Na verdade, a 7 de dezembro de 1941, a Marinha Imperial Japonesa desferiu
um inesperado ataque aeronaval contra a base norte-americana de Pearl Harbor, na ilha de Oahu,
Havai.
Esta investida
contra a frota do Pacífico da Marinha dos Estados Unidos da América e as suas forças de defesa, o corpo
aéreo do exército americano e a
força aérea da Marinha destruiu ou danificou 21 navios e 347 aviões, matando cerca de 2403
pessoas e ferindo outras 1178. Contudo, os três porta-aviões da frota do Pacífico não se
encontravam no porto, pelo que não foram danificados, tal como os depósitos de
combustível e outras instalações.
O poderoso
ataque, que implicou uma viragem decisiva na Guerra, tornando-a um conflito
mundial, precipitou a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial e o início da chamada Guerra do
Pacífico, ficando conhecido como “Bombardeamento
de Pearl Harbor” e “Batalha
de Pearl Harbor”,
embora a designação mais corrente seja mesmo
“Ataque a Pearl Harbor” ou simplesmente “Pearl Harbor”. E o dia 7 de dezembro passou a ser
denominado como o “Dia da Infâmia”, a
partir da declaração de Roosevelt.
***
Atribui-se esta manifestação bélica nipónica em força ao expansionismo
japonês, que se iniciou nos fins do século XIX e se acelerou, em 1931, com a
invasão da Manchúria e de grandes territórios chineses. Neste quadro de
ambição, em 1940, o império japonês agregou-se às forças do Eixo, aquelas que
se mostravam mais favoritas para a vitória, prosseguiu a sua política aguerrida
de conquista e invadiu a Indochina francesa, à cata de recursos energéticos e
matérias-primas.
A tentar frear-lhe a expansão e furor hegemónico, os Estados Unidos
impuseram sanções económicas ao Japão no verão de 1941 (sempre as sanções
económicas como recurso bélico norte-americano). Face a uma opinião interna
norte-americana maioritariamente isolacionista, a administração de Washington
tenta resistir à entrada na guerra, tanto na frente europeia como no Pacífico.
Mas o ataque de Pearl Harbor alterou
a perspetiva política dos EUA.
Preparado no mais rigoroso sigilo, o ataque de Pearl Harbor foi lançado a partir de 6 porta-aviões japoneses com as
suas 400 aeronaves posicionadas a 350 quilómetros do alvo, com o objetivo de
aniquilar a frota norte-americana, cuja principal base no Pacífico era justamente
Pearl Harbor, para posteriormente
conquistar o sudeste asiático.
Assim, os aviões japoneses dirigem-se, na madrugada daquele domingo, 7 de
dezembro de 1941, à pequena ilha de Oachu, no arquipélago do Havai. Uma
primeira esquadrilha, que aparece no céu às 7 horas e 55 minutos, seguida de
uma segunda meia hora mais tarde, mata 2.403 americanos e deixa outros 1.000
feridos. No total, são afundados ou danificados 21 navios de guerra, além de
328 aviões de combate. Os japoneses perdem 64 homens, 29 aviões e 5 minissubmarinos.
E a ofensiva nipónica não para ali. Em menos de 24 horas, o império
japonês ataca os Estados Unidos nas Filipinas e a Grã-Bretanha em Hong Kong, Singapura
e Malásia.
***
Estavam criadas as condições ao orgulho norte-americano para decidir pela
intervenção ativa.
Pela primeira vez desde 1812, os Estados Unidos são atacados no seu próprio
território. O Presidente Roosevelt fala de “um dia de infâmia”. Por isso, um
dia após o ataque, o Congresso declara oficialmente guerra ao Japão, seguido
pela Grã-Bretanha. Três dias mais tarde, a Alemanha, declara, por sua vez,
guerra aos Estados Unidos. E, no fim de dezembro, Churchill e Roosevelt decidem
unir as suas forças contra a Alemanha nazista sob comando único. Os Estados
Unidos, por seu turno, assumem-se como um país convertido numa economia de
guerra. Reconstroem a sua frota e fabricam em série aviões, canhões e meios de
transporte. E todos os homens de entre 20 e 40 anos são mobilizados.
Nos seis dias subsequentes ao Pearl
Harbor, o Japão continua na sua rota de expansão hegemónica: Hong Kong, Singapura,
Filipinas, Bornéu, Sumatra, Java e Mianmar caem em suas mãos, um após o outro.
Contudo, a partir de junho de 1942, a correlação de forças altera-se e os
Estados Unidos conseguem deter o avanço japonês em Midway e, posteriormente, em
Guadalcanal, iniciando a reconquista das ilhas do Pacífico, uma a uma. Nos fins
de 1944, os americanos lançam ataques aéreos em massa contra o Japão. E, no ano
seguinte, um mês depois dos bombardeios atómicos de Hiroshima (6 de agosto de 1945) e Nagasaki (9 de agosto de
1945),
o Japão capitula.
Paralelamente à frente do Pacífico, os Estados Unidos desembarcam em
massa na África, na Sicília e no sul da Itália e na França. O reich hitleriano capitulou a 7 de maio
de 1945.
***
Passados 75 anos desde Pearl
Harbor, segundo a Euronews, foi
organizada hoje uma
cerimónia evocativa em que participaram vários dos sobreviventes ao
bombardeamento, que contaram o que viveram. Um dos militares americanos
presentes na base nesse fatídico dia diz:
“A bola de
fogo atingiu-nos a todos. Um marinheiro lançou-nos uma linha com um peso na
ponta. Atámo-nos, ele atou a parte mais pesada ao navio e, com a ajuda dessa
linha, conseguimos percorrer 20 ou 25 metros até ao navio. Não sei como
conseguimos, mas estou aqui.”.
Outra
testemunha conta:
“Estávamos
num convés, a puxar corpos das chamas. Ao fim de cerca de 40 minutos tínhamos
água pelos joelhos e alguém gritou para abandonarmos o navio. Levámos então
todos os corpos que tínhamos nas lanchas para o hospital.”.
O ataque a Pearl Harbor, um dos atos de guerra mais trágicos da história fez
na altura mais de 2400 mortos. Para assinalar o seu 75.º aniversário, o Primeiro-Ministro
japonês Shinzo Abe prometeu para breve uma visita a Pearl Harbor. Será a primeira de um responsável japonês e uma
retribuição pela vista de Obama a
Hiroxima, a 26 e 27 de maio deste ano de 2016. Ali, o Presidente
norte-americano disse:
“Estamos aqui, nesta
cidade, e obrigamo-nos a imaginar o momento em que a bomba caiu. Obrigamo-nos a
sentir o terror sentido pelas crianças confusas pelo que estavam a ver. Ouvimos
o grito silencioso. Aqueles que morreram eram pessoas como nós. Qualquer pessoa
compreende isso. As pessoas não querem mais guerra. Preferem que as maravilhas
da ciência sirvam para melhorar a vida e não para a eliminar. Quando uma
escolha feita pelos líderes, pelas nações, refletir esta sabedoria simples,
então a lição de Hiroxima estará cumprida.”.
Agora
sabe-se que o Primeiro-Ministro japonês Shinzo Abe e o Presidente Barack Obama,
dos Estados Unidos, vão encontrar-se a 26 e 27 deste mês em Pearl Harbor, pouco mais de duas semanas após o 75.º aniversário
do ataque nipónico à base aeronaval americana nesta ilha do Pacífico, a 7 de
dezembro de 1941, e que levou Washington a declarar guerra a Tóquio e a entrar
na II Guerra Mundial. A presença dos
estadistas visa superar “escolhos do passado” nas relações entre EUA e Japão e surge
num momento em que estratégia para a Ásia da futura administração Trump
preocupa Tóquio.
O encontro foi anunciado em Tóquio e
pela Casa Branca, com o porta-voz do primeiro-ministro Abe a explicar que este
não irá pedir um perdão formal pelo ataque de há 75 anos, mas não deixará de “confortar
as almas das vítimas”. Será esta a primeira deslocação de um governante de
Tóquio a Pearl Harbor. O objetivo é “demonstrar
o poder da reconciliação que tornou dois antigos adversários em aliados muito
próximos”, como referiu o governante nipónico numa declaração divulgada a 6 de
dezembro. Abe e Obama combinaram a reunião à margem da cimeira da APEC, contra o protecionismo e pela
abertura dos mercados, que decorreu em setembro passado na capital do Peru, Lima. A deslocação
de Abe a Pearl Harbor sucede sete meses após a primeira visita de Obama a
Hiroxima, a cidade japonesa, que com Nagasáqui, foi alvo dum ataque nuclear dos
EUA, em agosto de 1945. Tendo, uma semana depois, o imperador Hirohito
anunciado a rendição do Japão.
Na
deslocação de maio passado a Hiroxima, em que esteve acompanhado por Abe, Obama
salientou que a visita se destinava a honrar a memória das vítimas do conflito
e não podia ser interpretada como pedido de desculpas pelo bombardeamento que
causou cerca de 140 mil mortos. Então, o Presidente americano afirmou que a sua
presença na cidade, tendo ao seu lado o chefe do governo de Tóquio, constituía
“uma prova de que até o mais doloroso dos antagonismos pode ser ultrapassado”.
No âmbito da
visita de 26 e 27, Abe e Obama visitarão o Memorial USS Arizona, o cruzador
afundado no ataque de 1941 e que foi transformado em monumento para homenagear
os 1102 marinheiros que morreram nesse dia entre os 1177 a bordo.
Após a
presença de Obama em Hiroxima, a deslocação de Abe a Pearl Harbor visa completar o processo de reconciliação entre os
dois países, hoje de facto aliados próximos, e sucede num momento em que se
verificam algumas preocupações em Tóquio sobre a diplomacia de Donald Trump
para a Ásia.
A Reuters lembrava ontem que, falando
perante o Congresso dos EUA em 2015, Abe expressou “profundo arrependimento”
pelo papel do Japão na Segunda Guerra Mundial. Na perspetiva do académico
americano Jeffrey Kingston, citado pela Reuters,
o Primeiro-Ministro nipónico, com a sua presença em Pearl Harbor, pretende “afastar os escolhos do passado” na relação
futura com Donald Trump – o que se revela “inteligente” da sua parte e
importante para umas relações bilaterais sem sobressaltos, como sustenta o
predito académico.
***
Mais do que
um pedido de perdão pela beligerância, há que recordar a História (A História
não se apaga), não a
deixando eclipsar, para que à sua luz os Estados se coíbam de cometer erros
similares no presente para que o futuro seja de paz e de prosperidade. Impõe-se
a primazia da diplomacia contra a tentação do recurso às armas para promover,
reparar ou recuperar as relações entre Estados e entre regiões. A paz vive o
diálogo e não da guerra. E as descobertas da ciência têm de colocar-se ao
serviço da vida e da qualidade de vida.
2016.12.07 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário