sábado, 21 de março de 2020

António Costa conta com um inverno prolongado para o país


Na sequência do agendamento da sessão do Conselho de Estado por Marcelo para consulta sobre a iminente declaração do estado de emergência nacional, o Primeiro-Ministro, no dia 18, antes do começo da sessão daquele órgão constitucional de consulta por videoconferência com o Presidente da República e seus conselheiros, sentou-se à mesa, seguindo as devidas regras de distanciamento social, com uma equipa da DGS (Direção-Geral da Saúde) e do IRJ (Instituto Ricardo Jorge), para retrato e cenário realistas da evolução do surto do Covid-19 em Portugal.
A sessão considerou que não há dados sobre se as primeiras medidas tomadas no país travaram os contágios, porque só daqui a uma semana será possível perceber se desacelerou o ritmo de crescimento dos contágios; não há certeza de que não possa haver uma segunda vaga de contágios; e, sobretudo, não se sabe quando haverá vacina. Por isso, Costa quis passar a mensagem de realismo ao Conselho de Estado e dizê-lo aos portugueses na sessão que se seguiu no Parlamento, que foi autorizou a declaração de emergência.
Assim, ainda nesse dia, foi publicado o Decreto do Presidente da República n.º 14-A/2020, de 18 de março, que declara o estado de emergência, com fundamento na verificação de uma situação de calamidade pública, juntamente com a Resolução da Assembleia da República n.º 15-A/2020, de 18 de março, que autoriza a declaração do estado de emergência.
Cabendo ao Governo a execução do referido decreto presidencial e porque muitas das medidas não entravam diretamente em aplicação por força de tal decreto, após uma sessão de dois dias do Conselho de Ministros, foi publicado o Decreto n.º 2-A/2020, de 20 de março, da Presidência do Conselho de Ministros, que regulamenta a aplicação do estado de emergência decretado pelo Presidente da República, cujo conteúdo explicitei no artigo “Conselho de Ministros especificou medidas do estado de emergência”.
Entretanto, pela comunicação do Primeiro-Ministro ao país na noite do dia 20 de março, ficou a pairar a ideia de que o estado de emergência deverá ser prolongado e que o impacto económico não é para desvalorizar, pelo que o Chefe do Governo só acredita que se poderá pensar em recuperação a partir de junho, sendo preciso, antes, ajudar famílias e empresas a enfrentarem esta “travessia”. Com efeito, na perspetiva de, em vez de melhorar, a situação parecer vir a piorar, atingindo em força a economia, Costa deixou claro que os planos do Governo não contam com um alívio rápido da situação – só em junho se poderá começar a pensar em relançar a economia – e que as medidas agora tomadas visam um objetivo: permitir que famílias e empresas resistam, o melhor possível, ao impacto económico da pandemia.
O horizonte temporal está estabelecido, no quadro da incerteza do momento: o Governo prevê que o pico do surto aconteça em maio, pelo que só a partir de junho, no mínimo, se poderá começar a preparar o relançamento da economia. E essa data é apontada com reservas, pois não se sabe se haverá segunda onda ou se o vírus continuará entre nós no próximo inverno.
Por isso, na predita comunicação ao país, o Primeiro-Ministro apresentou, sem pormenores, algumas medidas que visam conter os danos que as famílias e empresas irão sofrer, vincando:
É essencial assegurar a travessia destes três meses, para em junho avaliar[mos] danos e perspetivar[mos] um novo futuro para a nossa economia”.
Para já e para aplicar durante estes 90 dias, as mais recentes medidas são: para as empresas acederem às novas linhas de crédito terão de assegurar que “mantêm os postos de trabalho”; os trabalhadores que sejam obrigados a ficar em casa com os filhos terão direito a uma nova prestação; serão adiados para o segundo semestre o pagamento de dois terços das contribuições sociais e entregas de IVA, IRS e IRC; as linhas de crédito serão alargadas a setores muito atingidos e que ainda não tinham sido contemplados, como o comércio; e ficarão suspensos os prazos de caducidade dos contratos de arrendamento e decretada a prorrogação automática de prestações sociais como os subsídios de desemprego, o complemento de solidariedade para idosos e o rendimento social de inserção.
Agora, a ideia do Governo, que partilha da “ansiedade e angústia” das famílias e empresas, é assegurar que haverá “um novo futuro, passada a onda de pandemia”. E Costa sublinhou que não pode haver “ilusões” quanto às “pesadas consequências” que terá na economia o encerramento abrupto de tantas atividades e setores. O momento é de salvar vidas, mas também de salvar “o rendimento e as empresas”. O futuro terá de ser pensado depois, depois de passada a primeira parte da crise, a de saúde, e depois de avaliados os danos que causou à economia.
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Costa, ao afirmar que as linhas de crédito para as empresas serão dadas “sob condições de manutenção de emprego”, referiu a perfeita razoabilidade de a contrapartida exigida ser a não efetivação de despedimentos e considerou que “a crise que estamos a viver não tem a ver nem com a nossa economia nem com as nossas empresas e nossos trabalhadores”, mas com uma causa extraordinária bem conhecida: um vírus que tem devastado a nível global as economias, pelo que exortou o país a não se conformar com a ideia de o impacto ser irreversível.
Depois, vincando que “temos de assegurar a travessia para em junho avaliar os danos sofridos e perspetivar um novo futuro para a economia”, assinalou que é preciso tranquilizar as famílias e as empresas de que haverá um novo futuro, uma vez passada esta primeira onda da pandemia.
Revelando que os apoios, através das linhas de crédito, serão “alargados” a outros setores – nomeadamente ao comércio, crítico ter sido deixado de fora numa altura em que o estado de emergência obriga temporariamente ao encerramento de portas –, referiu que haverá um apoio especial ao setor social para que possa continuar a “desenvolver esse trabalho imprescindível”.
Considerou que “este é também um momento de emergência económica onde é preciso preservar o emprego, os rendimentos e impedir que as empresas encerrem as suas portas” e assumiu que “este será seguramente um trimestre muito duro para todos”, sendo que o Governo não poderá “assegurar a 100% a liquidez das empresas e do rendimento das famílias”.
Sustentando que “é absolutamente fundamental chegar a junho em condições de encarar de confiança e preparar o relançamento da economia”, Costa sabe que “ninguém tem ilusões de que possa ser possível de haver tantos encerramentos e termos uma atitude de recolhimento generalizado sem que isso tenha pesadas consequências na nossa economia”.
O Governo decidiu também avançar com a suspensão dos contratos de arrendamento cujos prazos viessem a caducar nos próximos três meses como forma de proteger as famílias neste período de difícil situação económica imposta pela crise do novo coronavírus. De facto, é dever do Estado “não só enfrentar este surto pandémico, como ao mesmo tempo tranquilizar as famílias e as empresas” – disse o Primeiro-Ministro, que também sustenta que “não é momento para acrescentar à ansiedade que todos vivemos, a ansiedade de procura de casa”. De facto, quando se pede às pessoas que estejam em casa recolhidas, “não é seguramente um momento para andarem à procura de casa”, mas “para todos estarem serenos no seu direito à habitação”.
O Primeiro-Ministro, para garantir o rendimento das famílias no âmbito da pandemia do novo coronavírus, anunciou também a “prorrogação automática dos subsídios de desemprego que já estão a pagamento”, bem como o Complemento Solidário para Idosos ou o Rendimento Social de Inserção que passarão a ser automaticamente renovados.
A este respeito, frisou a consciência e a partilha, por parte do Estado, da ansiedade e angústia das empresas e das famílias neste momento” e sustentou que, para haver um futuro depois da pandemia, “é necessário chegar a junho em condições de poder encarar com confiança e preparar o relançamento da nossa economia”, por isso, “as empresas têm de subsistir”, “os postos de trabalho que existem não podem desaparecer e os rendimentos das famílias não podem ser mais fragilizados”. E, vincando que que o país “vai ter três meses muito duros pela frente”, sublinhou:
Ninguém tem ilusões de que seja possível ter um encerramento de tão vasto número de empresas e uma atitude de recolhimento generalizado sem que isso tenha pesadas consequências na nossa economia”.
António Costa, sublinhando que estas medidas são específicas para os próximos três meses, “para fazer esta travessia mais dura”, explicou que Portugal está a viver um “período extraordinário” e que, não tendo Estado capacidade para “assegurar 100% do rendimento nem 100% da liquidez”, o Governo está a “mobilizar todos os rendimentos ao seu alcance” para preservar emprego e rendimento das famílias, a forma de “atacar o problema na origem”. António Costa não deixou de recordar que até agora “as receitas da Segurança Social estavam a crescer 8%, graças ao crescimento do emprego e da melhoria dos rendimentos”. E, recusando a ideia de que o conjunto de medidas apresentado é reduzido, admitiu que não é possível “evitar o impacto” do Covid-19 na economia, mas defendeu que o país “não se pode conformar que esse impacto se torne irreversível”.
Por fim, o Chefe do Governo revelou que o Estado está a apoiar um “centro tecnológico” para criar condições para a produção nacional de ventiladores assim como “novas formas de teste rápido” para massificar os testes do Covid-19.
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Acresce enfatizar que os privados vêm colaborando no combate ao Covid-19. Assim, a EDP e a sua principal acionista, a CTG (China Three Gorges), adquiriram, em coordenação com o Ministério da Saúde e com o apoio da Embaixada de Portugal em Pequim, 50 ventiladores e 200 monitores médicos para o SNS, bem como os respetivos consumíveis e equipamentos de suporte associados, num total de cerca de 4 milhões de euros. O grupo hospitalar privado CUF vai disponibilizar 50 ventiladores ao SNS e está a colaborar na identificação de casos e no encaminhamento dos casos para os hospitais públicos, podendo a colaboração vir a incluir internar doentes infetados e outras formas a acertar com a DGS. A GALP e a sua Fundação disponibilizam 29 ventiladores ao SNS, tal como apoio em combustível aos veículos do INEM, incluindo as ambulâncias que transportam doentes infetados e as viaturas das equipas que se multiplicam em deslocações para recolha domiciliária de amostras para análise, e trabalham num pacote de apoio energético para mais de 500 IPSS, no âmbito do qual a empresa suportará um mês de consumo de eletricidade e gás natural a ativar quando a instituição achar adequada.
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Teremos paciência e coragem para recolhimento, solidariedade e cooperação? Evitaremos o oportunismo de despedimentos e encerramentos desnecessários, bem como insolvências e falências a propósito? Continuaremos próximos ou desistiremos? Reforce-se a esperança!
2020.03.21 – Louro de Carvalho

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