domingo, 11 de junho de 2017

O dia 10 de junho português é também dia de anjo, paz e crianças

Enquanto, a 9 e 10 de junho, decorriam na cidade do Porto as cerimónias oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, com guia de marcha para o Brasil, em Fátima celebrava-se uma das mais importantes peregrinações ao Santuário, a 39.ª Peregrinação das Crianças, com o tema “Senhora do Rosário, mais brilhante que o sol” e sob a presidência do Bispo da diocese de Leiria-Fátima, Dom António Marto.
Iniciada há quase 40 anos, a Peregrinação Nacional das Crianças é hoje uma das peregrinações mais importantes do Santuário de Fátima e tem juntado não só participantes dos mais diversos pontos do país, mas também grupos de crianças vindas do estrangeiro.
O tema deste ano tem como acontecimento de referência a Aparição de Nossa Senhora do Rosário de Fátima a 13 de outubro de 1917, assinalando assim o Milagre do Sol como sinal da mariofania experiencializada pelos três Pastorinhos. A este propósito, a Organização explicava, no enquadramento que fez da escolha do tema desta peregrinação:
“Nesta aparição, Nossa Senhora apresenta-se como a Senhora do Rosário; pede que continuem a rezar o terço e que não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido. Depois, abrindo as mãos, fê-las refletir no sol; e, enquanto se elevava, a sua própria luz continuava a projetar-se no sol.”
A habitual campanha do mês de maio, preparatória da peregrinação, lançou aos jovens o desafio de “acolher e transmitir a luz de Deus, que Nossa Senhora nos trouxe quando veio a Fátima”. Para tanto, os jovens foram estimulados a rezar, a iluminar a vida de alguém com um gesto simples como um sorriso, a lembrar-se de pessoas portadoras da luz e a descobrir mais sobre a vida dos pastorinhos e do modo como podem ser a luz como eles.  Ao longo de cada semana, as crianças deveriam construir o seu sol cujos raios representam os desafios alcançados. Eram registos a colocar depois numa caixa que iria ser entregue no dia da celebração desta grande peregrinação, a 10 de junho, para ser colocada frente à escadaria do altar do Recinto de Oração.
Durante a peregrinação, além dos momentos de oração-meditação do Rosário com Procissão das Velas, na noite do dia 9, e Rosário e celebração da Eucaristia, no dia 10, os peregrinos de palmo e meio foram convidados a participar num espetáculo – com duas apresentações: de manhã e à tarde – que decorreu na Basílica da Santíssima Trindade, encenado e coreografado pelos alunos do Colégio de São Miguel.
O programa da visita incluiu também visitas aos locais das Aparições do Anjo (na Loca do Cabeço e em Aljustrel) e aos Valinhos (onde a Senhora apareceu a 19 de agosto, por impedimento dos pastorinhos a 13), oferta de flores a Nossa Senhora e uma encenação na Basílica da Santíssima Trindade alusiva ao tema da peregrinação.
Foram, ainda, distribuídas 34 mil azinheiras, a árvore característica de Fátima, pois foi numa pequena árvore destas sobre uma carrasqueira que Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos.
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O Bispo de Leiria-Fátima, na homilia da missa a que presidiu, convidou os milhares de crianças presentes no Recinto de Oração a serem “testemunhas da Luz de Jesus” através de gestos simples como um “sorriso ou um abraço”, explicitando em linguagem adaptada aos pequenitos:
“Todos podem ser testemunhas da Luz, através de simples gestos como oferecer um sorriso a quem anda triste, dar uma palavra amiga ao outro, ajudar quem precisa, seja amigo ou não, fazer companhia aos sós e doentes, ser capaz de perdoar, e respeitar os outros”.
E, lembrando que a “Senhora do Rosário mais brilhante que o Sol espalhava luz das suas mãos”, segundo a descrição dos videntes em que descreveram a beleza da Senhora, acrescentou:
“O Sol com os seus imensos raios leva luz, cor e calor a toda a parte; sem a luz e o calor do sol não haveria luz e vida”.
Dom António Marto disse aos mais pequenos que “a Luz de Jesus ilumina a nossa vida e o caminho do bem”, dado que “Jesus quer-Se fazer chegar a nós através da sua Mãe”; e, “para receber a Luz de Jesus, é preciso escutá-Lo”, segundo o “pedido que Nossa Senhora fez aqui em Fátima”. E precisou:
“Quando ajudo quem precisa, levo a Luz de Jesus, tal como os pastorinhos”.
O prelado recomendou ainda aos “amiguitos e amiguitas” que, quando estiverem “tristes, cansados, desanimados”, se lembrem “dos pastorinhos” e se confiem “ao coração materno da Mãe Celeste que não nos abandona nem deixa sós”. E pediu:
“Não deixeis apagar a Luz de Jesus no vosso coração, e tornai o vosso mundo mais belo e melhor”.
Toda a celebração foi, por isso, assente na ideia da luz convidando os peregrinos a acolher e transmitir a luz de Deus, “que Nossa Senhora trouxe quando veio a Fátima”. Assim, atrás do andor de Nossa Senhora, no Altar, estava uma roda giratória simulando o Sol. E, na escadaria, em frente ao Altar, eram bem visíveis as floreiras onde as crianças colocaram os vários trabalhos sobre o Sol, que realizaram no mês de maio, período de preparação para esta peregrinação. Além do Sol, estiveram muito presentes na celebração as candeias. Durante o Ato Penitencial, foram acesas três ‘candeias’  de metro e meio de altura, em esferovite e colocadas na parede onde assenta o andor e se podiam ler três palavras que oferecem a chave de leitura da Mensagem de Fátima: Compaixão, Contemplação e Consagração. Estas candeias pretendiam recordar a luz que representam para a humanidade as três candeias (os três pastorinhos) que abraçaram o desafio de oferecer as suas vidas a Deus, permanecendo hoje como memória de um percurso de santidade que nos desafia também a todos.
No final da celebração cem jovens transportaram uma vela e um balão e, em coro com a assembleia, cantaram os parabéns a Nossa Senhora.
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Em conexão com o evento peregrinacional, com o cerne da Mensagem de Fátima e com os seus primeiros porta-vozes, o Santuário de Fátima promoveu a edição do livro infantil “Fátima no Coração”, da autoria do escritor João Manuel Ribeiro. A apresentação foi feita na tarde do dia 10, na Sala de Imprensa do Santuário. A obra, destinada às crianças, conta a história de três amigos (a Isabel, o João e a Ana), que vão passar uma semana de férias, na companhia da avó Amélia – tempo que serve para rezar e conhecer a mensagem de Fátima, por um lado, e para descansar e descobrir o lugar dos acontecimentos, por outro. Os três amigos, guiados em cada dia por uma “pista” bíblica, descobrem a importância e o significado de vários locais de Fátima, como a Capelinha das Aparições, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde se encontram os restos mortais dos pastorinhos e a Basílica da Santíssima Trindade, entre outros. É o segundo livro lançado pelo Santuário para o público mais jovem no âmbito do Centenário, depois de “A Missão do Francisco”, de Maria Teresa Maia Gonzalez. Os dois projetos têm em comum a abordagem dos conteúdos da mensagem de Fátima em linguagem acessível às crianças de hoje.

Durante a sua apresentação, Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, sublinhou a atualidade da mensagem de Fátima e afirmou que a comemoração do Centenário das Aparições “tem como objetivo primordial dar a conhecer a mensagem e a espiritualidade de Fátima”. E, salientando que  a obra ajuda a descobrir Fátima com a avó, “que lhes põe Fátima no coração”, referiu:
“No Centenário das Aparições foram feitas iniciativas específicas a pensar nos vários públicos, inclusive nas crianças; e, neste âmbito, a literatura tem uma palavra importante a dizer”.
Também o Padre José Nuno Silva, um dos capelães do Santuário, que fez apresentação do livro, frisou o facto de a história sublinhar sempre a “ideia de liberdade  associada ao amor” e o de esta ser uma “ideia central na mensagem de Fátima, pela capacidade de sujeição e de liberdade como sacrifício”. A este respeito, destacou que “o autor escreve a realidade com olhar de criança”, pelo facto de a obra apresentar um “argumento muito bonito, porque a figura central é uma avó”, e uma das caraterísticas “dos avós é a largura e profundidade do Coração”. De facto, “a avó assume amigos dos netos como seus” – uma caraterística de Fátima que é “assumir os outros como meus”, porque “só o Evangelho explica e ilumina Fátima e fazer a experiência de Fátima com uma avó faz todo o sentido”. E este capelão sublinha:
“Os 100 anos de Fátima permitem olhar para outras histórias, nomeadamente a da humanidade com um fio condutor, porque quando tudo parecia violência, em Fátima abriu-se uma brecha de luz para o Coração Imaculado de Maria, porque tudo em Fátima remete para o amor”.
Por seu turno, o autor afirmou que procurou fazer uma “história centrada na mensagem de Fátima”, e dizer, de “um modo metafórico”, que Fátima “é um lugar espiritual descoberto por sinais que ajudam os homens a encontrarem-se consigo mesmos e com Deus”. As três ideias chave da história remetem para os protagonistas, três crianças, como eram três os pastorinhos. São as crianças que dão o testemunho da descoberta da mensagem de Fátima e, por isso, a forma de comunicar foi  o diário de bordo; e, finalmente,  a avó Amélia aparece aqui como sábia e mediadora da descoberta.
E a ilustradora, de nome artístico Bolota, confessou que este trabalho a “fez redescobrir Fátima e acabou por se revelar um guia desta descoberta”.
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Também, neste domingo da Santíssima Trindade, se evocou o 109.º aniversário do nascimento de São Francisco Marto, um mês depois de ter sido proclamado Santo na Cova da Iria, juntamente com a irmã Jacinta, pelo Papa na peregrinação internacional aniversária de maio.
Na homilia da missa dominical no Recinto de Oração, no Santuário de Fátima, o reitor, Padre Carlos Cabecinhas, destacou que o que mais “impressionava São Francisco Marto era Deus e a Santíssima Trindade nessa luz imensa”. E convidou os peregrinos a “imitarem” esta sua predileção e a serem, como ele, testemunhas deste Deus vivo.
Francisco Marto nasceu a 11 de junho de 1908, em Aljustrel, e foi batizado no dia 20 de junho. Era, juntamente com a Irmã Jacinta, um dos dois filhos mais novos de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus, e primo de Lúcia de Jesus. Recebeu, desde muito novo, uma educação cristã simples e cedo se fez  pastor do rebanho da família. Viu, tal como a irmã, Santa Jacinta Marto e a prima Lúcia,  o Anjo da Paz ou de Portugal, na primavera, verão e outono de 1916, na Loca do Cabeço e no poço da casa da Lúcia, que os convidou à adoração a Deus, Santíssima Trindade.
Em 13 de maio de 1917, foi visitado, na Cova da Iria, por Maria, que pediu que ali voltasse a cada dia 13 até outubro. No curso dos 6 encontros, a Senhora dá a ver aos pastorinhos a esperança que Deus oferece ao mundo tocado pelo sofrimento e pelo mal e convida-os a comprometerem-se com a conversão dos corações, pela oração do rosário, pelo sacrifício reparador e pela consagração dos seus corações e do mundo ao Coração Imaculado de Maria.
As vidas de Francisco e Jacinta transformaram-se à luz da Mensagem de Misericórdia. E o Francisco assumiu a vida de contemplação, comprometido com a consolação de Deus que lhe parecia estar “tão triste”. A Senhora recomendara que ele rezasse muitos terços. E muito passou o Francisco a rezar, procurando a solidão do monte ou a companhia do Jesus escondido no sacrário da Igreja paroquial para “pensar em Deus”. Faleceu pelas 22 horas de 4 de abril de 1919, com apenas 10 anos, em resultado da epidemia broncopneumónica contraída em outubro de 1918, tal como a sua irmã Jacinta, que adoecera no final daquele ano de 1918 e que a vitimou. Em Fátima, a 13 de maio do ano jubilar 2000, São João Paulo II beatificou-os e, há um mês, na 1.ª peregrinação do Centenário das Aparições, o Papa Francisco proclamou-os santos.
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O reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, presidiu à missa dominical na Solenidade da Santíssima Trindade – no quadro duma jornada peregrinacional em que se inscreveram 36 grupos de Portugal, Espanha, Itália, Eslováquia, Alemanha, França, Inglaterra, Jamaica e México – e sublinhou, na homilia que proferiu, a importância do Santuário no “anúncio” e no “serviço” dos desígnios da misericórdia e da paz.
Na verdade, o Santuário de Fátima deve  ser um lugar onde se anuncia e se serve a misericórdia proposta por Deus, disse, nesta manhã do dia 11, o reitor do Santuário no dia em que a Igreja católica assinala a Solenidade da Santíssima Trindade. Para o Padre Cabecinhas, a “Santíssima Trindade mais do que uma fórmula de fé é uma realidade que se vive diariamente” porque “é o mistério que se realiza desde que nos levantamos até que nos deitamos”. E precisou:
“A Santíssima Trindade não é uma fórmula; é uma experiência de relação com Deus, que estabelecemos cada dia e esta relação assenta num Deus único: Deus Pai, Filho e Espírito Santo” porque “foi assim que Ele se quis revelar”,
Depois, adiantou:
“O nosso Deus não é uma qualquer energia sem nome;  o nosso Deus, revelado de forma definitiva em Jesus Cristo, é um Deus da relação mas com nome: a Santíssima Trindade é a forma como Ele se quis dar a conhecer”.
O responsável pelo Santuário de Fátima destacou a centralidade desta certeza de “um Deus que nos ama e nos acompanha” na Mensagem de Fátima e de modo muito eloquente nas palavras que o Anjo da Paz proferiu, nos gestos eucarísticos que realizou junto dos videntes e nas orações que lhes ensinou. E, lembrou a recente carta de agradecimento do Papa Francisco, dirigida ao Bispo de Leiria-Fátima, encorajando o Santuário a prosseguir no anúncio e no serviço desses desígnios de misericórdia, que neste lugar, a Santíssima Trindade quis revelar. Neste âmbito, explicou, destacando o exemplo dos santos Francisco e Jacinta Marto neste contexto e experiência de fé, que todos os peregrinos são convidados a imitar:
“Primeiro com o Anjo da Paz e depois com Nossa Senhora, Deus dá-se a conhecer como Santíssima Trindade e como Deus misericordioso suscitando da nossa parte uma resposta generosa de adoração, de dom de si e de misericórdia”.
Depois da 39.ª Peregrinação das Crianças, que no dia 10 encheu por completo o Recinto de Oração, hoje milhares de peregrinos não deixaram de celebrar esta Solenidade da Santíssima Trindade na Cova da Iria, registando-se de novo uma enorme afluência.
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É Fátima no seu melhor, desde que se apresentou ao mundo, para que Portugal e o Mundo se decidam a trilhar caminhos de paz, misericórdia e justiça para glória de Deus e em prol da igualdade, liberdade, fraternidade e bem-estar de todos, restituindo a dignidade a quem ela foi e bem sendo negada ou roubada – pela expropriação, exploração, opressão, tráfico humano, comercialização de vidas e descarte. Que Deus nos ilumine!

2017.06.11 – Louro de Carvalho

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