Enquanto, a 9 e 10 de junho,
decorriam na cidade do Porto as cerimónias oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, com guia de marcha
para o Brasil, em Fátima celebrava-se uma das mais importantes peregrinações ao
Santuário, a 39.ª Peregrinação das
Crianças, com
o tema “Senhora do Rosário, mais brilhante que o sol”
e sob a presidência do Bispo da diocese de Leiria-Fátima, Dom António Marto.
Iniciada há
quase 40 anos, a Peregrinação Nacional
das Crianças é hoje uma das peregrinações mais importantes do Santuário de
Fátima e tem juntado não só participantes dos mais diversos pontos do país, mas
também grupos de crianças vindas do estrangeiro.
O tema deste
ano tem como acontecimento de referência a Aparição de Nossa Senhora do Rosário
de Fátima a 13 de outubro de 1917, assinalando assim o Milagre do Sol como
sinal da mariofania experiencializada pelos três Pastorinhos. A este propósito,
a Organização explicava, no enquadramento que fez da escolha do tema desta
peregrinação:
“Nesta aparição, Nossa
Senhora apresenta-se como a Senhora do Rosário; pede que continuem a rezar o
terço e que não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.
Depois, abrindo as mãos, fê-las refletir no sol; e, enquanto se elevava, a sua
própria luz continuava a projetar-se no sol.”
A habitual
campanha do mês de maio, preparatória da peregrinação, lançou aos jovens o
desafio de “acolher e transmitir a luz de Deus, que Nossa Senhora nos trouxe
quando veio a Fátima”. Para tanto, os jovens foram estimulados a rezar, a
iluminar a vida de alguém com um gesto simples como um sorriso, a lembrar-se de
pessoas portadoras da luz e a descobrir mais sobre a vida dos pastorinhos e do
modo como podem ser a luz como eles. Ao longo de cada semana, as crianças
deveriam construir o seu sol cujos raios representam os desafios alcançados. Eram
registos a colocar depois numa caixa que iria ser entregue no dia da celebração
desta grande peregrinação, a 10 de junho, para ser colocada frente à escadaria
do altar do Recinto de Oração.
Durante a
peregrinação, além dos momentos de oração-meditação do Rosário com Procissão
das Velas, na noite do dia 9, e Rosário e celebração da Eucaristia, no dia 10,
os peregrinos de palmo e meio foram convidados a participar num espetáculo –
com duas apresentações: de manhã e à tarde – que decorreu na Basílica da
Santíssima Trindade, encenado e coreografado pelos alunos do Colégio de São
Miguel.
O programa da visita
incluiu também visitas aos locais das Aparições do Anjo (na Loca do Cabeço e em
Aljustrel) e aos Valinhos (onde a Senhora apareceu a 19 de agosto, por impedimento dos pastorinhos a
13), oferta de flores a
Nossa Senhora e uma encenação na Basílica da Santíssima Trindade alusiva ao
tema da peregrinação.
Foram,
ainda, distribuídas 34 mil azinheiras, a árvore característica de Fátima, pois
foi numa pequena árvore destas sobre uma carrasqueira que Nossa Senhora
apareceu aos três pastorinhos.
***
O Bispo de Leiria-Fátima, na homilia da missa a que presidiu, convidou os milhares de crianças presentes no Recinto
de Oração a serem “testemunhas da Luz de Jesus” através de gestos simples como
um “sorriso ou um abraço”, explicitando em linguagem adaptada aos pequenitos:
“Todos podem ser testemunhas da Luz, através de simples gestos como
oferecer um sorriso a quem anda triste, dar uma palavra amiga ao outro, ajudar
quem precisa, seja amigo ou não, fazer companhia aos sós e doentes, ser capaz
de perdoar, e respeitar os outros”.
E, lembrando
que a “Senhora do Rosário mais brilhante que o Sol espalhava luz das suas
mãos”, segundo a descrição dos videntes em que descreveram a beleza da Senhora,
acrescentou:
“O Sol com os seus imensos raios leva luz, cor e calor a toda a parte; sem
a luz e o calor do sol não haveria luz e vida”.
Dom António
Marto disse aos mais pequenos que “a Luz
de Jesus ilumina a nossa vida e o caminho do bem”, dado que “Jesus quer-Se fazer chegar a nós através da
sua Mãe”; e, “para receber a Luz de Jesus, é preciso escutá-Lo”, segundo o “pedido
que Nossa Senhora fez aqui em Fátima”. E precisou:
“Quando ajudo quem precisa, levo a Luz de Jesus, tal como os pastorinhos”.
O prelado
recomendou ainda aos “amiguitos e amiguitas” que, quando estiverem “tristes,
cansados, desanimados”, se lembrem “dos pastorinhos” e se confiem “ao coração
materno da Mãe Celeste que não nos abandona nem deixa sós”. E pediu:
“Não deixeis apagar a Luz de Jesus no vosso coração, e tornai o vosso mundo
mais belo e melhor”.
Toda a
celebração foi, por isso, assente na ideia da luz convidando os peregrinos a
acolher e transmitir a luz de Deus, “que Nossa Senhora trouxe quando veio a
Fátima”. Assim, atrás do andor de Nossa Senhora, no Altar, estava uma roda giratória
simulando o Sol. E, na escadaria, em frente ao Altar, eram bem visíveis as
floreiras onde as crianças colocaram os vários trabalhos sobre o Sol, que
realizaram no mês de maio, período de preparação para esta peregrinação. Além do
Sol, estiveram muito presentes na celebração as candeias. Durante o Ato
Penitencial, foram acesas três ‘candeias’ de metro e meio de altura, em
esferovite e colocadas na parede onde assenta o andor e se podiam ler três
palavras que oferecem a chave de leitura da Mensagem de Fátima: Compaixão, Contemplação e Consagração.
Estas candeias pretendiam recordar a luz que representam para a humanidade as
três candeias (os três pastorinhos) que abraçaram
o desafio de oferecer as suas vidas a Deus, permanecendo hoje como memória de
um percurso de santidade que nos desafia também a todos.
No final da
celebração cem jovens transportaram uma vela e um balão e, em coro com a
assembleia, cantaram os parabéns a Nossa Senhora.
***
Em conexão com o evento peregrinacional, com o cerne da
Mensagem de Fátima e com os seus primeiros porta-vozes, o Santuário de Fátima promoveu a edição do livro infantil “Fátima no Coração”, da autoria do
escritor João Manuel Ribeiro. A apresentação foi feita na tarde do dia 10, na
Sala de Imprensa do Santuário. A obra, destinada às crianças, conta a história
de três amigos (a Isabel, o João e a Ana), que vão passar uma semana de férias, na companhia da avó Amélia –
tempo que serve para rezar e conhecer a mensagem de Fátima, por um lado, e para
descansar e descobrir o lugar dos acontecimentos, por outro. Os três amigos,
guiados em cada dia por uma “pista” bíblica, descobrem a importância e o
significado de vários locais de Fátima, como a Capelinha das Aparições, a
Basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde se encontram os restos mortais dos
pastorinhos e a Basílica da Santíssima Trindade, entre outros. É o segundo
livro lançado pelo Santuário para o público mais jovem no âmbito do Centenário,
depois de “A Missão do Francisco”, de
Maria Teresa Maia Gonzalez. Os dois projetos têm em comum a abordagem dos conteúdos
da mensagem de Fátima em linguagem acessível às crianças de hoje.
Durante a sua
apresentação, Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, sublinhou a atualidade da
mensagem de Fátima e afirmou que a comemoração do Centenário das Aparições “tem como objetivo primordial dar a conhecer
a mensagem e a espiritualidade de Fátima”. E, salientando que a obra
ajuda a descobrir Fátima com a avó, “que
lhes põe Fátima no coração”, referiu:
“No Centenário das Aparições foram
feitas iniciativas específicas a pensar nos vários públicos, inclusive nas
crianças; e, neste âmbito, a literatura tem uma palavra importante a dizer”.
Também o
Padre José Nuno Silva, um dos capelães do Santuário, que fez apresentação do
livro, frisou o facto de a história sublinhar sempre a “ideia de liberdade
associada ao amor” e o de esta ser uma “ideia central na mensagem de
Fátima, pela capacidade de sujeição e de liberdade como sacrifício”. A este
respeito, destacou que “o autor escreve a realidade com olhar de criança”, pelo
facto de a obra apresentar um “argumento muito bonito, porque a figura central
é uma avó”, e uma das caraterísticas “dos avós é a largura e profundidade do
Coração”. De facto, “a avó assume amigos dos netos como seus” – uma caraterística
de Fátima que é “assumir os outros como meus”, porque “só o Evangelho explica e
ilumina Fátima e fazer a experiência de Fátima com uma avó faz todo o sentido”.
E este capelão sublinha:
“Os 100 anos de Fátima permitem olhar
para outras histórias, nomeadamente a da humanidade com um fio condutor, porque
quando tudo parecia violência, em Fátima abriu-se uma brecha de luz para o
Coração Imaculado de Maria, porque tudo em Fátima remete para o amor”.
Por seu
turno, o autor afirmou que procurou fazer uma “história centrada na mensagem de
Fátima”, e dizer, de “um modo metafórico”, que Fátima “é um lugar
espiritual descoberto por sinais que ajudam os homens a encontrarem-se consigo
mesmos e com Deus”. As três ideias chave da história remetem para os
protagonistas, três crianças, como eram três os pastorinhos. São as
crianças que dão o testemunho da descoberta da mensagem de Fátima e, por isso, a
forma de comunicar foi o diário de bordo; e, finalmente, a avó
Amélia aparece aqui como sábia e mediadora da descoberta.
E a
ilustradora, de nome artístico Bolota, confessou que este trabalho a “fez
redescobrir Fátima e acabou por se revelar um guia desta descoberta”.
***
Também, neste
domingo da Santíssima Trindade, se evocou o 109.º aniversário do nascimento de
São Francisco Marto, um mês depois de ter sido proclamado Santo na Cova da
Iria, juntamente com a irmã Jacinta, pelo Papa na peregrinação internacional
aniversária de maio.
Na homilia da
missa dominical no Recinto de Oração, no Santuário de Fátima, o reitor, Padre
Carlos Cabecinhas, destacou que o que mais “impressionava São Francisco Marto
era Deus e a Santíssima Trindade nessa luz imensa”. E convidou os peregrinos a
“imitarem” esta sua predileção e a serem, como ele, testemunhas deste Deus
vivo.
Francisco
Marto nasceu a 11 de junho de 1908, em Aljustrel, e foi batizado no dia 20 de
junho. Era, juntamente com a Irmã Jacinta, um dos dois filhos mais novos de
Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus, e primo de Lúcia de Jesus. Recebeu,
desde muito novo, uma educação cristã simples e cedo se fez pastor do
rebanho da família. Viu, tal como a irmã, Santa Jacinta Marto e a prima Lúcia,
o Anjo da Paz ou de Portugal, na primavera, verão e outono de 1916, na
Loca do Cabeço e no poço da casa da Lúcia, que os convidou à adoração a Deus,
Santíssima Trindade.
Em 13 de maio
de 1917, foi visitado, na Cova da Iria, por Maria, que pediu que ali voltasse a
cada dia 13 até outubro. No curso dos 6 encontros, a Senhora dá a ver aos
pastorinhos a esperança que Deus oferece ao mundo tocado pelo sofrimento e pelo
mal e convida-os a comprometerem-se com a conversão dos corações, pela oração
do rosário, pelo sacrifício reparador e pela consagração dos seus corações e do
mundo ao Coração Imaculado de Maria.
As vidas de
Francisco e Jacinta transformaram-se à luz da Mensagem de Misericórdia. E o
Francisco assumiu a vida de contemplação, comprometido com a consolação de Deus
que lhe parecia estar “tão triste”. A Senhora recomendara que ele rezasse muitos
terços. E muito passou o Francisco a rezar, procurando a solidão do monte ou a
companhia do Jesus escondido no sacrário da Igreja paroquial para “pensar em
Deus”. Faleceu pelas 22 horas de 4 de abril de 1919, com apenas 10 anos, em
resultado da epidemia broncopneumónica contraída em outubro de 1918, tal como a
sua irmã Jacinta, que adoecera no final daquele ano de 1918 e que a vitimou. Em
Fátima, a 13 de maio do ano jubilar 2000, São João Paulo II beatificou-os e, há
um mês, na 1.ª peregrinação do Centenário das Aparições, o Papa Francisco
proclamou-os santos.
***
O reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, presidiu à missa
dominical na Solenidade da Santíssima Trindade – no quadro duma jornada peregrinacional
em que se inscreveram
36 grupos de Portugal, Espanha, Itália, Eslováquia, Alemanha, França,
Inglaterra, Jamaica e México – e sublinhou, na homilia que proferiu, a importância do Santuário no
“anúncio” e no “serviço” dos desígnios da misericórdia e da paz.
Na verdade, o
Santuário de Fátima deve ser um lugar onde se anuncia e se serve a
misericórdia proposta por Deus, disse, nesta manhã do dia 11, o reitor do
Santuário no dia em que a Igreja católica assinala a Solenidade da Santíssima
Trindade. Para o Padre Cabecinhas, a “Santíssima Trindade mais do que uma fórmula
de fé é uma realidade que se vive diariamente” porque “é o mistério que se
realiza desde que nos levantamos até que nos deitamos”. E precisou:
“A Santíssima Trindade não é uma
fórmula; é uma experiência de relação com Deus, que estabelecemos cada dia e
esta relação assenta num Deus único: Deus Pai, Filho e Espírito Santo” porque
“foi assim que Ele se quis revelar”,
Depois, adiantou:
“O nosso Deus não é uma qualquer
energia sem nome; o nosso Deus, revelado de forma definitiva em Jesus
Cristo, é um Deus da relação mas com nome: a Santíssima Trindade é a forma como
Ele se quis dar a conhecer”.
O responsável
pelo Santuário de Fátima destacou a centralidade desta certeza de “um Deus que nos ama e nos acompanha” na
Mensagem de Fátima e de modo muito eloquente nas palavras que o Anjo da Paz
proferiu, nos gestos eucarísticos que realizou junto dos videntes e nas orações
que lhes ensinou. E, lembrou a recente carta de agradecimento do Papa
Francisco, dirigida ao Bispo de Leiria-Fátima, encorajando o Santuário a
prosseguir no anúncio e no serviço desses desígnios de misericórdia, que neste
lugar, a Santíssima Trindade quis revelar. Neste âmbito, explicou, destacando o
exemplo dos santos Francisco e Jacinta Marto neste contexto e experiência de
fé, que todos os peregrinos são convidados a imitar:
“Primeiro com o Anjo da Paz e depois
com Nossa Senhora, Deus dá-se a conhecer como Santíssima Trindade e como Deus
misericordioso suscitando da nossa parte uma resposta generosa de adoração, de
dom de si e de misericórdia”.
Depois da
39.ª Peregrinação das Crianças, que no dia 10 encheu por completo o Recinto de
Oração, hoje milhares de peregrinos não deixaram de celebrar esta Solenidade da
Santíssima Trindade na Cova da Iria, registando-se de novo uma enorme
afluência.
***
É Fátima no
seu melhor, desde que se apresentou ao mundo, para que Portugal e o Mundo se
decidam a trilhar caminhos de paz, misericórdia e justiça para glória de Deus e
em prol da igualdade, liberdade, fraternidade e bem-estar de todos, restituindo
a dignidade a quem ela foi e bem sendo negada ou roubada – pela expropriação, exploração,
opressão, tráfico humano, comercialização de vidas e descarte. Que Deus nos
ilumine!
2017.06.11 – Louro de Carvalho
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