quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Há 75 anos, Pearl Harbor induziu EUA a entrar na II Grande Guerra

Na verdade, a 7 de dezembro de 1941, a Marinha Imperial Japonesa desferiu um inesperado ataque aeronaval contra a base norte-americana de Pearl Harbor,  na ilha de Oahu, Havai.  
Esta investida contra a frota do Pacífico da Marinha dos Estados Unidos da América e as suas forças de defesa, o corpo aéreo do exército americano e a força aérea da Marinha destruiu ou danificou 21 navios e 347 aviões, matando cerca de 2403 pessoas e ferindo outras 1178. Contudo, os três porta-aviões da frota do Pacífico não se encontravam no porto, pelo que não foram danificados, tal como os depósitos de combustível e outras instalações.
O poderoso ataque, que implicou uma viragem decisiva na Guerra, tornando-a um conflito mundial, precipitou a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial e o início da chamada Guerra do Pacífico, ficando conhecido como “Bombardeamento de Pearl Harbor e “Batalha de Pearl Harbor”, embora a designação mais corrente seja mesmo “Ataque a Pearl Harbor ou simplesmente “Pearl Harbor”. E o dia 7 de dezembro passou a ser denominado como o “Dia da Infâmia”, a partir da declaração de Roosevelt.
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Atribui-se esta manifestação bélica nipónica em força ao expansionismo japonês, que se iniciou nos fins do século XIX e se acelerou, em 1931, com a invasão da Manchúria e de grandes territórios chineses. Neste quadro de ambição, em 1940, o império japonês agregou-se às forças do Eixo, aquelas que se mostravam mais favoritas para a vitória, prosseguiu a sua política aguerrida de conquista e invadiu a Indochina francesa, à cata de recursos energéticos e matérias-primas.
A tentar frear-lhe a expansão e furor hegemónico, os Estados Unidos impuseram sanções económicas ao Japão no verão de 1941 (sempre as sanções económicas como recurso bélico norte-americano). Face a uma opinião interna norte-americana maioritariamente isolacionista, a administração de Washington tenta resistir à entrada na guerra, tanto na frente europeia como no Pacífico. Mas o ataque de Pearl Harbor alterou a perspetiva política dos EUA.
Preparado no mais rigoroso sigilo, o ataque de Pearl Harbor foi lançado a partir de 6 porta-aviões japoneses com as suas 400 aeronaves posicionadas a 350 quilómetros do alvo, com o objetivo de aniquilar a frota norte-americana, cuja principal base no Pacífico era justamente Pearl Harbor, para posteriormente conquistar o sudeste asiático.
Assim, os aviões japoneses dirigem-se, na madrugada daquele domingo, 7 de dezembro de 1941, à pequena ilha de Oachu, no arquipélago do Havai. Uma primeira esquadrilha, que aparece no céu às 7 horas e 55 minutos, seguida de uma segunda meia hora mais tarde, mata 2.403 americanos e deixa outros 1.000 feridos. No total, são afundados ou danificados 21 navios de guerra, além de 328 aviões de combate. Os japoneses perdem 64 homens, 29 aviões e 5 minissubmarinos.
E a ofensiva nipónica não para ali. Em menos de 24 horas, o império japonês ataca os Estados Unidos nas Filipinas e a Grã-Bretanha em Hong Kong, Singapura e Malásia.
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Estavam criadas as condições ao orgulho norte-americano para decidir pela intervenção ativa.
Pela primeira vez desde 1812, os Estados Unidos são atacados no seu próprio território. O Presidente Roosevelt fala de “um dia de infâmia”. Por isso, um dia após o ataque, o Congresso declara oficialmente guerra ao Japão, seguido pela Grã-Bretanha. Três dias mais tarde, a Alemanha, declara, por sua vez, guerra aos Estados Unidos. E, no fim de dezembro, Churchill e Roosevelt decidem unir as suas forças contra a Alemanha nazista sob comando único. Os Estados Unidos, por seu turno, assumem-se como um país convertido numa economia de guerra. Reconstroem a sua frota e fabricam em série aviões, canhões e meios de transporte. E todos os homens de entre 20 e 40 anos são mobilizados.
Nos seis dias subsequentes ao Pearl Harbor, o Japão continua na sua rota de expansão hegemónica: Hong Kong, Singapura, Filipinas, Bornéu, Sumatra, Java e Mianmar caem em suas mãos, um após o outro.
Contudo, a partir de junho de 1942, a correlação de forças altera-se e os Estados Unidos conseguem deter o avanço japonês em Midway e, posteriormente, em Guadalcanal, iniciando a reconquista das ilhas do Pacífico, uma a uma. Nos fins de 1944, os americanos lançam ataques aéreos em massa contra o Japão. E, no ano seguinte, um mês depois dos bombardeios atómicos de Hiroshima (6 de agosto de 1945) e Nagasaki (9 de agosto de 1945), o Japão capitula.
Paralelamente à frente do Pacífico, os Estados Unidos desembarcam em massa na África, na Sicília e no sul da Itália e na França. O reich hitleriano capitulou a 7 de maio de 1945.
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Passados 75 anos desde Pearl Harbor, segundo a Euronews, foi organizada hoje uma cerimónia evocativa em que participaram vários dos sobreviventes ao bombardeamento, que contaram o que viveram. Um dos militares americanos presentes na base nesse fatídico dia diz:
A bola de fogo atingiu-nos a todos. Um marinheiro lançou-nos uma linha com um peso na ponta. Atámo-nos, ele atou a parte mais pesada ao navio e, com a ajuda dessa linha, conseguimos percorrer 20 ou 25 metros até ao navio. Não sei como conseguimos, mas estou aqui.”.
Outra testemunha conta:
“Estávamos num convés, a puxar corpos das chamas. Ao fim de cerca de 40 minutos tínhamos água pelos joelhos e alguém gritou para abandonarmos o navio. Levámos então todos os corpos que tínhamos nas lanchas para o hospital.”.
O ataque a Pearl Harbor, um dos atos de guerra mais trágicos da história fez na altura mais de 2400 mortos. Para assinalar o seu 75.º aniversário, o Primeiro-Ministro japonês Shinzo Abe prometeu para breve uma visita a Pearl Harbor. Será a primeira de um responsável japonês e uma retribuição pela vista de Obama a Hiroxima, a 26 e 27 de maio deste ano de 2016. Ali, o Presidente norte-americano disse:
“Estamos aqui, nesta cidade, e obrigamo-nos a imaginar o momento em que a bomba caiu. Obrigamo-nos a sentir o terror sentido pelas crianças confusas pelo que estavam a ver. Ouvimos o grito silencioso. Aqueles que morreram eram pessoas como nós. Qualquer pessoa compreende isso. As pessoas não querem mais guerra. Preferem que as maravilhas da ciência sirvam para melhorar a vida e não para a eliminar. Quando uma escolha feita pelos líderes, pelas nações, refletir esta sabedoria simples, então a lição de Hiroxima estará cumprida.”.
Agora sabe-se que o Primeiro-Ministro japonês Shinzo Abe e o Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, vão encontrar-se a 26 e 27 deste mês em Pearl Harbor, pouco mais de duas semanas após o 75.º aniversário do ataque nipónico à base aeronaval americana nesta ilha do Pacífico, a 7 de dezembro de 1941, e que levou Washington a declarar guerra a Tóquio e a entrar na II Guerra Mundial. A presença dos estadistas visa superar “escolhos do passado” nas relações entre EUA e Japão e surge num momento em que estratégia para a Ásia da futura administração Trump preocupa Tóquio.
O encontro foi anunciado em Tóquio e pela Casa Branca, com o porta-voz do primeiro-ministro Abe a explicar que este não irá pedir um perdão formal pelo ataque de há 75 anos, mas não deixará de “confortar as almas das vítimas”. Será esta a primeira deslocação de um governante de Tóquio a Pearl Harbor. O objetivo é “demonstrar o poder da reconciliação que tornou dois antigos adversários em aliados muito próximos”, como referiu o governante nipónico numa declaração divulgada a 6 de dezembro. Abe e Obama combinaram a reunião à margem da cimeira da APEC, contra o protecionismo e pela abertura dos mercados, que decorreu em setembro passado na capital do Peru, Lima. A deslocação de Abe a Pearl Harbor sucede sete meses após a primeira visita de Obama a Hiroxima, a cidade japonesa, que com Nagasáqui, foi alvo dum ataque nuclear dos EUA, em agosto de 1945. Tendo, uma semana depois, o imperador Hirohito anunciado a rendição do Japão.
Na deslocação de maio passado a Hiroxima, em que esteve acompanhado por Abe, Obama salientou que a visita se destinava a honrar a memória das vítimas do conflito e não podia ser interpretada como pedido de desculpas pelo bombardeamento que causou cerca de 140 mil mortos. Então, o Presidente americano afirmou que a sua presença na cidade, tendo ao seu lado o chefe do governo de Tóquio, constituía “uma prova de que até o mais doloroso dos antagonismos pode ser ultrapassado”.
No âmbito da visita de 26 e 27, Abe e Obama visitarão o Memorial USS Arizona, o cruzador afundado no ataque de 1941 e que foi transformado em monumento para homenagear os 1102 marinheiros que morreram nesse dia entre os 1177 a bordo.
Após a presença de Obama em Hiroxima, a deslocação de Abe a Pearl Harbor visa completar o processo de reconciliação entre os dois países, hoje de facto aliados próximos, e sucede num momento em que se verificam algumas preocupações em Tóquio sobre a diplomacia de Donald Trump para a Ásia.
A Reuters lembrava ontem que, falando perante o Congresso dos EUA em 2015, Abe expressou “profundo arrependimento” pelo papel do Japão na Segunda Guerra Mundial. Na perspetiva do académico americano Jeffrey Kingston, citado pela Reuters, o Primeiro-Ministro nipónico, com a sua presença em Pearl Harbor, pretende “afastar os escolhos do passado” na relação futura com Donald Trump – o que se revela “inteligente” da sua parte e importante para umas relações bilaterais sem sobressaltos, como sustenta o predito académico.
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Mais do que um pedido de perdão pela beligerância, há que recordar a História (A História não se apaga), não a deixando eclipsar, para que à sua luz os Estados se coíbam de cometer erros similares no presente para que o futuro seja de paz e de prosperidade. Impõe-se a primazia da diplomacia contra a tentação do recurso às armas para promover, reparar ou recuperar as relações entre Estados e entre regiões. A paz vive o diálogo e não da guerra. E as descobertas da ciência têm de colocar-se ao serviço da vida e da qualidade de vida.
2016.12.07 – Louro de Carvalho  

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