O Conselho Nacional de Educação (CNE) sustenta que, para garantir o sucesso
escolar dos alunos, há que recentrar a missão docente no essencial, no processo
de ensino/aprendizagem”, em vez de se insistir em sobrecarregar os docentes com
outras tarefas que nada têm a ver com o que deve ser o seu exercício
profissional. Segundo o Público, o
CNE explicita:
“Torna-se evidente que a condição docente não se
compagina com a multiplicidade de tarefas que lhe são presentemente atribuídas,
antes exige que beneficie de condições de trabalho e de aperfeiçoamento,
permitindo-lhe cumprir melhor a sua missão e adaptar-se de forma contínua às
novas situações”.
Entre as tarefas desviantes da “missão essencial” do professor”, figura “a
sobrecarga de reuniões e de múltiplas tarefas de natureza burocrática”, como as
aplicações instaladas em plataformas eletrónicas, que “poderiam ser
desenvolvidas por assistentes técnicos”.
***
O parecer do CNE sobre o perfil do aluno
para o século XXI
Datado de 27 de abril e publicado na II
Série do Diário da República de 30 de maio, surge o Parecer n.º 4/2017 do CNE sobre o “Perfil
dos Alunos para o Século XXI”, que se estrutura em 3 partes: contextualização
e enquadramento conceptual de “competências”, com
base no Relatório Técnico Perfil do aluno – competências para o século XXI, adiante designado por Perfil; apreciação global do documento;
e algumas recomendações.
Ao
nível da contextualização e enquadramento, evidencia-se a não novidade do debate sobre as
competências a adquirir e a desenvolver pelos alunos ao longo da escolaridade,
salientando-se o DNE (Debate Nacional sobre a Educação), os múltiplos pareceres do CNE
e as muitas iniciativas internacionais, nomeadamente as que apresentam vários
referenciais de competências (ATC21S, UE, UNESCO, OCDE). Por outro lado, apesar de o
conceito de competência não ser unívoco (traduz diferentes
vocábulos do inglês: skill, competence ou ainda competency), o assumido no Perfil remete para “a capacidade de
mobilizar adequadamente os resultados da aprendizagem /conhecimentos prévios
num determinado contexto”, ressaltando assim a essencialidade do conhecimento
para o desenvolvimento das competências.
No
atinente à apreciação do documento,
o CNE considera: a pertinência e oportunidade; a ancoragem de um perfil;
princípios e visão; competências-chave e referências internacionais; escola e
parceiros educativos, e implicações práticas.
Pertinência e oportunidade
O Perfil constitui um referencial estruturante para escola nos
próximos anos, resultante da obrigação de, por via do alargamento da escolaridade
obrigatória para 12 anos, repensar as finalidades da educação, o currículo e os
processos de ensino e aprendizagem. Para lá da sua pertinência, o CNE assinala
a utilidade, já reclamada antes, inclusive no seio deste órgão, sobretudo
quando refere:
“[...] importa recolher os contributos deste
Debate em ordem a redefinir os perfis de saberes e competências a adquirir por
todos no termo dos principais ciclos de estudo, bem como os instrumentos da
respetiva aferição e avaliação” (vd DNE).
Ao longo do documento do DNE,
menciona-se a necessidade de referenciais de competências:
“Para tanto, será
necessário alargar as vias científicas, tecnológicas e profissionais do ensino
secundário, no que respeita à definição de referenciais de competências e às
qualificações baseadas em competências, …”
E enumeram-se nele as
competências básicas necessárias que todos os jovens devem alcançar, ainda que
por percursos educativos diferenciados e mais adequados a cada situação
educativa. E, sublinhando a oportunidade do Perfil
e “da discussão que suscita, recuperando e reclamando novas formas de
organização e desenvolvimento curricular nas escolas”, o CNE reclama a “efetiva
apropriação das suas linhas de ação pelas e nas escolas”.
Anotando que o Perfil adota o enquadramento teórico-base
da elaboração do “Currículo Nacional do
Ensino Básico – Competências Essenciais”, de 2001, revogado 10 anos depois
(crítica
a Nuno Crato), entende
justificar-se a sua inclusão na reflexão sobre a temática, dada a quantidade e
qualidade das reflexões e contributos produzidos a partir do final da década de
90.
Não se esgotando a reflexão ao
nível do CNE, com a aprovação deste parecer, impõe-se que sejam objeto de
análise e debate futuros “as condições
para a sua operacionalização, incluindo as implicações organizativas, de
formação dos professores e gestão curricular”. E, “dada a diversidade de
conceitos utilizada no Perfil, era
bem que neste documento se “introduzisse a fundamentação que lhe está
subjacente” e se “utilizasse uma linguagem tão clara quanto possível, considerando
a variedade de públicos a que se destina”.
Ancoragem
de um perfil
Sendo o perfil a descrição ou
relato a traços rápidos do retrato moral e/ou físico duma pessoa, dada a grande
a variedade de públicos e trajetos existentes na escola e visando o Perfil enquadrar a sua totalidade, o
termo “perfil” pode induzir interpretação diversa da desejada. Ora, no documento,
“a referência a um perfil não visa” uma “tentativa uniformizadora”, mas a
criação dum quadro de referência que “pressupõe a liberdade, a responsabilidade,
a valorização do trabalho, a consciência de si próprio, a inserção familiar e
comunitária e a participação na sociedade”. Assim, poder-se-ia optar pelo termo
“referenciais” ou “quadro de referência”.
E, apesar de rejeitar uma tentativa
uniformizadora, o documento sustenta:
“O perfil dos alunos no
final da escolaridade obrigatória estabelece uma visão de escola e um compromisso
da escola, constituindo-se para a sociedade em geral um guia que enuncia os
princípios fundamentais em que assenta uma educação que se quer inclusiva”.
É de levantar a questão de a
visão proposta precisar de mais suporte na LBSE, pois, embora os princípios do Perfil não contrariem os formulados na
Lei, torna-se pertinente evidenciar a articulação entre aqueles princípios e a
resposta que o Perfil oferece à extensão
da escolaridade.
Princípios
e visão
Os princípios que subjazem ao
trabalho de natureza curricular estabelecem um quadro referencial que visa responder
ao caráter complexo e imprevisível que carateriza a sociedade. O desenvolvimento
e ubiquidade das TIC (tecnologias de informação e comunicação) tende a redefinir as fronteiras
das possibilidades educativas. Por outro lado, a fragmentação curricular
inerente à lógica disciplinar, muito acentuada, exige um esforço de procura de
equilíbrios, condições formativas e organizacionais que oriente as metodologias
de ação para as práticas pedagógicas e didáticas adequadas às finalidades
enunciadas. Por isso, o conteúdo do Perfil
poderá dar um efeito estruturante que ultrapassa o âmbito dum referencial
orientador de processos de ensino e aprendizagem. É uma possibilidade expressa
no documento quando se afirma:
“[...] todos os que têm
responsabilidades na educação encontram neste documento a matriz para a tomada
de decisão sobre as opções de desenvolvimento curricular, consistentes com a
visão de futuro definida como relevante para os jovens portugueses do nosso
tempo”.
A LBSE institui a dupla
finalidade da escolaridade, sobretudo a nível secundário, organizando-se em
formas diferenciadas, “contemplando uma via predominantemente orientada para o
prosseguimento de estudos e outra para a inserção na vida ativa”. Embora a Nota Introdutória afirme que “Uma escolaridade obrigatória de doze anos
constitui um desafio na medida em que implica a consideração de percursos
educativos diferenciados, atendendo à variedade de públicos e respetivos
objetivos formativos”, a existência de “uma visão” comum à escolaridade obrigatória
deve assegurar “a liberdade de opção por parte das escolas, dos alunos e dos
pais e encarregados de educação”. Assim, será de sublinhar que, desde os anos
iniciais, “a escola deve viver e promover uma cultura de responsabilidade”.
É ainda desejável que a operacionalização
do perfil garanta o equilíbrio entre os princípios enunciados e as finalidades
propostas, de modo a propiciar estabilidade ao desenvolvimento de “uma matriz de
conhecimentos, capacidades, valores e atitudes, que não estabeleça uma relação
de hierarquia entre si, assegurando que todos contribuam para a formação do
jovem”. Neste sentido, saliente-se que “constitui missão da escola a
valorização do saber e a promoção da curiosidade intelectual dos alunos”.
Competências-chave
e referências internacionais
O Perfil desenvolve-se em torno dum conjunto de competências-chave
que sustentam a definição dum perfil dos alunos à saída da escolaridade
obrigatória, competências presentes em reformas curriculares do século passado,
cujo enquadramento remete para algumas referências internacionais – referências
que evidenciam a influência das perspetivas educativas da UE e da OCDE, tendo o
Perfil incorporado diversos aspetos.
Nalguns casos, as sugestões baseiam-se em esquemas e conceitos desenvolvidos
internacionalmente, mas simplifica-se o modelo, perdendo-se as subdimensões do conhecimento
e aptidões e a dimensão valores do modelo original.
O Perfil apresenta um referencial em dez categorias, número superior
ao de outros referenciais internacionais, pelo que o CNE sugere o esforço de
conjugação de algumas das competências-chave. Por exemplo, as
competências-chave “consciência e domínio
do corpo” e “bem-estar e saúde”
poderiam ser integradas numa única competência-chave. E merece destaque a
defesa de que os sistemas vêm evoluindo no sentido de desenvolver
“competências--mobilizadoras de conhecimentos, de capacidades e de atitudes”
que permitam uma efetiva ação humana.
Entre os grandes desafios que se colocam
ao cidadão, surge como necessidade de salvaguarda da equidade entre gerações a
preservação do ambiente, assente num modelo de desenvolvimento sustentável. Além
disso, “educar para a liberdade, para a responsabilidade, para o respeito para
com o outro” associa-se à ideia de “educação para a sustentabilidade” e implica
a ação colaborativa para o bem comum e “[...] com vista à construção de um
futuro sustentável”. São pressupostos que o documento inclui nos seus
princípios e explicita nas competências-chave.
As aptidões e conhecimentos fundamentais
para o século XXI (na OCDE) são variados e incluem:
“Criatividade/inovação,
pensamento crítico, resolução de problemas, tomada de decisão, comunicação,
colaboração, literacia no uso e acesso à informação, investigação e pesquisa,
literacia mediática, cidadania digital, operações e conceitos em TIC,
flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa e auto-orientação, produtividade, e
liderança e responsabilidade”.
E, no grau inferior de perceção
de importância, encontra-se a “produtividade” – o que suscita a reflexão quando
a escola privilegia “a quantidade em detrimento da qualidade do trabalho dos alunos”,
sendo ainda de relevar a importância dada à pesquisa e resolução de problemas e
ao conhecimento científico (no sentido mais lato), fundamentais no mundo em
constante mudança.
Escola
e parceiros educativos
O Perfil coloca o enfoque na escola, apenas referindo de modo pontual
“outros parceiros”.
Importa acentuar que outros
atores, “como por exemplo a família”, têm igual relevância na formação dos
alunos “como pessoas autónomas e responsáveis e cidadãos ativos”. E a inclusão
de outros atores (família, parceiros sociais) na vida escolar, mesmo nos
órgãos de administração e gestão, constitui opção política nos tempos mais
recentes. Portanto, não é de subvalorizar a sua importância como parceiros
relevantes para a consecução dos referenciais educacionais, que “não se esgota
na educação escolar”. Por outro lado, nenhuma abordagem teórica do Perfil prescreve ações concretas a
realizar em sala de aula. Contudo, um quadro teórico consistente orienta as
opções dos decisores políticos e a planificação da atividade letiva. Ora, como
“a aprendizagem ocorre num quadro situacional, num dado contexto, ativamente construído
através da negociação social”, é de afirmar que as aprendizagens não ocorrem
exclusivamente na sala de aula e “não se limitam à educação escolar”. Assim, “a
família, o clube desportivo, a igreja, o grupo recreativo, os grupos de
referência, entre outros, constituem locus de aprendizagem”.
Implicações
práticas
Neste âmbito, relevam-se ações
relacionadas com a atividade docente determinantes para o desenvolvimento do
perfil do aluno. Não obstante elas comportarem alterações de abordagem e gestão
curricular, tal não implica recuperar a solução das áreas curriculares não
disciplinares (Área de Projeto, Estudo Acompanhado, Formação Cívica), apesar do contributo que deram
para a formação cívica, humanística e científica dos alunos. Existem hoje
exemplos de soluções organizacionais fautoras do trabalho colaborativo dos
professores em projetos específicos ou no âmbito de modelos de ensino por
“equipas ou por turmas contíguas”. A este respeito, o Parecer n.º 3/2016 do CNE
salienta que este modelo de organização permite “o desenvolvimento de projetos
de gestão integrada do currículo e a formação prévia de equipas
multidisciplinares de professores” e que “tem dado provas da sua eficácia”, mas
“requer uma mobilização da direção, das lideranças intermédias e de equipas docentes,
pois tem profundas implicações no modo de organização da atividade semanal”. Depois,
o trabalho da abordagem CLIL (Content
and Language Integrated Learning)
– aprendizagem integrada de conteúdos e de língua estrangeira –, pelo
qual os alunos aprendem conteúdos e desenvolvem competências de
comunicação, associando-os à prática de resolução de problemas e à
integração de saberes, “constitui um exemplo de gestão curricular que
implica o trabalho colaborativo em atividades baseadas em temáticas
multidisciplinares”.
Os dois modelos configuram a
necessidade de confiar na “[...] inteligência profissional dos docentes,
aplicada a uma enorme diversidade de situações pedagógicas e à
flexibilidade organizacional e curricular de cada escola”.
A operacionalização do “perfil de
competências” implica, portanto, a adoção de uma abordagem pedagógica
interdisciplinar, que não se coaduna com a prevalência da lógica disciplinar. Assim,
é necessário o “esforço para se encontrarem equilíbrios e condições formativas
e organizacionais para que as metodologias de ação se orientem para práticas
pedagógicas e didáticas adequadas às finalidades enunciadas”.
Se as mudanças no sistema têm surgido
como acontecimentos, com avanços e recuos e sem tempo para consolidação, o Perfil poderá constituir “o princípio da
reversão dessa tendência” a todo o conjunto da estrutura educacional,
constituindo uma referência orientadora das políticas educativas. Por conseguinte,
a sua operacionalização implicará alterações curriculares e de funcionamento
das escolas, desejavelmente “graduais, sustentadas e duradouras”. Para lá do
enunciado, a formação de professores, o nível de autonomia das escolas,
designadamente na constituição de turmas ou grupos de alunos, tempos e espaços,
bem como o acesso ao ensino superior, encontram-se entre as implicações
práticas que o Perfil requer.
Finalmente, O CNE propõe a alteração
de alguns termos. Assim, no ponto referente a Valores, sugere a substituição de “excelência e exigência” por “exigência
e superação”, pois “todos os alunos e escolas devem dar o melhor de si,
levando as suas possibilidades ao seu máximo”. Depois, deve a competência-chave
“pensamento crítico e pensamento criativo”
ser associada à cultura científica e humanística e sustentada pelo respetivo
descritor operativo. O título “Implicações
Práticas”, versando “um conjunto de ações relacionadas com a prática
docente”, poderia denominar-se “Articulação
com a ação educativa”.
Em suma, “a um novo perfil de aluno deverão
corresponder um novo perfil de escola e um novo perfil de professor.
Recomendações
Na sequência da análise que fez, o
CNE faz um conjunto de recomendações, que reduz a seis:
– Explicitação da fundamentação
subjacente à diversidade conceptual utilizada no Perfil, reduzindo as ambiguidades;
– Reforço da importância dos
princípios e valores, como fundamento da construção de linhas orientadoras – importância
crucial no mundo em rápida e constante mudança, funcionando os valores como
âncoras mais resilientes que o conhecimento ou as competências adquiridas;
– Referência mais enfática ao
papel relevante de outros parceiros sociais, em conjunto com a escola, na
formação de pessoas autónomas e responsáveis e cidadãos ativos, pois os locais
de aprendizagem que talham a pessoa e o cidadão são variados e contribuem de
maneira decisiva para a formação e para o sucesso da escolarização do aluno;
– Explicitação da cultura
científica e humanística como competência-chave do “pensamento crítico e pensamento criativo”, introduzindo-a no
descritor operativo nos termos seguintes: “convocar
diferentes conhecimentos, de matriz científica e humanística, utilizando
diferentes metodologias e ferramentas para pensar criticamente”;
– Ponderação das implicações do Perfil na organização do sistema
educativo, nomeadamente ao nível do currículo, das práticas pedagógicas e da
formação inicial e contínua dos professores;
– Implementação gradual e
progressiva das alterações curriculares que o Perfil suscita, sem descurar a necessária monitorização e o respetivo
acompanhamento.
***
Outros aspetos
Segundo o CNE, recentrar a missão docente no processo de
ensino/aprendizagem exigirá também que se defina “com clareza, as funções e as atividades que são de natureza lectiva e
as que são de outra natureza, substituindo os normativos vigentes sobre esta
matéria por um diploma claro, conciso e completo”. Assim o referiu à Lusa Conceição Ramos, relatora do
parecer em análise, comentando que “o estatuto dos professores já vai na 15.ª
revisão” e lembrando que estas mudanças “afetam o que faz o professor”.
O CNE, órgão consultivo do Parlamento e do Governo, alerta que “nos últimos
anos, as condições de trabalho dos docentes nas escolas têm vindo a tornar-se
mais difíceis”, o que contribui para que se registem “processos de stress e burnout [exaustão]”. Para o agravamento das condições de trabalho docente tem pesado a
existência de salas de aula “que não
respeitam a norma que limita a dois por turma os alunos com necessidades
educativas especiais e o número elevado de turmas, alunos e níveis atribuídos a
muitos docentes, designadamente os quem lecionam disciplinas com cargas
horárias mínimas”. Por outro lado, refere o CNE:
“Não deve ser esquecida a realidade gerada pelos
agrupamentos que, amiúde, deu lugar a deslocações de professores entre escolas
que, em alguns casos, distam dezenas de quilómetros entre si”.
Destaca ainda o CNE a “degradação da vida familiar e social dos alunos, que
hoje está muito associada a situações de desemprego e empobrecimento”, que têm contribuído
“para gerar um clima de conflitualidade na escola”.
Na elaboração do seu parecer, o CNE tem subjacentes algumas das caraterísticas
do “perfil demográfico” do universo dos docentes, nomeadamente o
“envelhecimento crescente e constante” e o “desequilíbrio quanto ao género em
todos os níveis de ensino, sendo o corpo docente maioritariamente feminino”.
Num outro parecer sobre a organização da escola e a promoção do sucesso
escolar, o CNE recomenda que “se ouçam os alunos, que tão esquecidos são, e se
escute cuidadosamente o muito que têm para dizer e sugerir, em liberdade, em
ordem à melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem”. E considera que
a diminuição do número máximo de alunos por turma (que pode ir até aos 30), prometida pelo Governo e em apreciação no Parlamento, “pode constituir
um sinal relevante para as escolas, os professores, os alunos e os pais”,
pretendendo que tal medida “seja progressivamente implementada com prioridade
para os ciclos iniciais de educação”.
Por outro lado, o CNE considera
que “o ensino profissional deve continuar a ser valorizado positivamente” e
alerta “para a necessidade de se escapar à tentação de criar percursos pobres
para alunos com baixo rendimento escolar e com repetências sucessivas”,
frisando:
“Aquilo que esta franja de alunos mais reclama não é
só uma atenção especial e redobrada dos órgãos pedagógicos da escola, como um
enriquecimento curricular das propostas educativas que lhes sejam
proporcionadas e ainda a uma afetação dos recursos mais qualificados”.
Por estas razões, o CNE recomenda ao ME que incentive “apenas os projetos
escolares que fazem dos cursos profissionais uma alternativa positiva e com
reconhecimento na comunidade”.
***
Falta perguntar o que pensa o CNE sobre como articular a docência centrada
nas aprendizagens – e favorecida pela flexibilização curricular e
organizacional – com o afunilamento nos finais no ensino secundário em exame que
pressupõe um figurino curricular único? Pretende sugerir o fim dos exames no secundário
ou pretende meter o Rossio na Betesga?
Enfim, há tanto para pensar, modificar e fazer em liberdade, cidadania e
autonomia!
2017.06.16 – Louro de Carvalho
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