terça-feira, 8 de agosto de 2017

Pela floresta e pelas populações, ver os erros e decidir o que fazer!

Depois de o JN ter publicado dados sobre as muitas e graves falhas do SIRESP e ter referido que, ao ter confrontado o MAI com o teor dos relatórios do próprio grupo empresarial responsável pelo sistema, esbarrou com a ausência de comentário e com a promessa de explicações aquando da publicação do estudo encomendado ao IT (Instituto das Telecomunicações), o jornal “I” assegura que o Gabinete do Primeiro-Ministro lhe confirmou pedido de novos esclarecimentos, adiantando que as conclusões serão divulgadas “oportunamente”.  
Na verdade, o Primeiro-Ministro, que já tinha criticado publicamente, embora em termos pessoais, uma das empresas que integram a SIRESP, não ficou satisfeito com as conclusões dos relatórios que analisaram os procedimentos seguidos pelas autoridades no combate às chamas em Pedrógão Grande, Góis e Castanheira de Pera. Assim, solicitou “esclarecimentos adicionais” à informação que lhe chegou na semana passada, quando o IT (Instituto das Telecomunicações) e a IGAI (Inspeção Geral da Administração Interna) entregaram as respetivas análises às falhas de procedimentos das autoridades na hora do combate às chamas de Pedrógão Grande.
Esta informação tinha sido avançada ao “I”, que ainda ontem questionou o Gabinete do Primeiro-Ministro sobre o momento em que seriam divulgados os resultados das análises pedidas pelo Executivo. O predito gabinete esclareceu o jornal de que “foram pedidos alguns esclarecimentos adicionais” aos dados enviados pelo IT e pela IGAI, adiantando que as conclusões serão “divulgadas oportunamente à semelhança do que foi feito com os restantes documentos” – ou seja, depois de esclarecidas todas as questões levantadas.
Será certo que a decisão do Governo sobre o futuro do sistema de comunicações de emergência e segurança seja conhecida apenas em setembro, como já adiantara o JN.
O relatório e a auditoria tinham sido pedidos há mais de um mês pela Ministra Constança Urbano de Sousa, depois de terem sido divulgadas as respostas exigidas por António Costa ao grupo empresarial responsável pela “SIRESP – Gestão de Redes Digitais de Segurança e Emergência, SA”, e à Secretaria-Geral do MAI.
Ao IT incumbe um estudo independente sobre o funcionamento do SIRESP de forma que sejam apontados os “eventuais constrangimentos” em situações “de acidente grave ou de catástrofe”. Além disso, a Ministra solicitou ao IT que apontasse “possíveis medidas que possam garantir que o SIRESP responde às necessidades para o qual foi criado”.
Já a IGAI terá de avaliar o cumprimento, por parte da Secretaria-Geral – responsável pela gestão da rede de comunicações de emergência e segurança – das “obrigações legal e contratualmente estabelecidas, nomeadamente ao nível da gestão, manutenção e fiscalização” do SIRESP.
Além deste relatório e da auditoria, o MAI solicitou ao escritório de advogados Linklaters a análise dum artigo do contrato estabelecido entre o Estado e a empresa SIRESP, S.A. Em causa está, segundo o “Público”, a cláusula 17.ª onde estão definidas as regras que podem, ou não, responsabilizar a empresa pelas eventuais falhas da rede de comunicações de emergência.
A empresa responsável pelo sistema de comunicações de emergência e segurança admitiu que a rede de comunicações está preparada para a utilização, em simultâneo, de apenas 25 equipas. Ora, de acordo com uma fonte ligada às autoridades de socorro, há incêndios ou tempestades em que o sistema é utilizado por 400 ou 500 equipas. Então, o SIRESP “não está dimensionado às necessidades”. Foi o que revelou ao “I” uma fonte que esteve presente na última reunião, no passado dia 11 de julho, entre a empresa responsável pelo SIRESP e as autoridades que utilizam o sistema de comunicações. Apesar de tudo, segundo a mesma fonte, a empresa julga que “foram cumpridas rigorosamente as exigências que estão no caderno de encargos”.
Outro pormenor do que foi tornado público é que, embora estejam previstas na lei reuniões trimestrais entre a SIRESP, SA e as forças de segurança, militares e autarquias, há mais de dois anos que não acontecia qualquer encontro. Porquê? E era nessas putativas reuniões que as forças de segurança poderiam comunicar à empresa as falhas sentidas no terreno.
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Depois de se evidenciar o que esteve e está mal, havia que definir o que fazer. Assim, depois de longo período de gestação legislativa no Parlamento, que acabou por ser acelerada face ao ocorrido na última primavera e neste verão, o Presidente da República promulgou hoje, dia 8 de agosto, os diplomas aprovados na AR (Assembleia da República) atinentes à reforma das florestas: um cria o sistema de informação cadastral simplificada e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro (Decreto n.º 143/XIII, da AR); outro estabelece o regime aplicável aos baldios e aos demais meios de produção comunitários, revogando a Lei n.º 68/93, de 4 de setembro (Decreto n.º 144/XIII, da AR); um outro altera o Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, procedendo à 5.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de junho (Decreto n.º 145/XIII, da AR); e ainda um outro que introduz a 1.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 96/2013, de 19 de julho, que estabelece o regime jurídico das ações de arborização e rearborização (Decreto n.º 165/XIII, da AR). Estes decretos da AR, após a promulgação pelo Presidente e a referenda pelo Primeiro-Ministro, são publicados como leis sob a numeração atribuída pelo Diário da República.
O Presidente da República, como sucede muitas vezes e como se pode ler no site da Presidência, justificou a promulgação dos referidos diplomas, apesar de considerar que ainda havia trabalho a fazer na elaboração dos mesmos, com o “esforço de enquadramento jurídico e de ensaio de novas pistas para enfrentar antigos e não ultrapassados problemas”. Nestes termos, ressalvando que apenas a criação do cadastro florestal não suscita reparos, o Chefe de Estado alertou para o facto de as leis estarem “longe de esgotar todas as atuações dos poderes públicos”.
Incluídos na reforma da floresta do atual Governo, os quatro diplomas promulgados visam criar um sistema de informação cadastral simplificada e um regime aplicável aos baldios e aos demais meios de produção comunitários, alterar o Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios e o regime jurídico aplicável às ações de arborização e rearborização.
No âmbito da promulgação destes diplomas, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que estas leis “conheceram um longo processo de elaboração, iniciado em outubro de 2016 e acelerado em junho deste ano, perante o dramatismo da realidade vivida”.
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A predita reforma florestal não foi tão longe ainda quanto o que era expectável. E esteve em perigo de ficar pelo caminho. O PCP, como adiante se refere, teceu fortes críticas à insuficiência da reforma e a direita parlamentar não se mostrou entusiasmada a grandes alterações. Os Bloquistas, por seu turno, queriam que a área de replantação de eucalipto fosse zero, mas os socialistas não se mostraram disponíveis para apoiar essa medida
Mesmo depois da tragédia de Pedrógão Grande, que veio dar ainda mais relevância ao tema, o Expresso referia, a 18 de julho, que a reforma das florestas foi quase dada como perdida para este ano. Entretanto, o PS e o Bloco de Esquerda chegaram a um acordo de última hora, tendo o acordo sobre o pacote florestal sido explicado em pormenor e votado em maratona na Comissão de Agricultura e Mar.
Como revelava o Público, houve cedências de ambos os partidos. O BE queria que a área de replantação de eucalipto fosse zero, mas o PS não se mostrou disponível para apoiar essa medida. O Bloco teve, então, de reformular a suas exigências e o PS de reduzir os apoios à plantação de eucalipto. O que se sabe ter sido acordado é o seguinte: por cada hectare de eucalipto eliminado, o Estado apenas dará apoio para a replantação de meio hectare – na prática, isto fará diminuir o número de terrenos de eucaliptal de forma gradual. Mais: para replantar, o requerente estará obrigado a apresentar o plano de ordenamento florestal, que deve estar em dia.
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O DN e o JN de hoje trazem uma súmula da reflexão de Luciano Lourenço, diretor do núcleo de investigação de incêndios florestais da Universidade de Coimbra. É certo que a criação dum sistema de informação cadastral simplificada consta de um dos três diplomas aprovados, a 19 de julho, pela Assembleia da Republica, no âmbito da reforma florestal, mas, segundo o especialista, o cadastro florestal vem, “no mínimo, com 30 anos de atraso”, persistindo a dúvida se é desta vez que será realmente implementado.
Ainda, de acordo com Lourenço, o cadastro florestal poderá ser uma boa medida para se “saber, efetivamente, quantos proprietários existem e quantas parcelas detém cada um desses proprietários”. Questionado sobre a existência de terrenos sem dono conhecido, o investigador disse que “existem, efetivamente, muitas terras aparentemente sem dono, mas não são tantas quanto às vezes os defensores dessas medidas pretendem fazer crer”. E afirmou que, “quando chega alguém junto das propriedades a tentar identificá-las, os donos ou alguém que representa os proprietários aparecem e sabem identificá-las”. Todavia, reconhece haver cada vez mais terrenos cuja identificação se torna difícil, porque “o território sofreu uma série de alterações, nomeadamente em função dos incêndios florestais, e os proprietários passaram a residir fora da área onde detêm essas propriedades”, que abandonam.
O investigador de incêndios florestais sustenta que, a par do cadastro, “seria importante fazer o emparcelamento de áreas de minifúndio para que possam ser geridas e ser rentáveis”, através da criação de unidades de gestão florestal. E, a propósito disto, explicou:
"Os pequenos proprietários estarão disponíveis para o emparcelamento se a medida lhes for apresentada de uma forma que tenha interesse para eles. Normalmente aquilo que chega aos pequenos proprietários é uma noção de que alguém quer usurpar os seus territórios e fazer deles qualquer coisa dos quais os pequenos proprietários não estejam envolvidos.”.
Embora concorde com a existência do cadastro florestal, Lourenço critica esta reforma, por considerar que, “mais importante do que alterar a legislação, é fazer cumprir a legislação”, pois, segundo o investigador, “quando há uma preocupação muito centrada em produzir nova legislação, normalmente o que se faz é retocar o que existe, quando a preocupação deveria ser implementar o que existe”. Com efeito, os protagonistas são os mesmos ao longo do tempo, o que leva a “não acreditar que efetivamente haja vontade política para resolver o problema da floresta”. E este especialista em florestas explica a sua perspetiva, dizendo:
“O problema dos incêndios e o problema da floresta passam sobretudo por olhar para o território com uma visão integrada, com o envolvimento dos proprietários, e tentar encontrar soluções que permitam fazer uma nova gestão do espaço florestal, que se alterou significativamente nestes últimos 40, 50 anos, essencialmente por falta de população nesses territórios”.
 Assim, Lourenço pensa que a floresta tem de ser equacionada como um problema social, sustentando que “não é com medidas legislativas que se resolve”, pois “as reformas não são apenas legislativas ou as principais não são legislativas, mas de ordem social. E, lembrando o ditado popular “quem guarda a floresta é a sombra do dono” para reforçar que o despovoamento dificulta o ordenamento da floresta, afirmou que a atual reforma é prova de que, “por vezes, o legislador desconhece o que se passa no território e não está interessado em envolver os proprietários florestais”.
O JN também regista a opinião de Pedro Bingre, investigador do Instituto Politécnico de Coimbra, que invoca a problemática das heranças que estão a condicionar o ordenamento florestal devido à demora das partilhas, bem como o abandono das terras. Diz o investigador:
“Há uma percentagem do país, que por ventura andará a rondar o mesmo número das terras sem dono conhecido ou um bocadinho superior, de terras em condições de heranças indivisas, que são imóveis cujo titular morreu e os herdeiros nunca realizaram as partilhas.
Nisto, vai ao encontro do pensamento de Lourenço no atinente ao abandono de terras.
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Sintetiza-se aqui a posição do PCP por corresponder ao que muitos pensam, mesmo à direita, contrariando o política e economicamente correto.
O PCP defende que a valorização da floresta tem de se centrar nos rendimentos dos produtores, na defesa dos Baldios e do seu uso e gestão pelos povos (com os apoios necessários), na elaboração do Cadastro Florestal investindo os meios necessários para tal, na atribuição de mais meios públicos (humanos, técnicos, financeiros e materiais) às estruturas que intervêm na floresta e na inversão da diminuição do peso relativo do sobreiro, pinheiro e espécies autóctones, face ao eucalipto. Ora, o Governo anunciou profunda reforma da política florestal, sem ouvir todos os interessados, sem assegurar “o necessário investimento público” e sem que se perceba “o potencial de mobilização de investimento privado”. Por exemplo, no caso do cadastro florestal, procura-se “passar o ónus e os custos da realização dessa importantíssima tarefa, que se estimava que teria um custo de cerca de 700 milhões de euros, para os proprietários florestais e designadamente os mais pequenos”. Porém, subsidiaram-se as celuloses para a eucaliptização!
Por outro lado, este “Pacote Florestal”, como demonstram os muitos projetos que aguardam análise técnica, “não assume a necessidade do reforço dos meios humanos e materiais das estruturas do Ministério da Agricultura e Pescas” para as florestas. Depois, vem a exigência de muitos e mais qualificados profissionais (ao nível da concepção, direção e intervenção operacional) para o trabalho de ordenamento da floresta, acompanhamento das medidas do Sistema de Defesa das Florestas contra Incêndios, coordenação da intervenção das equipas de Sapadores Florestais, aconselhamento dos produtores sobre as melhores práticas e espécies, apoio aos Baldios, atenção às Matas Nacionais e às Áreas Protegidas – além da adequada clarificação das responsabilidades e funções (competências e atribuições) do aparelho de Estado, adequada distribuição e hierarquização e os meios necessários em cada uma das estruturas.
Na ótica do PCP, isto não fica suficientemente acautelado. E, como diz Brandão Ferreira n’ O Diabo, nos elementos de incêndio (comburente, combustível e calor), intervém-se apenas em dois: combustível (prevenindo) e calor, que provoca a ignição (combatendo a tempo, com os meios adequados).
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Convenhamos que é mais fácil ver o que está mal que decidir o que fazer. Ai os interesses!
2017.08.08 – Louro de Carvalho

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