quinta-feira, 3 de novembro de 2016

“Juventude, Empreendedorismo e Educação”

O trinómio vertido em epígrafe foi o tema principal da XXV Cimeira Ibero-americana, que decorreu nos dias 28 e 29 de outubro em Cartagena das Índias, na Colômbia, e onde Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa se estrearam como representantes de Portugal neste areópago político, já que o primeiro foi empossado como Chefe de Estado a 9 de março e o segundo foi empossado como Chefe do XXI Governo a 30 de novembro.
Esta Cimeira juntou na Colômbia os chefes de Estado e de Governo de 22 países – Portugal, Espanha e Andorra e 19 países da América Latina – e acontece dois anos após a última reunião, realizada em 2014, em Veracruz, México, quando estes encontros passaram a bienais. O evento contou ainda com a participação do secretário-geral designado das Nações Unidas, o também português António Guterres.
Ainda antes da cimeira, já em Cartagena das Índias – onde aterrou no dia 27 à noite, chegado da visita de Estado de dois dias a Cuba – o Presidente da República teve encontros bilaterais com os seus homólogos da Colômbia e do Peru, Juan Manuel Santos e Pedro Pablo Kuczynski, visitou o centro histórico de Cartagena, reuniu-se com empresários e participou, com outros chefes de Estado, num debate no Fórum empresarial ibero-americano.
O arranque da cimeira ocorreu às 20 horas locais com o jantar oficial de chefes de Estado e de governo; E, no dia 29, a sessão de abertura da Cimeira arrancou pelas 10 horas e o encerramento ocorreu ao meio da tarde. Depois, realizou-se a conferência de imprensa em que foi feito o balanço.
Em entrevista à agência Lusa, o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, esperava que a cimeira fosse “um incentivo aos colombianos no esforço para uma paz duradoura”; e sobre a presença de Guterres, disse constituir uma “possibilidade de os chefes de Estado e de Governo ouvirem diretamente o novo secretário-geral”.
O Governo da Colômbia e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinaram, no mês de setembro, um acordo de paz, após quase 4 anos de conversações em Havana, Cuba, para terminar o conflito armado que se prolonga há 52 anos. O ato, que o povo recusou em referendo, justificou a atribuição do prémio Nobel da Paz ao Presidente Juan Manuel Santos.
Em entrevista à agência EFE, Marcelo Rebelo de Sousa prometera levar à Cimeira uma mensagem muito clara: a de que a América Latina é uma prioridade constante para Portugal.
Também em Cuba, o Chefe de Estado português apontara como uma “grande opção de política externa” a América Latina, região com que Portugal tem intensificado as relações económicas.
À EFE, Marcelo esclareceu:
“Portugal manteve sempre, e independentemente da cor política no poder, uma constância no seu interesse ao mais alto nível político pelo debate e espírito de amizade e solidariedade com a comunidade ibero-americana”.
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Na sua intervenção na XXV Cimeira Ibero-Americana, o Presidente da República convidou os chefes de Estado e de Governo ibero-americanos a visitarem Fátima por ocasião das comemorações do centenário dos acontecimentos de 1917 na Cova da Iria, justificando que “na cultura entram também crenças e formas de circulação, crenças religiosas”. Nesse sentido, recordou “para o ano o centenário de Fátima em Portugal, para o que estais convidados”.
É convite simpático, mas que se justificaria se tivesse sido sugerido pelo Episcopado Português.
Também o Primeiro-Ministro António Costa complementou esse convite, acrescentando um dado novo:
“Quero juntar ao convite que o Presidente da República de Portugal já fez para que visitem Portugal por ocasião do centenário de Fátima, [um convite] para que visitem Portugal também no próximo ano porque Lisboa será capital ibero-americana da cultura”.
E o Primeiro-Ministro, ex-autarca da capital portuguesa, observou em jeito de justificação:
“Mais do que interesses, aquilo que nos une é uma cultura comum. E a capital da cultura em Lisboa significa que Lisboa será no próximo ano a capital de todos vós. Muito obrigado, e bem-vindos a Portugal”.
Mas Costa não se ficou por aqui. Puxou, antes, pelos valores dos países ibéricos, ao afirmar:
“Quando em tantos países se reforçam as tentações do protecionismo ou se concretiza a construção de muros que impeçam a mobilidade, creio que devemos partilhar com orgulho o facto de os dois países da UE que integram esta comunidade estarem entre aqueles que dentro da UE mais se têm batido por acelerar os acordos económicos entre a União Europeia e outros espaços regionais, nomeadamente o Mercosul”.
O primeiro-ministro acrescentou que deve igualmente ser motivo de orgulho, no atual contexto, Portugal e Espanha “serem, como aqui sublinhou António Guterres, os únicos dois países da UE onde o populismo xenófobo não encontrou qualquer tipo de expressão”.

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Paz, cultura e Fátima pouco pareciam ter, à primeira vista, com o lema da XXV Cimeira Ibero-americana. No entanto, é de referir que a guerra e os conflitos similares desviam a juventude da verdadeira rota de futuro e criam personalidades desviadas e desviantes; a cultura empobrece; a educação vai num único e pior sentido; a mobilidade é forçada e não querida; e o dinâmico empreendedorismo não encontra lugar para se realizar e criar bem-estar e riqueza.
Talvez assim se perceba melhor o motivo por que, logo no início do seu discurso, Marcelo tenha feito alusão ao processo de paz na Colômbia e dito que em Cartagena se sente “o espírito da paz” e que “esta cimeira decorre sob esse espírito, interno e externo”. Depois, sustentou:
“Paz quer dizer diálogo interno e externo, quer dizer tolerância, quer dizer respeito pelos direitos humanos, respeito pela democracia que são realidades fundamentais do espírito ibero-americano”.
E, citando António Guterres, corroborou:
“Como disse muito bem o secretário-geral das Nações Unidas, esse espírito é essencial na afirmação desta comunidade”.
Com efeito, só num regime democrático, em que haja estabilidade social e paz em todos os setores, é possível desenhar um futuro para e com a juventude, assegurar o desenvolvimento pessoal e social através da educação integral e integradora e criar condições para o emprego e para o empreendedorismo.
Por isso, o Presidente da República reforçou a mensagem da essencialidade da afirmação desta comunidade em fase mais adiantada do seu discurso, ao afirmar que é importante a comunidade ibero-americana “pensar nas empresas” e “pensar o emprego”, mas “não esquecer a justiça social”, nem “a participação cívica e política” e “não esquecer os valores”. E defendeu:
“Os jovens da nossa comunidade são a garantia do nosso futuro, se apostarem na paz, na democracia, no Estado de direito, nos direitos humanos, no humanismo, no respeito da dignidade das pessoas”.
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A propósito de toda a temática desenvolvida na Cimeira, Santos Silva, chefe da diplomacia portuguesa apontou a presença de Guterres como configuradora de “um grande elemento simbólico”, além de constituir, como se disse já, uma “possibilidade de os chefes de Estado e de Governo ouvirem diretamente o novo secretário-geral”.
Recordando que houve três candidaturas ao cargo de secretário-geral da ONU do espaço ibero-americano – António Guterres (Portugal), Susana Malcorra (Argentina) e Christiana Figueres (Costa Rica) – acentuou que este espaço manifestou, no seu conjunto, múltiplas preferências. Porém, “o que é facto é que, num processo que foi o mais participado e transparente alguma vez feito para escolher o secretário-geral das Nações Unidas, o desenlace foi uma eleição por consenso e aclamação, entusiasticamente saudada em todas as regiões do mundo” – sublinhou.
Em particular sobre a cimeira ibero-americana, o ministro disse que o Governo português “comunga muito do mote da presidência colombiana”, pois, diz-nos muito “ligar a juventude, a educação, a mobilidade e o empreendedorismo. E exemplificou com o programa de mobilidade de estudantes Erasmus, que é “de facto um programa que faz mudar as coisas, que faz comunidade com uma intensidade e naturalidade que nenhum outro consegue ter”.
O ministro, considerando que “tudo o que seja estimular a mobilidade académica e profissional, sobretudo dos jovens, no espaço ibero-americano, ajuda a construir esse espaço”, comentou:
“Um dos grandes desafios do nosso tempo é o de retirarmos todo o potencial, do ponto de vista da economia e do desenvolvimento, que existe no facto de as novas gerações serem em regra muito mais qualificadas que as dos seus pais ou avós. No caso do espaço ibero-americano e, em particular, do espaço latino-americano, esse elemento ainda é mais impressivo, porque cerca de metade dos estudantes universitários são a primeira geração das suas famílias a chegar ao ensino superior”.
Além disso, assinalou, a cimeira também é importante pelo “interconhecimento que potencia”, nomeadamente nas reuniões bilaterais que se realizam à margem do encontro, de que se fez referência acima e outras que dizem menos respeito a Portugal.
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Bem queriam os Estados-membros que o encontro de Cartagena fosse a festa da paz. E apesar das vicissitudes do “não” no referendo, a necessidade e a vontade de paz foram claramente reafirmadas e a paz foi requerida, mas a temática que mobilizou os participantes também foi desenvolvida e concluída.
Assim,  os chefes de Estado e de Governo dos 22 países ibero-americanos, com base nas diversas propostas de comunicados especiais e após a livre discussão dos diversos intervenientes, aprovaram três documentos: a Declaração de Cartagena; a Resolução de Cartagena sobre a Conferência Ibero-americana; e o Programa de Ação.
Neste encontro, que teve por tema “Juventude, empreendimento e educação”, ficaram destacados o aumento da inclusão, participação, investimento e direitos dos jovens com o Pacto Ibero-americano da Juventude; alianças entre as universidades, empresas e sociedade civil para uma educação que contribua para o emprego jovem; mais investimento e cooperação na Ciência, Tecnologia e Inovação; a Aliança para a Mobilidade Académica e reconhecimento dos estudos e títulos universitários nos diferentes países; e políticas para eliminar barreiras de acesso ao mercado laboral com enfoque no género e etnia.
E a Guatemala foi eleita pelos mandatários como sede da XXVI Cimeira Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, no ano de 2018.
Por seu turno, o Primeiro-Ministro português anunciou que está a preparar uma visita à Argentina para “tão breve quanto possível” e que Portugal e Chile vão assinalar os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão Magalhães, em 2020. E o Presidente da República fez um lancinante apelo à paz.
É bom que o mundo, apendendo com os erros e as realizações da História, se entenda e mexa pela paz, pela educação e pelo bem-estar de todos.

2016.11.03 – Louro de Carvalho

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