sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Uma grande festa a que não posso ficar indiferente

Soube da ordenação presbiteral do reverendo Padre Luís Rafael a 2 de julho na catedral de Lamego e teci adrede um comentário gizado do lado riqueza para a Igreja diocesana e para a paróquia ade Vila da Ponte, donde o neossacerdote é natural.
Também obviamente soube da sua celebração da Missa no Santuário de Nossa Senhora das Necessidades no dia seguinte ao da ordenação, bem como da sua Missa Nova, no passado dia 30 de julho, ou como diz Monsenhor Armando Ribeiro, dando voz a outros, “a ‘Missa Solene’ de um novo Sacerdote, aquela que celebram na sua terra natal, congregando à volta de um novo Sacerdote a comunidade que o viu nascer, crescer e viver no seu seio” (VL, 1 de agosto).
Por motivos de vida pessoal, não pude comparecer na Vila da Ponte como acontece algumas vezes, mas, nem por isso me senti afastado destas ações de tamanha importância para o novo sacerdote, familiares e amigos (contando-me, sem prosápia no rol destes últimos), bem como para todos os que tiveram a honra e a felicidade de trabalhar naquela que é chamada a Pérola do Távora e todos aqueles que sentem a estimulante a cafeína dum catolicismo que pode mexer com as pessoas, as famílias e as comunidades.
Por isso, em dia da memória litúrgica de São João Maria Vianney, o Santo Cura d’ Ars, endereço, aqui do meu cantinho de São João de Ver, os meus parabéns ao Padre Luís Rafael Teles Azevedo e à comunidade de Vila da Ponte, sem esquecer os seus familiares, vizinhos, conterrâneos, confrades no sacerdócio e amigos.
É natural que me sinta pequeno demais para também ajudar a celebrar este acontecimento, mas também esta é a minha obrigação e mesmo algo do meu gosto.
Assim, é de saudar todo o brilho litúrgico e afetivo que rodeou a celebração da Santa Missa na igreja paroquial, tendo o cortejo litúrgico partido da Capela de Nosso Senhor dos Passos e sentindo a brisa suave da tarde do dia de domingo ao passar pela ponte sobre o Távora, segundo o que deixavam perceber as imagens e sons da internet. É de saudar a apresentação de ofertas atinentes à amizade (flores) ao múnus sacerdotal (estola), ao sacrifício e banquete eucarístico (pão e vinho) e a simbologia da freguesia (o escudo da freguesia) rendida ao mistério da ordenação de um sacerdote, filho da terra. É de saudar as palavras de acolhimento do pároco, o Padre André Pereira, e toda a unção religiosa posta na cerimónia do beija-mão sacerdotal. E é de saudar alegria e convivência popular na Praça Central da freguesia.
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Mas há outros aspetos a salientar. A Missa Solene do novo sacerdote com o povo de que é oriundo não surgiu ali como fruto de qualquer paraquedismo, mesmo que espiritual. Ao que me foi dado saber, houve ali uma campanha intensa de preparação da comunidade sobretudo através dos JSF (Jovens Sem Fronteiras), um movimento ligado à Congregação dos Missionários do Espírito Santo, a cuja dinamização o neossacerdote tem emprestado muitas das suas energias, e que ali esteve em missão de 21 a 31 de julho.
A celebração da Missa em jeito devocional no Santuário de Nossa Senhora das Necessidades recorda-me o carinho e devoção que os vilapontenses sempre têm nutrido pela Senhora que, na igreja matriz, é venerada como padroeira sob a invocação de Nossa Senhora do Amial e, no alto do Monte da Borralheira, é venerada sob a invocação de Nossa senhora das Necessidades. Não é por capricho que muda de nome ao subir a montanha, mas dá-me a impressão de que, em termos humanos, do topo da montanha a Senhora vê melhor as necessidades, os eventuais erros e as virtudes do seu povo – necessidades que é preciso colmatar, erros que são de emendar e virtudes que são de incrementar e consolidar.
Por outro lado, esta nobre atitude do Padre Luís Rafael faz-me lembrar que marcos da vida sacerdotal do Padre Henrique Paulo da Fonseca, que também ali, no Santuário de Nossa Senhora das Necessidades, celebrou no dia seguinte ao da sua ordenação sacerdotal e, pelo menos, até alguns anos, enquanto podia, ali vinha celebrar no dia 16 de agosto de cada ano, como ali celebrara as suas bodas de prata sacerdotais.
Também me lembro – até porque a vida e feita de sucessões – de que esta ordenação sacerdotal, resultando duma vocação pessoal em prol da glória de Deus e serviço à Igreja, é também um dom para a comunidade de fé que vive em Vila da Ponte e que rejubila com este evento de Missa Nova e de eminente disponibilidade sacerdotal de serviço à Igreja. E não posso esquecer, em termos de comunicação dos santos, como hão de estar contentes familiares do neossacerdote que já partiram, de que devo destacar o Senhor Carlos Azevedo, que, para lá da simpatia de que desfrutava da terra, era lembrado pela sua solidariedade incluindo a de doador benévolo de sangue. Não esqueço pessoas como a Leonor do Nascimento (apelidada de Pérola) pela dedicação à Igreja e aos sacerdotes e que promoveu o aparecimento das túnicas que os meninos envergavam para ajudar à missa, como bem lembrou o Padre Luís Rafael no testemunho que forneceu através da Voz de Lamego (VL). E devo evocar o facto de se ter reatado a linha dos sacerdotes naturais de Vila da Ponte, interrompida com o falecimento do cónego Mário Augusto de Almeida há 31 anos (a 30 de janeiro de 1986).
E, dado que, segundo os programa das festas de Nossa Senhora das Necessidades, no próximo dia 15 de agosto, será o padre Luís Rafael a presidir à celebração da Missa Solene e a proferir o respetivo sermão, recordo com nostalgia o último sermão pregado pelo sacerdote filho da terra, há 33 anos, a 15 de agosto de 1983, o cónego José Cardoso de Almeida, que faleceu a 30 de janeiro do ano seguinte (há 33 anos).
Aqui faço um parêntesis para sublinhar com gosto o ter sabido que foi o próprio Padre Luís Rafael que proferiu a homilia da sua Missa Nova, o que já vem sendo usual, mas que demonstra o à vontade no serviço à Palavra.
E, já que o sacerdote integrará a equipa paroquial de Almacave, aliás onde fez o seu estágio pastoral, não posso esquecer, também no âmbito da comunicação dos santos, que o antigo senhor Reitor de Almacave – Cónego e, depois, Monsenhor Afonso Augusto Ferreira – foi antes pároco da Vila de Ponte, o que bem significa como estes mundos de Cristo se cruzam e as funções se alternam.  
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Razão tem, pois, Monsenhor Armando Ribeiro quando na sua crónica proclama: “Vila da Ponte rezou, cantou e celebrou”. O caso não era para menos!
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Finalmente, devo salientar que o reverendíssimo Padre comentou o sonho de Salomão que desafiado por Deus a pedir o que quisesse, rogou a Deus que lhe desse “um coração inteligente, para saber distinguir o bem do mal” (cf 1Rs 3,5.7-12) e governar aquele povo tão numeroso; e a parábola que assemelha o Reino dos Céus ao tesouro escondido num campo, que o homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi pressuroso vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo, e à pérola de enorme valor que levou o negociante que a encontrou a ir vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola (cf Mt 13,44-46). Então, compete-nos a todos rezar e colaborar em Igreja para que todos aqueles que detêm responsabilidades na comunidade tenham sempre uma verdadeira postura atitudinal e comportamental de serviço audaz e prudente e o seu objetivo seja sempre o benefício de toda a comunidade, a realização do bem comum. Por outro lado, esperamos que os sacerdotes nos ensinem a ter o Reino de Deus como a primeira das nossas prioridades, como o objetivo mais importante e como o valor fundamental, que não se adquire só enquanto tesouro mas também enquanto campo de cultivo. Depois, como este Reino pretende a comunhão de vida, tem de ter um dinamismo de serviço à comunidade na singeleza de vida fraterna e na humildade e força da verdade. É efetivamente o reino que já começou, mas ainda não plenamente realizado – o espaço privilegiado da liberdade, da paz, da esperança, da justiça, da serenidade, da alegria e da harmonia, gizado não pelos métodos humanos, mas pelos da paciência, tolerância e liberalidade de Deus, com enormes consequências no devir humano, económico e social e no crescimento espiritual de todos os filhos do Pai comum.
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Mais um homem de Deus disponível para a missão nos seus contínuos desafios e aumentadas exigências, ornado com “o grau mais sublime da generosidade de quem diariamente se decide a seguir o Senhor para sempre e a servir por inteiro todo o Povo de Deus”, como as “sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor” (Papa Francisco, Homilia, Fátima, 2017.05.13; e Bispo do Porto, decreto de nomeações, 2017.08.02)!

2017.08.04 – Louro de Carvalho 

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