também
auxílios aéreos franceses. No terreno, estão equipas da PJ e do Instituto
Nacional de Medicina Legal com o objectivo de identificar as vítimas mortais. E
a Marinha está presente com o apoio alimentar a bombeiros e a elementos da população
que dele necessitem.
Constança
Urbano de Sousa disse que “o momento é de concentrarmos todos os nossos esforços
no combate às chamas”. Numa fase posterior, “será feita uma avaliação sobre o
que correu bem, o que não correu, o que aconteceu”. Porém, é de sublinhar que o
Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, foi o primeiro no
terreno a dar a notícia de que havia mortos e anunciou que foi declarado o
plano de emergência distrital. Disse:
“Em
nome do Governo, desde já, endereço às famílias o nosso pesar e o nosso lamento
pelo que aconteceu. Isto não tem resposta. Estamos todos consternados com o que
está acontecer e queremos acabar com tudo isto depressa.”.
Passos
Coelho, líder do PSD, afirmou que o que se passou foi “uma tragédia muito
grande”, admitindo durante uma sessão de apresentação do candidato do partido à
autarquia de Ansião:
“Tivemos noção da proporção dessa tragédia há muito pouco e não quis deixar, mesmo num dia que era um dia de festa aqui para nós, de endereçar a todas as famílias enlutadas a nossa solidariedade”.
Também Presidente do CDS/PP, Assunção Cristas, declarou:
“Em profundo choque, perante a tragédia que se vive no distrito de Leiria, expresso o meu pesar pelas vítimas mortais e a minha total solidariedade para com as famílias atingidas”.
Ao princípio da tarde deste domingo, António Costa declarou que existem ainda zonas do terreno inacessíveis devido ao incêndio que continua a lavrar com violência. Novamente questionado sobre as causas do incêndio, Costa repetiu que “chegará o momento de os técnicos apurarem o que aconteceu”. “Concentremo-nos no que está ao nosso alcance”, apelou. O Primeiro-Ministro referiu que estão confirmados, até ao momento, 62 mortos.
“Tivemos noção da proporção dessa tragédia há muito pouco e não quis deixar, mesmo num dia que era um dia de festa aqui para nós, de endereçar a todas as famílias enlutadas a nossa solidariedade”.
Também Presidente do CDS/PP, Assunção Cristas, declarou:
“Em profundo choque, perante a tragédia que se vive no distrito de Leiria, expresso o meu pesar pelas vítimas mortais e a minha total solidariedade para com as famílias atingidas”.
Ao princípio da tarde deste domingo, António Costa declarou que existem ainda zonas do terreno inacessíveis devido ao incêndio que continua a lavrar com violência. Novamente questionado sobre as causas do incêndio, Costa repetiu que “chegará o momento de os técnicos apurarem o que aconteceu”. “Concentremo-nos no que está ao nosso alcance”, apelou. O Primeiro-Ministro referiu que estão confirmados, até ao momento, 62 mortos.
***
***
O panorama geral segundo os populares
Nas aldeias
de Pedrógão Grande, o olhar é de desolação, assim como a paisagem, destruída
depois das chamas. “Num segundo as chamas estavam a quilómetros,
noutro já estavam em cima de nós” – desabafa
Henrique Carmo, sucateiro, morador de Adega, pequena aldeia do concelho de
Pedrógão Grande, distrito de Leiria, um dia depois de o fogo ter consumido tudo
por onde passou. E diz:
“Bastaram alguns segundos e tudo ficou
reduzido a cinzas. Num momento as chamas estavam a quilómetros, noutro já
estavam em cima de nós.”.
Enquanto
olha estupefacto para os cadáveres carbonizados dos animais, apanhados pelas
chamas no barracão do irmão, Henrique pouco consegue dizer. “Estou maluco com isto tudo”, resume. “Agora
é este negro todo à volta.” Os carros e o ferro-velho com que negoceia
estão reduzidos a nada. O sucateiro ainda não fez contas aos prejuízos. Nem tem
cabeça para isso. E lamenta: “A casa da
minha avó, onde eu às vezes também estou, também foi atingida”. A única
imagem que guarda, desde que o fogo chegou a Adega, é a das chamas a surgirem
com uma força tal que mais pareciam “as ondas do mar que tudo levam à frente”.
Por seu turno,
Maria da Conceição passou a noite em branco. Em Chãos, a manhã deste
domingo foi tempo de ver o que ficou. Destruição. Pouco mais. E afirma em tom
de revolta: “A casa salvei, mas o resto
foi tudo. Valeram-me os baldes de água, que bombeiros não vi cá nenhum”.
Muda-se de terra, mas as queixas são as mesmas.
A paisagem
florestal nos cerca de 20 quilómetros de caminho entre Figueiró e Pedrógão é
agora marcada pelo preto. O chão transformou-se num manto cinzento, pontuado
por troncos de árvores queimadas. Pelas estradas, veem-se postes de
eletricidade tombados ou queimados. Também há casas sem telhado, jardins
desfeitos e viaturas queimadas nas valetas, algumas das quais acidentadas. Laurinda
Pires, cujo ex-cunhado foi uma das vítimas, conta:
“As pessoas, em pânico, meteram-se nos
carros para fugir. Umas despistaram-se, outras foram apanhadas pelas chamas. A
minha vizinha disse-me que ele tentou fugir e o carro estava batido. Mas não
sei o que se passou.”.
Amélia
Pires, de 80 anos, apenas diz que nunca viu semelhante tragédia. Habitante de
Senhora da Piedade, outra aldeia do concelho de Pedrógão, ficou impedida de
regressar a casa. Estava num convívio em Leiria quando soube que a terra estava
a arder. Regressou de imediato, mas não passou de Avelar, onde continuava neste
domingo de manhã, ela e muitos outros, que ali se refugiaram e só agora
despertam para a realidade. A área próxima ao campo de futebol, junto ao IC8,
foi transformada em local de receção de centenas de pessoas que, ao início da
tarde de hoje, ainda não tinham autorização para regressar a casa. Neste
acampamento, com elementos da Cruz Vermelha e outros profissionais da saúde e
da assistência social, há quem procure informações sobre familiares. E Filomena
Vilar, ansiosa por saber se os pais, com quem já não fala desde a madrugada, se
encontram em segurança, lamenta:
“Não nos dizem nada, cortaram-nos o
caminho e tivemos de passar aqui a noite”.
***
Repercussões
internas e externas
O número de
vítimas na sequência do incêndio de Pedrógão Grande continua a subir e a
dimensão da tragédia é reportada em todo o mundo. A imprensa mundial dá conta
do sucedido, frisando que a maioria das vítimas perdeu a vida quando tentava
fugir das chamas nos carros.
Por exemplo,
A BBC escreve que, apesar de os
incêndios florestais não serem novidade no tempo quente, os governantes
portugueses estão “visivelmente chocados” com o número de vítimas. Em Espanha, El Mundo fala num incêndio “descontrolado”
que continua a fazer vítimas e El
País assinala que 30 pessoas morreram dentro dos carros. Em França, Le Figaro assinala que há dezenas
de mortos e que o número não cessa de aumentar, tal como o italiano Corriere della Sera. E a
norte-americana CNN dá destaque
ao dramático número de mortos, tal como o Financial Times ou
mesmo a Al-Jazeera, do Qatar.
O treinador português André Villas-Boas promoveu
desafio que vale ajuda financeira (100 mil euros) para as vítimas do incêndio que já provocou 61 mortes.
A
Caritas Portuguesa disponibilizou já 200 mil euros para esta emergência. E o
Santuário de Fátima, além da oração, promete um apoio pecuniário a definir
muito em breve.
E,
por ocasião da recitação do Angelus
com a multidão reunida na Praça de São Pedro, o Papa Francisco disse:
“Exprimo a minha proximidade ao querido povo
português pelo incêndio devastador que está a consumir as florestas à volta de Pedrógão Grande, causando numerosas vítimas
mortais e feridos. Rezemos em silêncio.”.
***
Alguns especialistas
dizem não saber ainda as dimensões do incêndio, as suas causas e se era
possível evitá-lo. Com efeito, o desconhecimento dum terreno inóspito e de
acesso muito difícil, bem como a dificuldade de num território com aquela
morfologia construir aceiros, charcas de água, pontos de água e plantios de
cereal – fatores acrescidos da irregular acumulação de carumas e outros lixos –
não deixam vislumbrar com clareza uma solução preventiva totalmente eficaz. Porém,
outros entendem que era possível evitar a extensão dos malefícios do incêndio
que, dada a sua origem natural (confiando na informação policial), era inevitável. Assim, teriam de se considerar as
previsões meteorológicas fornecidas regularmente pelo IPMA, guarnecer os lugares
com maior risco de viaturas, homens e camiões-cisternas e cortar as estradas que
oferecem este tipo de perigo a tempo e horas.
Bom, é de
perguntar se havia meios logísticos e humanos para acorrer a tudo. Por outro
lado, é de lembrar a necessidade da prevenção eficaz (vigilância, limpeza,
aceiros, clareiras, charcas de água, pontos de água, plantio de cereais), do reordenamento racional da floresta (policultura,
predomínio de folhosas, espaçamento…) e da
existência sólida e estável dum organismo coordenador unificado da atividade florestal.
Venha daí a
vontade política que faça cessar os incêndios como fonte de lucro para alguns!
2017.06.18 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário