quarta-feira, 11 de março de 2020

Covid-19 prevençãocontenção, mas sem alarmismo


A verdade é que o novo corona vírus, com a designação científica de Covid-19, surgiu na China sem que as autoridades lhe tivessem dado crédito a princípio (tendo até feito calar o médico que alertou para a iminência do surto), mas a que prontamente tentaram responder de múltiplas formas, embora já não fossem a tempo de evitar muitos dos casos letais.
Os restantes países, apesar dos alertas da OMS (Organização Mundial de Saúde), fizeram de conta que o problema estava muito longe esquecendo a enorme e diversificada mobilidade entre os diversos países do mundo. E, pelos vistos, já não capazes de instaurar a prevenção, tendo devido passar quase ex-abrupto à fase da contenção e provocado um alarmismo desproporcionado.
Assim, as autoridades de saúde nos vários países organizaram os esquemas de contenção e de resposta a este surto virótico, na convicção de que o surto era mais perigoso que todos os anteriores. Além disso, a gripe das aves, de 2009, já era considerada longínqua no tempo e a SARS, de 2003, na China, mal foi badalada no Ocidente, distraído que andava com a invasão do Iraque pela então designada força multinacional. Por isso, as autoridades fizeram as suas recomendações de modo que os cidadãos, assumindo os cuidados aconselhados, pudessem autoproteger-se fazendo assim a prevenção pessoal do risco e capacitar-se para o tratamento dos sintomas, já que não há tratamento preventivo do tipo vacinal nem tratamento direto de ataque.
Organizou-se a rede hospitalar de referência, com a previsibilidade de quarentena dos infetados e a vigilância dos suspeitos; fizeram-se, com falhas naturalmente, planos de contingência nas repartições, serviços, empresas e escolas; promoveram-se espaços e mecanismos de isolamento; desaconselharam-se eventos de competição, viagens e ajuntamentos de pessoas; fazem-se jogos à porta fechada; até a Conferência Episcopal deu indicações de higiene pessoal e comunitária nos espaços e atos sagrados, tendo alguns bispos restringido a celebração das missas e ministração de sacramentos e sacramentais; algumas escolas (mesmo privadas), repartições do Estado, tribunais e serviços (até de comércio) foram encerrados, sobretudo depois que a OMS declarou o Covid-19 pandemia a nível mundial; o Papa não participou no retiro quaresmal em Ariccia e prescindiu das audiências com multidões; e, em Portugal, o Chefe de Estado está em “autoquarentena” e o Governo prepara-se para antecipar a interrupção das atividades letivas que estava prevista para o período da Páscoa.
Tudo isto, apesar dos apelos em contrário, gerou um certo e já pesado alarmismo social a apontar para o açambarcamento de bens de consumo, designadamente produtos alimentares e medicamentosos e acentuando, talvez por excesso, a recessão económica que dizem aproximar-se por causa do novo corona vírus. De facto, o novo vírus invade com subtileza a comunidade sobretudo porque é difícil saber quem o transmite.
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Neste contexto, há recomendações de especialistas aos pais no sentido de eles explicarem com clareza a situação às crianças, mas evitando criar-lhes ansiedade. Com efeito, especialistas consultados pela Lusa afirmam que a conversa com as crianças sobre o novo coronavírus e os cuidados que devem ter é importante, devendo os pais dar-lhes informações que elas consigam compreender, mas dissipando a ansiedade.
Joana Sarmento Moreira, especialista em psicologia infantil sustenta que “o melhor é sempre dizer a verdade, não vale a pena inventar grandes histórias” e considera que é importante “não entrar em grandes detalhes” para evitar ansiedades. Segundo a psicóloga, as crianças conseguem perceber que, à sua volta, as pessoas estão preocupadas e, por isso, os pais devem ser diretos e honestos, explicando que existem certas medidas preventivas que todos devem seguir. E a pediatra Maria do Carmo Vale assente em que esta é uma doença que deve ser explicada aos mais novos, mas “dentro das suas possibilidades de entendimento”, sublinhando a importância de se explicar que neste momento há um agente infecioso que passa de pessoa para pessoa de um modo um pouco mais acelerado do que é normal e acentuando que, nos casos das escolas encerradas, os pais devem transmitir às crianças que essa é uma medida preventiva, para garantir a sua segurança. Sobre os cuidados especiais que as pessoas devem ter, designadamente cuidados de higiene e de etiqueta respiratória, a pediatra acredita que as crianças, de uma maneira geral, já estão “muito bem ensinadas”.
Maria do Carmo Vale considera que, mesmo assim, é muito importante que os pais reforcem a importância destes cuidados, chamando igualmente a atenção para o contacto com os outros, em particular nos casos de crianças que têm irmãos mais novos. Deve-se explicar, diz, que “existem outras formas de demonstrar carinho e que não se devem dar muitos beijinhos”.
Segundo as mencionadas especialistas, o discurso dos pais deve adaptar-se às diferentes idades e, se com as crianças os pais devem evitar determinadas conversas sobre o Covid-19 e evitar assistir e comentar as notícias junto dos mais novos, Joana Moreira aconselha um diálogo mais aprofundado com os jovens. Na verdade, “os mais velhos já acompanham muito a comunicação social, e alguns podem não compreender o que se está a passar e achar que está a haver excesso de zelo”, admitiu a psicóloga, considerando que os pais devem explicar, o melhor possível, a situação e alertar para a incerteza que existe em torno do novo coronavírus, ajudando-os ta selecionar o que é ou não verdade entre a grande quantidade de informação a que têm acesso.
A psicóloga sublinhou a necessidade de alertar os jovens para o papel que têm na sociedade e para a necessidade de seguirem todas as indicações das autoridades de saúde, referindo-se, por exemplo, ao encerramento de escolas e à importância de respeitar o isolamento social.
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Em comum, o Covid-19 e a constipação têm a prevenção, que é a mesma para ambos. Febre, tosse, dores musculares podem ser, de facto, os sintomas da gripe comum, causada também por um coronavírus, mas não o que recebeu o nome de Covid-19 e que já causou a morte a mais de 4000 pessoas no mundo. Francisco George, ex-diretor-geral da Saúde, diz que o novo vírus, oriundo da China, mas que já chegou a Portugal e a outros países, é mais mortal que o vírus da gripe. Os sintomas da doença podem ser parecidos até com os de uma simples constipação.
O coronavírus humano comum – a não confundir com o novo coronavírus, ou SARS-CoV-2, atualmente em circulação – pode causar doença leve a moderada do trato respiratório superior, como a constipação comum, que de acordo com os CDC (Centres for Disease Control and Prevention /Centros de Controlo e Prevenção de Doenças) causa, por exemplo, nariz a pingar e espirros.
Marie-Louise Landry, MD, especialista em doenças infeciosas da Yale Medicine e diretora do Laboratório de Virologia Clínica de Yale, citada pela Health, considera que são 4 os coronavírus humanos comuns que causam 15 a 30% das constipações.
O inverno é também altura de outro tipo de coronavírus – a comum gripe, que é diferente do SARS-CoV-2. Os sintomas mais comuns na gripe são, segundo a OMS, febre, fadiga (fraqueza muscular), tosse (normalmente seca), dores no corpo e dores de cabeça. Segundo o CDC, os sintomas de constipação  atingem o pico em 2 a 3 dias e incluem: espirros, nariz entupido ou com corrimento, dor de garganta, tosse, olhos lacrimejantes e febre – ainda que rara (a maioria das pessoas que fica constipada não tem febre). Alguns destes sintomas – espirros, secreção e obstrução nasal e tosse – podem durar de 10 a 14 dias, e geralmente melhoram durante este período.
No atinente aos coronavírus, o CDC diz que todas as doenças relatadas variam de sintomas leves a doenças graves e morte nos casos confirmados de Covid-19. Os sintomas da nova doença aparecem 2 a 14 dias após a exposição e incluem, por exemplo: febre, tosse, arrepios, expectoração, cansaço, e falta de ar.
Apesar do número de mortes por Covid-19, a maioria dos casos confirmados apresenta sintomas leves, de acordo com um estudo publicado na revista científica de medicina “The Lancet”. Há, no entanto, sintomas menos comuns, refere o estudo, que incluem dor de garganta e corrimento nasal, relatados por apenas 5% dos pacientes; e diarreia, náusea e vómitos, relatados por 1 a 2% dos pacientes. E também é comum a pneumonia entre os pacientes com Covid-19, mesmo em casos que não são considerados muito graves.
As constipações normalmente não evoluem para problemas graves de saúde, como pneumonia, infeções bacterianas, hospitalizações ou mortes – um cenário muito diferente da gripe, que resulta em 290.000 a 650.000 mortes a nível mundial em cada ano, segundo a OMS.
A gravidade do novo coronavírus não é fácil de definir. Sabe-se que é mais grave do que uma constipação. Não se sabe se será mais grave do que uma gripe.
A OMS revelou recentemente que a taxa de mortalidade global do Covid-19 é de 3,4% – um número que reflete principalmente a incidência do surto na China. Este número, segundo o “New York Times”, não pode ser lido de forma literal: há especialistas que afirmam, sobre o novo coronavírus, que a taxa de mortalidade será consideravelmente menor.
A constipação não tem cura – podem aliviar-se os sintomas, mas a doença passará em alguns dias. Também não há cura para o Covid-19, mas os cientistas estão a trabalhar para encontrar um tratamento e uma possível vacina. Em caso de febre e outros sintomas relacionados com o novo coronavírus, é aconselhável, em Portugal, ligar para a Linha de Saúde 24 (808 24 24 24).
Em comum, o novo coronavírus e uma constipação têm a prevenção, que é exatamente a mesma para ambos: lavar as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos; não tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas; evitar contacto próximo com pessoas doentes; ficar em casa quando estiver doente; e desinfetar superfícies e objetos que sejam frequentemente tocados.
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Enfim, é bom estar informado, mas sem panicar, e respeitar as indicações da Direção-Geral de Saúde, bem como, se for o caso, respeitar religiosamente as indicações da Linha de Saúde 24, cujo serviço foi reforçado, ou do hospital. Por outro lado, as pessoas integradas em empresas, serviços e escolas devem acatar rigorosamente os respetivos planos de contingência e as suas eventuais alterações. E é conveniente, sobretudo, saber que estamos em comunidade, pelo que nos devemos precaver contra o contágio, quer como potenciais agentes passivos, quer como eventuais agentes ativos – sempre sem exageros.
2020.03.11 – Louro de Carvalho

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