sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Algumas ideias para promover uma aprendizagem ativa e cooperativa

O mundo em que vivemos é marcado por um contexto em que impera, na autoestrada da vida, a oferta desgarrada e não raro doentia de informação a rodos, dando como resultado a receção acrítica, a fixação no fragmento, a repetição, a intoxicação, o consumo acéfalo. Não há tempo para proceder ao correto discernimento, não há paciência para do tesouro comunicacional tirar coisas novas e velhas e saber aproveitar as mais úteis e belas e criar personalidades consistentes em ambientes sociais sadios.
A ordem escolar, excessivamente inspirada pela uniformidade e impessoalidade, pelo método da exposição, pelo centralismo e pela desautorização dos professores e da escola, enferma de passividade, alheamento e tédio, mascarados de inúmeras planificações, reiterados e repetitivos relatórios, poderosas análises de resultados que levam à enfatização das debilidades e à subvalorização dos progressos – ou exatamente ao contrário – conforme a ideologia ou os interesses de quem aprecia.
A escola é sentida como necessidade de guarda de crianças, adolescentes e jovens, mas é desvalorizada na sua missão educativa e na sua função instrutiva, graças à influência perniciosa de poderosas forças de bloqueio, em que avultam algumas políticas educativas, a excessiva vigilância da administração educativa, a judicialização escolar, a ação ambígua de muitos encarregados de educação, o recurso aos explicadores, o crescimento do ensino individual e doméstico e os fautores do facilitismo oferecido pela dita escola paralela expressa nos recursos mediáticos e editoriais e pelo afunilamento do ensino no exame final ou mecanismo similar.
É preciso, então, pensar e implementar práticas educativas diferentes: mais interpelantes, ativas e problematizadoras, mais incertas mas mais enriquecedoras para os intervenientes, porque mais apoiadas na pesquisa e na cooperação e permanentemente secundadas pela prestação de contas da aprendizagem.
O educador/professor precisa de ser mais socrático para fazer emergir a aprendizagem autónoma consistente e robusta, e não oferecer respostas feitas, não dar receitas inquestionáveis, a não ser em relação a factos univocamente comprovados. Por outro lado, tem de se lhe reconhecer o direito e o dever de formular questões e marcar tarefas de programação e de avaliação, não de acordo com as restrições e caprichos de calendário ou de interesses, mas em consonância com o percurso da própria aprendizagem. Enfim, os professores têm de usufruir de autoridade reconhecida para provocarem as aprendizagens e para exigirem a avaliação atempada.
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Segue-se um painel de procedimentos que podem induzir diferenças consideráveis, se forem criadas condições para tal.
1 – Se os alunos querem saber algo estarão mais interessados e motivados para o aprender. Por isso, deve partir-se da formulação de questões que suscitem a curiosidade.
2 – Os alunos precisam de referencializar as aprendizagens. Assim, é conveniente a utilização de perguntas-guia, que levem a evidenciar conceitos específicos e princípios gerais e sirvam de referência para as aprendizagens que os alunos devem realizar.
3 – Importa consolidar ou orientar aprendizagens e fixar a atenção dos alunos para que o tempo de aula possa ter início efetivo. Para isso, é de aplicar uma prova curta de cinco minutos no início de cada aula. Tal prova pode assumir diferente natureza: escolha múltipla, V/F, correspondência, interpretação de texto, produção de texto… Uma variante desta prática pode ser a escrita no quadro – ou em suporte equivalente – de um verso, de um pensamento ou a exibição duma imagem ou a audição de peça musical, que sirva de interpelação e debate breves.
4 – O uso de diferentes linguagens e suportes reforça as possibilidades de aprender. Por consequência, é de utilizar (sem abuso) apresentações multimédia.
5 – A apresentação de conteúdos deve levar o aluno a analisar posições e contraposições, a colocar-se no lugar do outro, a julgar a pertinência e a relevância dos factos, a sustentabilidade das opiniões… Então, os conteúdos de cada disciplina devem ser apresentados de forma crítica e problematizadora.
6 – É preciso, é humano que os estudantes se conheçam mutuamente. Por isso, no primeiro dia de aulas, devem ser distribuídos em pares e deve ser solicitado a cada um que peça ao seu companheiro informação sobre vários itens, como: donde vem; quais são os seus interesses, passatempos, cores, desportos, matérias preferidas. Cada elemento regista as respostas e, depois, expõe à turma a informação recolhida.
7 – É conveniente que o professor conheça os alunos e não lhes baralhe os nomes. Por isso, é conveniente munir-se desse conhecimento. Pode solicitar a cada aluno que escreva o seu nome num cartão e o coloque à sua frente. Depois, pode dirigir perguntas a todos e verificar quem vai respondendo. Paralelamente, pode também colocar o nome de cada aluno num pequeno cartão e tirar à sorte o nome a inquirir.
8 – Deve fomentar-se o pensamento independente. Assim, é de colocar aos alunos problemas que requeiram pensamento independente e tenham, preferencialmente, várias soluções possíveis; pedir-lhes que escrevam as soluções num papel; organizar a turma em grupos de 3 ou 4 alunos, em que cada um apresente uma resposta, o grupo debata as diversas hipóteses e escolha a melhor, apresentando-a depois ao grande grupo.
9 – Deve promover-se e verificar-se a escuta atenta. Para tanto, há que pedir frequentemente a alunos que resumam pelas suas próprias palavras o que disse outro aluno; e/ou colocar a grupos de pares questões controversas de modo que cada um apresente a sua solução.
10 – Sabe-se que a capacidade de atenção é limitada no tempo e é preciso fazer que os alunos pensem cada vez mais. Por isso, é vantajoso que o professor não fale mais do que 20% do tempo de aula, que pare a sua exposição a cada 10 minutos e que peça aos alunos que, em grupos de dois ou três, comuniquem, resumindo, dados-chave, avaliando e explorando implicações do conteúdo apresentado.
11 – O professor deve ser um modelo, pensando em voz alta frente aos seus alunos. Convém que permita que eles o escutem a decifrar os problemas da matéria. Deve ele mesmo, de vez em quando, fazer perante os alunos o exercício de leitura, a resolução de um problema, a produção de um comentário ou resumo, o enunciado de um procedimento de investigação, etc.
12 – Deve utilizar o método socrático para fazer perguntas do tipo: Que queres dizer quando usas essa palavra? Que evidências comprovam essa afirmação? É confiável essa evidência? Quais os efeitos não desejados de uma proposta ou decisão?
13 – É necessário concitar a cooperação. Deve dividir-se frequentemente a turma em pequenos grupos de dois, três ou quatro elementos; atribuir-lhes tarefas específicas e limites temporais; inquirir do resultado e dos procedimentos; e promover a exposição e o debate em grande grupo.
14 – É desejável o uso do ensino em pirâmide. Isto concretiza-se pedindo aos alunos que discutam uma questão ou problema em pares até chegarem a consenso, juntando cada par a outro par até chegarem a novo consenso e reunindo cada grupo de quatro com outro grupo de quatro até chegarem a consenso.
15 – É necessário realizar exercícios de pré-escrita. Antes da exposição da matéria de um tema, é de solicitar aos alunos que, durante 5 minutos, escrevam o que julgam saber sobre o tema.
16 – É útil a consignação de tarefas de escrita que requeiram o pensamento independente. Para isso, é conveniente solicitar durante alguns minutos a escrita sobre um determinado tema, problema, conteúdo.
17 – Aprende-se avaliando, mas a tarefa de avaliar é das mais exigentes em termos cognitivos. Por isso, peça-se aos alunos que avaliem os trabalhos e a prestação dos colegas, mediante critérios e escalas previamente explicitados. E o professor deve considerar, no seu juízo avaliativo, essas avaliações. Este exercício constituirá uma excelente forma de aprendizagem.
18 – São de utilizar cadernos de aprendizagem. Pede-se aos alunos que organizem os cadernos em duas colunas: a 1.ª, para anotação dos conteúdos que vão retendo; a 2.ª, para escrita dos pensamentos que surgem a propósito do que se está a aprender: dúvidas surgidas, questões a levantar, hipóteses a explorar.
19 – Faz parte da metodologia a organização de debates. De vez em quando, deve estimular-se o debate sobre temas controversos. Organizem-se grupos com pensamentos divergentes e coloquem-nos a procurar argumentos que fundamentem as suas posições.
20 – O diálogo é parte integrante e objeto da aprendizagem. Por isso, é de induzir os alunos a escreverem diálogos construtivos, que incidam sobre temas atuais, pertinentes e educacionalmente relevantes e que tenham como protagonistas alunos com pensares diferentes (reais ou simulados) sobre o assunto.
21 – O trabalho tem de ser esclarecido e as aprendizagens enriquecidas. Para essa finalidade, há que levar os alunos a explicarem o objetivo do trabalho e o sentido das tarefas que vão realizar. Com efeito, pensar e analisar o que é pedido é uma excelente forma de clarificar o trabalho e de enriquecer as aprendizagens.
22 – É crucial estimular os alunos a determinarem as sequências da ação didática. Induzir e aceitar que a turma tome decisões de aprendizagem é uma forma de inclusão, participação e motivação acrescida. Há que suscitar a participação nas questões do devir das aprendizagens em torno de perguntas como: Como podemos resolver o problema? Como podemos verificar a validade da hipótese?
23 – É pertinente que os alunos documentem o seu progresso. Antes de iniciar um tema, é conveniente pedir-lhes que escrevam o que sabem. No final, deve propor-se-lhes que escrevam o que ficaram a saber e que o comparem com o texto anterior. Assim, tomarão consciência dos progressos realizados e valorizarão o tempo de investimento na tarefa.
24 – É útil decompor projetos grandes em partes mais pequenas. Assim, conseguir-se-á maior confiança na realização da tarefa, reforça-se a autoestima e estrutura-se a capacidade para projetos mais complexos.
25 – A aprendizagem deve preferencialmente decorrer da pesquisa e da descoberta. Para isso, há que delinear atividades para os alunos pesquisarem e descobrirem (individualmente ou em pequenos grupos) os conceitos, os princípios e as técnicas, antes de os apresentar, fornecendo-lhes sínteses complementares.
26 – Importa incrementar a cultura e a prática da autoavaliação. Definidos os critérios e a escala, devem os alunos ser ensinados a autoavaliarem-se. É uma prática relevante para uma aprendizagem de qualidade.
27 – Aprendemos habitualmente com mais vantagem o que precisamos de saber. Por isso, devemos, sempre que possível, ensinar aplicações úteis e demonstrar, na medida do possível, o valor de uso do que ensinamos. O relevo pessoal e social do que se ensina é fator importantíssimo da motivação e da aprendizagem, embora não se possa descurar o valor daquilo que é belo como elemento constitutivo da personalidade, mesmo que não tenha utilidade prática imediata. Conseguir que os alunos pensem ativa e independentemente sobre o que aprendem não é suficiente. Além de ser necessário que eles pensem, é preciso que pensem bem.
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Desenvolver regular e sistematicamente estas práticas dá outro sentido ao tempo escolar, gera novos compromissos, aumenta a motivação e a participação.
Em suma, o sucesso escolar passa, necessariamente, por aqui. Mãos à obra!
(cf Richard Paul e Linda Elder, Fundação do Pensamento Crítico, in www. Eduteka.org/27IdeasPracticas.php)
2016.12.09 – Louro de Carvalho

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