A
caminhada do Natal deste ano na diocese do Porto integra o ideário do seu ano
pastoral para 2016/2017, sob uma inspiração mariana, “Com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria”.
Ora,
como escreveram os mentores da organização do ano pastoral (cuja
diretriz seguirei),
“entre estas fontes, de que brota o encontro com Cristo, está a oração”, “uma
das principais fontes da alegria, em que se renova a fé, na luz, guia e
companhia de Maria”. Neste contexto espiritual, propuseram parte da oração do
rosário para fomento da vivência do mistério do Natal, agradecendo a “visita da
Imagem da Virgem Peregrina” e evocando a “celebração do centenário das
aparições de Fátima”, onde pontifica a paciência, a pedagogia e a
espiritualidade do rosário.
Na verdade, a recitação do rosário pode
suscitar a aproximação ao reino de Deus, dado ser uma presentificação da
palavra bíblica do anúncio da encarnação com vista à redenção santificadora.
Sendo assim, o crente através da saudação e
prece a Maria, encaminhante para o mistério do Pai em Jesus, coloca-se “no princípio da salvação e da criação do mundo”. Ao
repetir a saudação do Anjo e de Isabel, o cristão entra progressivamente no âmago
da fé, “onde a eficácia da criação e da salvação se torna real”.
Mais
do que repetição mecânica, a reiteração insistente, observada a obediência ao
Espírito Santo, torna o coração invadido pela respiração da Vida do Pai,
criador e aglutinador de inteligências e de vontades segundo o seu coração de simplicidade
e misericórdia, e conforma-o, e molda-o fazendo-o tomar “as qualidades que
evoca”.
Rezar
implica mudar-se em mentalidade, postura e comportamento, comprometendo-se, à
palavra que escuta de Deus e que, por sua vez, profere com fé e confiança, a
sério na relação com Deus, consigo próprio, com o próximo e com o mundo
enquanto casa comum que importa dominar sem destruir, mas cuidar conservando-a
e rentabilizando-a de forma sustentável.
A
septenária meditação rezada de mistérios do rosário proposta pela competente autoridade
diocesana (um mistério em cada uma das sete semanas) “é apenas uma sugestão contextualizada no
espírito e objetivos da caminhada do Natal. Propõe-se “um mistério do rosário,
rezado diariamente, ou uma vez por semana, ou noutro ritmo, de acordo com as
sensibilidades e possibilidades de cada família”. Não se observa o esquema tradicional,
mas selecionaram-se temas e textos atinentes aos mistérios gozosos em torno duma
brevíssima leitura bíblica, por vezes bipartida dando à recitação a
configuração de liturgia da Palavra.
***
O esquema oracional é o seguinte:
invocação da Santíssima Trindade (P. Em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo. / R. Amém!);
convite à oração e resposta (P. Com
Maria e José, oremos ao Senhor! / R. Neste Natal, Ele nos dê a alegria
do Seu amor!); uma admonição da parte de quem
preside, a enquadrar o tema da semana; a brevíssima e condicente leitura
bíblica; o convite à recitação do mistério; a recitação do Pai-Nosso, 10 Ave-marias e Glória; invocação a Maria, a José
ou à Sagrada Família (variável); e termo (P.
Bendigamos ao Senhor! / R. Neste Natal, Ele nos dê a alegria do Seu
amor!).
Na 1.ª semana do Advento,
-
A admonição releva a advertência da Palavra de Deus à atitude de atenção a “não
deixarmos arrombar a nossa casa”, ou seja, a afastar a ameaça de tristeza, divisão
e violência. No espaço de casa orante, Deus fala e transforma. Quando Deus
chamou Maria, surpreendeu-a em casa. A casa do Jesus do presépio é a gruta,
a significar pobreza e abandono, mas também aconchego, intimidade e proteção, a
trilogia que temos de pedir para todos e a que todos têm direito.
- A Leitura bíblica é:
“Ao entrar em casa de Maria, o anjo disse-lhe:
Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28).
-
Pede-se, em família, que “a
nossa casa esteja sempre bem guardada pelo amor de Deus, entre todos os seus
filhos”.
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Maria,
digna morada de Jesus! / R. Rogai
por nós!
Na 2.ª semana do Advento,
-
A admonição compara a família a uma árvore que deve dar fruto (a árvore
de Natal está associada ao Natal e ao presépio, pela esperança e vida que
sugere). Os filhos como o
“rebento” mais esperado são “o fruto” mais bendito do casal e da família. Porém,
o casal que não recebe esse fruto encontrará formas de realização na ajuda a
pessoas e instituições.
- A Leitura bíblica, desta vez é bipartida, de Lucas e
de Mateus:
Isabel exclamou:
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
E
quando foi anunciado a José o nascimento do Menino, também lhe foi dito:
“Não temas receber Maria, pois o que ela
concebeu é fruto do Espírito Santo” (Mt 1,20).
- Roga-se pelas grávidas e pelas crianças nascidas ao
longo deste ano de 2016, para que as mães sejam apreciadas como espaço gerador
de vida e as crianças acolhidas como fruto bendito e para que as famílias sem filhos
encontrem vias de generosidade efetiva e afetiva.
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Maria,
Mãe bendita e Imaculada! R. Rogai
por nós!
Na 3.ª semana do Advento,
-
A admonição recorda-nos a nossa condição de mensageiros do sonho de Deus. Como
à casa de Maria e de José, Deus envia os anjos do Natal e do presépio a nossa
casa para comunicar bênção. E esses anjos hoje têm o rosto de pessoas que
ajudam, confortam e orientam.
- A Leitura bíblica é:
“O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado
José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria” (Lc
1,26-27).
- Suplica-se que os primeiros anunciadores, mensageiros de
Deus, sejam os e as que vivem em nossas casas.
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Maria,
Mãe do Evangelho vivo! / R. Rogai
por nós!
Na 4.ª semana do Advento,
-
A admonição transporta-nos o nosso pensamento para Belém, a Casa do Pão –
referência do nascimento de Jesus. E é à luz da condição da família de Nazaré,
que se prepara para o nascimento do Menino, que nós pensamos nas famílias pobres
e nas dificuldades dos casais no início de vida familiar.
- A Leitura bíblica é bipartida, de dois passos de Mateus:
“Eis que o Anjo do Senhor lhe apareceu em
sonhos e lhe disse: ‘José, filho de David, não temas receber Maria,
tua esposa’”
(Mt 1,20).
E,
quando Herodes pretendia matar o Menino, o Anjo apareceu em sonhos a José e
disse-lhe:
“Levanta-te e foge para o Egito e fica lá até
que eu te avise” (Mt 2,13).
-
Reza-se a São José que leve as nossas famílias a sonhar e a enfrentar com
coragem as dificuldades, que os refugiados encontrem países e famílias que os
acolham e que as famílias se tornem berços de esperança para o mundo.
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. São
José, Esposo de Maria! / R. Rogai
por nós!
Na Oitava do Natal,
- A admonição centra-nos na celebração alegre
do nascimento de Jesus, cujo anúncio foi, pelos anjos, feito em primeira mão aos
pastores, que vigiavam atentos ao rebanho e aos sinais do Céu.
- A Leitura bíblica é:
“Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um
Salvador, que é o Messias, Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um
menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc
2,11-12).
- Pedimos que todos nós, como os pastores, guardemos o sonho
natalino, para fazermos de “toda a
vida da família um ‘pastoreio’ misericordioso” (AL 322).
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Sagrada
Família de Nazaré! R. Rogai
por nós!
Na semana de um de janeiro à Epifania,
- A admonição convoca-nos para o
início de um novo ano civil e, para, sob a égide de Santa Maria, Mãe de Deus,
agradecermos a vida e a fé e trabalharmos pela paz.
- A Leitura bíblica é meditativa e a meditação do mistério
é fonte de ação sustentável:
“Maria conservava todas estas palavras,
meditando-as em seu coração” (Lc 2,19).
-
Ora-se à Mãe de Deus para que nos ajude a guardar as
três palavras da boa convivência – por
favor, desculpa e obrigado/a, de modo que haja Paz em casa
e a Paz chegue a todos os filhos de Deus, a todos os filhos da Paz, dispersos
pelo mundo.
-
Recita-se o Pai-Nosso, as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Maria,
Rainha da Paz! / R. Rogai por
nós!
Na
semana entre a Epifania e o início do Tempo Comum,
- A admonição leva-nos a considerar o sonho de
Isaías para uma “humanidade reconciliada no
amor e na paz”. O presépio, como Casa dos sonhos, faz-nos aprender com Maria e
José a espera pelo sonho, abrindo-nos às surpresas de Deus.
-
A Leitura bíblica é a conclusão da manifestação
dos Magos, os reis da visão e do sonho:
“Avisados em sonhos, os Magos regressaram à
sua terra por outro caminho” (Mt 2,12).
-
Ora-se pelas famílias, abertas às surpresas de Deus e cresçam com as
dificuldades do caminho.
- Recita-se o Pai-Nosso,
as 10 Ave-marias, o Glória e a seguinte invocação: P. Maria,
Estrela da evangelização! R. Rogai
por nós!
***
Um
ótimo itinerário orante – familiar, grupal ou pessoal – aderente ao Natal. Laus Deo!
2016.11.30 – Louro de Carvalho
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