É uma advertência do Padre António Alves Pinto da Costa no
termo da Missa Campal de Encerramento da Catequese da paróquia de São João de
Ver, celebrada hoje, dia 17 de junho, pelas 16 horas, com a grande multidão no
pátio existente entre as ruas de Luís de Camões e a das Oliveiras, na Urbanização da Suil Park.
***
O sentido da Celebração
Como previsto, no blogue da paróquia, foi “uma festa para
todas as crianças e jovens da nossa catequese, que desta forma terminam um ano
repleto de atividades de enriquecimento pessoal e espiritual”, mas foi também “uma
festa para toda a comunidade, na qual a Igreja sai das portas e muros do
edifício para se tornar numa igreja em saída no meio do seu povo”. E, conforme
o solicitado, todas as crianças e jovens da catequese envergavam a t-shirt
branca da paróquia ou uma camisola branca e vieram munidos de chapéu e água.
Obviamente não há bela sem senão. E a advertência enunciada
em epígrafe surgiu pela verificação da magra presença de crianças do 2.º ano da
catequese, pois, de 48 crianças que fizeram a 1.ª comunhão no dia 15,
Solenidade do Corpo de Deus, estavam hoje presentes na missa apenas 10 – algo
parecido com o que se passou com os jovens que fizeram a profissão de fé no 1.º
domingo de maio e cuja presença hoje primou pela magreza. Não obstante, o Padre
António, pároco da vila agradeceu a colaboração de todos: catequistas, grupo
JC, cujo coro acompanhado por alguns instrumentos embelezou a celebração, moradores
da urbanização e todos quantos estiveram presentes. Foi um modo de a Igreja
sair à rua, não em atitude provocatória, mas em postura testemunhante da fé. A
esse respeito, o sacerdote pediu desculpa aos moradores que tenham outra opção
religiosa, agradecendo a sua compreensão. No entanto, apelou à continuidade
reforçada da vida cristã de todos, porque Jesus não vai de férias, frisando a
responsabilidade dos pais neste acompanhamento dos filhos – a ponto de dizer
que podem os catequistas ser uns santos, mas nada se consegue sem a colaboração
empenhada dos pais.
Por seu turno, os catequistas fizeram passar simbolicamente o
balão da mensagem por duas vezes (no princípio e no fim), avisando que a mensagem passa quanto todos sentem o
compromisso, mas tem dificuldade em passar à medida que as pessoas se afastam e
dispersam.
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A proclamação da Palavra de Deus
Neste XI domingo do Tempo Comum, foram tomadas como leituras
as seguintes passagens bíblicas; Ex 19,2-6a (Leitura I); Rm 5,6-11 (Leitura II); e Mt
9,36-10,8 (Evangelho,
Leitura III).
Segundo o Livro do Êxodo, por ordem de Deus,
que chamou Moisés para a missão de libertação e condução do povo, foi
solenemente recordado o que o Senhor fez no Egito, como o transportou sobre
asas de águia e o trouxe até Si. Por isso, o Povo, que, ouvindo a Sua voz,
guardaria a aliança com Deus, ficará constituído em Sua propriedade especial
entre todos os povos, isto é, seremos para Deus “um reino de sacerdotes, uma
nação santa”.
Esta perícopa integra as “tradições sobre a aliança do Sinai”
– tradições de origem diversa, cujo denominador comum é a reflexão sobre o
compromisso (“berit”/“aliança”) que Israel celebrou com Jahwéh no
deserto do Sinai, “em frente do monte”. O texto não dá indicações geográficas
da identificação do “monte”. O Sinai designa uma enorme península triangular,
com mais ou menos 420 quilómetros de extensão norte/sul, entre o Mediterrâneo e
o mar Vermelho (no
sentido norte/sul) e o
golfo do Suez e o golfo da Áqaba (no sentido oeste/este). É um deserto árido, pouco povoado, terreno acidentado e
várias montanhas que chegam aos 2400 metros de altura. Porém, uma tradição
cristã do séc. IV d.C. identifica o “monte” com o “Gebel Musah” (o “monte de Moisés”), com 2244 metros de altitude, a sul
da península sinaítica – ainda hoje lugar de peregrinação para judeus e
cristãos.
A palavra “berit” define o pacto entre duas partes, que
implica direitos e deveres recíprocos. Apesar de raramente ser escrita, tinha
sempre valor jurídico, sendo selada por um ritual consagrado pelo uso, que
incluía o juramento e a imolação de animais em sacrifício.
É de considerar que é de Deus a iniciativa da “aliança”:
Jahwéh chama Moisés – o intermediário entre Deus e o Povo – para a montanha e
propõe, mediante ele, a “aliança” à “casa de Jacob” – o que mostra que
iniciativa de estabelecer laços de comunhão e familiaridade com o Povo é sempre
de Deus. A “aliança” proposta por Deus envolve toda a história do Povo. As
palavras da proposta “aliança” distribuem-se por três segmentos, abarcando cada
um o seu tempo: passado, presente e futuro – apontando a totalidade da
caminhada do Povo de Deus. O 1.º segmento refere-se ao passado (libertação da escravidão do Egito,
presença amorosa de Deus na marcha pelo deserto e vocação à comunhão com Deus) – “compromisso” que Deus assumiu
antes da “aliança” do Sinai. O 2.º segmento atinge o presente. O Senhor convida
Israel ao estabelecimento com Deus de laços privilegiados de comunhão e
familiaridade, para o que postula a observância dos mandamentos como
contrapartida da proteção divina. E o 3.º segmento reporta-se ao futuro,
oferecendo Deus ao Povo uma relação que o tornará o Povo eleito de Deus, reino
de sacerdotes e nação santa. Ora, sendo reino de sacerdotes, a sua missão é
testemunhar Deus e torná-Lo presente no mundo; e, sendo nação santa, dedicar-se-á
exclusivamente ao serviço do Senhor. A “aliança” integra, pois, o projeto de
salvação de Deus para com os homens: não é privilégio, mas serviço a concretizar
na missão profética de ser sinal vivo de Deus no mundo.
Vê-se aqui o sentido fundamental do Êxodo: a libertação do
Egito não se reduz à saída dum povo da escravidão para a liberdade: a caminhada
iniciada por Deus com o Povo aponta para o compromisso com Deus e com os
homens, para a construção dum Povo que não só conquista a liberdade, mas se
torna testemunha, sinal e sacerdote de Deus no meio do mundo.
A esta Palavra proclamada na Liturgia, responde-se com o
Salmo 100 (99) em torno do refrão “Nós somos o povo de Deus, as ovelhas do seu
rebanho”, que marca essa identificação do Povo de Deus e atesta a
eternidade da sua misericórdia e a perenidade da sua fidelidade.
A Carta aos Romanos, escrita por Paulo por volta do ano 57/58, é
um escrito sereno e maduro em que o apóstolo sintetiza a sua mensagem e
pregação. O seu pretexto é a intenção de passar por Roma, a caminho de Espanha
(cf Rm 16,23-24), sentindo que terminou a sua missão
a oriente e que precisa de evangelizar a ocidente. Por outro lado, Paulo utiliza
a carta para lembrar, quer aos cristãos provindos do judaísmo (para quem a salvação supostamente dependia
da prática da Lei de Moisés), quer aos cristãos provenientes do paganismo (para quem a Lei parecia constituir
empecilho) o essencial
da mensagem cristã. Paulo insiste no facto de a salvação não ser conquista do
homem, mas dom do amor de Deus. De facto, todos os homens estão imersos no
pecado, que é uma realidade universal (cf Rm 1,18-3,20); porém, na sua bondade, Deus a todos “justifica” e salva (cf Rm 3,1-5,11); e, sendo a salvação oferecida por
Deus ao homem por intermédio de Jesus Cristo, resta ao homem aderir a esse desígnio
de salvação, na fé (cf Rm
5,12-8,39).
O texto ora proclamado é a parte final da perícopa iniciada
em Rm 5,1. Nela, Paulo explica o que brota da “justificação” que Deus nos
ofereceu: a paz, como plenitude dos bens (cf Rm 5,1); e a esperança, que nos leva a seguir por este mundo de cabeça erguida
e de olhos fixos no futuro glorioso da vida plena (cf Rm 5,2-4). Ora, sermos “justificados” (ou recebermos de graça a salvação não
merecida) implica
descobrir quanto e como Deus nos ama. Segundo Paulo, o amor de Deus por nós nunca
deixará de nos “espantar” – “espanto” que o Apóstolo quer transmitir aos
cristãos. A economia da salvação é a história inefável do amor. Como o homem, se
contasse apenas com as suas forças, não superaria as malhas da escravidão,
egoísmo e pecado em que jazia, Deus enviou o seu Filho ao mundo, que ofereceu a
vida até à morte na cruz para que os homens sintam que o egoísmo induz o
sofrimento e a morte e que só o amor gera felicidade e vida sem fim. Deste modo,
salvou os homens da escravidão (do egoísmo e do pecado) e ofereceu-lhes a salvação de modo inteiramente gratuito. Mas o mais extraordinário
é que isto sucedeu “quando éramos, ainda, pecadores” – algo incompreensível em
termos humanos, a subverter a lógica dos homens. Talvez aceitássemos morrer por
alguém que muito amamos, mas nunca estaríamos dispostos a dar a vida por alguém
egoísta, orgulhoso e autossuficiente. Porém, Deus ama-nos de tal forma a todos
que entregou o próprio Filho para morrer pelos ímpios. Assim, o amor de Deus é mesmo
amor “inclassificável”, inexplicável, incrível, ilógico, absoluto, eterno. Nada
nem ninguém o vencerá, derrotará, eliminará. E Paulo assegura que, se Deus nos
amou assim quando éramos pecadores, com mais razão nos ama agora que estamos
reconciliados Consigo. Este amor que nada nem ninguém apagarão é garantia de
vida plena. De facto, Deus prova o seu amor para connosco nestes termos: Cristo
morreu por nós, quando éramos pecadores; e agora, que fomos justificados pelo
seu sangue, com muito mais razão seremos pela sua vida.
E nós gloriamo-nos em Deus, por Jesus Cristo Senhor, por quem
alcançámos a reconciliação.
Mateus no seu Evangelho,
escrito na década de 80, depois de ter apresentado Jesus (cf Mt 1,1-4,22) e de o ter mostrado a anunciar o
“Reino” em palavras e obras (cf Mt 4,23-9,35), descreve
o envio dos discípulos em missão (cf Mt 9,36-11,1). Os discípulos são aqueles que Jesus chamou, que
responderam ao chamamento e que O seguiram. Na caminhada que fizeram com Ele,
escutaram o seu ensino e testemunharam os seus sinais. Formados na “escola do
Reino”, foram enviados ao mundo para anunciarem a todos os homens a chegada do próprio
“Reino dos Céus”.
Designa-se o texto que vai de 9,36 a 11,1 por “discurso da
missão”. Aí, Jesus envia os discípulos e define a missão deles: o anúncio da
chegada do “Reino”. O “discurso da missão” consta de: introdução (cf Mt 9,36-38); chamamento e envio dos discípulos
(cf Mt 10,1-15); instrução sobre o “caminho” que têm
de percorrer (cf 10,16-42); e conclusão (cf Mt 11,1). É um texto elaborado pelo
evangelista a partir de materiais diversos, combinando relatos de envio,
“ditos” de Jesus sobre os “doze” e várias outras “sentenças” de Jesus que
originariamente não terão sido proferidas neste contexto.
O apóstolo dirige-se a uma comunidade viva, empenhada na
atividade missionária (será
a comunidade de Antioquia da Síria). Todavia, as dificuldades topadas no anúncio do Evangelho e
a perseguição traziam a comunidade meio desorientada e perturbada. Assim, Mateus
elaborou um “manual do missionário cristão”, que enraíza a missão em Cristo,
sintetiza os conteúdos do anúncio que os discípulos são chamados a proclamar e
define as atitudes fundamentais dos missionários.
O texto proclamado na missa inclui a introdução e parte da
descrição do chamamento e envio. Na introdução (cf Mt 9,36-38), Mateus explica que a missão a que Deus chama os discípulos
é expressão da solicitude de Deus, que oferece a salvação ao seu Povo. Mateus –
escrevendo a uma comunidade onde havia um número significativo de crentes de
origem judaica – usa, na transmissão da mensagem, imagens veterotestamentárias
muito familiares aos judeus. Nas palavras de Cristo, Israel é a comunidade
desnorteada, cujos pastores (líderes religiosos judeus) declinaram as suas responsabilidades. São os maus pastores de que
falavam os profetas (cf
Ez 34; Zc 10,2). Porém,
o coração de Deus está cheio de compaixão por este rebanho e assume as suas responsabilidades,
conduzindo o Povo às pastagens de vida.
A referência de Jesus à “messe” indica a urgência da missão e
que não há muito tempo para a levar a cabo (nos profetas, a “messe” liga-se ao juízo iminente de Deus –
cf Is 17,5; Jr 13,24; Jl 4,12-13); a explicitação do “pedido” a fazer ao Senhor da “messe” é
um apelo a que a comunidade encare a missão como obra de Deus, a levar a cabo
com os critérios de Deus (a
comunidade deve, pois, rezar para se aperceber dos projetos, perspetivas e
critérios de Deus – antes de anunciar o Evangelho). Por outro lado, o
chamamento dos discípulos (cf Mt 10,1-4) é
iniciativa de Jesus: “chamou-os”. Não há explicação dos critérios da escolha:
falar de vocação e de eleição é falar de mistério insondável, que depende de
Deus e que o homem nem sempre compreende ou explica.
O número “doze” dos discípulos é um número simbólico, que
lembra as 12 tribos que formavam o antigo Povo de Deus. Estes “doze”
representam simbolicamente a totalidade do Povo de Deus, do novo Povo de Deus,
que retoma o antigo plasmado pelo coração de Deus.
Mateus define a missão confiada aos doze (“poder de expulsar os espíritos impuros
e de curar todas as doenças e enfermidades”). Espíritos impuros, doenças e enfermidades representam o
que escraviza o homem e o impede de chegar à vida plena, pelo que a missão dos
discípulos é lutar contra tudo o que (físico ou espiritual) destrói a vida e a felicidade do homem. Em suma, a missão
dos discípulos é lutar contra o “pecado”. Mateus refere os nomes dos “doze”. As
listas dos evangelistas apresentam diferenças, quer na ordem dos nomes, quer
nos próprios nomes, mas Pedro encabeça sempre a lista e Judas Iscariotes
fecha-a. Estes dois são as duas personagens mais fortes e que, na caminhada com
Jesus, assumiram protagonismo no grupo.
O último passo deste texto evangélico é o envio – antecedido
dum conjunto de instruções para a missão (cf Mt 10,5-8). Primeiro, Jesus define os destinatários da missão: na 1.ª fase, são
“as ovelhas perdidas da casa de Israel”. A interpretação “restritiva” da missão
explica-se pelo modo como o cristianismo se expandiu geograficamente (começando pela Palestina, só depois passou
a fora da Palestina) e
pelas tensões existentes na comunidade a que Mateus se dirige, onde alguns
judeo-cristãos tinham dificuldade em aceitar que o Evangelho fosse anunciado a
pagãos. Mateus deixará claro que, na 2.ª fase, o anúncio se destina também aos
pagãos, porque a “casa de Israel” rejeitou Jesus e a sua proposta do “Reino” (cf Mt 21,43). Depois, são indicados os sinais
que acompanham o anúncio do “Reino”: cura dos doentes, ressurreição dos mortos,
expulsão dos demónios. O anúncio não pode constar só de palavras, mas também de
gestos concretos que sejam sinal vivo da libertação que o “Reino” traz.
Finalmente, surge o apelo à gratuitidade: os discípulos não podem ir em missão a
contar com dividendos pessoais ou com a satisfação de interesses próprios. Dar
de “graça” porque se recebeu de graça significa fazer da própria vida dom
gratuito ao “Reino”, sem esperar qualquer paga. Além disso, em todo o discurso
a missão dos discípulos aparece como o prolongamento da missão de Jesus. O
anúncio confiado aos discípulos é o anúncio que Jesus fazia, o “Reino”; os
gestos que os discípulos devem fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que
Jesus fez; os destinatários da mensagem que Jesus indicou são os mesmos da
mensagem que os discípulos apresentam. Apresentando a missão dos discípulos em
paralelo e continuidade com a missão de Jesus, Ele convida a Igreja (os discípulos) a continuar na história a obra libertadora
que Ele começou em prol do homem.
***
Pontos para reflexão e autointerpelação
No tempo em que vivemos de azáfama e stresse, não é fácil
reconhecer a presença, o amor e o cuidado de Deus com a humanidade que Ele
criou, chegando mesmo alguns a falar da “morte de Deus”, para exprimir a
realidade onde Deus parece estar ausente. No entanto, Deus revela-Se empenhado
em caminhar ao pé dos homens, estabelecer com eles laços de familiaridade e
comunhão, apresentar-lhes propostas de salvação, libertação e vida definitiva. Não
é Deus que está ausente da história, mas são os homens que apostam noutros
deuses, sem tempo e sem disponibilidade para encontrar o Deus da “aliança” e da
comunhão.
Os autores bíblicos definem a resposta do Povo aos desafios do
Deus da “aliança” em termos como “ouvir a voz” de Deus e “guardar a aliança”.
“Ouvir a voz” de Deus implica escutar, acolher e transformar as suas propostas
em gestos na vida diária; e “guardar a aliança” postula o compromisso com a
proposta de Deus e ter vida coerente com os mandamentos. Devemos, pois,
questionar-nos se a proposta de Deus nos interpela e interfere com nossas
opções ou se, na hora da decisão, escolhemos de acordo com nossos interesses,
prescindindo das indicações de Deus.
O Povo que “embarca” na aventura da “aliança” é um Povo que
se sente propriedade de Deus, aceitando ficar ao serviço divino. A sua missão é
testemunhar o projeto salvador de Deus diante de todos os povos. Estamos conscientes
de que, no batismo, entrámos na comunidade do Povo de Deus e assumimos o
compromisso de testemunhar Deus e o seu projeto de salvação diante do mundo? Temos
sido, em coerência com tal opção, sinais vivos do amor e da bondade de Deus
diante dos homens e mulheres com quem nos cruzamos todos os dias?
O cristão é alguém que descobriu que Deus o ama. Por isso,
enfrenta serenamente, em cada dia, a esperança e a alegria que brotam dessa
certeza. Será que esta certeza condiciona a nossa vida, a forma de enfrentar as
dificuldades, o jeito de responder aos desafios da vida de hoje?
O amor de Deus é inteiramente gratuito, incondicional e
eterno. Não espera nada, não põe condições, não é descartável. Em época em que
a cultura dominante vende a imagem do amor interesseiro, condicionado e
efémero, o amor de Deus constitui tremendo desafio aos crentes. É um amor
universal. Não marginaliza nem discrimina ninguém, não distingue amigos e
inimigos, não condena os que falham nem os afasta do convívio de Deus. Nós,
discípulos de Jesus, somos testemunhas deste amor. Então, como é que tratamos e
acolhemos os que não concordam connosco, assumem atitudes problemáticas,
fracassaram no casamento, têm comportamentos considerados incorretos socialmente
ou religiosamente?
No pano de fundo da catequese sobre o envio está o amor e a
solicitude de Deus pelo Povo. Com efeito, Deus nunca Se ausentou nem ausenta da
história dos homens; antes, continua a construir a história da salvação e a
insistir em levar o seu Povo ao encontro da liberdade, da felicidade, da vida
sem fim. Na verdade, Deus age no mundo através dos discípulos que aceitam
responder ao chamamento de Jesus e embarcaram na aventura do “Reino” para
continuarem hoje no mundo a obra de Jesus e anunciarem (com palavras e gestos) o mundo novo de felicidade que Deus
quer oferecer aos homens. Jesus não chama um grupo de “especialistas” para O
seguir e dar testemunho do “Reino”. Os “doze” representam a totalidade do Povo
de Deus, que é enviada a continuar a obra de Jesus entre os homens e anunciar o
“Reino”. Estamos conscientes de que isto nos diz respeito e que pertencemos à
comunidade que Jesus envia em missão?
A missão dos discípulos de Jesus é lutar objetivamente contra
tudo o que escraviza o homem e o impede de ser feliz. No âmbito da missão dos
discípulos de Jesus, estruturas que geram guerra, violência, terror e morte têm
de ser contestadas e desmontadas; “valores” que hoje são apresentados como o
“último grito” da moda, do avanço cultural ou científico e que geram
escravidão, opressão, sofrimento têm de ser recusados e denunciados; esquemas
de exploração (disfarçados
de sistemas económicos geradores de bem-estar) que geram miséria, marginalização, debilidade,
exclusão têm de ser combatidos tenazmente. A libertação de Jesus tem de estar
presente (através dos
discípulos) em qualquer
lado onde houver um irmão vítima da escravidão e da injustiça. Estamos
empenhados nisto?
As obras que realizamos são verdadeiro anúncio do mundo novo
que está a chegar? Procuramos transmitir alegria, coragem e esperança aos que
vivem abatidos, frustrados ou desesperados? Procuramos ser sinal do amor e da
ternura de Deus para os que vivem sozinhos, abandonados, marginalizados? E o serviço
ao “Reino” é um serviço inteiramente gratuito ou é serviço que usamos para
promover nossos interesses, nossa pessoa, nossos esquemas de realização
pessoal?
***
Voltando às palavras do Padre António
De forma simples, o Padre António, com os seus catequizados,
sublinhou a escolha e a missão dos discípulos de irem por todo o mundo (já não só à Casa de Israel) a ensinar que Deus nos ama a todos
e muito. Com efeito, é o que, nas palavras do Bispo do Porto, a 10 de maio de
2015, na missa comemorativa dos 50 anos da presença dos Passionistas em Portugal,
o futuro Paulo VI dizia ao seu povo da arquidiocese de Milão como fundamental
em cristianismo, que era cada um dizer passar pela casa do vizinho e dizer: “Deus
ama-te”.
Por isso e porque é necessidade básica de todo o homem amar e
ser amado, o pároco frisou, como fundamental da missão – hoje entregue a todos
nós, pois Jesus subiu aos Céus – e coração do Evangelho, o amor ao próximo, não
à nossa medida, mas à medida de Jesus. Assim é o mandamento de Cristo, o novo
mandamento: “Amai-vos uns aos outros como
Eu vos amei”. E esta é a marca dos cristãos. Pelo amor de uns para com os outros,
saberão que somos discípulos de Jesus.
2017.06.17 – Louro de Carvalho
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