Não posso sentir estranheza face ao tema “Santa Maria, Mãe de Deus” escolhido pelo Santuário de Fátima como a marca da
peregrinação aniversária de agosto no ano do Centenário das Aparições. Com efeito,
por Maria, evoca-se a santidade de Deus, Aquele que é três vezes Santo, a
perpassar a pessoa de sua Mãe, que Ele quis e dispôs que também seja nossa. Por
consequência, sempre que a Igreja e os seus crentes invocam a intercessão da
Santa Mãe de Deus, fazem jus à sua disponibilidade para a cooperar na geração e
educação do Filho de Deus feito homem, para a sua missão de Mãe da Igreja e, consequentemente,
de todos os filhos de Deus, irmãos em Cristo, para a sua função de mensageira da
vontade de Deus junto dos homens e auxílio dos cristãos e para a tarefa de acompanhamento
dos homens nas suas orações, necessidades e alegrias, em virtude do que se apresenta
ante Deus como testemunha dos dramas e sofrimentos humanos.
E, através
de Maria, a mais santa das criaturas, louvamos, bendizemos, adoramos e
glorificamos o Senhor Nosso Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a
consolação e protestamos a nossa fé e confiança em Deus, a firme esperança nos
bens que nos estão garantidos e no amor profundo para com Deus e na sua expressão
pela caridade franca e solidária para com o próximo. Depois, se nos afeiçoarmos
ao estatuto de sentinelas da madrugada da Ressurreição, obviamente que
estaremos disponíveis para a missão de cooperar na difusão, incrementação e celebração
da Boa Nova do Reino de Deus e lutaremos com todo o nosso saber e forças pela
promoção e garantia da dignidade humana, por um mundo mais justo, livre,
equitativo, fraterno e solidário.
Desde tempos
imemoriais o povo cristão invoca a Mãe de Deus, auxílio dos cristãos e refúgio
dos pecadores, rezando:
“À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos de
todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.”.
E
é recorrente a recitação da “Ave, Maria”, que nos leva a proclamar a “Cheia de Graça”
como a “bendita entre as mulheres” e, pela sua mão pedagógica e materna, a
cantar a bendição de Jesus, fruto do seu ventre, vindo a seguir a petição a Santa
Maria como companheira e intercessora: “Santa
Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.”.
Por
outro lado, não podemos esquecer que a peregrinação aniversária de agosto é,
desde há uns tempos, a “Peregrinação
do Migrante e do Refugiado”. E quem melhor do que todos aquele que vive fora da
sua casa, da sua terra ou da sua pátria – seja qualquer for o motivo: procura
de maiores e melhores meios de subsistência, fuga à guerra ou a perseguição ou
às consequências de cataclismo – sentindo as saudades da terra onde nasceu ou
se radicou, sabe recorrer a Maria para lhe dizer: “Mãe de Deus e Nossa Mãe, ouça os nossos pedidos Aquele que por nós quis
chamar-se Teu filho”. E, enfim, todo o cristão que sente a caridade maternal
de Santa Maria Mãe de Deus, tanto a invoca como a louva e se bem sabe rezar “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores”, também ousa
dizer:
“Quer
nas horas de tristeza, quer nas horas de alegria; quer sobre as ondas do mar,
lá com a morte à porfia; quer nos escuros caminhos pelas noites de invernia; quer
no lume da lareira, quer no sol quando alumia; quer no amor de toda a hora, quer
no pão de cada dia...
–
Louvada seja na terra a Virgem Santa Maria!”.
***
Porém, há
uma coisa que gostaria de saber desde já e espero não ficar desapontado.
O que dirá
dizer em Fátima Dom Rino Fisichella?
De acordo com informação amplamente divulgada pelo Santuário de Fátima, quem
vai presidir à Peregrinação
Internacional Aniversária de agosto (que decorre de 12 a 13), conhecida como a “Peregrinação
do Migrante e do Refugiado” e que tem como tema “Santa Maria, Mãe de Deus”, é Dom
Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
E sublinha-se que “é a segunda vez que Dom Rino Fisichella visita o Santuário
de Fátima após ter sido nomeado responsável pelos Santuários, a nível do
Vaticano, pois, “em maio deste ano acompanhou o Papa Francisco aquando da sua
peregrinação a Portugal”.
Todavia,
este prelado, que presidia à Pontifícia Academia para a Vida, foi dela retirado
por críticas à atuação do Bispo de Olinda e Recife, relacionado com problemas
da vida. E também contesta a designação de Papa emérito, que apenas se
justifica pela surpresa da renúncia do Papa alemão, que abre caminho a
renúncias futuras dos Bispos de Roma, sendo que, no entanto, a sucessão petrina
nunca pode ser entendida como sendo um serviço em duplicado.
Porém, Bento
XVI contou com ele para a criação do novo dicastério e Francisco deu ao dicastério
novas atribuições. Na verdade, O Pontifício Conselho para a Promoção da Nova
Evangelização foi criado em 21 de setembro de 2010, pela Carta Apostólica em
forma de Motu Proprio “Ubicumque et Semper”,
com a finalidade de “refletir” e “encontrar formas adequadas” para anunciar o
Evangelho aos muitos batizados que não compreendem (ou têm
dificuldade em compreender) o sentido
de pertença à comunidade cristã. Tem como meta enfrentar “o subjetivismo da
nossa época”, que se fecha em um individualismo privado de responsabilidades
públicas e sociais. E, entre as suas tarefas específicas, salientam-se: aprofundar o
significado teológico e pastoral da nova evangelização; promover e favorecer,
em estreita colaboração com as Conferências Episcopais interessadas, que
poderão dispor de um organismo ad hoc, o estudo, a difusão e a
aplicação do Magistério pontifício relativo às temáticas vinculadas à nova
evangelização; dar a conhecer e incentivar iniciativas ligadas à nova
evangelização em curso nas várias Igrejas particulares e promover a realização
de outras novas, comprometendo também concretamente os recursos presentes nos
Institutos de Vida Consagrada e nas Sociedades de Vida Apostólica, assim como
nas agregações de fiéis e nas novas comunidades; estudar e favorecer a
utilização das formas de comunicação modernas, como instrumentos para a nova
evangelização; e promover o uso do Catecismo da Igreja Católica, como
formulação essencial e completa do conteúdo
da fé para os homens do nosso tempo.
Por
outro lado, pela Carta
Apostólica em forma de Motu Proprio “Sanctuarium
in Ecclesia”, Francisco confiou as Competências sobre os Santuários ao Pontifício
Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Com tal documento, o
Pontífice confia ao predito dicastério as tarefas de: criação de novos
Santuários e a aprovação dos seus estatutos; criação de instrumentos para
favorecer a evangelização e a religiosidade popular; promoção de encontros
nacionais e internacionais para a renovação da pastoral da piedade e devoção
popular; assistência espiritual e eclesial aos peregrinos; e maior valorização
cultural e artística dos Santuários.
E Fisichella dispõe já dum boa folha de serviço no âmbito da
nova Evangelização.
***
Esta
Peregrinação Internacional Aniversária de agosto evoca a 4.ª aparição de Nossa
Senhora aos pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia, e segue com o seguinte
programa:
Dia 12 – Início oficial da Peregrinação, na
Capelinha, pelas 18,30 horas, com a Saudação
a Nossa Senhora e aos peregrinos; Bênção
solene das velas e Rosário, na
Capelinha, seguindo-se a procissão das
velas, a partir das 21,30 horas; Missa
internacional, no Recinto de Oração, às 22,30 horas; e, às 23,50, horas, Procissão do silêncio.
Noite de Vigília e dia 13 – Adoração ao Santíssimo Sacramento, na
Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, das 0 Horas às 2 horas; Via-Sacra, no Recinto (com início
junto da Capelinha das Aparições), das 2 às 3,15 horas; Celebração Mariana, na Capelinha, das
3,30 às 4,25 horas; Missa, na
Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, das 4,30 às 5,30 horas; Adoração, com Laudes do Santíssimo Sacramento, na Basílica de Nossa Senhora do
Rosário de Fátima, das 5,30 às 7 horas; Procissão
Eucarística, no Recinto de Oração, às 7 horas.
Celebração final – Rosário,
na Capelinha, às 9 horas; às 10 horas, Procissão
para o Altar, Missa, Bênção dos doentes, Consagração e Procissão do
adeus.
***
Esta “Peregrinação dos Migrantes” é o ponto
alto da 45.ª Semana Nacional das Migrações, que se realiza entre 6 e 13 de
agosto, com o tema ‘Acolher o futuro – Novas gerações migrantes são o amanhã da
humanidade’. A este respeito, escreve Dom António Vitalino, Bispo emérito de
Beja e vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, que
acompanha a Obra Católica Portuguesa para as Missões:
“Cuidar da nossa família e cuidar da casa comum, protegendo o ambiente e,
sobretudo, amando o nosso próximo de modo concreto e não apenas com palavras,
será a melhor maneira de mostrarmos que temos em atenção os menores, os mais
vulneráveis, os sem voz”.
Aquele Bispo
emérito apela a que nunca se faça as crianças “sofrer desnecessariamente”,
mesmo que a infância de cada um “tenha sido dolorosa”. Pelo que observa:
“Todos sabemos que uma sociedade sem crianças está condenada a morrer.
Todos falam do envelhecimento da Europa e da necessidade de repor as gerações,
o que não se pode fazer apenas com as migrações”.
O prelado,
realçando que Portugal está a envelhecer, “não apenas porque muitos jovens
emigram” à procura de trabalho mais remunerado mas também porque “os casais não
querem ter filhos ou se limitam apenas a um”, interpela-nos:
“Quem irá tratar dos nossos idosos? Quem irá fazer descontos para a
sustentabilidade da segurança social?”.
Por tudo isto,
a Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, da Igreja Católica
em Portugal, convida a reler a mensagem do Papa Francisco para o 103.º Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado. Com efeito, como destaca Eugénia Quaresma,
citando o documento ‘Migrantes de menor idade, vulneráveis e sem voz’, o Pontífice
argentino escreveu:
“É importante que se implementem colaborações cada vez mais eficazes e
incisivas, fundadas não só na troca de informações, mas também no
fortalecimento de redes capazes de assegurar intervenções oportunas e
capilares”.
***
A peregrinação,
que assinala a 4.ª aparição da Senhora aos pastorinhos, termina com um concerto
(com entrada
livre) na Basílica de Nossa Senhora do
Rosário de Fátima, às 15,30 horas, interpretado pelo coro Regina Coeli, sob o título “Rainha
dos Céus, Alegrai-vos”. Trata-se duma iniciativa, no âmbito da celebração do
Centenário das Aparições, inserida no Ciclo
de Música Sacra a oferecer aos peregrinos recentes versões musicais da
famosa antífona mariana Regina Coeli.
O seu texto principal é um hino mariano tradicionalmente rezado durante o tempo
pascal, ligando o mistério da Encarnação de Jesus à Sua Ressurreição.
Fundado em
1966 pelo maestro António Joaquim Lourenço, que o dirigiu até́ 1983, o coro Regina Coeli é formado por 40
coralistas e o seu repertório a capella
abrange o período entre os séculos XVI e XXI. Antes de Pedro Miguel assumir o
cargo, o coro foi ainda conduzido por António Vassalo Lourenço, Paulo Lourenço,
Regina Mostardinha e Henrique Piloto. Tem sido presença constante, ano após
ano, em vários festivais do país.
A primeira
parte do referido concerto constará da execução de peças marianas compostas no século
XX, com estéticas variadas, mas tendo em comum o louvor à Mãe de Deus; e a
segunda parte é dedicada à encomenda intitulada de “A presença mais pura: 5 Poemas para um Regina Coeli”, estreada em
Lisboa a 8 de julho de 2017, para assinalar os 50 anos do grupo.
O título contém
a forma e o dedicatário. Sugere que o coro Regina Coeli completa 50 anos e
que, para o assinalar, encomendou 5 peças a Alfredo Teixeira, Daniel Davis, José́
Luís Ferreira, Nuno da Rocha e Sara Ross, sendo que os poemas que serviram de
base às obras são do Padre. José́ Tolentino Mendonça e foram selecionados por
conterem uma espiritualidade mais interpelativa.
***
Por fim,
recorde-se o essencial da 4.ª aparição.
A 13 de agosto de 1917, na hora da aparição, os videntes não
estavam na Cova da Iria, por terem sido raptados pelo administrador do concelho
de Vila Nova de Ourém, que à força quis arrancar-lhes o segredo. Nesse
dia, juntou-se uma grande multidão a aguardava a aparição. Por volta do meio-dia,
ouviu-se um trovão, a seguir ao respetivo relâmpago, tendo os espectadores
notado uma pequena nuvem branca que pairou sobre a azinheira por alguns minutos.
Observaram-se também fenómenos de coloração diversificada nos rostos das
pessoas, nas roupas, nas árvores e no chão. As crianças, por seu turno,
continuaram em cativeiro e, apesar das várias ameaças físicas de que foram
alvo, permaneceram inabaláveis e nada revelaram.
Na manhã de 15 de agosto e, após um interrogatório final,
foram libertadas e regressaram a Fátima. Entretanto, a 19 de agosto, Lúcia
estava com Francisco e seu irmão João no lugar dos Valinhos, propriedade dum
dos seus tios que dista uns 500 metros de Aljustrel. Pelas 4 horas da
tarde, começaram a produzir-se as alterações atmosféricas que precederam as
aparições anteriores: súbita diminuição da temperatura e esmorecimento do Sol. Lúcia,
sentindo que algo de sobrenatural se avizinhava e os envolvia, pediu ao
primo João que chamasse rapidamente a Jacinta, que chegou a tempo de ver Nossa
Senhora que, anunciada, como das outras vezes, por um reflexo de luz, apareceu
sobre uma azinheira um pouco maior que a da Cova da Iria.
À interpelação de Lúcia, a Senhora disse que pretendia que
eles continuassem “a ir à Cova da Iria no dia 13”, que continuassem “a rezar o terço todos os dias”
e que “no último mês”, faria “o milagre para que todos
acreditem”.
E à questão de saber o que a Senhora queria que se fizesse ao
dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria, respondeu:
“Façam dois
andores, um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas; o outro que o leve o
Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa
Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão de
mandar fazer.”.
Sobre o pedido de cura de alguns doentes, feito por Lúcia,
anuiu:
“Sim, alguns curarei durante o ano”.
Por fim, tomando um aspeto mais triste, recomendou-lhes de
novo a prática da mortificação:
“Rezai, rezai muito e fazei
sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver
quem se sacrifique e peça por elas”.
E, como de costume, começou a elevar-Se em direção ao
nascente. E os videntes cortaram ramos da árvore sobre a qual a Senhora lhes
tinha aparecido e levaram-nos para casa. Os ramos exalavam um perfume
singularmente suave.
***
Que dirá Dom
Rino Fisichella no Santuário de Maria vocacionado à evangelização e à piedade?
2017.08.10 – Louro de Carvalho
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