É organizado, tal como a caminhada,
em
torno da ideia temática “Com
Maria e José, sonhar a alegria do Natal”.
A capa, ilustrada com a árvore de Jessé, e a
contracapa são emolduradas, respetivamente, por extratos da homilia de Dom
António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, no Natal de 2015, e do discurso
do Papa Francisco em Manila,
a 16 de janeiro do mesmo ano.
Dom António, recordando que fora a mãe a primeira
pessoa a ensinar-lhe a viver e a amar o Natal, sublinha que, a partir da “gruta
da colina de Belém”, onde Jesus nasceu e onde “modelou em traços divinos” a
gruta de que “fez o primeiro presépio do mundo”, “o Natal ensina-nos a
sonhar com um mundo novo e diferente, habitado por homens e mulheres que sabem
ser irmãos”.
E Francisco, acentuando que, “numa família,
quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não
cresce; a vida debilita-se e apaga-se”, confidencia que, se tem “um
problema, uma dificuldade”, escreve um bilhetinho e mete-o debaixo da imagem de
São José (que repousa a
dormir em cima da escrivaninha papal), “para que o
sonhe”.
***
Na Introdução, citando a exortação
apostólica Amoris Laetitia (AL), frisa-se
a preparação que os pais fazem para o nascimento do filho e o facto de, no caso
de serem cristãos, o ambiente ser de oração a confiar o filho a Jesus e o sonho
incluir necessariamente o Batismo.
Projetando-se
no lema diocesano “Com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria”, os
programadores da Caminhada convocam “a
figura de José, o homem dos sonhos, para dar a esta caminhada “uma dimensão
verdadeiramente familiar”, inspirada na AL, sobre a alegria do amor em família.
E, pegando no verso “é pelo sonho que vamos”, de Sebastião da Gama,
asseguram que “todo o cristão é um sonhador”.
Não acreditando
nos sonhos na ótica dos visionários “que nos querem vender ilusões ou despertar
nostálgicas recordações”, professam a crença no sonho “como exercício do desejo”
e como “lugares de encontro com a vontade de Deus”, como os apresenta a Bíblia,
e donde brota a salutar energia “necessária para percorrer o caminho, a que o
mesmo sonho nos impulsiona”.
É sonho que
se alarga à “família de famílias”, a paróquia, ou “a qualquer grupo, movimento,
associação ou comunidade religiosa ou a qualquer realidade eclesial”, “chamadas
a ser e a crescer como famílias de Deus”.
E, tendo em conta que “a ideia, a imagem e o sentimento são três elementos
básicos para dizer bem o essencial”, à luz da Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium (EG: A alegria do Evangelho), parafraseiam Fernando Pessoa com a seguinte
fórmula: “Deus sonha, a humanidade quer e a família nasce”.
***
Quanto à ideia, COM MARIA E JOSÉ, SONHAR A ALEGRIA DO NATAL,
salienta-se o sonho e o sonho em família em que o Papa insiste evocando São
José dormente e a cuidar da Igreja enquanto dorme e sonha.
E o sonho mais significativo de José é aquele em que o Anjo diz: “Não temas receber
Maria, tua esposa” (Mt 1,20), pois configura o convite correspondido “à
consequente e inabalável obediência” à vontade divina, “tal como o fez Maria”.
Neste sentido do sonho, Francisco insiste na dinâmica profética
e ideária para a Igreja:
“Sonho uma Igreja pobre e para os pobres” (Discurso
aos jornalistas, 16.03.2016; cf. EG 198), “sonho uma Igreja Mãe e
Pastora” (Entrevista ao Padre António Spadaro, Ed. Paulus, 2013, p.
36), “sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os
costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se
tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à
autopreservação” (EG 27).
Também o Bispo do Porto recorre à imagem do sonho “para
dilatar a nossa esperança e firmar o nosso compromisso, na realização do
desígnio de Deus, para a nossa Igreja diocesana”, como atesta o Plano Diocesano
de Pastoral 2015/2020 (cf Plano Diocesano de
Pastoral 2015/2020, pg. 29).
O
início de novo ano, litúrgico ou civil, desperta sempre novos recomeços,
ousadas esperanças. A liturgia da Palavra promove a acompanha este clima de
sonho, até porque o Advento se inicia com “a visão de Isaías”, que nos mostra
“o mais belo sonho de Deus” (cf Is 2,1-5), “para uma humanidade reconciliada no amor e
na paz”, e o Natal, a culminar na Manifestação aos Magos, que, “avisados em
sonhos regressaram à sua terra por outro caminho” (Mt
2,1-12), irrompe com o
nascimento de Jesus Salvador.
Não
faltam, na Sagrada Escritura, referências ao sono e ao sonho, desde o
1.º livro bíblico (Gn 2,21; Gn 15,2.12; Gn 28,1-11; Gn 37,5ss), passando pelos livros históricos e
proféticos (Dt 13,2; 1Sam 28,6; Jl 3,8; Dn 2,4), com o seu cume no Novo Testamento, em que
Deus Se manifesta nos sonhos de José (Mt
1,20-25) ou nas visões
noturnas de Pedro e Paulo (At 2,17; At 16,9; 18,9; 23,11; 27,23). E Pedro interpreta esta capacidade
profética de sonhar, por crianças, jovens e idosos, como o sinal dos novos
tempos e do cumprimento das profecias messiânicas (At 2,17;
Jl 3,1-5).
Conexo
com o repouso, o sono surge na Bíblia como sinal de confiança e de abandono à
providência divina; e o sonho, ao manifestar os desejos humanos mais profundos,
oferece espaço livre à atuação de Deus.
***
Quanto à imagem, A ÁRVORE DOS SONHOS, refere-se a árvore por
associação ao presépio e à referência messiânica de Isaías: “Sairá um ramo
do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes” (Is 11,1). Na árvore do presépio evidencia-se este
elemento simbólico, onde se colocam semana a semana todos e quaisquer sonhos
para a “pequena igreja” da família e para a “grande família”, a
paróquia ou equivalente pastoral.
Esta
árvore reencaminha-nos para o sonho da árvore da vida e da árvore da ciência do
bem e do mal, plantadas no Paraíso terreal (Gn 2,9), e reporta-nos à “árvore de Jessé”, com raiz
no pai de David, de cuja descendência nasceria o Messias, por José, esposo de
Maria (Mt 1,16),
como vaticinou o profeta Isaías.
Desde
São Jerónimo, os comentadores da Bíblia, referindo-se a tais palavras de Isaías
(ramo e rebento ou flor),
dizem que o “tronco” alude à Virgem Maria e a “flor” significa Jesus.
Jessé
é apresentado, quase sempre, deitado ou a dormir, com uma árvore a crescer do
seu corpo, onde os antepassados de Jesus, segundo as genealogias evangélicas (Mt
1,1-17; Lc 3,23-38),
se desenvolvem nos galhos da árvore, com os reis e profetas e o próprio Jesus
no topo.
Decorando,
durante o Advento e Natal, a árvore do presépio, com os “sonhos” que Deus sonha
para a família, como “pequena igreja”, e para a paróquia ou comunidade eclesial
ou religiosa, como “grande família”, podemos dar espaço à criatividade,
descobrindo a melhor forma de expor na árvore os sonhos, através de simples
postais de Natal, de bolas de Natal, em que se guardam “os bilhetinhos” com os
sonhos, ou outros materiais decorativos, “onde se escrevem, guardam ou expõem
os sonhos de Deus para cada um e os sonhos de cada para a sua família ou para a
sua comunidade paroquial ou religiosa”. Estes sonhos ajudarão a viver a alegria
do amor em família, certos de que amar alguém não é só “um sentimento forte,
mas uma decisão, um discernimento, uma promessa, um compromisso”.
***
Quanto ao sentimento,
A ALEGRIA DO AMOR EM FAMÍLIA E A ALEGRIA DO
NATAL PARA TODOS, a referência vai para a família de Nazaré, que se tem como
modelo e que nos leva à aprendizagem do mistério do presépio e ao cultivo da
alegria e do amor em família.
Assim,
no sonho visionário de Isaías, no sonho de apelo do Anjo a José e no sonho de
advertência aos Magos, temos um estímulo a potenciar o tempo do Advento e Natal
como tempo propício para “sonhar com Maria e José a alegria do Natal”,
que é para todos (cf Lc 2,10), e implica necessariamente sonhar “a
alegria do amor em família” (AL 1), uma vez que:
“Deus não quis vir ao mundo, senão através de
uma família. Deus não quis aproximar-se da humanidade senão através de uma
casa. Para Si mesmo, Deus não quis outro nome senão o de ‘Emanuel’ (cf Mt 1,23):
é o Deus connosco. E este foi, desde o princípio, o seu sonho, o seu propósito,
a sua luta incansável para nos dizer: ‘Eu sou o Deus convosco, o Deus para vós’.
Deus entrou no mundo numa família” (Francisco,
Discurso na Festa das Famílias e Vigília de Oração, em Filadélfia,
26.09.2015).
A
família é, pois, o “sonho de Deus”, porque Ele “sonha a família e é nela que
encarna, nos visita e salva”. Porém, Deus não Se limita a sonhar, mas procura
“fazer tudo connosco”. E este sonho realiza-se nos sonhos de muitos casais que
têm a coragem de fazer da sua vida uma família. Assim, a família é o símbolo
vivo do projeto de amor que um dia o Pai sonhou.
Se,
como diz Fernando Pessoa, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”,
também, ao falar da família, podemos dizer: “Deus sonha, a humanidade quer e
a família nasce”.
É
pelo sonho que tudo começa, como refere a segunda narrativa da Criação:
“Deus plasma a mulher enquanto o homem dorme um
sono profundo” (Gn 2,21) e deste modo o texto sugere que, para encontrar a
mulher – e, podemos dizer, para encontrar o amor na mulher – o homem deve
primeiro sonhá-la e depois encontrá-la” (Francisco,
Audiência, 22.04.2015).
E
o sonho prossegue na vida do casal, quando sonha os filhos:
“Toda a mãe e todo o pai sonharam o seu filho
durante nove meses (...) Não é possível uma família sem o sonho. Numa família,
quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não
cresce; a vida debilita-se e apaga-se” (AL
169; cf. Francisco, Discurso em Manila, 16.01.2015).
Por
isso, recomendava o Papa às famílias em Manila:
“Antes de mais nada, numa família, sonhai.
Não percais esta capacidade de sonhar”.
Na verdade, a família é o sonho de cada homem e
mulher.
Depois,
sonhar acordado “é um exercício de liberdade e de esperança, para todos, na
família”, “porque, não obstante as grandes dificuldades “e os numerosos
sinais de crise no matrimónio, o desejo de família permanece vivo” (AL 1). De facto, “a família continua a fazer parte
dos nossos sonhos, na medida em que corresponde à busca que atravessa a
existência humana da pessoa, criada à imagem de Deus, que é Amor”.
As
crises e dificuldades não devem fazer desistir desta construção, mas tornar-se
“um apelo para libertar em nós as energias da esperança, traduzindo-as em
sonhos proféticos, ações transformadoras e imaginação da caridade” (AL 57), porque “o sonho de Deus continua
irrevogável, continua intacto e convida-nos a trabalhar, a comprometer-nos a
favor duma sociedade promotora da família” (Francisco,
Discurso na Festa das Famílias e Vigília de Oração, em Filadélfia,
26.09.2015).
***
Esta caminhada da alegria em sete semanas – do início do Advento à semana depois da
Epifania (e 1.ª do Tempo Comum) – é orientada pelos textos bíblicos, que inspiram a forma dos nossos sonhos,
concentrados numa figura ou imagem inspiradora do presépio.
O
opúsculo oferece, de forma indicativa e subsidiária, textos e esquemas, “que
contextualizam, concretizam e aprofundam” o significado e a operacionalidade da
caminhada em sete passos, no âmbito familiar e no das “comunidades, movimentos,
associações ou grupos eclesiais”, sendo desejável que a expressão de tais
sonhos seja conhecida, partilhada e enriqueça o programa de ação familiar e
pastoral.
Assim, há que valorizar, semana a semana, um
elemento ou figura do presépio (deixando-se inspirar por ele/ela), não significando construir o presépio por etapas, mas simplesmente
tomar um gesto, como colocar uma vela perto da respetiva figura, ou iluminá-la,
de modo especial, para aí formular e/ou guardar o “sonho”, tornado compromisso
familiar, paroquial ou de grupo. Trata-se também de se deixar inspirar pela
força simbólica de cada uma das figuras.
Nestes
termos, na 1.ª semana do Advento, teremos como figura/símbolo, a gruta, a casa e/ou a manjedoura –
a evocar simbolicamente a Casa dos Sonhos.
Na 2.ª semana, centraremos a atenção na figura do Menino Jesus, pensando no tempo da gestação da criança – Nove Meses de Sonho. Na Solenidade da
Imaculada Conceição, a figura principal há de ser Nossa Senhora, que é a Porta
do Sonho. Na 3.ª semana, contemplamos o Anjo,
como o Mensageiro do Sonho. Na 4.ª
semana, o nosso olhar dirigir-se-á para São
José, o Homem dos Sonhos. Na
semana da Oitava do Natal, dirigiremos a atenção para os Pastores, que são os Guardadores
de Sonhos. Do Ano Novo à Epifania, teremos em conta os Animais, enquanto personificação do Sonho da Paz. E, da Epifania à 1.ª semana do Tempo Comum,
seguiremos a preocupação dos Magos,
porque são os Reis do Sonho.
Importa, com este itinerário, meditar a
Escritura como Palavra de Deus, refletir sobre a vida como dom de Deus,
cultivar a ternura da espiritualidade e da criatividade, assumir os
compromissos necessários à nossa condição “pessoal familiar e pastoral” e realizar uma atividade significativa, para “tornar
familiar toda a pastoral”.
E
tudo há de levar à oração pessoal e em família, na certeza de que “família que
reza unida permanece unida”. E os mentores da Caminhada propõem a recitação de
“um mistério do rosário, rezado diariamente, ou uma vez por semana, ou noutro
ritmo, de acordo com as sensibilidades e possibilidades de cada família”.
Finalmente, concluída a Epifania, sugere-se que “se
recolham os sonhos da árvore e que estes sejam partilhados, não apenas ao nível
familiar ou comunitário, mas também a nível escolar”. Especialmente, “as
crianças, no espírito da infância missionária, podem levar os seus sonhos para
outros ambientes, como, por exemplo, os do grupo de amigos ou da vida escolar”.
***
Está
visto que é mesmo vontade da Igreja diocesana que as pessoas, as famílias e as
paróquias e outras comunidades eclesiais não celebrem qualquer Natal, mas o Natal
de Cristo, que se tornara o Natal do Homem!
2016.12.01 – Louro de Carvalho
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