segunda-feira, 5 de junho de 2017

Os amores de Pedro e Inês com novos rostos

De acordo com as secções culturais ou de artes de vários órgãos de comunicação social, a trama dos amores de Dom Pedro I, de Portugal, e da dama galega Dona Inês de Castro vão chegar ao cinema através filme “Pedro e Inês”, de António Ferreira, o homónimo daquele que produziu uma das poucas e boas tragédias clássicas em literatura portuguesa, sendo atores protagonistas Diogo Amaral, no papel de Pedro, e Joana de Verona, no de Inês.
O filme irá fazer desfilar o amor trágico do Infante e de Inês por três épocas diferentes, ou seja, a história amorosa passará pela época medieval, pela atualidade e pelo futuro, idealizando que as pessoas regressem ao campo vindas da cidade.
Nas diversas fases do filme, os protagonistas que se apaixonarão perdidamente têm de ultrapassar todos os obstáculos ao amor que vivem, enfrentando tabus próprios de cada época. Com efeito, em todos os tempos, o amor pode ser subvalorizado ou mesmo sonegado devido a interesses ditos superiores: Estado, profissão, negócios, questões familiares, riquezas, etc.
Além dos atores referidos, o filme conta também com a participação de Vera Kolodzig, a Teresa da telenovela Jardins Proibidos, que irá interpretar Constança, a esposa de Pedro, João Lagarto e Custódia Gallego que serão os pais do Infante (Afonso IV e Beatriz), e ainda Cristóvão Campos, como Estêvão, o fiel escudeiro, e Miguel Borges, que interpreta Pero Coelho, um dos carrascos da morta. Todos os atores interpretam, ao longo das três épocas, a mesma personagem.
As filmagens, que vão começar no dia 20 de junho, decorrerão na cidade onde nasceu o romance, Coimbra, mais especificamente na Sé Velha e na Quinta das Lágrimas. Também Lousã, Cantanhede e o Castelo de Montemor-o-Velho são palcos do filme adaptado da obra “A Trança de Inês”, da romancista Rosa Lobato Faria, que ainda leu a primeira versão do guião. Apesar de falecida em 2010, o filme começou a ser pensado há 10 anos numa produção em regime de parceria com a França e o Brasil e estava prevista a estreia para 2018.
As narrativas entrelaçam-se através da voz de Pedro, que, por viajar de carro com o cadáver de Inês num carro, ficou internado num hospital psiquiátrico e aí recorda três vidas como se fossem uma só.
Diogo Amaral, o intérprete de Pedro, segundo o que referiu ao JN, assume como um privilégio o poder desempenhar o papel duma personagem histórica que protagoniza “o maior romance da História de Portugal” e avança a opinião de que esta história é melhor que a de Romeu e Julieta.
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O tema galgou os séculos e ultrapassou as fronteiras da lusa pátria. Muitos lhe reservaram lugar, anónimos, poetas, dramaturgos, críticos e historiadores, além de músicos, pintores e escultores. Muito se misturou, no caso, a história, a lenda e a literatura. Muitas lágrimas se derramaram, muito se cantou, muito se representou.
As obras portuguesas sobre a Castro invadem vários setores da produção textual: a poesia, o teatro, a paródia, a narrativa histórica e ficcional e a crítica literária. 
A listagem que segue pretende ser uma amostra não exaustiva mas que mostra que estes amores – Pedro e Inês – mobilizaram e mobilizam muita gente e muitas instituições. Assim,
Presença poética em obras de outrem:
A ferida inesgotável, João Rasteiro, in Tripolv.org.
– A linda Inês de manto, In Obra Breve, Barcas Novas, de Fiama H. P. Brandão, 1967.
À morte de Inês de Castro, de Manuel Maria Barbosa du Bocage, soneto a Ulina e cantata
Chove! Dedicado a Inês por José Gomes Ferreira, in As Tormentas.
El episódio de Inês de Castro en hos Lusíadas de Luís de Camões. Granada: Universidade de Granada, 1980, pag. 345 – 369.
– Episódio da Castro, in Os Lusíadas, Luís de Camões, Canto III, est. 118-137

Inês de Castro, in Crónica d’ El Rei Dom Pedro, de Fernão Lopes, capítulos 29-31 e 44

– Inês de castro, in Poemas Ibéricos, de Miguel Torga, Antologia Poética, 1981
Inês morreu, Ruy Belo, in Tripolv.org
Paixão, morte e glória de Inês de Castro, conferência de Ludovina Frias Matos
– Pedro e Inês, in A Margem da Alegria, de Ruy Belo, 1973 (fragmento final), in Obra Poética, vol. 2, Ed. Presença
– Soneto de Inês, 1999, in Poemas de Ary dos Santos,
Trovas que Garcia de Resende fez à morte de Dona Inês de Castro, in Cancioneiro Geral, de Garcia Resende
Filmes
A casa de Lava, Pedro Costa, 1994
Amor de Perdição, Manoel de Oliveira, 1978
Inês de Castro, Leitão de Barros, 1945
Inês de Portugal, José Carlos de Oliveira, 1997
Inês de Castro, Grandela, 2002
O Delfim, Fernando Lopes, 2000
Sem Sombra de Pecado, José Fonseca e Costa, 1982
Verdes Anos, Paulo Rocha, 1963
Óperas  e outras composições musicais
Inês de Castro – Ópera – Scena ed aria de Carl Maria Friedrich Ernst von Weber
Inês de Portugal – Ópera de Julien Duchesne
Cari Giorni – Ines de Castro (Giuseppe Persiani)
Niccolo Zingarelli – Ines de Castro – Quartetto
Pedro Syrah – “Inês de Castro”
Obras diversas
– Aguiar, João. Inês de Portugal. Porto: Ed. ASA, 2002.
Almeida, Manuel Pereira Peixoto de, Inês de Castro na Ópera e na coreographia italianas. Lisboa: Typographia Castro Irmão, 1908.
Araújo, Joaquim de, Bibliografia Inesiana. Pisa: Tipografia de F. Mariotti, 1897.
Bessa-Luís, Agustina. Adivinhas de Pedro e Inês. Lisboa: Ed. Guimarães Editores, 2006.
– Franco, António Cândido. A Rainha Morta e o Rei Saudade: O Amor de Pedro e Inês de Castro. Lisboa: Ed. Ésquilo, 2003.
Franco, Cândido. Memória de Inês de Castro.
Xavier, Francisco Cândido e Ramacciotti, Caio. Mensagens de Inês de Castro. Edição Digital, 2010.
Bismut, Roger. Inês de Castro e Victor Hugo. 1986.
Brandão, Fiama Pais. Noites de Inês-Constança. Ed. Assírio & Alvim, 2005.
Cerda, Mexia de la, Dona Inês de Castro.
Cláudio, Mário. “Dom Pedro I e Inês de Castro”. In Triunfo do Amor Português. Lisboa: Ed. Dom Quixote, 2004.
Cláudio, Mário. Nero e Nina (conto infantil inspirado por uma visita aos túmulos reais de D. Pedro e D. Inês). Lisboa. Ed. Clube do Auro, 2012.
Cornil, Suzanne. Inês de Castro. Contribuition à l'étude du dévelopement litteraire du theme dans les littératures romanes. Bruxelles: Palais des Acádemies, 1952.
Dantas, Júlio, A Castro. Lisboa: Ed. Portugal-Brasil Sociedade Editora, 1920
– Domingues, Mário. Inês de Portugal na Vida de D. Pedro. Lisboa: Ed. Prefácio, 2002.
Faria, Rosa Lobato de, A Trança de Inês, romance sobre a intemporalidade da paixão. Porto: Ed. ASA, 2001.
– Ferreira, António. A Castro (1598). Mem Martins: Ed. Europa-América, 1991.
– Fonseca, Faustino. Inês de Castro. Porto: Ed. Fronteira do Caos, 2013.
Fonseca, Gondin da, Inês de Castro (Teatro). Vera Cruz (Brasil): Ed. São José, s/d.
– Franco, Cândido. O amor pode vencer a morte...Inês de Castro.
Fréches, Claude Henri. Le personnage d’ Inês de Castro chez ferreira, Velez de Guevara et Martherlant .
– Genlis, Stéphanie, Ines de Castro: novela tomada de la historia de Portugal, escrita em Francês por la Condesa Stéphanie Félicité Ducrest de Saint Aubin Genlis y traducida al Castellano por Don Salvador Isquierdo – Madrid, 1832.
– Gil, Artur Pedro. O Julgamento de Inês de Castro. Ed. Ministério dos Livros, 2008.
Girão, Guilherme Manuel de Souza. Na Descendência de D. Pedro e D. Inês de Castro - Souza Girão e Valle. Ed. Autor, 2005.
Gomes Júnior, João Baptista. A Nova Castro Tragédia, (Poesias dos melhores autores relativos à história de D. Ignez de Castro).
Granja, Ana. Sem Ti, Inês. Ed, Caderno, s/d.
Guevara, Luís Velez. Mas pesa El-rey que la sangue..., Madrid: 1857-1858
Hierro, María Pilar del. Inês de Castro. Lisboa: Ed. Presença, 2003.
– Hugo, Victor. Inês de Castro. Lisboa: Guimarães & C.ia Editores, L.da, 1969.
Janeira, Armando Martins. Linda Inês ou o Grande Desvairo (Tragédia: 1957). Lisboa: Ed. Pássaro de Fogo, 2005.
Lucas, Diogo; e Lopes, Filipe. Inês de Portugal 
– Magalhães, Ana e Alçada, Isabel. Uma Aventura na Quinta das Lágrimas. Alfragide: Ed. Caminho, 1999.
Martins, Rocha. Linda Ignês. Lisboa: Ed. INAPA, 2006.
 Megiani, Ana Paula Torres; e Almeida, Jorge Pereira de Sampaio. Inês de Castro, a época e a memória.
Montherlant, Henry de, La Reine Morte (1942). Ed. Gallimard, 1972.
Morais, José Ângelo. Eccos que o clarim da fama dá: Pustilhão de Apollo. Lisboa: 1761 – 1762.
 Nunes,  Mário. Colo de garça, Formosa Inês de Castro.
Pierce, Frank. Camões and Inês de Castro. Separata da revista Ocidente, novembro de 1972.
Pinto, Margarida Rebelo. Minha Querida Inês. Ed. Clube do Autor, 2011.
Pinto, Sérgio Augusto da Silva. O casamento válido de D. Inês de Castro. Porto: 1961.
Quita, Domingos Reis. A Castro (Ficções). Coimbra: França Amado.
Roig, Adrien. Echanges littéraires entre le Portugal et la France sur le théme d' Inês de Castro.
Roig, Adrien. L´Inês de Camões.
– Rosa, Luís. O Amor Infinito de Pedro e Inês. Lisboa: Ed. Presença, 2009.
 Silva, Ângelo da, A história de Inês de Castro. Porto: Letras das Coisas, 2005.
Sinoué, Gilbert. A Rainha Morta. Algés: Ed. Difel, 2008.
Sousa, Maria Leonor Machado de, Dona Inês e D. Sebastião na literatura inglesa. Lisboa: Ed. Veja, 1980.
Sousa, Maria Leonor Machado de, Inês de Castro na Literatura Portuguesa. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1984.
Sousa, Maria Leonor Machado de, Inês de castro, um tema português na Europa. Lisboa: ACD Editores, 2005.
Sousa, Maria Leonor Machado de, Pedro e Inês, um tema sempre.
– Tomás, Aníbal Fernandes. Ignez de Castro. Iconographia História Litteratura. Lisboa: Typograghia Castro Irmão, 1880.
Vasconcelos, António. Lenda e História de Inês de Castro. Ed. Editalma, 2010.
Vaz, Fernando Henriques. Portugal: apontamentos de História. Inês de Castro. Lisboa: s/n, 1978.
Veiga, Seomara da, Inês de Castro – a Estalagem dos Assombros. Lisboa: Ed. Presença, 2007.
– Vieira, Afonso Lopes. Inês de Castro na poesia e na lenda: conferência realizada no claustro do Mosteiro de Alcobaça, seguida do soneto dos túmulos. Alcobaça: s/n, 1913.
– Vieira, Cristina, et al. Inês, Pedro, Amor, Paixão. Poesia Vadia. Lisboa: Ed. Apenas Livros Lda, 2005.
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Longe de ser completa, a listagem constitui uma microrradiografia da produção sobre a temática atinente aos dois míticos amantes históricos, donde se pode deduzir a multiplicidade de autores, muitos dos quais anónimos, de composições, de origens literárias.
Inês e Pedro são figuras que marcam o imaginário popular em toda a História de Portugal a partir do século XIV. Bem fazem as escolas que promovem através da literatura a catarse da sua população escolar, bem como o farão os agentes culturais contribuindo com a sua parte.

2017.06.05 – Louro de Carvalho   

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