quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Novidades da recente cimeira da CPLP de 2016

Decorreu, a 31 de outubro e 1 de novembro, em Brasília, a XI Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), com a presença do futuro secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que foi convidado, para o efeito, pelo Presidente brasileiro, Michel Temer, que espera de Guterres um contributo significativo para a “reflexão modernizadora” da comunidade lusófona. Portugal foi representado na cimeira, ao mais alto nível, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo Primeiro-Ministro, António Costa – ambos estreantes nas cimeiras da CPLP.
A CPLP, que reúne Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, debruça-se sobre várias áreas de cooperação, como educação, saúde, defesa, agricultura, justiça, economia e língua. E agora aprovou a entrada de 5 novos observadores associados: Hungria, República Checa, Eslováquia, Costa do Marfim e Uruguai.
A XI Conferência, dedicada à Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, decorreu no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, onde começou às 15 horas e 50 minutos, com a fotografia oficial do encontro, a que se seguiu a sessão solene de abertura e, pelas 17 horas, o início duma sessão de trabalho por parte dos mandatários. Depois, às 20 horas, o Presidente do Brasil ofereceu aos participantes um jantar oficial no Palácio da Alvorada. A primeira reunião marcou o início da presidência (rotativa) brasileira da organização, durante os próximos dois anos, sucedendo a Timor-Leste.
Da sua parte, o Presidente Temer sustentou a necessidade de “atualizar a CPLP”, alinhando-a “ao que há de mais contemporâneo no debate internacional”, e garantiu o envolvimento do Brasil com a organização, depois de o chefe de Estado português ter defendido que o futuro da CPLP “depende largamente do Brasil, porque Portugal aposta, mas o Brasil tem de apostar”.
Por outro lado, nesta cimeira que celebra os seus 20 anos de existência, a CPLP viu aprovada a nova visão estratégica, que define o rumo da organização para a próxima década. E ainda os 9 membros da CPLP designaram Maria do Carmo Silveira como a nova secretária-executiva, indicada por São Tomé e Príncipe, que iniciará, em janeiro de 2017, um mandato de dois anos.
Outro dos temas em debate foi a satisfação dos compromissos da Guiné Equatorial, que se tornou membro de pleno direito da CPLP há dois anos, na cimeira da Díli, no atinente ao respeito pelos direitos humanos, nomeadamente no respeitante à abolição da pena de morte – pena que está ao abrigo de uma moratória – e no atinente ao respeito pela idiossincrasia da CPLP, em que é fundamental a introdução do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa. Em relação a estas matérias, o representante da missão permanente da Guiné Equatorial junto da CPLP, Tito Mba Ada, anunciou no passado dia 19 que a Assembleia Nacional ratificou os estatutos da organização, facto que o Governo português considerou ser uma “boa notícia”.
Foi também debatida a situação política da Guiné-Bissau, onde foi alcançado um acordo para encontrar um primeiro-ministro de consenso.
O Primeiro-Ministro português avançou a proposta da liberdade de circulação de pessoas e bens nos países da CPLP (tendo de resolver estas questões com a EU, que integra). E a Guiné Equatorial prometeu a promoção do ensino do português e pediu apoio técnico para abolir a pena de morte.
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À margem da reunião, o Presidente brasileiro recebeu, no dia 31, no Palácio do Planalto – sede da presidência brasileira –, António Guterres, que se tornará efetivo secretário-geral da ONU a 1 de janeiro de 2017, e, em seguida, o Presidente português.
Também na manhã do dia 31, os chefes da diplomacia dos 9 países reuniram-se no Palácio Itamaraty, no XXI Conselho de Ministros, donde saíram as recomendações a aprovar na cimeira. A cimeira foi encerrada na manhã de ontem, dia 1 de novembro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, defendeu, em Brasília, falando aos jornalistas à margem desta XI conferência, que a Guiné Equatorial deve abolir de imediato a pena de morte, sob pena de a sua integração na CPLP ser ilegítima. Sustentou que, para Portugal, há três “condições ‘sine qua non’ da integração daquele país na organização: a ratificação dos estatutos da organização (já efetivada), a abolição da pena de morte (para que foi pedido apoio técnico) e a generalização do ensino da língua portuguesa no país (prometida).
Também Marcelo abordou a questão da pena de morte na Guiné. O Presidente da República afirmou estar, tal como o primeiro-ministro (que tinha a seu lado), “muito à vontade” quanto à entrada da Guiné Equatorial na CPLP, porque ambos não participaram na cimeira que aprovou a adesão, dizendo textualmente no final esta cimeira, em conferência de imprensa:
O haver a ratificação dos estatutos, o haver passos para a introdução do português e o haver um passo decisivo que é não ser possível a aplicação da pena de morte, tudo isto é decorrência de uma cimeira em que o Estado português esteve representado, mas quer o senhor primeiro-ministro, quer o atual Presidente estão muito à vontade porque não estiveram lá para votar a admissão da Guiné Equatorial.
Já antes, no início da sua intervenção, recordou que na cimeira anterior, realizada em Timor-Leste em julho de 2014, a CPLP admitira aquele novo membro e sublinhou:
Nenhum de nós, aliás, estava na cimeira de Díli, mas o que é facto é que, nesta cimeira, foi possível verificar que esse novo membro tinha ratificado os estatutos da CPLP, finalmente, fazendo valer esses estatutos no seu direito interno.
Marcelo assinalou que, por força da moratória exigida e aceite, a pena de morte não é aplicada na Guiné Equatorial, mas garantiu que Portugal estará “atento aos passos” dados por este país para alterar o panorama dos direitos humanos antes da próxima cimeira lusófona. Disse assim:
Ao contrário do que muitos temiam, que era que se chegasse a esta cimeira com esse Estado-membro sem ter condições de poder vir a continuar a ser membro de pleno direito, foram dados passos para que isso fosse possível.
Por seu turno, António Costa, na predita conferência de imprensa, manifestou a convicção de que a proposta portuguesa de mobilidade no espaço lusófono será uma realidade quando Portugal assumir o secretariado-executivo da CPLP, em 2019. Declarou a este respeito:
Tenho a certeza de que daqui a dois anos essa questão estará ultrapassada. Se não estiver, bom, essa será necessariamente a primeira missão do nosso secretário-executivo. Mas não creio que essa questão ainda esteja na agenda daqui a dois anos, pelo contrário, já deve estar simplesmente na prática do dia a dia dos nossos povos.
O Presidente do Brasil, que ficou incumbido de fazer o balanço do encontro, referiu que a cimeira que decorreu entre segunda-feira e terça-feira teve uma “dimensão universal”. Em declarações aos jornalistas, Michel Temer lembrou que o Brasil assumiu como tema da sua presidência rotativa de 2 anos da CPLP, que agora se iniciou, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, ligada à agência das Nações Unidas. O líder brasileiro salientou o “preciosíssimo relato” do futuro secretário-geral da ONU, presente na reunião, da situação mundial e dos seus planos para a liderança da ONU. Com o português à frente da ONU, “a aproximação da CPLP com as Nações Unidas será muito mais facilitada e intensa do que já é”, sustentou Michel Temer. E, ao dar conta dos resultados da reunião, disse:
Nós apresentámos um roteiro com atividades concretas na área de crescimento económico, geração de riqueza, erradicação da pobreza, combate ao analfabetismo e, para tanto, faremos troca de informações entre os vários países.
Numa declaração sem direito a perguntas dos jornalistas, o Presidente do Brasil avançou que os Estados-membros adotaram a tese de que “cada país deve, no âmbito das suas atividades e segundo os seus critérios, dimensionar as suas despesas de acordo com a sua receita”, algo que “já vêm praticando de alguma maneira”. Isto porque, muitos países passam por situações de gastos acima do que se arrecada”.
Quanto à política externa brasileira, assegurou que ela “tem hoje uma vocação universalista”, vincando que a CPLP é “um dos grupos mais expressivos” na qual o Brasil está inserido, entre outros, pelo fator da aproximação linguística.
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O documento formal aprovado na XI conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP determina o fim da pena de morte na Guiné Equatorial, a eliminação do trabalho infantil e a nova visão estratégica da CPLP. Esta define as prioridades da organização para a próxima década, prevendo apostar na economia, nomeadamente, energia e turismo, facilitar a circulação no espaço lusófono e orientar a cooperação para o desenvolvimento sustentável.
O documento define como principais apostas a “cooperação económica e empresarial, segurança alimentar e nutricional, energia, turismo, ambiente, oceanos e plataformas continentais, cultura, educação e ciência, tecnologia e ensino superior”; e prevê o reforço dos mecanismos para facilitar a circulação de pessoas dentro do espaço lusófono. Entre as prioridades, figura o alinhamento da cooperação na comunidade lusófona com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e o reforço da cooperação com os países que têm estatuto de Observador Associado da CPLP (Hungria, República Checa, Eslováquia, Uruguai, ilha Maurícia, Namíbia, Senegal, Turquia, Japão e Geórgia). Esta estratégia passa por suscitar maior envolvimento da sociedade civil nas atividades da Comunidade, reforçar a cooperação multilateral e promover a igualdade de género e consolidar o português “como língua de comunicação global, língua de conhecimento e língua de negócios”. E, ainda em relação à língua, pretende-se valorizar o potencial das diásporas da CPLP e das comunidades situadas noutros países e regiões, que preservam a influência da língua portuguesa e partilham laços históricos e culturais com os países da organização.
Os líderes lusófonos consideram que “a integração dos países-membros da CPLP em diferentes regiões do mundo, a existência de extensa área marítima, o considerável potencial económico e estratégico representado pelo mar, as perspetivas favoráveis no domínio energético e a diversidade cultural” da CPLP são um importante património comum a valorizar continuamente e a potenciar em benefício da Comunidade.
No atinente ao trabalho infantil, a Comunidade compromete-se a adotar políticas “imediatas e eficazes” que permitam eliminar o trabalho infantil entre os países-membros. Reiterando o respeito da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a CPLP compromete-se com a “adoção de medidas imediatas e eficazes para assegurar a proibição e a eliminação das piores formas de trabalho infantil até 2025 no espaço” da organização e apela aos Estados a que desenvolvam políticas concretas para “erradicar o trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico de pessoas e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, incluindo o recrutamento e a utilização de crianças-soldado”.

2016.11.02 – Louro de Carvalho

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