Soube-se a 7 de julho, que Manuel Castro Almeida abandonou
a direção do PSD, de que era um dos vice-presidentes, em desacordo com
Rui Rio e, logo a seguir, se conhece que foi sucedido por José Manuel Bolieiro, cujo nome
já está inserido nos respetivos lugares do site
do partido.
O até há
pouco vice-presidente do PSD é licenciado em Direito pela Universidade de
Coimbra e concluiu uma pós-graduação pelo Instituto Internacional de Administração
Pública de Paris. Iniciou a vida
profissional aos 16 anos como auxiliar administrativo da Câmara Municipal de
São João da Madeira. Em 1982, foi técnico superior, chefe da Divisão Jurídica
da Direção de Serviços de Apoio às Autarquias Locais e, mais tarde,
administrador da CCDR (Comissão de Coordenação
e Desenvolvimento Regional do Norte). Em 1991, foi eleito deputado à Assembleia da Republica,
onde coordenou os deputados do PSD nas Comissões Parlamentares de Economia,
Finanças e Plano, Educação, Ciência e Cultura e Obras Publicas, Transportes e
Comunicações, tendo sido também vice-presidente do Grupo Parlamentar. Foi Secretário de Estado da Educação e do Desporto no
3.º Governo de Cavaco Silva (sendo Manuela Ferreira Leite Ministra da Educação) e Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional
no Governo de Passos Coelho, de 22 de abril de 2013 a 30 de outubro de 2015 (sendo Poiares Maduro Ministro Adjunto e do Desenvolvimento
Regional); foi eleito, por três vezes consecutivas, Presidente da Câmara
Municipal de São João da Madeira, cargo que deixou para integrar o Governo de
Passos Coelho. Enquanto autarca, foi vice-presidente da Junta
Metropolitana do Porto e presidente da Associação de Municípios das Terras
de Santa Maria.
Desempenhou uma série de cargos a nível partidário, no PSD,
como Secretário-Geral Adjunto, Vice-Presidente do PSD e Conselheiro Nacional do
PSD. E, a 1 de fevereiro de 2016, tornou-se sócio e presidente do Conselho de
Administração da Mistura Singular – Capital.
Com a chegada de Rui Rio à presidência
do Partido Social Democrata, foi escolhido para ser um dos seis vice-presidentes
do partido.
Desiludido
com forma como partido é gerido por Rui Rio, sem ouvir os outros membros da
direção para tomar decisões, Castro Almeida saiu da direção. Continuam por
explicar os exatos motivos da sua decisão.
De acordo
com o Público, na origem da decisão
estará o descontentamento com a maneira “centralista” como Rio lidera o PSD sem
ouvir os outros membros da direção do partido antes de tomar grandes decisões.
Castro Almeida explicou, entretanto, que formalizou a “demissão no passado dia
19 em conversa com Presidente e, no dia 20, apresentou a renúncia por escrito”.
A decisão de
Rio de deixar grandes nomes do partido fora das listas para as eleições
legislativas – optando sobretudo por jovens, alguns deles desconhecidos da
generalidade do público – terá mesmo irritado muitos no círculo mais próximo de
Rui Rio, sendo um deles Castro Almeida.
Antigo
Secretário de Estado, deputado em três legislaturas e ex-presidente de câmara,
Castro Almeida era agora um dos seis vice-presidentes de Rui Rio no PSD. Já, há
tempos, tinha vindo a demonstrar algum descontentamento com o funcionamento interno
do partido. Em entrevista ao Público
e à Rádio Renascença no ano
passado, admitia a existência de “ruído interno”, que dificultava a “perceção
pública das propostas do PSD”. E, em fevereiro deste ano, numa entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, afirmava que, “se o PSD não ganhar as eleições é por culpa própria”. E
desenvolvia:
“O
cenário em que trabalho é o cenário em que o PSD vai vencer. Está ao nosso
alcance. (…) Depende de nós. Se não o fizermos é porque somos incompetentes. Se
o PSD não ganhar as eleições é por culpa própria, porque o Governo está a fazer
o necessário para as perder. O Governo enganou-se no ciclo político (…) e está
em ciclo descendente.”.
Segundo o Expresso, informou Rio da decisão num
encontro na sede do PSD após as eleições europeias – em que os
sociais-democratas tiveram o pior resultado de sempre (embora
mantenha a mesma representação que antes) –, que foi
a última reunião do partido em que participou. Citando uma fonte próxima de
Castro Almeida, o site do Expresso
refere que ele sentiu uma “desilusão brutal” com o funcionamento do partido,
cuja comissão permanente se transformou em “órgão unipessoal” em que os
braços-direitos do presidente conhecem as decisões “pela imprensa”.
Entretanto,
o ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, no seu comentário dominical, na SIC,
disse não conhecer “as verdadeiras razões” da saída do socialdemocrata de quem
é próximo, afirmando ter
sabido da notícia pela comunicação social. Não
obstante, Mendes considera que devem ter sido “razões muito fortes”, já que
existe uma relação “muito longa pessoal e política” do antigo autarca com Rui
Rio e Castro Almeida é, por natureza, homem de conciliação, não de ruturas. Ainda assim, classificou esta
atitude como “um ato de coragem” – dizendo ser precisa mais coragem para sair
do que para ficar, quando se discorda – e repetiu que devem ter sido “razões
muito fortes”, apontando a predita relação “muito longa pessoal e política”,
mas afastando a ligação com as escolhas, por a decisão ser anterior ao anúncio
das mesmas (esquece o comentador que as decisões de Rio não são
repentinas e o partido não está imune às fugas de informação).
No Facebook,
durante a tarde do dia 7, Lina Lopes, presidente das Mulheres
Sociais-Democratas, tinha classificado a demissão de Castro Almeida como “um
frete ao arauto dominical das desgraças do PSD”. Escreveu Lina Lopes, numa
referência implícita a Marques Mendes, verbalizando uma crítica repetida à Lusa por outros dirigentes
sociais-democratas que não quiseram ser identificados:
“Esta
demissão é a salvação de última hora para o comentador que, de outra forma, não
poderia deixar de se limitar a elogiar o rasgo e a coragem demonstradas por Rui
Rio nas nomeações para cabeças de lista do PSD”.
A notícia da
demissão foi conhecida no final da semana em que Rui Rio anunciou os primeiros
dez cabeças de lista do PSD às legislativas – nomes inéditos para os círculos
de Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria, Beja, Castelo Branco, Setúbal
e Santarém – e revelou o cenário macroeconómico que enquadra o programa
eleitoral do partido, que prevê uma redução de 3,7 mil milhões de euros na
carga fiscal na próxima legislatura, através da descida do IRC para 17% (está em 21%), da descida do IVA no gás e na
eletricidade para 6%, redução do IRS para o escalão dos possuidores de
rendimento entre 1000 e 2000 euros mensais e anulação do IMI Mortágua.
***
No mesmo dia 7, em que foi tornada
pública a demissão de Castro Almeida, soube-se que José Manuel Bolieiro,
presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, é o novo vice-presidente do
PSD, sucedendo no cargo a Manuel Castro Almeida.
Em comunicado
enviado às redações, o PSD fez saber que “Bolieiro
passa assim a integrar a direção de Rui Rio como vice-presidente, juntando-se a
Nuno Morais Sarmento, David Justino, Salvador Malheiro, Elina Fraga e Isabel
Meirelles”.
Licenciado em
Direito pela Universidade de Coimbra, José Manuel Cabral Dias Bolieiro é Presidente da Câmara
Municipal de Ponta Delgada e Presidente do Conselho de Administração dos
Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Ponta Delgada, desde agosto de 2012
e foi Presidente da Assembleia Municipal de Povoação, 2002-2009. Começou por
ser Adjunto do Gabinete do Subsecretário Regional da Comunicação Social,
1989-1992 e 1993-1995, e passou a Assessor do Presidente do Governo Regional,
1996; foi membro da assembleia intermunicipal da AMRAA (Associação de Municípios da Região
Autónoma dos Açores),
2009, membro do conselho diretivo da ANMP (Associação Nacional de Municípios Portugueses), 2013, e presidente do conselho de
administração da Associação de Municípios da Ilha de São Miguel, 2018.
Foi deputado
à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (1998-2009) exercendo as funções de presidente
do grupo parlamentar do PSD e de presidente da Comissão Permanente de Política
Geral. Foi secretário-geral do PSD/Açores entre 1997 e 2005 e vice-presidente
do PSD/Açores, 2005-2006 e 2008-2009, Vice-Presidente da Comissão Política de
Ilha de São Miguel do PSD/Açores, 2006, Diretor do Gabinete de Estudos do
PSD/Açores, 2007 e Presidente do Congresso Regional do PSD/Açores, 2013.
O novo nome
da direção foi anunciado depois de Manuel Castro Almeida se ter demitido por
descontentamento com o “centralismo” do PSD de Rui Rio.
O nome de
Bolieiro terá de ser votado na próxima reunião do Conselho Nacional, que se
deverá realizar até final de julho. De acordo com os estatutos do PSD, compete
ao Conselho Nacional:
“Eleger
o substituto de qualquer dos titulares da Mesa do Congresso e da Comissão
Política Nacional, com exceção do seu Presidente, no caso de vacatura do cargo
ou de impedimento prolongado, sob proposta do respetivo órgão”.
***
É difícil
acreditar num corte fiscal no IRS, IRC, IVA e IMI em vésperas de eleições e com
projeções a indicar o arrefecimento da economia. Soa a desespero de líder em
apuros. E não vale a pena dizer com Marques Mendes que Rio marcou a agenda
antecipando-se ao Governo.
Concorde-se
ou não com as propostas de choque fiscal que Rio apresentou no fim da
tarde de 6.ª feira da primeira semana de julho, há que assentar em que todas elas
configuram um PSD preocupado com duas questões centrais da sua identidade: o crescimento
económico sustentado e promovido pelas empresas; e os contribuintes de classe
média. Porém, dificilmente se garante a sustentabilidade da promessa. Querer
cortar 3,7 mil milhões de receitas fiscais, garantindo não haver problemas
orçamentais porque o crescimento económico será mais robusto, contrariando
todas as projeções do BdP (Banco de Portugal),
CE (Comissão Europeia) e FMI (Fundo Monetário Internacional) é desejo irrealista e
inacreditável. Na verdade, a nossa economia será diretamente afetada pela desaceleração
da economia mundial. Com efeito, após o crescimento de 2,8% do PIB em 2017, a
economia baixou para 2,1% em 2018 (contra a projeção do Governo de 2,3%) e ficará este ano nos 1,7%, no mesmo
valor em 2020 e em 1,6% em 2021. Só em 2023, o poderá subir para os 2,7% (e o PSD sabe-o), se houver forte aposta nos
estímulos ao investimento e no investimento público.
Por outro
lado, o PSD (e o PS e o
CDS) tem um passado de
promessas de baixas de impostos, que passam rapidamente a promessas não
cumpridas e, ao invés, a subidas de impostos aquando da obtenção do poder e do
confronto com o embate na realidade. Assim o fizeram Durão Barroso e Passos. O
primeiro prometeu o choque fiscal com o apadrinhamento de José Maria
Aznar, o que redundou em subida; o segundo, depois de ter pedido desculpa aos
portugueses por ter alinhado com Sócrates num PEC que implicava aumento fiscal,
prometeu não aumentar os impostos além do previsto no memorando da troika,
mas escolheu para Ministro das Finanças Vítor Gaspar, que impôs o maior e mais
brutal “aumento de impostos”.
Além
disso, Rio surge
no melhor das suas contradições estratégicas. Prometeu um banho de ética e foi
o que se viu e vê; diz-se a favor da regionalização, mas é, por natureza, um
líder centralista, uma das causas da demissão de Castro Almeida;
lidera o partido que supostamente congrega historicamente o eleitorado do
centro-direita, mas revela publicamente que só não entrou para o PS por
causa de Francisco Sá Carneiro, como diz que votou em Soares nas presidenciais
de 1986, no quadro da luta mais renhida entre esquerda e direita – coisas que
escusava de lembrar agora.
Estas são
apenas algumas das muitas contradições e erros estratégicos que culminaram nas
últimas eleições europeias com a dita maior derrota de sempre do PSD. E Rui Rio
entra por julho adentro, a três meses das legislativas, como um líder
desgastado e com graves problemas de imagem que denotam a sensação de perda. Só
um volte-face radical poderá ser
antídoto.
Sobre a
rutura geracional, Rio optou pela moda da predileção por jovens a cabeça de
lista: por exemplo, escolheu Filipa Roseta (vereadora do PSD na Câmara de Cascais) para Lisboa e Hugo Carvalho (líder do Conselho Nacional da Juventude) para o Porto, Margarida Balseiro
Lopes (líder da JSD que
se apresentará em Leiria)
ou a advogada Ana Miguel Santos (para Aveiro) e o que mais por aí virá. Escolhas interessantes, mas sem peso político
consolidado. Nada contra os jovens (e muitos) em lugares elegíveis e de algum destaque, mas os cabeças de lista têm
de ser mobilizadores e com créditos firmados. Os cabeças de lista enfrentarão
problemas de notoriedade. Os eleitores não os reconhecem (o reconhecimento é fator essencial em
política) e o aparelho
aderirá com dificuldade às escolhas pessoais de Rio. Porém, a rutura geracional
de risco servirá de escudo a Rio na noite eleitoral. Não sendo cabeça-de-lista,
poderá argumentar que a rejeição não foi dirigida a si.
Enquanto
Filipa Roseta falava no combate à corrupção em entrevista à Rádio Observador, David Justino tentava
agradar a Rio e a Mónica Quintela na TSF/Diário
Notícias, criticando o facto de as investigações de corrupção
serem abertas com base em denúncias anónimas. Justino é a favor do combater
contra a corrupção, mas só se as pessoas assumirem as denúncias, porque,
segundo ele, as denúncias anónimas só são feitas por pessoas com interesses
políticos.
Ora, Justino
nunca se questionou como é que o Presidente da Câmara de Oeiras fazia uma vida
faustosa apenas com o salário de autarca. Como muitos que acompanharam Isaltino
nos anos 90, pensava que a fortuna se explicava com apostas de sucesso na bolsa
e heranças fantasiosas, como a narrativa de Sócrates sobre a mãe herdeira do
volfrâmio até o próprio Sócrates admitir que vivia do dinheiro emprestado
por Carlos Santos Silva. No entanto, as contas bancárias que Isaltino abriu em
seu nome na Suíça (às
escondidas do Fisco e do Tribunal Constitucional) só foram descobertas pela Justiça depois duma
denúncia anónima. Se assim não fosse, Isaltino não tinha sido acusado, julgado
e condenado a pena de prisão de 2 anos por fraude fiscal. Já o crime de
corrupção prescreveu, apesar da condenação em 1.ª instância.
Também eu não
gosto das denúncias anónimas, mas são uma inevitabilidade, pois as polícias e o
Ministério Público deveriam proteger as suas fontes, ao menos como os
jornalistas. E sabemos como são recorrentes as fugas de informação…
***
Enfim,
com contradições palmares e erros estratégicos, o líder pode muito egoística e
centralissimamente descartar as culpas por iminente desaire eleitoral. Mas quem
perde é a geração nova que lhe serve de esteira, o partido e a democracia (que
vive da dialética permanente).
E não é lícito imolar ao interesse pessoal gente tão promissora que ainda não
tem a visibilidade requerível. E os colaboradores deviam ter esta noção e
avisar o líder, cuja primeira obrigação é ouvir para tomar decisões mais
sustentáveis e garantir a corresponsabilidade.
2019.07.08 – Louro de
Carvalho
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