domingo, 18 de junho de 2017

Jesus Cristo não vai de férias

É uma advertência do Padre António Alves Pinto da Costa no termo da Missa Campal de Encerramento da Catequese da paróquia de São João de Ver, celebrada hoje, dia 17 de junho, pelas 16 horas, com a grande multidão no pátio existente entre as ruas de Luís de Camões e a das Oliveiras, na Urbanização da Suil Park.
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O sentido da Celebração
Como previsto, no blogue da paróquia, foi “uma festa para todas as crianças e jovens da nossa catequese, que desta forma terminam um ano repleto de atividades de enriquecimento pessoal e espiritual”, mas foi também “uma festa para toda a comunidade, na qual a Igreja sai das portas e muros do edifício para se tornar numa igreja em saída no meio do seu povo”. E, conforme o solicitado, todas as crianças e jovens da catequese envergavam a t-shirt branca da paróquia ou uma camisola branca e vieram munidos de chapéu e água.
Obviamente não há bela sem senão. E a advertência enunciada em epígrafe surgiu pela verificação da magra presença de crianças do 2.º ano da catequese, pois, de 48 crianças que fizeram a 1.ª comunhão no dia 15, Solenidade do Corpo de Deus, estavam hoje presentes na missa apenas 10 – algo parecido com o que se passou com os jovens que fizeram a profissão de fé no 1.º domingo de maio e cuja presença hoje primou pela magreza. Não obstante, o Padre António, pároco da vila agradeceu a colaboração de todos: catequistas, grupo JC, cujo coro acompanhado por alguns instrumentos embelezou a celebração, moradores da urbanização e todos quantos estiveram presentes. Foi um modo de a Igreja sair à rua, não em atitude provocatória, mas em postura testemunhante da fé. A esse respeito, o sacerdote pediu desculpa aos moradores que tenham outra opção religiosa, agradecendo a sua compreensão. No entanto, apelou à continuidade reforçada da vida cristã de todos, porque Jesus não vai de férias, frisando a responsabilidade dos pais neste acompanhamento dos filhos – a ponto de dizer que podem os catequistas ser uns santos, mas nada se consegue sem a colaboração empenhada dos pais.
Por seu turno, os catequistas fizeram passar simbolicamente o balão da mensagem por duas vezes (no princípio e no fim), avisando que a mensagem passa quanto todos sentem o compromisso, mas tem dificuldade em passar à medida que as pessoas se afastam e dispersam.
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A proclamação da Palavra de Deus
Neste XI domingo do Tempo Comum, foram tomadas como leituras as seguintes passagens bíblicas; Ex 19,2-6a (Leitura I); Rm 5,6-11 (Leitura II); e Mt 9,36-10,8 (Evangelho, Leitura III).
Segundo o Livro do Êxodo, por ordem de Deus, que chamou Moisés para a missão de libertação e condução do povo, foi solenemente recordado o que o Senhor fez no Egito, como o transportou sobre asas de águia e o trouxe até Si. Por isso, o Povo, que, ouvindo a Sua voz, guardaria a aliança com Deus, ficará constituído em Sua propriedade especial entre todos os povos, isto é, seremos para Deus “um reino de sacerdotes, uma nação santa”.
Esta perícopa integra as “tradições sobre a aliança do Sinai” – tradições de origem diversa, cujo denominador comum é a reflexão sobre o compromisso (“berit”/“aliança”) que Israel celebrou com Jahwéh no deserto do Sinai, “em frente do monte”. O texto não dá indicações geográficas da identificação do “monte”. O Sinai designa uma enorme península triangular, com mais ou menos 420 quilómetros de extensão norte/sul, entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho (no sentido norte/sul) e o golfo do Suez e o golfo da Áqaba (no sentido oeste/este). É um deserto árido, pouco povoado, terreno acidentado e várias montanhas que chegam aos 2400 metros de altura. Porém, uma tradição cristã do séc. IV d.C. identifica o “monte” com o “Gebel Musah” (o “monte de Moisés”), com 2244 metros de altitude, a sul da península sinaítica – ainda hoje lugar de peregrinação para judeus e cristãos.
A palavra “berit” define o pacto entre duas partes, que implica direitos e deveres recíprocos. Apesar de raramente ser escrita, tinha sempre valor jurídico, sendo selada por um ritual consagrado pelo uso, que incluía o juramento e a imolação de animais em sacrifício.
É de considerar que é de Deus a iniciativa da “aliança”: Jahwéh chama Moisés – o intermediário entre Deus e o Povo – para a montanha e propõe, mediante ele, a “aliança” à “casa de Jacob” – o que mostra que iniciativa de estabelecer laços de comunhão e familiaridade com o Povo é sempre de Deus. A “aliança” proposta por Deus envolve toda a história do Povo. As palavras da proposta “aliança” distribuem-se por três segmentos, abarcando cada um o seu tempo: passado, presente e futuro – apontando a totalidade da caminhada do Povo de Deus. O 1.º segmento refere-se ao passado (libertação da escravidão do Egito, presença amorosa de Deus na marcha pelo deserto e vocação à comunhão com Deus) – “compromisso” que Deus assumiu antes da “aliança” do Sinai. O 2.º segmento atinge o presente. O Senhor convida Israel ao estabelecimento com Deus de laços privilegiados de comunhão e familiaridade, para o que postula a observância dos mandamentos como contrapartida da proteção divina. E o 3.º segmento reporta-se ao futuro, oferecendo Deus ao Povo uma relação que o tornará o Povo eleito de Deus, reino de sacerdotes e nação santa. Ora, sendo reino de sacerdotes, a sua missão é testemunhar Deus e torná-Lo presente no mundo; e, sendo nação santa, dedicar-se-á exclusivamente ao serviço do Senhor. A “aliança” integra, pois, o projeto de salvação de Deus para com os homens: não é privilégio, mas serviço a concretizar na missão profética de ser sinal vivo de Deus no mundo.
Vê-se aqui o sentido fundamental do Êxodo: a libertação do Egito não se reduz à saída dum povo da escravidão para a liberdade: a caminhada iniciada por Deus com o Povo aponta para o compromisso com Deus e com os homens, para a construção dum Povo que não só conquista a liberdade, mas se torna testemunha, sinal e sacerdote de Deus no meio do mundo.
A esta Palavra proclamada na Liturgia, responde-se com o Salmo 100 (99) em torno do refrão “Nós somos o povo de Deus, as ovelhas do seu rebanho”, que marca essa identificação do Povo de Deus e atesta a eternidade da sua misericórdia e a perenidade da sua fidelidade.
A Carta aos Romanos, escrita por Paulo por volta do ano 57/58, é um escrito sereno e maduro em que o apóstolo sintetiza a sua mensagem e pregação. O seu pretexto é a intenção de passar por Roma, a caminho de Espanha (cf Rm 16,23-24), sentindo que terminou a sua missão a oriente e que precisa de evangelizar a ocidente. Por outro lado, Paulo utiliza a carta para lembrar, quer aos cristãos provindos do judaísmo (para quem a salvação supostamente dependia da prática da Lei de Moisés), quer aos cristãos provenientes do paganismo (para quem a Lei parecia constituir empecilho) o essencial da mensagem cristã. Paulo insiste no facto de a salvação não ser conquista do homem, mas dom do amor de Deus. De facto, todos os homens estão imersos no pecado, que é uma realidade universal (cf Rm 1,18-3,20); porém, na sua bondade, Deus a todos “justifica” e salva (cf Rm 3,1-5,11); e, sendo a salvação oferecida por Deus ao homem por intermédio de Jesus Cristo, resta ao homem aderir a esse desígnio de salvação, na fé (cf Rm 5,12-8,39).
O texto ora proclamado é a parte final da perícopa iniciada em Rm 5,1. Nela, Paulo explica o que brota da “justificação” que Deus nos ofereceu: a paz, como plenitude dos bens (cf Rm 5,1); e a esperança, que nos leva a seguir por este mundo de cabeça erguida e de olhos fixos no futuro glorioso da vida plena (cf Rm 5,2-4). Ora, sermos “justificados” (ou recebermos de graça a salvação não merecida) implica descobrir quanto e como Deus nos ama. Segundo Paulo, o amor de Deus por nós nunca deixará de nos “espantar” – “espanto” que o Apóstolo quer transmitir aos cristãos. A economia da salvação é a história inefável do amor. Como o homem, se contasse apenas com as suas forças, não superaria as malhas da escravidão, egoísmo e pecado em que jazia, Deus enviou o seu Filho ao mundo, que ofereceu a vida até à morte na cruz para que os homens sintam que o egoísmo induz o sofrimento e a morte e que só o amor gera felicidade e vida sem fim. Deste modo, salvou os homens da escravidão (do egoísmo e do pecado) e ofereceu-lhes a salvação de modo inteiramente gratuito. Mas o mais extraordinário é que isto sucedeu “quando éramos, ainda, pecadores” – algo incompreensível em termos humanos, a subverter a lógica dos homens. Talvez aceitássemos morrer por alguém que muito amamos, mas nunca estaríamos dispostos a dar a vida por alguém egoísta, orgulhoso e autossuficiente. Porém, Deus ama-nos de tal forma a todos que entregou o próprio Filho para morrer pelos ímpios. Assim, o amor de Deus é mesmo amor “inclassificável”, inexplicável, incrível, ilógico, absoluto, eterno. Nada nem ninguém o vencerá, derrotará, eliminará. E Paulo assegura que, se Deus nos amou assim quando éramos pecadores, com mais razão nos ama agora que estamos reconciliados Consigo. Este amor que nada nem ninguém apagarão é garantia de vida plena. De facto, Deus prova o seu amor para connosco nestes termos: Cristo morreu por nós, quando éramos pecadores; e agora, que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão seremos pela sua vida.
E nós gloriamo-nos em Deus, por Jesus Cristo Senhor, por quem alcançámos a reconciliação.
Mateus no seu Evangelho, escrito na década de 80, depois de ter apresentado Jesus (cf Mt 1,1-4,22) e de o ter mostrado a anunciar o “Reino” em palavras e obras (cf Mt 4,23-9,35), descreve o envio dos discípulos em missão (cf Mt 9,36-11,1). Os discípulos são aqueles que Jesus chamou, que responderam ao chamamento e que O seguiram. Na caminhada que fizeram com Ele, escutaram o seu ensino e testemunharam os seus sinais. Formados na “escola do Reino”, foram enviados ao mundo para anunciarem a todos os homens a chegada do próprio “Reino dos Céus”.
Designa-se o texto que vai de 9,36 a 11,1 por “discurso da missão”. Aí, Jesus envia os discípulos e define a missão deles: o anúncio da chegada do “Reino”. O “discurso da missão” consta de: introdução (cf Mt 9,36-38); chamamento e envio dos discípulos (cf Mt 10,1-15); instrução sobre o “caminho” que têm de percorrer (cf 10,16-42); e conclusão (cf Mt 11,1). É um texto elaborado pelo evangelista a partir de materiais diversos, combinando relatos de envio, “ditos” de Jesus sobre os “doze” e várias outras “sentenças” de Jesus que originariamente não terão sido proferidas neste contexto.
O apóstolo dirige-se a uma comunidade viva, empenhada na atividade missionária (será a comunidade de Antioquia da Síria). Todavia, as dificuldades topadas no anúncio do Evangelho e a perseguição traziam a comunidade meio desorientada e perturbada. Assim, Mateus elaborou um “manual do missionário cristão”, que enraíza a missão em Cristo, sintetiza os conteúdos do anúncio que os discípulos são chamados a proclamar e define as atitudes fundamentais dos missionários.
O texto proclamado na missa inclui a introdução e parte da descrição do chamamento e envio. Na introdução (cf Mt 9,36-38), Mateus explica que a missão a que Deus chama os discípulos é expressão da solicitude de Deus, que oferece a salvação ao seu Povo. Mateus – escrevendo a uma comunidade onde havia um número significativo de crentes de origem judaica – usa, na transmissão da mensagem, imagens veterotestamentárias muito familiares aos judeus. Nas palavras de Cristo, Israel é a comunidade desnorteada, cujos pastores (líderes religiosos judeus) declinaram as suas responsabilidades. São os maus pastores de que falavam os profetas (cf Ez 34; Zc 10,2). Porém, o coração de Deus está cheio de compaixão por este rebanho e assume as suas responsabilidades, conduzindo o Povo às pastagens de vida.
A referência de Jesus à “messe” indica a urgência da missão e que não há muito tempo para a levar a cabo (nos profetas, a “messe” liga-se ao juízo iminente de Deus – cf Is 17,5; Jr 13,24; Jl 4,12-13); a explicitação do “pedido” a fazer ao Senhor da “messe” é um apelo a que a comunidade encare a missão como obra de Deus, a levar a cabo com os critérios de Deus (a comunidade deve, pois, rezar para se aperceber dos projetos, perspetivas e critérios de Deus – antes de anunciar o Evangelho). Por outro lado, o chamamento dos discípulos (cf Mt 10,1-4) é iniciativa de Jesus: “chamou-os”. Não há explicação dos critérios da escolha: falar de vocação e de eleição é falar de mistério insondável, que depende de Deus e que o homem nem sempre compreende ou explica.
O número “doze” dos discípulos é um número simbólico, que lembra as 12 tribos que formavam o antigo Povo de Deus. Estes “doze” representam simbolicamente a totalidade do Povo de Deus, do novo Povo de Deus, que retoma o antigo plasmado pelo coração de Deus.
Mateus define a missão confiada aos doze (“poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades”). Espíritos impuros, doenças e enfermidades representam o que escraviza o homem e o impede de chegar à vida plena, pelo que a missão dos discípulos é lutar contra tudo o que (físico ou espiritual) destrói a vida e a felicidade do homem. Em suma, a missão dos discípulos é lutar contra o “pecado”. Mateus refere os nomes dos “doze”. As listas dos evangelistas apresentam diferenças, quer na ordem dos nomes, quer nos próprios nomes, mas Pedro encabeça sempre a lista e Judas Iscariotes fecha-a. Estes dois são as duas personagens mais fortes e que, na caminhada com Jesus, assumiram protagonismo no grupo.
O último passo deste texto evangélico é o envio – antecedido dum conjunto de instruções para a missão (cf Mt 10,5-8). Primeiro, Jesus define os destinatários da missão: na 1.ª fase, são “as ovelhas perdidas da casa de Israel”. A interpretação “restritiva” da missão explica-se pelo modo como o cristianismo se expandiu geograficamente (começando pela Palestina, só depois passou a fora da Palestina) e pelas tensões existentes na comunidade a que Mateus se dirige, onde alguns judeo-cristãos tinham dificuldade em aceitar que o Evangelho fosse anunciado a pagãos. Mateus deixará claro que, na 2.ª fase, o anúncio se destina também aos pagãos, porque a “casa de Israel” rejeitou Jesus e a sua proposta do “Reino” (cf Mt 21,43). Depois, são indicados os sinais que acompanham o anúncio do “Reino”: cura dos doentes, ressurreição dos mortos, expulsão dos demónios. O anúncio não pode constar só de palavras, mas também de gestos concretos que sejam sinal vivo da libertação que o “Reino” traz. Finalmente, surge o apelo à gratuitidade: os discípulos não podem ir em missão a contar com dividendos pessoais ou com a satisfação de interesses próprios. Dar de “graça” porque se recebeu de graça significa fazer da própria vida dom gratuito ao “Reino”, sem esperar qualquer paga. Além disso, em todo o discurso a missão dos discípulos aparece como o prolongamento da missão de Jesus. O anúncio confiado aos discípulos é o anúncio que Jesus fazia, o “Reino”; os gestos que os discípulos devem fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que Jesus fez; os destinatários da mensagem que Jesus indicou são os mesmos da mensagem que os discípulos apresentam. Apresentando a missão dos discípulos em paralelo e continuidade com a missão de Jesus, Ele convida a Igreja (os discípulos) a continuar na história a obra libertadora que Ele começou em prol do homem.
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Pontos para reflexão e autointerpelação
No tempo em que vivemos de azáfama e stresse, não é fácil reconhecer a presença, o amor e o cuidado de Deus com a humanidade que Ele criou, chegando mesmo alguns a falar da “morte de Deus”, para exprimir a realidade onde Deus parece estar ausente. No entanto, Deus revela-Se empenhado em caminhar ao pé dos homens, estabelecer com eles laços de familiaridade e comunhão, apresentar-lhes propostas de salvação, libertação e vida definitiva. Não é Deus que está ausente da história, mas são os homens que apostam noutros deuses, sem tempo e sem disponibilidade para encontrar o Deus da “aliança” e da comunhão.
Os autores bíblicos definem a resposta do Povo aos desafios do Deus da “aliança” em termos como “ouvir a voz” de Deus e “guardar a aliança”. “Ouvir a voz” de Deus implica escutar, acolher e transformar as suas propostas em gestos na vida diária; e “guardar a aliança” postula o compromisso com a proposta de Deus e ter vida coerente com os mandamentos. Devemos, pois, questionar-nos se a proposta de Deus nos interpela e interfere com nossas opções ou se, na hora da decisão, escolhemos de acordo com nossos interesses, prescindindo das indicações de Deus.
O Povo que “embarca” na aventura da “aliança” é um Povo que se sente propriedade de Deus, aceitando ficar ao serviço divino. A sua missão é testemunhar o projeto salvador de Deus diante de todos os povos. Estamos conscientes de que, no batismo, entrámos na comunidade do Povo de Deus e assumimos o compromisso de testemunhar Deus e o seu projeto de salvação diante do mundo? Temos sido, em coerência com tal opção, sinais vivos do amor e da bondade de Deus diante dos homens e mulheres com quem nos cruzamos todos os dias?
O cristão é alguém que descobriu que Deus o ama. Por isso, enfrenta serenamente, em cada dia, a esperança e a alegria que brotam dessa certeza. Será que esta certeza condiciona a nossa vida, a forma de enfrentar as dificuldades, o jeito de responder aos desafios da vida de hoje?
O amor de Deus é inteiramente gratuito, incondicional e eterno. Não espera nada, não põe condições, não é descartável. Em época em que a cultura dominante vende a imagem do amor interesseiro, condicionado e efémero, o amor de Deus constitui tremendo desafio aos crentes. É um amor universal. Não marginaliza nem discrimina ninguém, não distingue amigos e inimigos, não condena os que falham nem os afasta do convívio de Deus. Nós, discípulos de Jesus, somos testemunhas deste amor. Então, como é que tratamos e acolhemos os que não concordam connosco, assumem atitudes problemáticas, fracassaram no casamento, têm comportamentos considerados incorretos socialmente ou religiosamente?
No pano de fundo da catequese sobre o envio está o amor e a solicitude de Deus pelo Povo. Com efeito, Deus nunca Se ausentou nem ausenta da história dos homens; antes, continua a construir a história da salvação e a insistir em levar o seu Povo ao encontro da liberdade, da felicidade, da vida sem fim. Na verdade, Deus age no mundo através dos discípulos que aceitam responder ao chamamento de Jesus e embarcaram na aventura do “Reino” para continuarem hoje no mundo a obra de Jesus e anunciarem (com palavras e gestos) o mundo novo de felicidade que Deus quer oferecer aos homens. Jesus não chama um grupo de “especialistas” para O seguir e dar testemunho do “Reino”. Os “doze” representam a totalidade do Povo de Deus, que é enviada a continuar a obra de Jesus entre os homens e anunciar o “Reino”. Estamos conscientes de que isto nos diz respeito e que pertencemos à comunidade que Jesus envia em missão?
A missão dos discípulos de Jesus é lutar objetivamente contra tudo o que escraviza o homem e o impede de ser feliz. No âmbito da missão dos discípulos de Jesus, estruturas que geram guerra, violência, terror e morte têm de ser contestadas e desmontadas; “valores” que hoje são apresentados como o “último grito” da moda, do avanço cultural ou científico e que geram escravidão, opressão, sofrimento têm de ser recusados e denunciados; esquemas de exploração (disfarçados de sistemas económicos geradores de bem-estar) que geram miséria, marginalização, debilidade, exclusão têm de ser combatidos tenazmente. A libertação de Jesus tem de estar presente (através dos discípulos) em qualquer lado onde houver um irmão vítima da escravidão e da injustiça. Estamos empenhados nisto?
As obras que realizamos são verdadeiro anúncio do mundo novo que está a chegar? Procuramos transmitir alegria, coragem e esperança aos que vivem abatidos, frustrados ou desesperados? Procuramos ser sinal do amor e da ternura de Deus para os que vivem sozinhos, abandonados, marginalizados? E o serviço ao “Reino” é um serviço inteiramente gratuito ou é serviço que usamos para promover nossos interesses, nossa pessoa, nossos esquemas de realização pessoal?
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Voltando às palavras do Padre António
De forma simples, o Padre António, com os seus catequizados, sublinhou a escolha e a missão dos discípulos de irem por todo o mundo (já não só à Casa de Israel) a ensinar que Deus nos ama a todos e muito. Com efeito, é o que, nas palavras do Bispo do Porto, a 10 de maio de 2015, na missa comemorativa dos 50 anos da presença dos Passionistas em Portugal, o futuro Paulo VI dizia ao seu povo da arquidiocese de Milão como fundamental em cristianismo, que era cada um dizer passar pela casa do vizinho e dizer: “Deus ama-te”.
Por isso e porque é necessidade básica de todo o homem amar e ser amado, o pároco frisou, como fundamental da missão – hoje entregue a todos nós, pois Jesus subiu aos Céus – e coração do Evangelho, o amor ao próximo, não à nossa medida, mas à medida de Jesus. Assim é o mandamento de Cristo, o novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. E esta é a marca dos cristãos. Pelo amor de uns para com os outros, saberão que somos discípulos de Jesus.

2017.06.17 – Louro de Carvalho

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