sábado, 28 de março de 2020

A Hora do Planeta, este ano, é online em todo o mundo


A luta pelo clima continua, apesar do novo coronavírus. Na verdade, como alertam alguns orientadores da opinião pública, incluindo o Padre Tony Neves, missionário espiritano, as preocupações e discursos “não podem afunilar no Covid-19”, embora não se possa subvalorizar a sua gravidade, pois continuam as guerras, a fome, a migração forçada, o descarte, a exploração, o subdesenvolvimento, as outras doenças e a questão climática, que Guterres, secretário-geral da ONU, não quer deixar adormecer.
Assim, tal como noutros setores, a sinalização da efeméride teve de encontrar outras formas, que não passam por greves às aulas, espetáculos ou manifestações de rua com muita gente.
Por isso, neste sábado, 28 de março, assina-se mais uma “Hora do Planeta”, um movimento ambientalista à escala global que todos os anos apela à população de todo o mundo para, durante uma hora (entre as 20,30 horas e as 21,30)desligar as luzes em sinal de apoio ao ambiente, à natureza e às pessoas. E a “Hora do Planeta” inspirará milhões de indivíduos, e milhares de empresas e organizações de mais de 180 países e territórios a renovar o seu compromisso com o planeta, pois, além dos eventos virtuais espalhados pelo mundo, mantém o pedido de que os mais emblemáticos monumentos e edifícios apaguem as suas luzes durante uma hora.
Este ano e por causa da pandemia de Covid-19, o evento em Portugal, que estava programado para ter lugar presencialmente em Vila Nova de Gaia, foi transferido para o mundo online, como anunciou a Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em alinhamento com o WWF – World Wide Fund For Nature.
Em Portugal, são mais de 100 os municípios aderentes. E monumentos nacionais como o Cristo Rei e a Ponte 25 de abril, em Lisboa, o mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, o Aqueduto da Amoreira, em Elvas, o Castelo de Bragança, o Mosteiro de Arouca e a Praça da República, em Ovar, entre outros, já confirmaram que vão aderir ao apagão simbólico.
São também várias as empresas que a nível nacional apoiam a “Hora do Planeta”, incluindo o El Corte Inglés, que está empenhado no desenvolvimento sustentável através da implementação de várias ações de consciencialização ambiental nos seus espaços comerciais ao longo do ano, e a Reckitt Benckiser, que “quer proteger, curar e nutrir numa busca incansável para alcançar um mundo mais limpo e saudável”.
O evento português decorrerá via página de Facebook da ANP|WWF, e contará com a participação dos embaixadores Mónica e Rubim, o chef de cozinha Fábio, o graffiter Miguel Martins, “numa hora com partilha de receitas, músicas e receitas ao vivo, e experiências sustentáveis, numa transmissão em direto”.
Depois de já ter pedido aos seus seguidores em todo o mundo para se continuarem a manifestar online e a lutar contra as alterações climáticas a partir das suas casas, a sueca Greta Thunberg, ativista climática e ambiental, aplicou o mesmo conselho à “Hora do Planeta”, vincando:
A Hora do Planeta para mim acontece a cada hora do dia. A necessidade de unir e proteger o nosso planeta nunca foi tão grande. Como fomos solicitados a evitar reuniões públicas para retardar a disseminação do COVID-19, recomendo a todos que se unam virtualmente à #HoradoPlaneta para renovar o nosso compromisso com o planeta e usar as nossas vozes para conduzir ações online com segurança e responsabilidade.”.
Marco Lambertini, diretor-geral da WWF, crendo que este é “um momento de solidariedade e um momento de responder aos desafios de forma mais criativa e trabalhar de forma mais colaborativa”, assegura que “a Hora do Planeta será marcada por eventos digitais em todo o mundo”, pois, como bem afirma, “nesta hora de crise, temos de nos, unir agora mais do que nunca, para salvaguardar o nosso futuro e o futuro do nosso planeta”.
A Hora do Planeta 2020 conta com milhões de pessoas que vão juntar-se por todo o mundo em vários eventos e exorta a que todos a assinem e mostrem o seu apoio  no site Voice for The Planet. Estas assinaturas serão apresentadas aos líderes mundiais em fóruns globais como a Assembleia Geral da ONU, para assegurar um Novo Acordo para a Natureza e as Pessoas que trave a perda de natureza, reverta o declínio ambiental e salvaguarde o futuro de todos.
A este respeito, Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF, apelando a todos que desliguem ou reduzam as luzes e usem a hora para envolver as suas comunidades online, diz:
A natureza é a tábua de salvação para 7,6 mil milhões de pessoas. Sustenta as nossas sociedades e economias e é uma das nossas maiores aliadas no combate à crise climática. Mas, atualmente, estamos a destruir os sistemas naturais em que confiamos para garantir a nossa saúde e bem-estar mais rápido do que eles se conseguem restabelecer – comprometendo a nossa própria sobrevivência e existência. A Hora do Planeta 2020 oferece uma oportunidade fundamental, para todos nós, de unir milhões de pessoas e levantar a sua voz com vista a garantir um compromisso internacional de parar e reverter a perda da natureza.”.
Começou por ser um evento simbólico de “apagar as luzes”, em 2007, mas, ao longo de mais de uma década, o movimento cresceu e tornou-se global. Este ano, por exemplo, a África do Sul irá lançar uma a campanha digital intitulada “Poder para o Povo”, focada em fontes de energia limpas. Em Singapura, será feita uma transmissão ao vivo, online, reunindo várias vozes do país num concerto pelo ambiente. Os jovens do Nepal elevarão em todo o país a #VozPeloPlaneta e compartilharão pensamentos, arte e fotografia sobre a necessidade de proteger e apreciar a natureza. E a Austrália participará online através da transmissão ao vivo do evento #EarthHourLive com artistas, comediantes e especialistas ambientais.
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António Guterres, secretário-geral da ONU, advertiu que a luta contra o novo coronavírus não pode invalidar nem fazer esquecer a luta pelo ambiente, que está em crise a que tem de se valer.
Por seu turno, a jovem ativista sueca Greta Thunberg usou a sua conta na rede social Twitter para fazer uma série de quatro posts a apelar aos seus seguidores e ativistas em defesa do clima a que não abrandem a sua luta contra as alterações climáticas, ainda que, neste momento, devam evitar a todo o custo as grandes concentrações de pessoas e marchas de protesto pelo mundo, por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus. E, face à disseminação do Covid-19 pelo mundo todo e à urgência de conter a doença e o contágio do vírus entre humanos, usou o mesmo mote da luta em defesa do ambiente: “Ouvir a ciência”.
Segundo o apelo de Greta, por causa do Covid-19, milhares de jovens ativistas em todo o mundo terão de mudar a forma como se manifestam: em vez de grandes marchas e aglomerados de pessoas, cada um deve resguardar-se, evitar multidões e protestar sobretudo online.
O movimento “Fridays for Future” foi fundado em agosto de 2018 em solidariedade com a ação de protesto da jovem sueca em frente ao Parlamento do seu país, a exigir ações legislativas mais fortes e concretas para travar as alterações climáticas. Desde então, multiplicaram-se os seguidores aos milhares por todo o mundo e, nos últimos meses, milhões organizaram marchas em várias cidades para tentar forçar os governos a agir contra a degradação ambiental.
Agora, Greta usou o Twitter para pedir que não deixem de lutar e de manifestar, transferindo em força as ações de luta para o mundo virtual.
Enfim, dois combates: um que é duradouro; outro que se crê passageiro, mas que pode voltar.
2020.03.28 – Louro de Carvalho

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