Vai realizar-se, de 13 a 17 de junho, o IV
Congresso Internacional Santuários na região do Douro, com referência aos centros urbanos de Régua, Vila
Real, Lamego e Meda. Com efeito, o
Museu do Douro, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Universidade de Lisboa (UL) são algumas das instituições
envolvidas na organização, que tem o apoio das câmaras municipais dos municípios
envolvidos e das entidades que gerem os espaços das sessões e visitas.
O “Congresso Internacional Santuários”, que já vai na 4.ª edição, constitui-se
em encontro cuja caraterística
principal consiste, segundo o site da
UTAD, em “estimular e promover a troca de ideias por parte de estudiosos e
interessados nos mais diferentes campos do saber”. A ideia de realizar esta modalidade
de congressos “nasceu da vontade e da preocupação científica dum grupo de investigadores,
pertencentes a diversas universidades europeias e brasileiras, de criar uma
nova plataforma de diálogo entre as ciências sociais, humanas, exatas, as artes
e as diversas expressões do Sagrado ao longo do tempo e nas mais diversas
localizações geográficas”.
Não se trata assim, apesar do apoio do SNPC (Secretariado
Nacional da Pastoral da Cultura), cujo site
faz eco desta iniciativa, de um congresso de santuários na estrita aceção
cristã, muito menos na linha de pensamento da Carta Apostólica Sanctuarium in Ecclesia, de 11 de
fevereiro de 2017 – o que não quer dizer que alguns santuários abordados neste
género de congressos não estejam vocacionados a cumprir o desiderato plasmado
no mencionado documento pontifício. Porém, estas jornadas fazem a bordagem mais
nas vertentes históricas, culturais, artísticas, sociais e económicas –
incluindo manifestações religiosas pré-cristãs. Na verdade, como se dizia a propósito do anúncio da 1.ª edição do Congresso,
em 2014, “um santuário constitui-se como um ‘concentrado espacial’ da
cultura e da religião, um sítio de ligação privilegiada e imediata com o
sagrado, sendo muitas as possibilidades de análise de determinado santuário”.
O objetivo destes
congressos é, pois, o estudo dos santuários desde a pré-história até à
contemporaneidade, passando pelo mundo romano. Uma das temáticas dos congressos
é o uso continuado dos locais de oração, bem como as mudanças que sofreram ao
longo dos séculos.
São aceites
contributos nos campos da antropologia, da arqueologia e da história das
religiões, ligados à escolha do local sagrado, da arquitetura e demais artes
plásticas, dança, economia, geologia, história, história das religiões,
medicina, música, museologia, paisagem, património material e imaterial,
religião, turismo e afins, do uso das imagens sacras e da sua disseminação ao
longo dos caminhos de peregrinação. A peregrinação, outra das redes que une
muitos locais religiosos na Europa e fora dela, é investigada e apresentada
pelos oradores participantes.
E, para
promover o progresso do seu conhecimento e chamar a atenção para os santuários
há espaço para a abordagem das antigas e das novas peregrinações, bem como o
turismo religioso contemporâneo, tendo como foco o itinerário cultural do Conselho
da Europa.
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O “I Congresso Internacional Santuários”
realizou-se, nos dias 12 a 14 de setembro de 2014, no Auditório do Fórum
Cultural Transfronteiriço, no Alandroal, vila do Alentejo, em cujo território
se situa o santuário ao deus Endovélico, um dos maiores santuários da época
romana (séculos I d.C. — V d.C.), na Península Ibérica.
O “II Congresso Internacional Santuários” decorreu
no dia 18 de dezembro de 2015 (só um dia), no Grande
Auditório da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
O “III Congresso Internacional Santuários”
realizou-se da 9 a 13 de julho, em Itália, na Valcamonica, o Vale dos Símbolos – um dos
raros locais no mundo onde é narrada ao longo dos tempos uma longa história de
profunda espiritualidade, estando incluída nos seus tesouros uma rica coleção
de arte rupestre, que induziu o seu reconhecimento como Património Mundial pela
UNESCO. À dominação romana sucedeu uma complexa sequência de eventos que
acompanharam a conversão ao cristianismo nos Alpes. O seu legado inclui inúmeros
vestígios de igrejas, capelas, santuários e locais de culto.
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Nesta quarta
edição, o Congresso vai continuar a tradição criada pelos investigadores que lhe
deram origem, sendo, portanto, como já foi referido, aceites contributos nos
campos da antropologia, arqueologia, arquitetura, artes plásticas, dança,
economia, geologia, história, história das religiões, medicina, música,
museologia, paisagem, património material e imaterial, religião, turismo e
afins. Uma sessão especial será dedicada aos “Itinerários Culturais do Conselho
da Europa” com especial referência para aqueles que estão ligados ao sagrado.
Assim, foram
selecionados como exemplos de temáticas a ser abordadas os seguintes: “Santuários
e rituais, da Pré-história aos nossos dias”; “Arte
e iconografia: presença, modelos e vias de difusão”; “Arquitetura, arte, devoção”; “Locais
sagrados, peregrinações, romarias e festas”; “Paisagens e ambientes naturais”; e “Pessoas e manifestações do sagrado”.
As
comunicações selecionadas serão publicadas em 2 volumes na Revista “/Santuários/” (n.os
7 e 8, 2017) que
será editada pelo CIEBAUL / CETRAD-UTAD (cf sites da UTAD e do
SNPC).
O congresso
vai ter lugar no Museu do Douro (Régua), no Teatrino (Vila Real) e na Casa
da Cultura da Meda.
Além das
cinco sessões de trabalho, o programa inclui visitas guiadas, a par de uma
conferência sobre os “Itinerários Culturais do Conselho da Europa” com
referência especial aos ligados ao sagrado.
As
visitas vão incluir: o Museu do Douro, o Miradouro de São Leonardo da Galafura,
Santuários de Panoias, UTAD-Jardim Botânico Museu de Geologia, Santuário de
Nossa Senhora dos Remédios, Museu de Lamego, Museu Diocesano de Lamego, Sé de
Lamego, Comboio Régua-Pocinho, Marialva, Longroiva (Castelo
e Termas). Visitas pré
e pós-congresso: Museus de Vila Real; Sabrosa (Espaço Miguel
Torga, Castro de Sabrosa).
Vale do Coa, Museu e sítio de arte rupestre do Coa.
As
visitas pré-congresso foram: Vila Real, a 11 de junho, e Sabrosa, a 12; as
visitas pós-congresso serão: Vila Nova de Foz Coa,
a 18 de junho, e Sabrosa, a 19 de junho.
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O
programa prevê, no 1.º dia, com atividades na Régua, o início dos
trabalhos no Museu do Douro, na Régua, com a abertura da secretaria e entrega
da documentação, a que se seguirá a sessão de abertura e a apresentação do
Congresso.
Depois,
realizar-se-á a 1.ª sessão de trabalho com uma
interrupção para café. E, depois do almoço, que decorrerá em regime livre, terá
lugar a 2.ª sessão de trabalho, após a
qual, uma pausa para café precederá a visita guiada ao
Museu do Douro.
O dia terminará com
“Segredos do Néctar Sagrado” – prova
de vinhos do Douro no Teatrino com a coordenação de António Pirra – e jantar
em regime livre, podendo os congressistas aproveitar o ensejo para contemplar a
beleza da paisagem duriense no fim do dia.
O 2.º dia, que prevê atividades na Régua e em Vila
Real, começará também na Régua, no Museu do Douro, com a 3.ª sessão de trabalho, que sofrerá uma
interrupção para café. E, depois do almoço, em regime livre, será a partida
para Vila Real, durante cujo percurso se efetuará a visita ao Miradouro de São Leonardo da Galafura evocado num belo
poema de Miguel Torga. Seguir-se-á a visita ao Santuário Rupestre de Panoias, em
Valdenogueira, Vila Real, guiada por Mila Simões de Abreu.
Na UTAD, decorrerá a visita ao Museu de Geologia “Fernando Real”
e a visita ao Jardim Botânico da UTAD, guiada por António Crespi e Isabel
Cabral.
E este 2.º dia terminará com o churrasco de convívio organizado
pela Rupestris, na UTAD.
O 3.º dia, que prevê atividades na Régua e em Lamego,
iniciar-se-á na Régua, no Museu do Douro, com a 4.ª sessão de trabalho, que terá uma interrupção para café.
Depois do almoço, em regime livre, será a partida para Lamego
para a visita ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, a visita guiada ao
Museu de Lamego e visita guiada à Sé de Lamego e ao Museu Diocesano do Lamego.
O dia terminará com um lanche ajantarado (oferta) e regresso à Régua.
O 4.º dia decorrerá com atividades na Régua e na Meda.
Começará com concentração na Estação de Comboios de Peso da Régua e subsequente
partida, em comboio, com destino à estação de Pocinho, em Vila Nova de Foz Coa,
e dali, em autocarro, para Meda. Durante este percurso, far-se-á a visita a
Longroiva.
Na Meda, haverá um ato de boas-vindas,
a que se seguirá a 5.ª sessão de trabalho,
com pausa para café.
Depois, será o momento da palestra
de honra, a cargo de Roberta Alberotanza, Ex-Presidente do Comité Cultura
do Conselho de Europa e especialista do Ministero
dei beni e dele attività culturali e del turismo, Itália sob o título “Caminhos Europeus da Cultura”. Seguir-se-á
o debate geral e a sessão final, findando o dia com lanche
ajantarado (oferta) e convívio cultural.
O
5.º (e
último) dia
decorrerá no concelho da Meda e constará de: visita à vila
medieval de Marialva, pausa para café, visita a Longroiva (castelo e termas), almoço (em regime livre) na Meda, assembleia da “Alter Ibi”, colóquio «‘Santuários’ projetos futuros» e encerramento. (cf site da CM Meda).
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Por
esta iniciativa, liderada por investigadores da UTAD e da UL, se vê quão
importante se afigura o estudo dum património que, até há relativamente pouco
tempo, interessava a curiosos, a alguns especialistas e ficava longe do
interesse popular, a não ser que estivesse de algum modo afeto ao culto cristão.
Por outro lado, estes testemunhos (antigos ou coevos) podem constituir excelente ferramenta
para a descoberta da história evolutiva das mentalidades, dos usos e da tendência
a religiosa do homem, que não se confina aos limites o tempo e do espaço: quer,
antes, projetar-se no espaço, no tempo, no futuro, na memória, no transcendente.
E nem sempre consegue libertar-se do ensimesmamento crónico ou da má tentação de
explorar o próximo.
2017.06.12 – Louro de Carvalho
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